Modas De Viola Clássica - (1991) - João Mulato e Douradinho
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Herói Sem Medalha
Sou filho do interior do grande estado mineiro
Fui um herói sem medalha na profissão de carreiro
Puxando tora do mato com doze bois pantaneiros
Eu ajudei desbravar nosso sertão brasileiro
Sem vaidade eu confesso do nosso imenso progresso eu fui um dos pioneiros
Veja como o destino muda a vida de um homem
Uma doença malvada minha boiada consome
Só ficou um boi mestiço que chamava lobisomem
Por ser preto igual carvão foi que eu pus esse nome
Em pouco tempo depois eu vendi aquele boi pros filhos não passar fome
Aborrecido com a sorte dali resolvi mudar
E numa cidade grande com a família fui morar
Por eu ser analfabeto tive que me sujeitar
Trabalhar no matadouro para o pão poder ganhar
Como eu era um homem forte nuqueava gado de corte pros companheiros sangrar
Veja só a nossa vida como muda de repente
Eu que às vezes chorava quando um boi ficava doente
Ali eu era obrigado matar a rês inocente
Mas certo dia o destino me transformou novamente
O boi da cor de carvão pra morrer na minha mão estava na minha frente
Quando eu vi meu boi carreiro não contive a emoção
Meus olhos encheram d’água meu pranto caiu no chão
O boi me reconheceu e lambeu a minha mão
Sem poder salvar a vida do boi de estimação
Pedi a conta e fui embora desisti na mesma hora desta ingrata profissão
Viola Cor De Ouro
Nasci trazendo no peito um coração sonhador
E trazendo em minha alma o dom de compositor
Cantar e tocar viola aprendi sem professor
Apesar de alguns defeitos ganho dinheiro e respeito
E não tem caminho estreito pra quem tem bom protetor
Na bandeira da verdade eu sempre fui defensor
Eu canto na capital e também no interior
No meu laço de amizade só tem gente de valor
De quem não anda direito amizade eu não aceito
Mas não tenho preconceito de credo raça e cor
Essa viola cor de ouro vai comigo aonde eu for
Com ela eu tive o prazer de ser um conquistador
Já fez muitos corações por mim suspirar de dor
Eu nunca senti despeito só tive amor imperfeito
E de cada amor desfeito não guardo mágoa e rancor
No grande jardim da vida fui um veloz beija-flor
Mas um dia fiquei preso num olhar encantador
Mulher da pele macia do sorriso sedutor
Em seu corpo tão bem feito descobri o amor perfeito
E tirei com muito jeito dos braços de um doutor
Eu estou vivendo a vida que pedi ao criador
Do mel da felicidade estou sentindo o sabor
A viola é minha espada que me fez um vencedor
Da viola tirei proveito vivo muito satisfeito
Eu falo e bato no peito sou feliz com este amor
Rei Do Dado
Num bar de Ribeirão Preto vi com meus olhos está passagem
Quando champanhe corria a rodo no alto meio da granfinagem
Nisto chegou um peão trazendo na testa o pó da viagem
Pro garçom ele pediu uma pinga que era pra rebater a friagem
Levantou um almofadinha e falou pro dono eu tenho má fé
Quando um caboclo que não se enxerga num lugar deste vem por os pés
Senhor que é o proprietário deve barrar a entrada de qualquer
E principalmente nessa ocasião que está presente o rei do café
Foi uma salva de palmas gritaram viva pro fazendeiro
Que tem bilhões de pés de cafés por este rico chão brasileiro
Sua safra é uma potência e nosso mercado é no estrangeiro
Por tanto vejam que este ambiente não é pra qualquer tipo rampeiro
Com um modo bem cortês responde o peão pra rapazeada
Essa riqueza não me assusta topo e aposto qualquer parada
Cada pé do seu café eu amarro um boi da minha invernada
E pra encerrar o assunto eu garanto que ainda me sobra uma boiada
Foi um silêncio profundo o peão deixou o povo mais pasmado
Pagando a pinga com mil cruzeiros disse ao garção pra guardar o trocado
Quem quiser meu endereço que não se faça de arrogado
