50 Anos (BAU 011) - (2009) - Liu e Léu

40 Graus De Saudade 
Aos amigos locutores desse grande continente
A todos peço um favor, mande esta notícia urgente
Ajudem a procurar quem eu amo loucamente
E diga ao meu amor que estou muito doente
Quarenta graus de saudade queimando em paixão ardente
Só ela tem o remédio pra dor que meu peito sente

O vento balança as folhas e arrasta ao relento
O meu coração balança com ela no pensamento

Eu não sei porque estamos separados sem maldade
Se juntos sempre vivemos um grande amor de verdade
Tudo entre nós era lindo e hoje a ansiedade
Me faz chorar pelas noites nas esquinas da cidade
Estou morrendo aos poucos nesta triste realidade
Alimentando de paixão e bebendo gotas de saudade

O vento balança as folhas e arrasta ao relento
O meu coração balança com ela no pensamento
  
Figura Do Velho 
Tombamos a terra pra fazer a roça, o rancho a palhoça erguemos por lá
Depois de algum tempo um golpe doído, meu velho querido Deus veio buscar
Destino afiado machado cortante, bateu no gigante jogando pro chão
Bateu bem no cerne por baixo da casca, tirando uma lasca do meu coração

Ficaram suas marcas no esteio do rancho, na viga, no gancho, no teto e no chão
A vara de pesca em cima amarrada, no canto a enxada, machado, enxadão
Tem marcas de encho na velha porteira, no coxo e cocheira no pé do mourão
Quis fazer a peça que não ficou pronta, só fez uma ponta da mão de pilão

As marcas de fato estão lá na roça, com suas mãos grossas deu duro e lutou
E cada mourão que cerca a divisa, dizer nem precisa quem foi que fincou
E lá na tirada rasgada do solo, o velho monjolo foi ele quem pôs
Até o espantalho vermelho e rasgado, deixou lá fincado na roça de arroz

E hoje correndo a divisa da idade, me bate a saudade onde nós morava
Ainda estou sentindo o gostoso cheiro daquele paieiro que o velho pitava
Naquela fumaça subindo do pito, seu rosto bonito pra mim não morreu
No céu eu revejo a linda figura, na terra a moldura do velho sou eu         
  
Nós E Os Loucos 
Nós e os loucos eu preciso uma resposta que esclareça essa dúvida atroz
Se não somos nós mais loucos do que os loucos, ou os loucos são mais loucos do que nós
Em seu mundo eles vêem tudo a seu modo, e criticam nosso modo de viver
Ninguém sabe se os loucos estão certos e nós todos somos loucos sem saber

Quem destrói a natureza somos nós
Quem engana o semelhante somos nós
Quem envenenou o mundo fomos nós
Então quem são os loucos? Somos nós

Para o louco só o hoje o preocupa, porque vive em seu mundo inconsciente
Nós com medo do futuro não vivemos e matamos a beleza do presente
Procuramos encontrar felicidade, porém ela sempre mais se distancia
Para o louco o sentido da existência, ele encontra na manhã de cada dia

Quem destrói a natureza somos nós
Quem engana o semelhante somos nós
Quem envenenou o mundo fomos nós
Então quem são os loucos? Somos nós

Jardineira Amarela 
A jardineira amarela que passou no estradão
Eu entrei escorregando e agarrei no corre-mão
Fui chegando lá pra trás não tinha onde por a mão
Eu sentei lá na rabeira e vim comendo poeira vermelha daquele chão

A viagem foi dois contos e hoje é mais de cem
Naquela estradinha estreita tão cheia de vai e vem
Foi fazendo zig e zag, eu sofri como ninguém
Pelo atalho cortou, até que ela me deixou na estaçãozinha do trem

Aquela mala pequena, meu mundo, minha bagagem
Eu fui no guichê da ponta e comprei minha passagem
Queria sentir o gosto que tem em outras paragens
Quando o noturno encostou, meu coração balançou, testando a minha coragem

