Cheiro De Povão - (1979) - Ronaldo Viola e João Carvalho

Buque De Rosas
Mandei um buque de rosas pra mulher amada
Pensando em reconquistar o seu coração
Mandei pelo portador também uma carta
Pedindo que ela me desse o seu perdão

Mais tarde telefonei para sua casa
Pensando em convidá-la pra jantar fora
Seu pai foi quem lhe atendeu e disse chorando
Meu filho quem você ama já foi embora

Senti naquele momento meu mundo acabar
Até o meu telefone caiu ao chão
Por causa da boemia e das damas da noite
Perdi a mulher amada do meu coração

Estou muito arrependido mas não adianta
Ninguém sabe me dizer onde ela for morar
Remorso eu tenho demais e a saudade é tanta
Eu vou acabar morrendo se ela não voltar

Resposta Do Poeta Sertanejo
Querem que eu vire deserto, mas eu sou uma mata inteira
Querem que eu apodreça, mas sou cerne de aroeira
Querem que eu vire pó mas, ainda eu sou pedreira
Querem que eu vire cinzas mas, ainda sou fogueira

Eu nasci pra ser brilhante e não posso ser cascalho
Quem é seda de primeira não pode virar retalho
Caminho justo é comprido, o ruim tem seu atalho
Para o frio da injustiça a justiça é agasalho

Sou cantador, não formei em faculdade
Fui formado no sertão cantando simplicidade
Sou cantador, não formei em faculdade
Fui formado no sertão cantando simplicidade

Sou um puro sertanejo na enxada o violão
Do verso para a viola, da viola para a canção
Da canção para o trabalho a riqueza do meu chão
Ganhando o pão da tristeza no salário da ilusão

O meu canto é de verdade é seiva da natureza
Espuma branca das águas pairando na correnteza
O canto da passarada sinfonia de pureza
E quem quis me ver tapera, me encontrou uma fortaleza

Sou cantador, não formei em faculdade
Fui formado no sertão cantando simplicidade
Sou cantador, não formei em faculdade
Fui formado no sertão cantando simplicidade

Cheiro Do Povão
Abri meu peito e mostrei meu sangue ao mundo
Quem pude ver também viu meu coração
Quebrei as cordas que amarravam minha voz
E cantei livre a alma do meu sertão

Cantem comigo, meus amigos camaradas
A voz do povo traça o rumo e não espera
Pois quem não canta esta linda flor do lácio
Não tem o cheiro do povão da nossa terra

Amanheci como aquela patativa
Que faz nos campos renascer a primavera
Saltou-me a boca minha fala de caboclo
E cantei solto para mostrar quem eu era

Cantem comigo, meus amigos camaradas
A voz do povo traça o rumo e não espera
Pois quem não canta esta linda flor do lácio
Não tem o cheiro do povão da nossa terra

João E Maria
E lá vem João de chapéu de palha fazendo poeira no carreador 
E lá vai Maria enche a lata d'água pra lavar os pés do trabalhador
E lá vem João de chapéu de palha fazendo poeira no carreador 
E lá vai Maria enche a lata d'água pra lavar os pés do trabalhador

João chega manso altivo e contente igual um presidente beija Maria 
Enrola um cigarro engole a cachaça com a paciência que ninguém diria
João chama a lua e tira cantiga pra desafogar a sua paixão 
E lá vai Maria lhe fazer carinho só ela conhece aquele caboclão 

E lá vem João de chapéu de palha fazendo poeira no carreador 
E lá vai Maria enche a lata d'água pra lavar os pés do trabalhador

João olha o gesto de sua morena que pisca e acena querendo carinho
E lá vai João laçar-lhe a cintura beija com ternura e sussurra baixinho 
João não se esconde das coisas da vida, mas nunca responde sobre o pensamento 
Maria conhece o seu coração que pode explodir a qualquer momento 

E lá vem João de chapéu de palha fazendo poeira no carreador 
E lá vai Maria enche a lata d'água pra lavar os pés do trabalhador

