Músicas Raízes (SINTONIA NH 1919) - (1990) - Jacó e Jacozinho

Som Rural
É tudo mecanizado a nova era do som
É só ligar na tomada e regular os botões
Está fazendo sucesso um pecado pequenino
Engenheiro do Japão trabalhando direitinho
O progresso é bom demais não tem japonês que faz o som da viola de pinho

É mais fácil de tocar porque já vem afinado
Se faltar a energia fica mudo seus teclados
O conjunto fica triste seu cachê está furado
Eu afino a violinha e entro lá no tabuado
Eu canto de qualquer jeito com a viola no peito até no escuro eu agrado

Não aprendi faculdade não aprendi na escola
É difícil de afinar e tocar uma viola
Tem gente que já tentou desistiu e não venceu
Professor que me ensinou meu velho pai já morreu
Lá no prato da vitrola tocando minha viola o cientista sou eu

É computadorizado a nova era do som
O maestro escreve tudo já nem pega o violão
Faz um arranjo bem feito, mas não vai ficar igual
O som que tiro com as unhas desse pedaço de pau
Sou artista lá da roça minha viola é pra quem gosta de curtir um som rural

A Moda Do Genro
Eu criei uma menina na maior das mordomia
Dei conforto e dei carinho, é nossa única filha.
Em troca ela me chama de caipira atrasado
Que tenho que acostumar com esse namoro avançado
Me falou que virgindade já é coisa do passado

Fiz o casamento às pressas pra livrar de falatório
Pergunte se estou contente com este lindo casório
O brinco na orelha dele é o que mais me irrita
Meu genro só tem tamanho, safadeza e preguiça
Faz rabinho no cabelo e leva um jeitão de bicha

Meu genro é um vagabundo não quer mesmo trabalhar
Tão morando em minha casa meu saco tá pra estourar
A minha filha está grávida e eu tenho que tolerar
Quando é hora do almoço ele é o primeiro a atacar
Come três pratão bem cheio e dorme no meu sofá

No barzinho onde ele bebe, ele falou sem querer
Que casou com minha filha somente pra se fazer
Tá de olho na herança só está esperando eu morrer
Os meus bens ele não pega já sei o que vou fazer
Vou passar tudo no nome do neto que vai nascer

Mãe Cega
Minha mãe trabalhou muito agora no fim da vida
Fico cega coitadinha não pode ver a comida

Eu levei pra minha casa minha mãezinha querida
Sou a luz do seu caminho no seu restinho de vida
Mamãe, mamãe não tenha medo
Eu estou aqui eu sou o seu esteio apoia em mim

Mamãe trabalhou na roça com a força dos seus braços
Trabalhava dia e noite não clamava do cansaço
Hoje de cabelos brancos sentadinha no seu banco
Não pode ver o tamanco sem ajuda não dá um passo
Mamãe, mamãe não tenha medo
Eu estou aqui eu sou o seu esteio apoia em mim

Não pode ver o seu filho nem o chão aonde pisa
Não pode ver a roseira balançando com a brisa
Vive numa escuridão apalpando indecisa
Não pode pregar um botão na minha velha camisa
Mamãe, mamãe não tenha medo
Eu estou aqui eu sou o seu esteio apoia em mim

Não repare se cantando meu pranto cair no chão
A minha triste cantiga é uma simples oração
Eu quero pedir a Deus com força no coração
Devolva à minha mãezinha a luz da sua visão
Mamãe, mamãe não tenha medo
Eu estou aqui eu sou o seu esteio apoia em mim

A Volta Do Genro
Já faz mais de vinte anos que meu netinho nasceu
Muita grana e muita droga foi assim que ele cresceu
Vendeu todo que te dei todos bens que eram meus
Traficante perigoso no final tudo perdeu
Acabou com meu dinheiro já não resta nem o cheiro quando a policia prendeu

