Viva O Lari Larai (CLP 9003) - (1962) - Jacó e Jacozinho

Fundanga
Bota fogo na fundanga tira esse mal de mim 
Fumaça benta que sobe traz o meu amor pra mim 
Um dia desse eu briguei com a minha namorada 
Tem gente queimando vela pra roubar a minha amada 
Feiticeiros trabalhou até em altas madrugadas 
Encontrei o seu lencinho jogado na encruzilhada 

Coitadinha sofre tanto não me esquece um só momento 
Se eu perder os teus carinhos vai dobrar o meu sofrimento 
Feiticeiros querem ver fim do nosso casamento 
Sofre eu e sofre ela é grande o padecimento 
Bota fogo na fundanga tira esse mal de mim 
Fumaça benta que sobe traz o meu amor pra mim 

Qualquer dia vou baixar naquela famosa aldeia 
Quero dar tanta pancada que os caboclos desnorteia 
E o bando de feiticeiros, eu vou cortar de correia 
Depois quero que a polícia levem todos pra cadeia 
Esta luta eu não perco, vou com Deus no coração 
Tenho fé no meu são Jorge, tenho fé no pai João 

Vou tirar o meu benzinho desta grande confusão 
E colocar aliança no dedo da sua mão 
Bota fogo na fundanga, tira esse mal de mim 
Fumaça benta que sobre, traz o meu amor pra mim

Um Beijo Só
Me dá um beijo um beijos só, me dá um beijo um beijos só
Se eu morrer de vontade você vai chorar de dó

Vontade de te beijar pois comigo continua
É coisa que eu acho feio um casal beijar na rua
Você não quer me beijar no portão da casa sua
Se você quiser topar nós vamos beijar na lua

Me dá um beijo um beijos só, me dá um beijo um beijos só
Se eu morrer de vontade você vai chorar de dó

Tem mocinhas por aí que dá beijo em qualquer um
Um beijinho para ela já virou coisa comum
Você não me beija aqui não beija em lugar algum
Faz tempo que eu te namoro ainda não ganhei nenhum

Me dá um beijo um beijos só, me dá um beijo um beijos só
Se eu morrer de vontade você vai chorar de dó

Tem beijo em festa de pobre tem beijo em festa de gala
E até nas condução tem beijo que até estrala
Tem mocinha por aí que não quer que a gente fala
Mando os velhos pra cozinha pra eles beijar na sala

Me dá um beijo um beijos só, me dá um beijo um beijos só
Se eu morrer de vontade você vai chorar de dó

O amor antigamente era puro e verdadeiro
Parece que santo Antônio era mais casamenteiro
As moças daquele tempo domava os rapaz solteiro
Pra eles ganhar um beijo tinha que casar primeiro

Me dá um beijo um beijos só, me dá um beijo um beijos só
Se eu morrer de vontade você vai chorar de dó

Três Noites
A três noites que eu não durmo nem ao menos tenho sono 
A três noites que eu estou sofrendo neste abandono 
Faz três noites que eu passo a chamar pelo seu nome 
E ela não vem dar fim nesta dor que me consome

Nesta noite fria e triste eu me sinto tão sozinho 
Meu pranto é um protesto a falta dos seus carinhos 
Meus braços estão vazios já não sente o seu calor 
Nem o cigarro consegue acalmar a minha dor

Minha voz dentro da noite é um grito de agonia 
Lamento desesperado contra a dor que me crucia 
Nas minhas horas de angustia até o silêncio diz 
O quanto eu estou sofrendo o quanto eu sou infeliz

Entre as quatro paredes do meu quartinho tão triste 
Somente amargura eu vejo somente a tristeza existe 
A chuva cai ritmada fustigando a minha janela 
Até o vento aparece murmurar o nome dela

Conselho
Eu não desejo te enganar anjo adorado 
És muito nova está na flor da mocidade
Eu já sou velho e além disso eu sou casado
Em minha casa reina a felicidade

Tem muitos homens que aproveitam essa chance
Eu penso muito e tenho filhas pra criar
Não quero ver no meu lar triste ambiente
Ver uma filha amargurada a soluçar

Quero que saibas que isso é uma fraqueza
Está reinando no seu crâneo de criança
Procure um moço que te ames com firmeza
Em sua vida tenho um ramo de esperança

Quero que sejas bem feliz em seu caminho
Que Deus lhe dê bastante paz e proteção
Vê onde anda para não pisar no espinho
Vê se esqueça essa cruel ilusão

Chico Mulato
Na volta daquela estrada bem em frente uma encruzilhada todo ano a gente via
Lá no meio do terreiro a imagem do padroeiro São João da Freguesia
No meio tinha fogueira em redor a noite inteira tinha caboclo violeiro
E uma tal de Terezinha cabocla bem bonitinha sambava neste terreiro
Era noite de São João tava tudo no sertão tava o Romão cantador
Quando foi de madrugada saiu com Tereza pra estrada talvez confessar seu amor
Chico Mulato era o festeiro caboclo bom violeiro sentiu frio seu coração
Tirou da cinta um punhal e foi os dois se encontrar o rival era seu irmão
Hoje na volta de estrada em frente àquela encruzilhada ficou tão triste o sertão
Por causa de Terezinha essa tal de caboclinha nunca mais teve São João

