Velha Paineira (CHORORO LPC 10337) - (1990) - Eli Silva e Marabá
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Velha Paineira
Na sombra da grande frondosa paineira aonde em criança eu pude sonhar
Sentindo a brisa das manhãs risonhas suas flores coloridas perfumando o ar
O vento balança seus galhos rangendo suas folhas se agitam num alegra bailar
E os passarinhos por entre seus galhos na sua sombra vinham se abrigar
No colo da noite a lua te abriga cobrindo você com lençol prateado
Em suas folhas repousa o sereno com o sol da manhã o seu chão é regadoÂ
Um dia, porém eu deixei seu abrigo abraçado em seu tronco fiz a despedida
Mas só encontrei na minha jornada a desilusão nos caminhos da vida
As suas raÃzes se afundam no solo buscando a vida no peito do chão
Enquanto raÃzes de mágoa e tristeza se alastram ferindo o meu coração
Hoje estou de volta triste arrependido chorando eu lhe conto todo meu fracasso
E tu me recebes com chuvas de flores na sua sombra aliviou meu cansaço
Carro E Carreiro
Carro de boi que hoje vive empoeirado
Eixos quebrados corroÃdo pelos anosÂ
É um diário da vida de um carreiro
De muitos janeiros, muitos sonhos e desenganos
O seus cocões rangedores estão calados
Lá encostado no pé da grande figueira
Era ali que todos dias madrugadas
Eu achochava minha boiada carreira
Hoje não vejo carros de boi nem boiada
Velhas estradas asfalto cobriu o chão
Também não ouço mais o som de um berrante
Lá bem distante ecoando no sertão
Às vezes eu sento embaixo da grande figueira
Velha companheira na minha mocidade
A sua sombra que me dá seu doce abrigo
Chora comigo minha eterna saudade
Agora eu sinto que no meu peito existe
Um carro triste cantando em meu coração
Seis bois puxando a carga de muitas lembranças
Sem esperança ruminando a solidão
Meus bois de carro há muito tempo já morreram
Meus companheiros se fora também
Resta somente eu seguir minha viagem
Pra eternidade para os campos do além
Berço De Palha
Um moço da sociedade foi passear no sertão
Encontrou um lavrador cheirando suor e de pé no chão
Com sua pele queimada roupa remendada e uma enxada na mão
Grã-fino disse a sorrir vou me divertir com este cidadão
Grã-fino disse ao roceiro com arrogância e maldade
Veja minha roupa de seda eu tenho riqueza e fiz faculdade
Nasci em berço de ouro sou homem do povo sou autoridade
Você roceiro sem nome é um lobisomem pra nós da cidade
Roceiro disse ao grã-fino veja minha pele queimada
Trabalho de sol a sol derramo suor tenho as mãos calejadas
A sua roupa de seda amanhã com certeza será remendada
Estudou em faculdade mas na realidade não aprendeu nada
Se os nossos governantes dessem valor no sertão
Estes homens lobisomens matavam a fome de toda nação
Eu sou caipira da roça na minha palhoça não me falta o pão
Nasci em berço de palha sou ouro foi falo em sua educação
Piraquara
Os prazeres que eu sinto na vida vou dizer o que mais se destaca
As caçadas eu prefiro as de fio e na beira do rio uma seva de paca
E nas noites escuras e frias nas quiçaças e meio de coivaraÂ
Não me assusto e nem tenho receio se o lugar é feio é que tem capivara
Pra pescar sempre uso meu barco registrado como Piraquara
Sempre pesco em lugar bem sevado ali pego dourado, pacus e piapara
Quando é noite procuro os baixios onde mora os peixes mais pesados
Se a gente é bem sucedido como é divertido fisgar o pintado
Periquito e baitacas cantando papagaio voando de dois
Paturi sempre em revoada quando é madrugada nas várzeas de arroz
À tardinha sempre me divirto nova seva esperando cotia
E na mata na beira do rio eu escuto bugios fazendo folia
Vem a noite e com ela o silêncio emudece o meu sertão
No meu rancho abraçado no pinho eu canto baixinho uma linda canção
Tendo ao lado uma linda cabocla que jurou me fazer companhia
E juntinho enfrentamos a vida que embora sofrida traz muita alegria
Na Sombra Do Meu Bigode
A doença é a roça pra enriquecer doutor
Depois que a onça morreu todo mundo é caçador
A cachaça é remédio pra esquecer um grande amor
Enquanto o cruzeiro cai o dólar tem mais valor
Quem é bom já nasce feito quem é ruim sempre atrapalha
Gosto de bater no burro e não bato na cangalha
Pra defender meu paÃs lutando ganhei medalha
Não bota fogo nos outros quem tem seu rabo de palha
Periquito come o milho papagaio leva a fama
O certo é dois travesseiros em cima de uma cama
O remédio pra boi magro é pasto bom boa grama
O meu peito está ferido por querer quem não me ama
Os negócios que eu faço não tem rolo não tem bode
Os violeiros despeitados com nós dois eles não pode
Vou mostrar a minha classe no compasso do pagode
Ninguém vai fazer festa na sombra do meu bigode
Rainha Da Noite
Rainha da noite meus sonhos vividos o que eu procurava em você achei
Da cabeça aos pés não vejo defeito é tudo perfeito como imaginei
És a minha fome a minha sede meus olhinhos verdes que tanto sonhei
Seus olhos é o verde dos campos surgindo o sorriso lindo é o sol que me aquece