Meu neto está na cadeia esperando ser julgado
Meu genro e minha filha nem notícia tem me dado
Saíram de minha casa de tanto ser humilhado
Eu sou um vovô coruja fiquei com seu filho amado
Meu orgulho Deus quebrou em vez de um neto doutor virou um bandido bravo

No dia do julgamento de medo fui atrasado
Sem dinheiro e sem defesa nós vamos ser derrotados
Não tinha brinco na orelha cabelo bem aparado
Falando muito bonito eu fiquei branco e pasmado
Essa não esperava meu genro que eu detestava era o nosso advogado

Pareciam dois estranhos filho réu pai defensor
Não pôs a culpa em ninguém ele mesmo se culpou
Ele defendia o filho e defendia o avô 
O jurado entendeu a situação do doutor
Depois do caso encerrado saiu os três abraçados o pai, o filho e o avô

Quando eu fiz a doação para mim nada restou
Passei tudo para o neto que ganhei com meu suor
Fiquei com a ignorância que sempre me dominou
Minha esposa contrariada desse jeito me falou
A juventude de agora vende tudo joga fora não sabe o quanto custou

Saco De Ouro
Num saco de estopa com embira amarrado eu trago guardado é a minha paixão
Uma bota velha chapéu cor de ouro bainha de couro e um velho facão
Tem um par de espora um arreio e um laço um punhal de aço e rabo de tatu
Tenho uma guaiaca ainda perfeita caprichada e feita só de couro cru

Do lampião quebrado só resta o pavio pra lembrar o frio eu também guardei
Um pelego branco que perdeu o pelo apesar do zelo com que eu cuidei
Também um cachimbo de canudo longo quantos pernilongos com ele espantei
Um estribo esquerdo que guardo com jeito porque o direito na cerca eu quebrei

A nota fiscal já toda amarela da primeira sela que eu mesmo comprei
Lá em Soledade na casa da cinta duzentos e trinta na hora paguei
Também o recibo já todo amassado primeiro ordenado que eu faturei
É a minha tralha num saco amarrado num canto encostado que eu sempre guardei

Pra mim representa um belo passado a lida de gado que eu sempre gostei
Eu sempre enfrentei esse trabalho duro eu fiz o futuro sem violar a lei
O saco é a relíquia com meus apetrechos não vendo e não deixo ninguém por a mão
Nos trancos da vida afirmei o taco e o ouro do saco é a recordação

Nelore Valente
Na fazenda que eu nasci vovô era retireiro
Bem criança eu aprendi prender o gado leiteiro
Um dia de manhãzinha veja só que desespero
Tinha um bezerro doente a ordem do fazendeiro
Mate logo este animal e desinfete o mangueiro
Se esta doença espalhar poderá contaminar o meu rebanho inteiro

Eu notei que o meu avô ficou bastante abatido
Por ter que sacrificar o animal recém nascido
Nas lágrimas dos seus olhos eu entendi seu pedido
Pus o bichinho nos braços levei pra casa escondido
Com ervas e benzimentos seu caso foi resolvido
Com carinho eu lhe tratava e o leite que o patrão dava com ele era dividido

Quando o fazendeiro soube chamou o meu avozinho
Disse você foi teimoso não matando o bezerrinho
Vai deixar minha fazenda amanhã logo cedinho
Aquilo feriu vovô como uma chaga de espinho
Mas há sempre alguém no mundo que nos dá algum carinho
E sem grande sacrifício vovô arrumou serviço ali num sítio vizinho

Em pouco tempo o bezerro já era um boi erado
Bonito forte e troncudo mansinho e muito ensinado
Automóvel do atoleiro ele tirava aos punhados
Por isso na redondeza ficou bastante afamado
Até que um dia a noitinha um homem desesperado
Gritando pedindo socorro seu carro caiu do morro seu filho estava prensado

O carro da ribanceira o boi conseguiu tirar
O menino estava vivo seu pai disse a soluçar
Qualquer que seja a quantia esse boi eu vou comprar
Eu disse ele não tem preço a razão vou lhe explicar
A bondade do vovô veio seu filho salvar
Esse nelore valente é o bezerrinho doente que o senhor mandou matar