Pecado Social
Quando eu saio pra o trabalho no atalho da estação
Em um bar é lá que eu entro comprimento meu irmão
Dos meus olhos solta o pranto se na curva estoura o trem
Lá vai um pra cada canto e ninguém é mais ninguém

Gira mundo, vira roda pinta e borda teu peão
Mas um dia quebra a corda de que lado não sei não
Gira mundo, vira roda na cabeça do peão
Mas um dia alguém acorda com a vida contramão

Quero sorrir e não posso porque dói o coração
Quando alguém fica de fora e não posso dar-lhe a mão
Quando chego no trabalho me atrapalho no cartão
Assobio e me disfarço no olhar do meu patrão

Gira mundo, vira roda pinta e borda teu peão
Mas um dia quebra a corda de que lado não sei não
Gira mundo, vira roda na cabeça do peão
Mas um dia alguém acorda com a vida contramão

Dá-lhe Viola
Me disseram que viola é coisa de vagabundo 
Mas foi tocando viola que eu andei por este mundo
Os quatro cantos da Terra com ela eu já conheci
O braço de uma viola foi tudo o que eu aprendi

No braço desta viola vou traçando o meu intento
Não há nada neste mundo que me roube o sentimento

Me disseram que viola já é coisa do passado
Mas é tocando viola que vivo atualizado
Já cantei por este mundo pra gente de todo jeito
Mas foi a minha viola quem me deu este direito

No braço desta viola vou traçando o meu intento
Não há nada neste mundo que me roube o sentimento

Me disseram que viola não dá futuro a ninguém
Futuro pra mim é paz, pra quem não sabe é vintém
Eu vivo de uma viola porque sei viver de amor
Só puxo a minha viola pra quem sabe dar valor

No braço desta viola vou traçando o meu intento
Não há nada neste mundo que me roube o sentimento

Triste Madrugada
A caminhada deu canseira na boiada
E os companheiros me pediram pra parar
Pelo luar eu vi que era madrugada
E o vento calmo não parava de soprar 

Eu debruçado numa esteira rente ao chão
Naquela noite cochilei mas não dormi
Tirei das brasas um toquinho de carvão
E na baldrama estes versos esqueci

Dorme em paz a boiada e os meus amigos
Com suas traias embaçadas pelo pó
Somente o vento testemunha está comigo
Mas uma vez este poeta chora só

E na verdade eu chorei triste lamento
Porque senti tanta saudade de alguém
Embora morta vive em meu pensamento
E este vive mergulhado no além

Rompeu o dia e o novo sol raiou
E a boiada novamente na estrada
E na baldrama veio o vento e apagou
Os versos feitos nesta triste madrugada

Dorme em paz a boiada e os meus amigos
Com suas traias embaçadas pelo pó
Somente o vento testemunha está comigo
Mas uma vez este poeta chora só

Livro De Areia
Fui criança, fui saudade tive um berço e tive amor
Desfrutei a tenra idade de um menino sonhador
Mas o destino malvado veio me ferir sem dó
Perdi tudo que é sagrado fiquei no mundo tão só

Nuvem negra enfurecida vi sobre mim desabar
E contra a maré da vida eu tive que navegar
Me apoiei no vento forte sem ter onde segurar
Com as muletas da sorte eu saí a caminhar

É uma longa caminhada do lugar de onde eu vim
E não sei se esta estrada está no meio ou no fim
O meu livro é de areia por isso não editei 
Quem quiser que pare e leia sobre os rastros que pisei

Talvez seja um lamento o passado a esquecer
Porque a chuva, o pó e o vento apagou pra ninguém ler
Mas algum um dia enfim quando eu já na eternidade
Talvez se lembre de mim com um pouquinho de saudade

Alugando O Coração
Decidi de uma vez por todas dar um fim neste meu padecer
Não vou mais esquentar a cabeça desta vez eu vou lhe esquecer
Não duvide do que estou dizendo pois agora será pra valer
Nem que venha pintada de ouro seu amor eu não vou mais querer
Já cansei de rolar pela vida mendigando a sua atenção
Vou curar do meu peito a ferida alugando o meu coração