É só chegar lá em Andradina e perguntar pelo rei do gado
Amanhecer Sertanejo
O céu vai abrindo os olhos e os inquietos pirilampos
Vão em busca de outros campos enquanto o dia aparece
Ouvi-se um canto saudoso de um sabiá primoroso
Num drama maravilhoso que a natureza oferece
As serranias desertas despertam da letargia
Para o cortejo do dia que se aproximando vem
Tudo é paz e conforto até um pau d’arco torto
Pendido, de galho morto parece vibrar também
As palmeiras abrem seu leques para os bafejos da brisa
Que docemente desliza em suas tranças aloiradas
Quando o sol tinge o horizonte o zebu desce do monte
Para vir beber na fonte as águas paralisadas
Depois passa a madrugada com sua face "loçan”
Beija a boca da manhã diz adeus e vai embora
O sol um riso desaba com os seus raios de prata
Desponta por traz da mata beijando o rosto da aurora
Ferreirinha
Eu tinha um companheiro por nome de Ferreirinha
Nós lidávamos com boiada desde nós dois rapazinhos
Fomos buscar um boi brabo no campo do Espraiadinho
Eram vinte e oito quilômetros da cidade de Pardinho
Nos chegamos no tal campo cada um seguiu pra um lado
Ferreirinha foi num potro redomão muito cismado
Já era de tardezinha eu já estava bem cansado
Não encontrava o Ferreirinha nem o tal boi arribado
Naquilo avistei o potro que vinha vindo assustado
Sem arreio e sem ninguém fui ver o que tinha se dado
Encontrei o Ferreirinha numa restinga deitado
Tinha caído do potro e andou pro campo arrastado
Quando avistei Ferreirinha meu coração se desfez
Eu rolei do meu cavalo com tamanha rapidez
Chamava ele por nome, chamei duas ou três vezes
E notei que estava morto pela sua palidez
Pra deixar meu companheiro é coisa que eu não fazia
Deixar naquele deserto alguma onça comia
Estava ali só eu e ele Deus em nossa companhia
Venho muitos pensamentos só um é que resolvia
Pra levar meu companheiro veja o quanto eu padeci
Amarrei ele pro peito e numa árvore eu suspendi
Cheguei meu cavalo em baixo e na garupa desci
E com o cabo do cabresto eu amarrei ele em mim
Sai pra aquelas estradas tão triste, tão amolado
Era um frio do mês de junho seu corpo estava gelado
Já era uma meia noite quando eu cheguei no povoado
Deixei na porta da igreja e fui chamar o delegado
A morte deste rapaz mais que eu ninguém sentiu
Deixei de lidar com gado minha inclinação sumiu
Quando lembro esta passagem franqueza me dá arrepio
Parece que a friagem das costas ainda não saiu
Sapato 42
Pensei que fosse bobagem quando o Tião me chamou
Pra mostrar sapatos velhos que ele colecionou
Lá na dispensa dos fundos soluçando me falou
Tudo que aqui está com minha mãe começou
Meus primeiros sapatinhos com amor e com carinho foi minha mãe quem guardou
Quando me entendi por gente que eu pude raciocinar
Todos meus sapatos velhos continuei a guardar
Aquele lá marronzinho pus quando fui me formar
Aquele outro esportivo era só pra passear
E aquele lá de pelica quando eu saí na estica num sábado pra casar
Agora olho os sapatos vem a saudade e judia
Pois foi com os sapatinhos que passei melhores dias
Eu era um rei inocente que nem eu mesmo sabia
Pra me ver sempre feliz mamãe tudo me fazia
Mas quando anos depois eu cansei quarente e dois ali meu sonho morria
O retrato dos meus pés em cada sola estampado
É o trilho da minha vida por meus próprios pés pisados
Seu moço também meu corpo anda um tanto judiado
É o peso dos pés do tempo por quem eu sou pisoteado
Os sapatos que guardei sem saber colecionei os passos do meu passado
Travessia Do Araguaia
Naquele estradão deserto uma boiada descia
Pras bandas do Araguaia pra fazer a travessia
O capataz era um velho de muita sabedoria
As ordens eram severas e a peonada obedecia
O ponteiro moço novo muito desembaraçado
Mas era a primeira viagem que fazia pra estes lados
Não conhecia os tormentos do Araguaia afamado