Naquele vagão de ferro, o destino por capricho
Cheguei na cidade grande assustado que nem bicho
Na minha roupa surrada, ainda tinha carrapicho

A jardineira amarela ficou na imaginação
Nessas ruas sem saída eu fiquei sem direção
Vim do oco da taquara, da gema do areião
Quem passou mata fechada, venceu as encruzilhadas, se perdeu na multidão  

Romper Da Aurora 
Ouvindo o murmurar da cachoeira
Das águas que desabam na pedreira
São as mais belas horas que existem em minha vida
Ver as madrugadas nascer florida

As árvores balançam calmas seus fortes galhos
E as flores de frio gemem sem agasalho
E os passarinhos põe-se a cantar e a deslumbrar
Quem de longe assisti o sol raiar

Quando o sol descamba calmo no horizonte
E os passarinhos voltam aos seus ninhos
A lua no céu tristonha, além da serração
Enchem de esperança meu coração

Padroeira 
Com seu manto cor de anil, Padroeira do Brasil, protegei a paz no mundo
Abençoe com seu amor, o lar de um trabalhador e os passos de um vagabundo
Mãe, derrame sua benção aos que sofrem de doença, sem esperança de cura
Bendita seja sua voz ao interceder por nós junto ao Pai lá nas alturas

Nossa Senhora de Aparecida, me dê sua proteção
Eu entrego em suas mãos meu destino e minha vida
O mundo implora por seu auxílio, abençoe os casais
Que os filhos amem seus pais e os pais amem seus filhos

Oh Virgem Santa Morena, magnífica e plena ilumine a humanidade
Olhai por nossa nação e plante em cada coração a semente da bondade
Oh Senhora Aparecida, imaculada e concebida, obrigado Virgem Pura
Bendita seja sua voz ao interceder por nós, junto ao Pai lá nas alturas

Nossa Senhora de Aparecida, me dê sua proteção
Eu entrego em suas mãos meu destino e minha vida
O mundo implora por seu auxílio, abençoe os casais
Que os filhos amem seus pais e os pais amem seus filhos

Sonho De Caboclo 
Fiz um poema com palavras tão bonitas, caprichei bem na escrita também fiz uma canção
Fui no jardim colhi as flores mais belas, margaridas amarelas e rosa branca em botão
Com muito gosto arrumei nossa casinha da sala até a cozinha e carpi todo o quintal
Rocei o pasto e concertei a porteira, enfeitei a casa inteira como se fosse o natal

Lá na varanda amarrei de novo a rede, ajeitei bem na parede o quadro da Santa Ceia
No chão da sala todo de terra batida dei uma boa varrida e não ficou um grão de areia
Em nossa cama pus a colcha de Piquet com beiradas de crochê, que você fez tudo a mão
Troquei as fronhas com capricho e muito esmero, as penas do travesseiro e palhas novas no colchão

Chegou o dia que você ia voltar eu cheguei até chorar de tanta felicidade
Levantei cedo, arrumei com muito zelo, reparti bem o cabelo que nem gente da cidade
Botina nova que me apertava um pouco, calça de brim rança toco, bigode bem aparado
De lenço branco camisa preta de listra, eu parecia um artista daqueles bem afamado

E bem na hora que passava a jardineira, me deu uma tremedeira quando a porteira bateu
Sai correndo lá pras bandas da estrada pra ver a sua chegada e você não apareceu
A jardineira foi sumindo no estradão levando minha ilusão, só a tristeza ficou
Foi só um sonho, sentei na cama chorando, hoje está fazendo um ano que você me abandonou

No Colo De Deus 
Alô Mato Grosso eu estou de volta, abra as suas portas pro seu filho entrar
A mãe natureza esta me esperando, coração não vê a hora de chegar
Permita me quando cruzar a fronteira, a minha maneira de homenagear
Me por de joelho, beijar o seu solo, depois no seu colo dormir e sonhar

Alô garça branca seu irmão regressa cumprindo a promessa que eu fiz de voltar
Abra suas asas que eu abro meus braços, fraternal abraço desejo te dar
Por entre as paisagens que levam minha alma, me espera e me acalma quando estou aqui
Vendo o Rio Coxim num abraço sem mágoa remando nas águas do Rio Taquari

