Tião Do Carro E Odilon (2003) (GTLCD 230) - (2003) - Tião Do Carro e Odilon

O Cachorro E O Andarilho
O cachorro e o andarilho foram senas do passado
Pelas ruas da cidade de um pequeno povoado
O andante caminhava e o cachorro ao seu lado
Pelas ruas e pelos trilhos parece que o andarilho pelo cão era guiado

Um pratinho de comida porta a porta ele pedia
Se ajeitava nas calçadas lá daquelas moradias
A comida que lhe davam com o cachorro repartia
Oh, meu Deus quanta emoção primeiro tratava o cão e depois ele comia

Mais em pleno mês de julho quando a geada desceu
Na travessa de uma rua o andarilho morreu
Quando a ronda da cidade no local apareceu
O corpo estava gelado e o cachorro ali do lado no lugar permaneceu

Sepultaram o andarilho nas condições de indigente
Ninguém estava acompanhando nem amigo e nem parente
O povo ali presenciava uma sena comovente
O cão latia e uivava parece que ele falava nós se encontra novamente

O cachorro continua até hoje em nossos dias
Fazendo o mesmo roteiro que o seu dono fazia
O bichinho inocente acabou sua alegria
O mais triste abandono chora a falta do seu dono era o que tanto queria

"O cão vai choramingando pelas ruas da cidade
E quando encontra comida come somente a metade
Parece que a outra parte ele divide com a saudade!â€

A Volta Do Filho
Mamãe eu estou voltando não posso ficar aqui
Saudade está me matando desde o dia em que eu parti
Eu não mandei o retrato que um dia eu te prometi
Não comprei meu terno novo por que eu não recebi 
Com o coração em brasa mamãe eu volto pra casa do jeitinho que eu sai

À noite eu estou dormindo no fundo da construção
Eu estou passando frio sem coberta e sem colchão
A minha roupa surrada não tem quem pregue um botão
Um velho rádio quebrado já nem muda a estação
Ele só faz sintonia com a saudade que judia na onda do coração

Mamãe a sua casinha é a minha grande mansão
Vejo ela arrumadinha na minha imaginação
A panelinha de barro no cantinho do fogão
Já estou sentindo o cheiro do tempero do feijão
O velho pano de prato ainda vejo o formato e o jeitinho da suas mãos

E nessa casinha pobre que a minha mãezinha mora
Quem tem mamãe tem rainha tem carinho a toda hora
É meu caquinho de gente, mas eu sei que ela me adora
Eu sou o seu filho pobre que um dia foi embora
Mas agora estou de volta mamãe vem abrir a porta pro filhinho da senhora

Moça Canavieira
Nos braços eu levo flores no meu peito esta canção
Pra moça canavieira minha irmã lá do sertão
Pra moça canavieira minha irmã lá do sertão

Feche a porta do rancho apague as brasas do tição
Que lá na curva da estrada já vem vindo um caminhão
O seu lenço na cabeça seu traje de tradição
Cai a cana nos seus braços no manejo do facão
E o calor do sol ardente faz rosar sua feição
E o calor do sol ardente faz rosar sua feição

Nos braços eu levo flores no meu peito esta canção
Pra moça canavieira minha irmã lá do sertão
Pra moça canavieira minha irmã lá do sertão

Desce o braço e cai a cana e o ouro sai do chão
E mais tarde lubrifica a engrenagem da nação
A moça canavieira vai cantando esta canção
O seu progresso aumenta o sorriso do patrão
E o calor do sol ardente faz rosar sua feição
E o calor do sol ardente faz rosar sua feição

Nos braços eu levo flores no meu peito esta canção
Pra moça canavieira minha irmã lá do sertão
Pra moça canavieira minha irmã lá do sertão

Teve festa na cidade foi bonita a procissão
Mas ela passou remando no mar verde da ilusão
Mas nem tudo está perdido vai aqui minha canção
Pra moça canavieira minha irmã lá do sertão
Pra moça canavieira minha irmã lá do sertão
Pra moça canavieira minha irmã lá do sertão