Não sabia que as piranhas eram um perigo danado
Ao chegarem na barranca disse o velho boiadeiro
Derrubamos um boi n’água deu a ordem ao ponteiro
Enquanto as piranhas comem temos que passar ligeiro
Toque logo este boi velho que vale pouco dinheiro
Era um boi de aspa grande já roído pelos anos
O coitado não sabia do seu destino tirano
Sangrando por ferroadas no Araguaia foi entrando
As piranhas vieram loucas e o boi foram devorando
Enquanto o pobre boi velho ia sendo devorado
A boiada foi nadando e saíram do outro lado
Naquelas verdes pastagens tudo estava sossegado
Disse o velho ao ponteiro pode ficar descansado
O ponteiro revoltado disse que barbaridade
Sacrificar um boi velho pra que esta crueldade
Respondeu o boiadeiro aprenda esta verdade
Que Jesus também morreu pra salvar a humanidade
Catimbau
Tive lendo em um romance de um casal de namorado
De Rosinha e Catimbau dois jovens apaixonados
Rosinha família rica Catimbau era um coitado
Capataz de uma fazenda mas trabalhador honrado
Amansava burro bravo no laço era respeitado
Um caboclo destemido por tudo era admirado, ai
Um dia encontrou Rosinha lá no alto do espigão
Por se ver os dois sozinhos quis se aproveitar da ocasião
Catimbau pediu um beijo Rosinha disse que não
Ela bem estava querendo mas não deu demonstração
De tanto que ele insistiu ela deu a decisão
Vamos deixar para outro dia para as festas de São João, ai
Já passados cinco meses chegou o esperado dia
Rosinha estava mais linda como uma flor parecia
A festa estava animada todos com grande alegria
Quando o pai de Rosa veio perguntando quem queria
Mostrar ciência no laço pra laçar o boi Ventania
Os vaqueiros amedrontados todos eles se escondia, ai
Chamaram então Catimbau, mas ele não atendeu
Rosinha disse meu bem vá fazer o pedido meu
Catimbau é corajoso, mas nessa hora tremeu
Depois deu um sorriso amargo pra Rosinha respondeu
Eu vou laçar esse touro pra te mostrar quem sou eu
Mas depois eu quero o beijo que você me prometeu, ai
Catimbau mais que depressa no seu bragado montou
Chegou a espora no macho e a laçada ele aprontou
A laçado foi certeira que o povo se admirou
Catimbau foi infeliz o bragado se atrapalhou
O laço fez um volta no seu pescoço enrolou
Com o pialo que o boi deu sua cabeça decepou, ai
Trouxeram a cabeça dele Rosinha nela pegou
Chorando desesperada desse jeito ela falou
Catimbau prometi um beijo receba agora eu te dou
Na boca do seu amado tristemente ela beijou
Este é fim de uma estória dando provas que se amou
De Rosinha e Catimbau que a morte separou, ai
Caboclo De Sorte
Lá na vizinhança que eu sou morador sem que eu esperava arranjei um amor
É um Linda moça parece um flor de olhar morteiro enfeitiçador
Por essa morena sofro que é um horror e ela quase que regula a minha cor
Talvez por receio ou de opinião ela não deixava nem pegar nas mãos
Eu pedi um beijo ela disse não mas com muito jeito fiz arrumação
Por eu ser violeiro e bom folgazão ganhei por toda vida o seu coração
Se é coisa que eu gosto é ser violeiro e levar a fama de bom catireiro
Recebo convite do Brasil inteiro já cantei de viola até no estrangeiro
Acho muito fácil ganhar o dinheiro o mais difícil é ficar sempre solteiro
Meu futuro sogro é um homem direito homem de palavra e de muito respeito
Eu pedi a moça ele ficou sem jeito mordeu no cigarro e bateu no peito
Perguntou pra filha se era bom sujeito mas ela respondeu que sim eu fiquei satisfeito
Com o sim do velho me aumentou a fé me senti tão grande como o rei Pelé
Hoje falo alto hoje eu bato o pé ganho muitos beijos e muitos cafunés
A sorte que eu tenho muita gente quer vou me casar no fim do ano se Deus quiser
Vida De Peão
Sou violeiro cantador das quebradas do sertão
Vou riscar um ponteado e o meu tema é o peão
Depois de uma montaria sabe o que o peão quer?