Na proa da lancha eu tiro a camisa pra sentir a brisa me acariciar
Este reencontro com a mãe natureza, Deus vem com certeza me abençoar
No Rancho da Aldeia na noite estrelada, minha doce amada vem nos sonhos meus
A lua prateada furando o telhado dorme ao meu lado no colo de Deus  

Paixão Desenfreada 
Pela estrada da saudade me acompanha o abandono
Nas noites de solidão amanheço sem ter sono
No meu peito magoado desgosto fez o seu trono
Herança de um grande amor que amei sem ser o dono

Pra roubar os seus carinhos fazia longas jornadas
Cabrestiado pela força da paixão desenfreada
Ela era a estrela guia, luz da minha madrugada
Para mim ela foi tudo, eu pra ela não fui nada

Foi mais uma desventura como tantas que acontecem
Ela já se esqueceu de quem nunca lhe esquece
Quando vou pra aquelas bandas, coração chora e padece
Porque aqueles caminhos mil lembranças me entristecem

Ao passar a encruzilhada no meu cavalo montado
Ele quer tomar as rédeas ao caminho acostumado
Não sabe que aquele amor já é coisa do passado
E não sabe que seu dono esta morrendo apaixonado

Pequeno Não É Pedaço 
Ditinho era um moço pobre, muito honesto e competente
Era pequeno e franzino, porém tinha o sangue quente
Ele namorou uma moça filha de um homem valente
Era um grande fazendeiro e um tipo diferente
Tinha estatura tamanha parecia uma montanha, bem mais monstro do que gente

No dia que os dois jovens resolveram se casar
Ditinho por ser direito com o velho foi falar
O velho lhe respondeu, devia lhe castigar
Um nanico igual você, de mulher não vai tratar
Depois teve um pensamento consentiu o casamento só pensando em se vingar

No dia do casamento chegando a hora marcada
O fazendeiro maldoso reuniu a jagunçada
Deu a ordem e foi dizendo tomem conta da empreitada
Quero ver lá na igreja uma perfeita cilada 
E no final da questão quero ver defunto anão, sejam firmes na emboscada

Na hora do casamento foi chegando a cabroeira
Mas Ditinho era nortista lutador de capoeira
Lá na porta da igreja foi aquela barulheira
Ditinho ganhou a luta só no braço e na rasteira 
E do velho quis saber se era luta pra valer ou se era brincadeira

O velho se desculpou, é uma prova que eu faço
Pra casar com filha minha tem que ter peito de aço
Mas é que o futuro genro também tem força no braço
Ponha logo as alianças, quero ver os dois no laço, 
O velho falou depois homem grande não é dois, pequeno não é pedaço
  
Volta Do Caminheiro 
Meu querido e bom amigo conterrâneo, estou chegando agora da nossa terra
Conforme você pediu eu passei um dia, na sua casinha branca ao pé da serra
Quando fui aproximando lá no terreiro, o seu cachorro campeiro latiu uivando
Seu cavalo relinchou perto da porteira pensando que era você que estava chegando
O galo índio cantou feliz no puleiro correndo sua mãezinha veio à janela
Notei que a pobre velhinha sorriu chorando foi quando eu transmiti seu recado a ela

Sua velha espingarda cartucheira está no mesmo lugar que você deixou
O seu violão amigo esta pendurado depois que você partiu ninguém mais tocou
Nem mesmo a sua sela de montaria depois que veio embora ninguém usou
Sem você aquela casa é tão vazia, chorando sua mãezinha assim me falou
Amigo volte depressa pra nossa terra, peça licença uns dias na faculdade
Amigo seja um bom filho e volte pra casa, não mate sua mãezinha de saudade       
 