O Sonho Dos Direitos Autorais
A gravadora relança meus discos que foi gravado minhas poesias não morrem
Continua no mercado os direitos que recebo dá pra ver sossegado
É um país organizado e muito bem controlado
Meus discos são numerados por isso não sou roubado
Em toda minha carreira são trinta discos gravados
Os direitos que recebo dá pra ver sossegado

Eu recebo todo mês de janeiro a janeiro governo também recebe
Sua parte por inteiro tem fiscal fiscalizando diretor e tesoureiro
Eu alugo um carro forte pra trazer o meu dinheiro
Dá gosto de ser canto dá gosto de ser violeiro
Em toda minha carreira são trinta discos gravados
Os direitos que recebo dá pra ver sossegado

Os direitos autorais dá dinheiro pra danar é grana pra arrebentar
Direito de execução é milhã e mais milhão eu não sei onde gastar
Minha mulher me chamou levanta vai trabalhar
Então tive que acordar foi tão gostoso sonhar
Em toda minha carreira são trinta discos gravados
Os direitos que recebo dá pra ver sossegado

Peão E Ricaço
Me contaram um certo caso que eu achei muito engraçado
Diz que foi em Uberaba que este fato foi se dado
Numa estrada boiadeira um peão vinha cansado
Seu burro tordilho negro de suor tava molhado
Naquela estradinha estreita barranco de lado a lado
O burro cortava chão naquele passo picado

Surgiu atrás do peão um homem rico importante
Ele vinha dirigindo um Cadilac possante
Pediu caminho pro peão num gesto deselegante
Tocando a mão na buzina e buzinava a todo instante
O peão apertava o burro pra ele correr bastante
Mas só pode dar passagem num desvio bem adiante

O ricaço falou pro peão umas palavra malcriada
Não quero ninguém na frente quando eu dou uma buzinada
Meu carro tem cem cavalos e é de marca afamada
Você nesse burro velho pensa que é dono da estrada
Passando o carro na frente ele deu uma acelerada
Encheu o peão de poeira e saiu dando risada

O ricaço todo garboso naquele carro macio
Correndo a cem por hora naquela estrada sumiu
Mais adiante um baixada onde tinha um desvio
O seu carro derrapou e da estrada saiu
Ele todo apavorado quis brecar e não conseguiu
E o carro desgovernado foi parar dentro de um rio

depois de uma meia hora lá vinha vindo o peão
Ao ver o carro dentro d'água correu de satisfação
Chegou perto do ricaço montado no seu burrão
Fez o burro corcovear levantando um poeirão
Perguntou pro milionário num jeito de gozação
O senhor tá dando água para sua tropa patrão

Papo Do Cordão
Eu tratei meu casamento com uma moça do sertão
O defeito que ela tinha era papo de cordão

Esse papo de cordão ele tem nove caroço
Três pra cada lado e três no meio do pescoço

A nossa lua de mel fui aquele barulhão
A cama quebrou no meio o papo caiu no chão

Nosso café da manhã tinha biscoito e pão
Para mim tendo biscoito eu nem olho papão

Gosto da minha muié é bonita porá danar
O papo não é defeito o papo eu não vou usar

Peão Da Cidade
Eu vi com meus próprios olhos em um circo de rodeio
Na chegada dos peões que vieram pro torneio
Soltaram tanto foguete, parecia um bombardeio
Na hora da montaria o negócio ficou feio
Soltaram um burro famoso que eu nem sei de onde veio
Era só sentar no lombo cada pulo era um tombo ninguém esquentou no arreio

Surgiu um moço grã-fino do meio da multidão
Pelo traje eu vi que era um homem de posição
Cabelo bem penteado e roupa de exportação
As unhas toda esmaltada e anel de ouro na mão
Pra montar naquele burro ele pediu permissão
Pode ser que eu também caio mas pretendo dar trabalho pra fama desse burrão