É cerveja bem gelada e carinho de mulher
O peão tem mordomia mas acaba num estalo
Se levar queda de um boi, de um burro ou de um cavalo
Mulher que deixa o peão sem ao menos dizer oi
Ele cura a sua paixão é no lombo de um boi
A pior queda do mundo para o valente peão
É desprezo da mulher que mora em seu coração
O peão apaixonado duas coisas te consola
É os braços de mulher ou um toque de viola
O peão quando é sem sorte do animal nunca se esquece
Aqueda que ele toma é o troféu que ele merece
Tem peão que chora muito e só vive resmungando
Esse é o peão cabrito é comendo e berrando
Tem peão que é medroso que parece brincadeira
Do perigo corre igual veado na capoeira
Chapéu e bota bonita, calça jeans e cinturão
Lenço e camisa xadrez são as vestes do peão
Menina à meu peão e não faça alvoroço
Quando a fruta é sadia ele come até o caroço
O povo é a voz de Deus é um ditado popular
E onde tem o povão peão quer se apresentar
Boi Soberano
Me lembro e tenho saudade do tempo que vai ficando
Do tempo de boiadeiro que eu vivia viajando
Eu nunca tinha tristeza vivia sempre cantando
Mês e mês cortando estrada no meu cavalo ruano
Sempre lidando com gado desde de a idade de quinze anos
Não me esqueço dum transporte seiscentos bois cuiabanos
No meio tinha um boi preto por nome de Soberano
Na hora da despedida o fazendeiro foi falando
Cuidado com esse boi que nas guampas é leviano
Esse boi é criminoso já me fez diversos danos
Tocamos pela estrada naquilo sempre pensando
Na cidade de Barretos na hora que eu fui chegando
A boiada estouro, ai só via gente gritando
Foi mesmo uma tirania na frente ia o Soberano
O comércio da cidade as portas foram fechando
Na rua tinha um menino de certo estava brincando
Quando ele viu que morria de susto foi desmaiando
Cuitadinho debruçou na frente do Soberano
O Soberano parou ai, em cima ficou bufando
Rebatendo com o chifre os bois que vinham passando
Naquilo o pai da criança de longe vinha gritando
Quando viu seu filho vivo e o boi por ele velando
Caiu de joelho por terra e para Deus foi implorando
Salve meu anjo da guarda deste momento tirano
Quando passou a boiada o boi foi se retirando
Veio o pai dessa criança me comprou o Soberano
Esse boi salvou meu filho ninguém mata o Soberano
Páginas Da Saudade
Abri o livro de história na página da saudade
Reli o nome de tantos violeiros de verdade
Que deixaram este mundo tanta estima e amizade
Na visão do pensamento eu revi neste momento
Os amigos de talento que moram na eternidade
Raul Torres e Florêncio, Belmonte e Marrueiro
Lourival e Moacyr, Vieirinha e Zé Carreiro
Cascatinha e Inhana, Caçula e Marinheiro
Barduíno e Biguá, Zé Fortuna e Goiá
O Silveira deve estar com Tonico e Tião Carreiro
Perdemos Peão Carreiro, Mariano e Luizinho
Jacó e Capitão Furtado, Alvarenga e Ranchinho
Teixeirinha e Duduca, Bambico e Zé Mineirinho
Cuiabano e Mourací, Barrinha e Piraci
Nenete eu também vi com Serrinha e Caboclinho
Revejo Cornélio Pires com a viola pioneira
Athos Campos e Camões, Zé Paioça e Teddy Vieira
Arlindo Pinto e Anacleto, Ado Benatti e Palmeira
O meu coração deseja que pra sempre Deus proteja
Estas almas sertaneja que foram nossa bandeira
Reunião De Amigos
Numa roda de viola não tem graça se faltar
Doutor Arthur Guedes da Costa e o doutor João Osmar
Eles comandam o silêncio quando a gente vai cantar