Saco De Ouro 
Num saco de estopa com embira amarrado eu tenho guardado a minha paixão
Uma bota velha, chapéu cor de ouro, bainha de couro e um velho facão
Tem um par de espora, um arreio e um laço, um punhal de aço rabo de tatu
Tem uma guaiaca ainda perfeita caprichada e feita só de couro cru

Do lampião quebrado só resta o pavio, pra lembrar o frio eu também guardei
Um pelego branco que perdeu o pêlo apesar do zelo com que eu cuidei
Também um cachimbo de canudo longo, quantos pernilongos com ele espantei
Um estribo esquerdo que eu guardei com jeito porque o direito na cerca quebrei

A nota fiscal já toda amarela da primeira sela que eu mesmo comprei
Lá em Soledade na Casa da Cinta, duzentos e trinta na hora eu paguei
Também o recibo já todo amassado primeiro ordenado que eu faturei
É a minha traia no saco amarrado, no canto encostado que eu sempre guardei

Pra mim representa um belo passado a lida de gado que eu tanto gostei
Assim enfrentando o trabalho duro eu fiz o futuro sem violar a lei
O saco é relíquia com meus apetrechos, não vendo e não deixo ninguém por a mão
Nos trancos da vida agüentei o taco e o ouro do saco é a recordação
  
O Perigo Anda Solto 
Meu amigo motorista ande de olho na pista, dirija com atenção
Cuide do seu prontuário, quem perde ponto é otário, não cometa infração
Contra a lei não faça nada, evite de ser caçada a sua habilitação
Não deve ser arrogante, não esqueça que o volante é uma arma em sua mão

Se surgir um imprevisto, na hora de enfrentar isto tenha calma e não se aflija
Em discussão não insista não banque o egoísta, sendo seu erro corrija
Mesmo que ninguém perceba, se for dirigir não beba e se beber não dirija
Se não cumprir esta regra, um dia o guarda te pega com a boca na botija

Não seja um infrator, a nova lei em vigor siga ela com carinho
Não ande correndo a esmo, ser honesto com si mesmo, faça tudo direitinho
Não seja incoerente, não pense que o acidente só acontece ao vizinho
O seu carro não tem asas, se quiser chegar em casa não voe pelo caminho

Dirija com mais amor, na vida de mais valor, não ande mal humorado
No transito fique atento, respeite o regulamento, evite de ser multado
Se benza e reze um pouco, pra Deus te livrar dos loucos que dirigem embriagados
O perigo anda a solto, bebida, droga, nem morto, fique vivo e acordado  

Chalana 
Lá vai uma chalana, bem longe se vai
Cortando o remanso do rio Paraguai
A chalana sem querer mais aumenta minha dor
Nessas águas tão serenas vai levando o meu amor
A chalana sem querer mais aumenta minha dor
Nessas águas tão serenas vai levando o meu amor

E assim ela se foi, nem de mim se despediu
A chalana vai sumindo lá na curva do rio
E se ela vai magoada eu bem sei que tem razão
Fui ingrato eu feri o seu meigo coração

Músicas do álbum 50 Anos (BAU 011) - (2009)

Nome Compositor Ritmo
40 Graus De Saudade Osvaldo F. Silva / Camões Rasqueado
Figura Do Velho Caetano Erba / Tião Do Carro Toada Balanço
Nós E Os Loucos José Fortuna / Paraíso Balanço
Jardineira Amarela Caetano Erba / Tião Do Carro Rasqueado
Romper Da Aurora Luiz Godofredo / Alcides Moraes Valsa
Padroeira Maracaí / João Gonçalves Toada
Sonho De Caboclo Tião Do Carro / Ademar Braga Toada Balanço
No Colo De Deus Miguelzinho / Kelito Toada Balanço
Paixão Desenfreada Praense / Eli Silva Cateretê
Pequeno Não É Pedaço Izautino Gonçalves Piracicabano
Volta Do Caminheiro Jack Cateretê
Saco De Ouro Caetano Erba / Paraíso Toada Balanço
O Perigo Anda Solto Tião Do Carro / Francisco Lázaro Rasqueado
Chalana Mário Zan / Arlindo Pinto Rasqueado
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