Vou Tentar Te Esquecer
Desse jeito meu amor eu não posso mais viver
Te amando com loucura fingindo pra ninguém ver 
Às vezes tenho vontade de gritar pro mundo ouvir
Que você é o grande amor que vive dentro de mim
Mas tem algo que me diz que este amor é proibido
As lágrimas só aumentam o desejo de estar contigo

Meu corpo pede seu corpo meus lábios chamam você
Te amo, meu bem te amo mas vou tentar te esquecer
Te amo, meu bem te amo mas vou tentar te esquecer

Me entrego ao desespero aumentando meu sofrer
A saudade me matando só me fala de você
Assim vou passando os dias na maior desilusão
Vivendo ao lado de outra com você no coração
A prisão do sofrimento já me fez compreender
Que o nosso amor é um sonho difícil de acontecer

Meu corpo pede seu corpo meus lábios chamam você
Te amo, meu bem te amo mas vou tentar te esquecer
Te amo, meu bem te amo mas vou tentar te esquecer

Caquinho De Saudade
Quem é que não tem no peito um caquinho de saudade
Um pedacinho de telha que cobriu a mocidade
Nossa vida é construída de mentira e de verdade 
Tudo é muito perfeito, mas a gente vê defeito só depois de certa idade

Um pedaço do assoalho lá da tuia do catira
Um pedaço do ponteado desta viola caipira
Um caquinho de batom com beijinho de mentira 
Todo velho embolorado no bolso do meu passado no ternão de casimira

Um pedaço de madeira de uma festa do peão
Que arranquei na montaria no corcove do pagão
Lá da cerca que separa picadeiro do povão
Hoje serve como base do troféu que tema frase você foi o campeão

Sou Forgado
Nos braços desta viola eu levo avida folgada
Em toda festa que eu canto a gibeira vem lotada
Deixo sabor de sucesso e o povão dando risada
O mundo é minha casa meu pagode é uma brasa
Ninguém corta a minha as e nem quebra a minha espada

É assim que eu levo a vida por este Brasil afora
Nas festas que eu chego e canto o rojão no ar estoura
Primeiro eu mato a triste pra depois eu ir embora
Vou mostrar minha franqueza comigo não tem moleza
Na classe mostro proeza campeão não me escora

O meu peito é um altar a viola é uma santa
Sou um canário da terra tenho força na garganta
Pra cantar eu sou folgado gavião não me espanta
Minhas rimas são pesadas parece guasca trançada
Corta mais do que reiada feita de couro de anta

Por este mundo de Deus até pareço cigano
Minha fama criou asa meu sucesso está voando
Meu pagode é uma faca onde passa vai cortando
Eu nasci no chão mineiro sou filho de pagodeiro
Eu sou um caboclo inteiro pretendo morrer cantando

Mala De Ouro
Nesta grande mala feita de madeira suja de poeira que sai do estradão
Eu abro e lhe mostro meu bom camarada são coisas guardadas de um velho peão
Por cima um berrante bocal de platina e a rédea de crina do meu alazão
Em cada objeto que eu olho e repasso existe um pedaço desta profissão

De cara se encontra as botas sem solas e numa sacola meu velho gibão
Uma calça velha de bolso rasgado onde estão guardados um guaxuma e picão
Herança trazida das rudes quiçaças e junto a carcaça de um velho lampião
O vidro e o pavio perdeu-se por certo no imenso deserto de um bravo sertão

Tem uma medalha debaixo do arreio quando num rodeio eu fui campeão
Na velha moldura está o retrato tirado no mato de fronte a um galpão
Estamos em cinco e meu velho de lado na frente deitado o amigo Sultão
Meu pai foi embora no adeus derradeiro e os três companheiros não sei onde estão

Agora deitado na rede dos anos pro meu desengano não tem solução
Eu vejo meu laço num canto jogado ficou ressecado não pus mais a mão
As veias guasqueiam igual um chicote e faz dar pinote o meu coração
O que tem na mala são obras de arte que fizeram parte desta profissão