Só deixa aqueles por perto que tem prazer de escutar
É gostoso na fazenda do doutor João Osmar
Ele reúne os amigos quando nós vamos pra lá
Se a felicidade existe reside neste lugar
Eu passo dias felizes sofro quando vou voltar
Dou ponteado na viola e já olho pro caminho
Vejo Adélio chegando com seu irmão Baianinho
O Joel do laticínio Pedrão, Célio e o Churrasquinho
Cada versos que cantamos vibram o Flavião e o doutor Flavinho
Seu Oswaldo e o Nivaldo, Edinho diz mas que trem bom
O Nestor e o Costinha e Samo prestam atenção
Donizete Alves chegando de uma festa de peão
Pra narra uma jeneteada ele esbanja emoção
Onde Deus está presente todo mundo se admira
Lá nós dançamos forró, são Gonçalo e a catira
Sueli e doutora vera dona Pierina se retira
Elas vão para a cozinha preparam frango caipira
A Nara e o Jucimar quando trucam sai da frente
Quando pegam na viola dão recado competente, ai, ai
No domingo de tardinha eu já me sinto sozinho
Cada um tem seu destino cada um pro seu cantinho
Também vou me retirando junto com os passarinhos
Até breve, um abraço de João Mulato e Douradinho
Boiada Cuiabana
Vou conta a minha vida do tempo que eu era moço
De uma viagem que fiz lá pro sertão do mato grosso
Fui buscar uma boiada isto foi no mês de agosto
Meu patrão foi embarcado pra linha sorocabana
Capataz da comitiva era o Juca flor da fama
Fui tratado pra trazer uma boiada cuiabana
No baio foi João negrão no tordilho Severino
Zé Garcia no alazão e no pampa foi Catarino
A madrinha e o cargueiro quem puxava era um menino
Eu saí de lambari na minha besta ruana
Só depois de trinta dias que cheguei em Aquidauana
Lá fiquei enamorado de uma malvada baiana
Ao chegar em campo grande num cassino eu fui chegando
Uma linda paraguaia na mesa estava jogando
Botei a mão na algibeira dinheiro estava sobrando
Ela mandou me dizer pra que eu fosse chegando
Eu mandei dizer pra ela vai bebendo eu vou pagando
Eu joguei nove partidas meu dinheiro foi andando
A lua foi se escondendo vinha rompendo a manhã
Aquela morena faceira trigueira cor de romã soluçando me dizia
Muchacho leva-me contigo que te darei toda a minha alma,
Todo o meu coração toda minha vida
Os boiadeiros no rancho estavam prontos pra partida
Numa roseira cheirosa os passarinhos cantavam
A minha besta ruana parece que adivinhava
Que eu sozinho não partia, meu amor me acompanhava
Eu parti de Campo Grande com a boiada cuiabana
Meu amor veio na anca da minha besta ruana
Hoje tenho quem me alegra na minha velha choupana
Um Pouco De Meu Passado
Tem certas coisas que a gente guarda dentro da memória
Se caprichar na escrita dá pra fazer uma história
Eu vou contar detalhado passagem da minha vida
Minha lida de peão jamais será esquecida
Coisas do arco da velha fato que até Deus duvida
Na região de Araçatuba lugar que eu fui criado
Com o capataz Alfredinho aprendi lidar com gado
Na fazenda do Sarjove um recanto adorado
Tião Preto e meus companheiros na lida de retireiro
Madrugavam o ano inteiro davam conta do recado
Na fazenda Casa Branca tive sonhos adorados
Onde vivi minha infância até hoje estou lembrado
Dedé Pipa e o Dirceu os donos desta fartura
Braulino e o Zé Cotoco dois irmãos parada dura
Na caçada de estilingue não voltava sem mistura
Os bailes daqueles tempos eram bailes arrojados
Só acabava no outro dia quando tinha clareado