Tapera de beira de estrada que vive assim descoberta
Por dentro não tem mais nada por isso ficou deserta 
Morava Chico Mulato o maior dos cantador
Mas quando Chico foi embora na vila ninguém sambou
Morava Chico Mulato o maior dos cantador

A causa dessa tristeza sabida em todo lugar
Foi a Cabocla Teresa com outro ela foi morar
E o Chico acabrunhado largou então de cantar
Vivia triste e calado querendo só se matar
E o Chico acabrunhado largou então de cantar

Emagrecendo o coitado foi indo até se acabar
Chorando tanta saudade de quem não quis mais voltar
E todo mundo chorava a morte do cantador
Não tem batuque nem samba sertão inteiro chorou
E todo mundo chorava a morte do cantador

Guerra De Poesia
O filho longe de casa não tem socorro do pai
É hoje que a Terra treme no balanço a gente cai
Quem ganha chora de alegre quem perde cantando sai
Nesta guerra de poesia quem perde cantando vai

Estando alegre eu choro e triste vivo cantando
Quero que todos me ajudem e saiam daqui chorando
Na tristeza é que eu canto alegre vivo chorando
Não quero que vocês deixem que eu saia daqui cantando

Soldado ganha medalha se for valente na guerra
Poeta é festejado exaltando sua terra
Numa guerra de poesia quem perde não vê tristeza
Nesta luta de poeta enche o mundo de beleza

Bem por isso estou aqui pedindo de coração
Homens de boa vontade ajudem o meu sertão
Eu já vou me retirando desta guerra de poesia
O sertão está esperando o meu choro de alegria

Viva O Lari Larai
Uai uai eu sou do Lari e Larai 
Uai uai eu sou do Lari e Larai 
Melodias brasileiras que tá firme e não cai 

Lari Larai quer dizer simplicidade 
Lari Larai é caboclo de verdade 
Lari Larai no sertão e na cidade 
Lari Larai quer dizer brasilidade 

Uai uai eu sou do Lari e Larai 
Uai uai eu sou do Lari e Larai 
Melodias brasileiras que tá firme e não cai 

Lari Larai quer dizer homem direito 
Lari Larai é mulher e de respeito 
Lari Larai é viola sem defeito 
Lari Larai é o coração do meu peito 

Uai uai eu sou do Lari e Larai 
Uai uai eu sou do Lari e Larai 
Melodias brasileiras que tá firme e não cai 

Lari Larai é a nossa tradição 
Lari Larai filho da nossa nação 
Lari Larai não deixo cair no chão 
Lari Larai melodia do sertão 

Uai uai eu sou do Lari e Larai 
Uai uai eu sou do Lari e Larai 
Melodias brasileiras que tá firme e não cai 

O Mandamento Das Moças
Os mandamentos das moças vou dizer qual é o primeiro 
É andar sempre bonita cheirando água de cheiro

Os mandamentos das moças vou falar qual é o segundo 
É tomar muito cuidado não casar com vagabundo

Os mandamentos das moças vou falar qual é o terceiro 
Se quiser um bom marido é casar com violeiro

Este quarto mandamento nós vamos falar no duro 
De noite quando passear é não parar em lugar escuro

Este quinto mandamento é a respeito a escuridão 
Precisa tomar cuidado com os namoros no portão

Os mandamentos das moças vou falar qual é o sexto 
É trazer o namorado sempre preso no cabresto

Um conselho vamos dar para este mandamento 
Procurar um bom rapaz pra fazer bom casamento

As moças que são vaidosas devem procurar um homem 
Que seja trabalhador pra depois não passar fome

Os mandamentos das moças vou falar qual é o nove 
De noite com o namorado não passear de automóvel

Toda moça que se casa se passar necessidade 
Deve se lembrar da Amélia que era mulher de verdade

Mar Vermelho
Durante o mês de dezembro a chuvarada caiu 
E as águas do Rio do Peixe com as enchentes subiu
Quinhentos metros de vargem as águas todas cobriu 
Parecia um Mar Vermelho, ai naquele sertão bravio

Frederico Cruz morava do outro lado do rio 
Tinha uma menina doente um remédio a mãe pediu
Um camarada da casa aproveitando o estio 
Num cavalo de corrida, ai pela estrada ele partiu

Na ida ele teve sorte a chuva não impediu 
Quando voltou com os remédios uma capa ele vestiu
No atravessar o rio de novo os galhos submergiu 
Cavalo espantou e ele, ai na correnteza caiu. 