Puro Caboclo
Eu fecho os olhos estou vendo num banquinho de madeira
O meu velho pai sentado bem pertinho da soleira
A porta da casa grande junto a estrada boiadeira
Saudade não é doença mas é uma dor feiticeira
Se eu pudesse voltar lá pra de perto eu reprisar muita cena verdadeira

Ver um peão contando o gado na passagem da porteira
Um berrante repicando que saudade matadeira
O madrinha vai na frente o culatra na rabeira
Se algum mestiço escapa pra um peão é brincadeira
O caboclo é traquejado e traz o bicho arrastado no chinchão da barrigueira

Quando chega o mês de agosto que no céu faz fumaceira
As maritacas gritando faz o ninho na paineira
As abelhas formam enxame passa fazendo zoeira
E o caboclo bate a lata cheirando a erva cidreira
Pega elas com a mão guarda tudo num caixão na sombra da goiabeira

Quando chega a tardezinha lá do alto da pedreira
O lamento do sem fim na copada da figueira
A noite bate o monjolo no peito da cachoeira
Urutau grita na serra faz eco na ribanceira
Caboclo faz uma prece depois tranquilo adormece ao lado da companheira

Picada De Cobra
Essa história é verdadeira da minha mente não sai
Esse fato aconteceu com o meu querido pai 
Numa roça praguejada lá no capão da forquilha
Meu pai destocava terra junto como negro Isaias

O meu pai era o patrão Isaias empregado
Os dois ali trabalhavam na enxada e no machado
Meu pai foi limpar uma cova que tinha desbarrancado
Não viu uma cascavel que estava de bote armado

Naquele mundo tão só o negro velho Isaias
Na mão que a cobra picou ele fez a simpatia
Deu garrote com cipó ele fez o que sabia
E chamando por São Bento e a Santa Virgem Maria

E numa pequena cunha um pouco dágua brilhada
Ajoelhado no chão o negro velho rezava
A sua fé era tanta que a água borbulhava
Com as preces de Isaias o meu velho pai sarava

Deus está sempre presente onde tem bom coração
Fui assim que se passou com o empregado e o patrão

Patrono Do Infinito
Eu jurei fazer uns versos não tão grande e bem bonito
Pra ofertar pro Rei Do Mundo que é o patrono do infinito
Contratei as andorinhas e as crianças do meu chão
Pra cantar este meu canto diante o Rei Da Imensidão

Beija flor levou no bico o rascunho do meu canto
E as crianças sem abrigo para Deus levou seu pranto
As andorinhas levaram com a faixa branca no peito
Era a paz tão grande e bela onde tudo é tão perfeito

Eu ouvi as frases lindas que o poeta rabiscou
Quando terminou o canto até o próprio Deus chorou
Com a mão direita erguida Deus falou num tom baixinho
Bendito louvado seja as crianças e os passarinhos

Volta e diga pro poeta que agradeço os lindos versos
Eu vou regravar na pedra e pendurar neste universo
Com as meninas dos meus olhos tem muita gente mexendo
Quem mexer com os pequeninos aqui de cima estou vendo

À você meu bom poeta Deus lhe pague da lembrança
Estou mantendo o mundo vivo só por causa das crianças

Pegue um copo de água limpa que ainda existe eu bem sei
No jardim pegue uma rosa desta que eu mesmo a criei
Ponha em frente o meu retrato e reze o que eu ensinei
Pai nosso que estais no céu que eu daqui te guardarei

Mansão Caipira
Lá no rancho onde moro é um lugar que eu adoro por isso agradeço à Deus
Ali não me falta nada mora eu e a criançada e a mãe dos filhos meus
Meu suíte é um trechique parede de pau a pique de capim é meu colchão
Vagalume lá tem tanto ilumina meu recanto não preciso lampião

Ali eu tenho de tudo na seva porco graúdo que chega a trincar a banha
Galinhada no terreiro como frango o ano inteiro fartura lá é tamanha
Tenho vaca lá no pasto e muito leite pro gasto na mesa do sertanejo
Quando sobra eu jogo coalho sem um pingo de trabalho eu faço meu próprio queijo