Como um barco que segue sem rumo é assim que irei proceder 
Curtirei os amores noturnos despedindo ao amanhecer
Sem lembranças ou constrangimentos esperando outro dia morrer
Pois na sombra da noite que chega nova dose eu terei de prazer
Já cansei de rolar pela vida mendigando a sua atenção
Vou curar do meu peito a ferida alugando o meu coração

O Homem
Eu sou aquele que planta na terra bruta
Enfrentando a grande luta pelo sertão
Sou aquele que semeia com esperança
Trabalho com segurança e disposição

Sou aquele que respira o romper do dia
No cabo da ferramenta enfrento calor
Tiro o chapéu da cabeça e olho pro céu
Com fé rogo proteção pra nosso Senhor

O dia vai terminando eu volto pro rancho
Abraço mulher e filho e pego a viola
Eu acendo o meu cachimbo e desfaço a mágoa
Esperando novamente o romper da aurora

Deito meu corpo cansado logo adormeço
Ouvindo o ranger das palhas do meu colchão
Sepulto meu pensamento dentro da noite
E sonho com a moçada no mutirão

Na hora que o galo canta eu me levando
E faço o meu Pai Nosso e Ave Maria
Vou pra bica lavo a cara e vou pro roçado
Espero muito contente outro fim de dia

Sou poeta, sou repente sou lavrador
A minha pele queimada é documento
Pois cada home do campo é um soldado
Que não deixa faltar nunca nosso sustento

O dia vai terminando eu volto pro rancho
Abraço mulher e filho e pego a viola
Eu acendo o meu cachimbo e desfaço a mágoa
Esperando novamente o romper da aurora

Ela Diz Que É Santa
Quando eu estou cantando, estou chorando também
Sofrendo tanta amargura soluçando por alguém
Que vive só me enganando fingindo me querer bem
Ela diz que é uma santa mas de santa nada tem
Ela diz que é uma santa mas de santa nada tem

Ela diz a todo mundo que eu sou um joão ninguém
Sou um pobre apaixonado só seu amor me convém
E me conta por despeito que sente pelo seu bem
Ela diz que é uma santa mas de santa nada tem
Ela diz que é uma santa mas de santa nada tem

Agora estou decido farei o que me convém
Não quero mais seu amor vou partir pra muito além
Dela só quero distância ela não vale um vintém
Ela diz que é uma santa mas de santa nada tem
Ela diz que é uma santa mas de santa nada tem

Corta Boiada
Nas caatingas de sertão sem as chuvas de verão que chove nas capitais
Morre toda a plantação o riacho vira chão vira poças de areiais
Sobre o sol abrasador a gente geme de dor e vai embora pra cidade
Mas quem nasce no sertão deixa lá seu coração e vai morrendo de saudade

Corta boiada fé em Deus e pés no chão upa boi grita João quando vem rompendo aurora
Corta boiada, vai cortando o coração a dor desta solidão quando a gente vai embora

Sobre o sol abrasador a gente geme de dor e vai embora pra cidade
Mas quem nasce no sertão deixa lá seu coração e vai morrendo de saudade

Corta boiada fé em Deus e pés no chão upa boi grita João quando vem rompendo aurora
Corta boiada, vai cortando o coração a dor desta solidão quando a gente vai embora

Músicas do álbum Cheiro De Povão - (1979)

Nome Compositor Ritmo
Buque De Rosas Arlindo Moniz Guarânia
Resposta Do Poeta Sertanejo Téo Azevedo / Lourival Dos Santos Pagode
Cheiro Do Povão Arlindo Moniz Toada
João E Maria Arlindo Moniz Querumana
Pecado Social Arlindo Moniz Rasqueado
Dá-Lhe Viola Arlindo Moniz Pagode
Triste Madrugada José Caetano Erba / Gentil De Lima Toada
Livro De Areia José Caetano Erba / Gentil De Lima Moda De Viola
Alugando O Coração Herotides Da Silva / Ronaldo Viola / João Carvalho Rancheira
O Homem Xavantinho / Ronaldo Viola Pagode
Ela Diz Que É Santa Oréco / João Gonçalves Querumana
Corta Boiada Arlindo Moniz / Ronaldo Viola Cururu Piracicabano
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