Cavalo nadava muito do outro lado saiu 
Chegando em casa molhado com os arreio e coxonilho
A família vendo aquilo o povo se reuniu 
Foram achar no outro dia, ai lá numa curva do rio

Nos galhos o corpo enroscado que a família descobriu 
Os remédios ainda no bolso pra levar e não conseguiu
Deixaram uma cruz fincada naquele lugar sombrio 
Todos que soube a notícia, ai não teve quem não sentiu

Perereca
Menina bonita feição de boneca 
Dos olhos ligeiro que nem perereca 
Por desprezo seu eu levei a breca 
Você é gordinha que nem bisteca 
Eu sou magro e feio velho e careca 

Oi lari lará, oi lari larai 
Oi lari lará, oi lari larai 

Eu to parecendo asa de caneca 
Se eu estou por fora é você quem peca 
Tirei nos seus braços a minha soneca 
Quando eu não te vejo meu lábio seca 
Meus olhos chora e a boca resseca 

Oi lari lará, oi lari larai 
Oi lari lará, oi lari larai 

Te dei a viola de madeira sueca 
Até a minha casa tá na hipoteca 
Do meu coração você fez peteca 
Você é bonita, mas é sapeca 
Eu estou perdido com esta moleca 

Oi lari lará, oi lari larai 
Oi lari lará, oi lari larai

O Jogador De Baralho
Conheci um rapazinho honrado e trabalhador 
Foi nascido e foi criado numa vila do interior 
Veio para a capital estudar pra ser doutor 
Levado por maus amigos deu um grande jogador 
Deixou o estudo e o trabalho e com as cartas do baralho ganhou riqueza e valor

Casou com uma moça rica redobrou sua alegria 
Na sua rica mansão felicidade existia 
Dominado pelo vicio toda noite ele saía 
No cassino onde jogava só ganhava e não perdia 
Enquanto o tempo passava sua riqueza aumentava do jogo não desistia 

Mas tudo que vem ao mundo traz sua sina marcada 
Numa noite ele jogou sua última parada 
Se perdia uma partida a outra era dobrada 
Foi jogando e foi perdendo chegou a ficar sem nada 
Numa última defesa, pois a aliança na mesa jogou a mulher amada 

Sua esposa quando soube o que tinha acontecido 
Pra não se entregar a outro que não era seu marido 
Foi se embora pelo mundo com o coração ferido 
Quem ganhou não leva ela, mas o lar foi destruído 
O jogador em desespero sem mulher e sem dinheiro transformou-se num perdido

Aquela rica mansão era igual um céu aberto 
Hoje está tão solitária só tem tristeza por perto 
O jogo dá e também tira é um ditado muito certo 
Aos amigos do baralho nesses versos eu alerto 
Que ninguém é invencível parece que por incrível sempre tem um mais esperto

É Fogo
Uma vez fiz um brinquedo no terreiro de uma venda
Topei um cara marrudo capataz de uma fazenda
Nesse dia eu dei pancada que nem ferreiro na fenda
Nasci na zona da mata valentão pra mim é lenda

Eu disse assim pro sujeito a camisa nós emenda
Meu aço tá na cintura não é pra cortar merenda
Minha faca corta e fura mandei fazer de encomenda
Os taios que eu dou com ela não tem doutor que remenda

Ele virou parafuso eu virei chave de fenda
Fiz ele passar espremido que nem cana na moenda
Nesse dia fui tesoura entrei gostoso na renda
Quem tiver amor na vida que do meu lado não penda

Uma donzela me vendo da janela da vivenda
Papai corra aqui depressa vem ver que briga tremenda
Tô brigando e tô falando pra aquela bonita prenda
Pra vida não tô ligando não quero que me defenda

Se eu daqui sair com vida a polícia que me prenda
Se eu morrer nesse combate não quero que vela ascenda
Pra quem lê um pingo é letra espero que me compreenda
Quem tá no braço da viola foi quem venceu a contenda

Músicas do álbum Viva O Lari Larai (CLP 9003) - (1962)

Nome Compositor Ritmo
Fundanga Moacyr Dos Santos / Zé Claudino Congada
Um Beijo Só Sulino / Moacyr Dos Santos Cana Verde
Três Noites Marrequinho / Ubirajara Rasqueado
Conselho Zé Do Rancho / Zé Cocão Rasqueado
Chico Mulato Raul Torres / João Pacífico Toada
Guerra De Poesia Lourival Dos Santos / Raul Torres Toada
Viva O Lari Larai Moacyr Dos Sanrtos / Augusto Toscano Corrido
O Mandamento Das Moças Raul Torres Cateretê
Mar Vermelho Carreirinho Cururu
Perereca Moacyr Dos Santos / Lourival Dos Santos Pagode
O Jogador De Baralho Quintino Elizeu / Sulino Moda De Viola
É Fogo Lourival Dos Santos / Zé Batuta Pagode
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