Um pomar com muitas frutas de doçura absoluta tenho lá no meu ranchinho
De acerola até a mangueira pro sabia laranjeira construir seu próprio ninho
Sanhaço e juriti, canarinho e bem-te-vi vem batendo as suas asas
Cantando e fazendo festa eu tenho uma linda orquestras no pomar da minha casa

Este é meu rancho adorado lugar privilegiado onde o poeta se inspira
Pedaço de céu na Terra onde a paz nunca encerra na minha mansão caipira
Eu mor neste recanto recheado de encanto desde o sol até o luar
Ali não me falta nada dia, noite e madrugada Deus vai lá me visitar

O Homem E Os Bichos
Os bichos se reuniram pra esperar minha chegada
Nomeio da mata virgem com hora certa marcada
Fizeram mesa redonda e foi até de madrugada
Todos falaram bonito com respeito e gabarito a verdade declarada

Eu fiquei estarrecido ouvindo o que me diziam
Você deixe a cidade abandona a moradia
Vem morar aqui na selva a vida tem mais valia
Pra começo de palestra aqui ninguém te sequestra você tem mais garantia

Aqui o nosso alimento é a natureza quem dá
Não precisa fazer guerra nem matar e nem roubar 
São Francisco toda hora vem aqui nos visitar
Somos bichos na verdade, mas nos temos igualdade e sabemos respeitar

Na selva os nossos filhotes passeiam muito a vontade
Por que não correm o perigo das crianças da cidade
Motorista embriagado em alta velocidade
Tem crime barbarizando quantos pais e mães chorando meu Deus tenha piedade

Olhando o céu e a terra é grande o nosso horizonte
As lindas aves canoras vem beber água na fonte
E quando enche o corguinho sucuri serve de ponte
A luz Divina clareia, Jesus Cristo aqui passeia por entre vales e montes

O Pintor
Armei a tela na passagem do caminho
Era tão linda a florada lá na serra
E cada dia eu pintava um pouquinho 
Eu não sabia que era o fim da primavera

E de repente fui notando coisa estranhas
E no meu peito provocando grande dor
As flores foram despregando das montanhas
E o meu desenho também foi perdendo a cor

Tentei pintar um velho carro de boi
Que na estradinha do outro lado atravessou
Mais uma vez o meu sonho lá se foi
Fiquei na espera mas o carro não voltou

Eu não sabia que o carreiro ia fugindo
Do asfalto negro que rondava por aí
E o meu desenho que ia ser muito bonito
Novamente na metade interrompi

Eu quis pintar a linda pombinha branca
Que na galhada do arvoredo apareceu
Na hora exata ouvi um tiro certeiro
E junto à relva ela desapareceu

Fiquei parado meu pincel caiu da mão
E essas coisas pra um pintor machuca e dói
Não adianta desenhar a natureza
Pois quando eu tento vem alguém e a destrói

Músicas do álbum Tião Do Carro E Odilon (2003) (GTLCD 230) - (2003)

Nome Compositor Ritmo
O Cachorro E O Andarilho Tião Do Carro / Caetano Erba Cururu
A Volta Do Filho Tião Do Carro / Caetano Erba Rasqueado
Moça Canavieira Tião Do Carro / Caetano Erba Toada Balanço
Vou Tentar Te Esquecer Tião Do Carro / Meire Parce Rasqueado
Caquinho De Saudade Tião Do Carro / Caetano Erba Cururu
Sou Forgado Tião Do Carro / Zé Batuta Pagode
Mala De Ouro Tião Do Carro / Caetano Erba Toada Balanço
Puro Caboclo Tião Do Carro / Caetano Erba Cururu
Picada De Cobra Demétrio De Oliveira / Tião Do Carro / Meire Parce Cateretê
Patrono Do Infinito Tião Do Carro / Caetano Erba Moda De Viola
Mansão Caipria José Victor / Tião Do Carro Querumana
O Homem E Os Bichos Tião Do Carro / Da Costa Moda De Viola
O Pintor Tião Do Carro / Caetano Erba Toada
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