Teu rosto é e brisa da noite chegando e vai me beijando e a gente adormece
Seu beijo é a vida que me resta ainda das noites que findam e os dias amanhecem
Seu corpo é a chama de minha paixão seu olhar são estrelas que brilham assim
O amor é o caminho que me leva à você querer e querer e nunca ter fim
Sua voz é o vento que toca em meu rosto teu cheiro é das flores que caem sobre mim
És a poesia que inspira o poeta é linha correta que escrevo a canção
É o sangue que corre nestas minhas veias é minha sereia no mar de ilusão
É o eu barquinho vagando correto sempre em rumo certo do meu coração
Rancho De Caboclo
Sou caboclo e moro na roça do recanto lá do meu sertão
No pé de uma grande colina nascente de um ribeirão
Respirando o ar puro das matas bem distante da poluição
De manhã pra enfeitar o meu rancho com o seu véu branco vem a serração
Pouco a pouco se desponta o sol por entre as brancas neblinas
Com seus raios todos coloridos vem beijar as verdes campinas
Bebendo o orvalho das flores gotas de águas cristalinas
É meu mundo é meu paraÃso que foi construÃdo pelas mãos divinas
Sou feliz cuidando do que é meu minha roça e minha criação
Meu cavalo meu gado leiteiro muito porco no mangueirão
Meu paiol sempre cheio de milho dez mil pés de café no espigão
O meu carro minha junta de boi meu plantio de arroz no baixio do varjão
A beleza que existe onde eu moro é real e não tem fantasia
Se quiser visitar o meu rancho eu recebo com muita alegria
Conhecer os meus filhos queridos e também minha linda Maria
Lá te espera um arroz com galinha uma pinga da boa e uma viola macia
Pedras Do Ódio
Hoje tenho pena do seu sofrimento pois esse tormento também já passei
Tu segue a esmo o negro caminho forrado de espinho por onde passei
E as pedras do ódio que em mim atirava foram transformadas em buque de flor
Jamais me atingiram nem me machucaram em mim encontraram barreira do amor
Quando te encontrei em tempo de outrora recordo agora que te conheci
E por longo tempo formos conversando sempre nos amando alegre a sorrir
Até que um dia por fatalidade a realidade eu vim descobrir
E foi nesse instante que o mal pensamento num triste tormento veio interferir
Neste labirinto que a sorte traçou você encontrou um grande castigo
No trono do orgulho estava sentada sempre rodeada por falsos amigos
Mas chegou o dia da realidade e contra a vontade do trono caiu
E as pedras do ódio que em mim atirava em você voltava e hoje interferiu
Luz Da Meia Noite
Uma a porta aberta a meia noite a meia luz convite aos boêmios
E todos homens que vivem pelas ruas de bar em bar vivendo na boemia
Ali residem muitas mulheres da vida vendendo o corpo no mundo da fantasia
Luz colorida com a fumaça se amarelam faz o cenário do conto da orgia
Ali reside a mulher que eu amei que foi meu sonho minha primeira paixão
Mas por capricho, por maldade e falsidade feriu pra sempre o meu pobre coração
Por longos anos entregue-me a bebida para acalmar a minha amarga solidão
Porém foi Deus que me mostrou o caminho à esta ingrata hoje dou o meu perdão
Esta mulher que feriu-me no passado não tenho ódio dela tenho piedade
Desta ferida só me resta cicatriz e no meu peito não existe mais saudades
Em outros braços encontrei um amor puro que me ama e que me dá felicidade
Enquanto ela caÃda na decadência pelos cigarros, pelo álcool e pela idade
Chora, hoje chora arrependida seu consolo é a bebida porque ninguém mais te quer
Quem já foi a rainha da beleza e hoje vive solitária em uma mesa é farrapo de mulher
Velha Moradia
Esta noite eu tive um sonho do jeito que eu pretendia
E voltei ao meu passado minha velha moradia
Revi a porteira velha que com o balanço rangia
Vi meu pai tocando firme na sua viola macia
Revi o carreiro Gino e as proezas que fazia
E o velho carro de boi com seus cocões que rangiam
As batidas do monjolo só o eco respondia
Avistei todo varjão nosso arrozal que crescia
Saà do mundo em que vivo fui pro reino de magia
Minha infância e meu passado novamente repetia
O caminho da escola era o mesmo que eu fazia
Revi meu primeiro amor a bela Ana Maria
Vi as festas de São João com viola e cantoria
E o sapateado catira ia até no outro dia
Tudo isso que eu sonhei foi o mundo que eu vivia
Meu querido farturão minha velha moradia
Músicas do álbum Velha Paineira (CHORORO LPC 10337) - (1990)
Nome | Compositor | Ritmo |
---|---|---|
Velha Paineira | Eli Silva / Osvaldo F. Leme / Tita Zillo | Rancheira |
Carro E Carreiro | Eli Silva / AlÃpio A. P. Botaro | Toada |
Berço De Palha | João Miranda | Querumana |
Piraquara | Jorge Pinheiro | Cururu |
Na Sombra Do Meu Bigode | Eli Silva / Naquibar / Tenente Raul | Pagode |
Rainha Da Noite | Gaúcho Montanario / Eli Silva | Rancheira |
Rancho De Caboclo | Eli Silva / José Garcia | Querumana |
Pedras Do Ódio | Benedito Do Carmo / Marabá | Guarânia |
Luz Da Meia Noite | Eli Silva / OtacÃlio Orsi | Tango |
Velha Moradia | Marabá / Antônio Fernandes / Valdivino Madula | Moda De Viola |