Os peão que beijou a terra falaram com precisão
Os grã-fino da cidade quando quer bancar o peão
Não para nem amarrado no lombo de um pagão
Se esse grã-fino montar pode preparar o caixão
O burro tirou do lombo barbado da profissão
Não foi um e nem foi dois vamos ver o pó de arroz bater a cara no chão

O moço entrou na arena e calçou a espora de prata
Pôs o paletó na cerca e apertou bem a reata
Sentou no lombo do burro e bambeou o nó da gravata
Cortou o burro na espora e foi batendo de chibata
O burro caiu de costa levantou as quatro patas
O moço saltou de lado e o burrão ficou deitado entregue para as baratas

Ganhou aplauso do povo e ganhou beijo das meninas
Grã-fino contou sua vida bebendo numa cantina
Eu já fui peão de fama lá no estado de Minas
O dinheiro do meu pai foi quem mudou minha sina
Eu tenho na minha casa diploma da medicina
To morando na cidade mas sinto grande saudade que até hoje me domina

Pepino
Arei a terra um terreno genuíno
Preparei pra melancia porque o preço está subindo
Gastei a grana fiquei duro até tinindo
Mandaram semente errada só nasceu pé de pepino

Eu não quero mais pepino, eu não quero mais pepino
Nem do grosso e nem do fino eu sofro do intestino
Deus o livre, mas que pepino Anônio
Mas eu não quero pepino Amado
O que você quer que eu faça, só dá pepino uai

Eu namorei a filha do seu Guerino
O casamento marcado para as festas do divino
Um certo dia o velho falou sentindo
Só posso vestir a noiva na colheita do pepino

Eu não quero mais pepino, eu não quero mais pepino
Nem do grosso e nem do fino eu sofro do intestino
Deus o livre, mas que pepino Anônio
Mas eu não quero pepino Amado
O que você quer que eu faça, só dá pepino uai

Esta verdura andava me destruindo
Fiz exame me operaram deram alta eu vinha vindo
Cheguei em casa a mulher falou sorrindo
Me abraçou e disse benzinho, tem sopinha de pepino

Eu não quero mais pepino, eu não quero mais pepino
Nem do grosso e nem do fino eu sofro do intestino
Deus o livre, mas que pepino Anônio
Mas eu não quero pepino Amado
O que você quer que eu faça, só dá pepino uai
 
A Formiguinha
A formiguinha tão pequenina pediu carona para o elefante
Elefante, por favor, me ajude a atravessar o rio sozinha eu não consigo
O elefante muito educado ajudou a formiguinha
Obrigada elefante, você foi muito gentil
O obrigado é pouco formiguinha pode descer a calcinha
A formiguinha ficou tristinha porque não tinha camisinha

A formiguinha no outro dia comprou uma dúzia de camisinha
Ficou esperando o elefante que ajudou de novo a formiguinha
O elefante não disse nada saiu andando com preguiça
A formiguinha batia as mãozinhas ficou gritando

bicha, bicha, elefante bicha, bichona

Músicas do álbum Músicas Raízes (SINTONIA NH 1919) - (1990)

Nome Compositor Ritmo
Som Rural Jacozinho / Toni Gomide Pagode
A Moda Do Genro Jacozinho / Toni Gomide / Tavinho Moda De Viola
Mãe Cega Moacyr Dos Santos / Tião Do Carro Guarânia
A Volta Do Genro Jacozinho / Toni Gomide / Tavinho Moda De Viola
Saco De Ouro Caetano Erba / Paraiso Xote
Nelore Valente Sulino / Antonio Carlos Moda De Viola
O Sonho Dos Direitos Autorais Jacozinho / Toni Gomide Pagode
Peão E Ricaço Sulino / Moacyr Dos Santos Moda De Viola
Papo Do Cordão Tavinho / Jacozinho Rojão
Peão Da Cidade Sulino / Moacyr Dos Santos Moda De Viola
Pepino Jacozinho Corrido
A Formiguinha Jacozinho / Tavinho Corrido
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