Nildo, Pedrinho e José dançadores afamados
O Argemiro meu irmão falo com toda certeza
Sempre foi na redondeza por todos bem estimados
Lembrando dos bons amigos falo com grande emoção
Doutor Edi Mancazerta, médico do coração
Tio Inácio e Peixinho ibope na região
O Cidão e o Waldir, Messias e Renatão
E o Miro e Miraci companheiro igual irmãos
Do Zé Bil eu não esqueço fechando os olhos eu vejo
Nhô Tonho e Rogerinho nos programas sertanejos
Quando eu fui para São Paulo eu tutei e sofri calado
Hoje me tornei artista aplaudido e afamado
Cantando agora eu revelo um pouco do meu passado
As Três Cuiabanas
Eu nasci numa data feliz, bem depois do dia dezesseis
Por eu ser um menino sem pai fui criado com titio Inês
Titio era cuiabano nessa lida também me criei
Ele era criador de gado no seu regime me acostumei
Tinha laço couro de mateiro não escapava uma rês do mangueiro
Eu deixava correr trinta dias por mês
Fiz viagem pra Mato Grosso na comitiva de um calabrês
Titio me deu um burro pampa que atendia por nome truquês
Foi tirado da tropa Rio Grande outra escolha melhor não achei
Eu deixei pra mostrar minha ciência quando lá em Mato Grosso eu cheguei
Eu bambeei as rédeas do pampa e o laço pegou pelas guampas
Berrava na chincha o zebu jaguanês
Tinha três mocinhas na janela, Jovilhana, Clarice e Inês
Uma delas tava me gabando paulistinha ainda surra vocês
Cuiabanos quiseram achar ruim o meu trinta na cinta eu bambeei
Pra mostra minha ciência melhor por capricho o mestiço eu soltei
Ele tinha as guampas revessas e o laço escapou da cabeça
Pelas duas mãos eu lacei outra vez
O patrão me chamou lá pra dentro eu entrei com meu jeito cortês
Eu entrei no salão de visita lá fiquei rodeado das três
Perguntou qual era a mais bonita veja só que apuro eu passei
Respondi todas três são iguais fui do jeito que eu desapurei
A mais velha é uma flor do campo, a do meio é um cravo vermelho
A mais nova é uma rosa quando está de vez
Na hora da despedida foi preciso eu falar português
O meu coração ficou roxo foi da cor de um alho chinês
Eu deixei pra dar meus três suspiros quando o Porto pra cá atravessei
As meninas me escreveram cartas brevemente a resposta eu mandei
Vou tomar a linha sorocabana quero ver as três cuiabanas
Quero ver Jovilhana, Clarice e Inês
Msicas do lbum Modas De Viola Clássica - (1991)
Nome | Compositor | Ritmo |
---|---|---|
Herói Sem Medalha | Sulino | Moda De Viola |
Viola Cor De Ouro | João Mulato / Jesus Belmiro | Moda De Viola |
Rei Do Gado | Teddy Vieira | Moda De Viola |
Amanhecer Sertanejo | Téo Azevedo / Jansen Filho | Moda De Viola |
Ferreirinha | Carreirinho | Moda De Viola |
Sapato 42 | Caetano Erba / Paraíso | Moda De Viola |
Travessia Do Araguaia | Dino Franco / Décio Dos Santos | Moda De Viola |
Catimbau | Teddy Vieira / Carreirinho | Moda De Viola |
Caboclo De Sorte | Dino Franco / Tião Carreiro | Moda De Viola |
Vida De Peão | Téo Azevedo / Paraíso | Moda De Viola |
Boi Soberano | Carreirinho / Izaltino Gonçalves / Pedro Lopes Oliveira | Moda De Viola |
Páginas Da Saudade | J. Santos / Mineiro | Moda de viola |
Reunião De Amigos | João Mulato / Guidini | Moda De Viola |
Boiada Cuiabana | Raul Torres | Moda De Viola |
Um Pouco De Meu Passado | João Mulato / Poeta | Moda De Viola |
As Três Cuiabanas | Zé Carreiro / Carreirinho | Moda De Viola |