Mourão Da Porteira (CABOCLO-CONTINENTAL CLP 6069) - (1969) - Tonico e Tinoco

Morão Da Porteira
Lá no morão esquerdo da porteira 
Onde encontrei você pra despedi 
E uma lembrança minha derradeira 
É um versinho que eu nele escrevi 

Você eu sei passa esbarrando nele 
E a porteira bate pra avisar 
Você não lembra que sinal é aquele 
E nem se quer se lembra de olhar 

Aqui tão longe eu pego na viola 
E aqueles versos começo a cantar
Uma saudade é dor que não consola 
Quanto mais dói a gente quer lembrar 

Você talvez não sabe o que é saudade 
Uma lembrança você nunca sentiu 
Pois, esquecer às vezes tenho vontade 
Essa vontade o meu peito feriu 

No dia que dói seu coração 
De uma saudade que tanto sentiu 
Você chorando passa no mourão 
E lê o verso que eu nele escrevi 

Barqueiro
Barqueiro que vai pra longe que pesca para viver 
Família fica rezando pra pescaria render
No rancho mulher e filho não têm nada pra comer 
No rancho mulher e filho não têm nada pra comer 

O vento balança o barco da meia-noite pro dia
O barqueiro vem se embora estragou a pescaria
É fraca a luz da candeia a madrugada está fria 
É fraca a luz da candeia a madrugada está fria 

As ondas tão borbulhando fazendo chuá-chuá
O barqueiro encosta o barco já vem vindo temporal 
No céu está trovejando barqueiro pega a rezar 
No céu está trovejando barqueiro pega a rezar 

A nossa vida é um barco onde nós vivemos a remar
Jesus é nosso barqueiro atravessando o rio e o mar 
No porto da eternidade é onde vamos parar 
No porto da eternidade é onde vamos parar 

Carta
Eu vou te mandar uma carta escrita por minha mão
Por fora vai o teu nome por dentro a reclamação
Em cima escrevo saudade em baixo aperto de mão
No meio vão minhas queixas extraída do coração
Morena resolva logo quero vossa decisão
Você leia bem a carta me responda sim ou não
É melhor se desprezado no que viver na ilusão
Amando sem ser amado teu ingrato coração

No bairro que você mora eu já tenho informação
Namora um ama outro me fazendo judiação
Pra te ver nos braço de outro prefiro a separação
Vou embora pra bem longe deixo a minha saudação

Boi Araçá
Comecei lidar com gado de doze anos em diante
Perdi pai e perdi mãe sofrimento foi bastante 
Me ajustei numa fazenda de boiadeiro volante 
Na ponta de uma boiada, ai fazia chorar o berrante
 
Fiquei peão afamado muita firmeza no braço 
Meu burrão mestre na lida, ai nunca teve fracasso 
Arreamento completo, enfeite que eu mesmo faço 
Zebu, por bravo que seja, ai berra na ponta do laço 

Fazenda Campina Verde sumiu um boi araçá
Tá fazendo ano e meio que não sai do carrascal 
Ai, serviço perigoso é que eu gosto de arriscar
Garanti pro fazendeiro, ai trazer o touro no curral

Eu fui descendo a restinga depois de muito cansaço 
Avistei o boi selvagem tava beirando o riacho 
Apertei o chinchador burrão afirmou o passo
Joguei o cipó de alcanço, ai ringiu os tento do laço 

Meu burrão veio golpeando de chinchadeira estirada
Trouxe o touro na mangueira cumprimentei a moçada 
Patrão perguntou o preço respondi não é nada 
É sinal de amizade ai pro senhor e a peãozada 

As Duas Mães
Ai, numa igreja vem entrando tão contente 
Uma senhora ajoelhando aos pés do altar 
Carregando nos seus braços um inocente 
Pediu ao padre o seu filho batizar
 
Foi saindo com seu filho no manto 
Que acabava do batismo receber 
Outra mãe lastimando em triste pranto 
Com o seu filho que acabava de morrer 

As duas mães se encontraram ali na igreja 
Até o padre chorou lágrimas dorida 
Ver a cena dessas duas sertaneja 
Ver o filho dar a sua despedida 

Consolando a pobre mãe desventurada 
Levando ao peito o filho morto seu amor 
As duas mãe entre lágrimas banhada 
Se abraçaram e choraram a mesma dor 

Cai a tarde e pouco a pouco dorme a terra 
Silenciando no sertão o fim do dia 
Na capelinha do alto lá da serra 
O sino bate anunciando a Ave Maria 

Paraguaia
Paraguaia amanhã eu vou parti 
Na despedida eu te peço pra não chorar 
Só peço a Deus pra na viagem eu ser feliz 
E algum dia voltarei pra te buscar 

Amanhã mesmo deixarei esta cidade 
O teu retrato levarei em minha mão 
Lá bem distante sei que vou sentir saudade 
E a sua imagem fez crescer minha paixão 

Vou-me embora pra rever meu velho amigo 
Já não suporto a saudade de meu pai 
Meu coração eu deixarei aqui contigo 
Porque eu sei que não esqueço nunca mais 

E o dia em que chegar em meu rincão 
A meu pai eu vou contar do nosso amor 
Se Deus quiser breve será nossa união 
E a teu lado findará a minha dor 
E a teu lado findará a minha dor 

Escolinha
Vamos à escola menino a professora ensinando
É o homem da amanhã que o Brasil está esperando

Numa salinha modesta onde o aluno é criança 
Cada aula é uma festa, a festa de uma esperança

Na parede uma lousa lá no alto uma bandeira 
Representando a beleza desta terra brasileira 

Professores com carinho e orgulho varonil 
Preparando os pequeninos esperança do Brasil 

Vamos à escola menino a professora ensinando
É o homem da amanhã que o Brasil está esperando

A Enfermeira
Sempre vestida de branco sempre alegre e sorridente 
São as nossas enfermeira segunda mãe do paciente 
Seja preto, seja branco seu carinho é eternamente 
E com o sorriso franco traz alívio para o doente 
O coitado do enfermo que ausentou do seu lar 
Sozinho num triste ermo no leito do hospital 
Ele enxerga na enfermeira seu anjo celestial 
Com palavra de conforto e esperança na olhar 

Ela sempre vigilante nas cruéis enfermidades 
Em todas as horas amarga pede Jesus piedade 
Salve todas as enfermeiras exemplo da caridade
Com seu trabalho sagrado para o bem da humanidade 

Atende rico e o pobre nacional e estrangeiro 
E todos os acidentados o ladrão e desordeiro 
Se é soldado ferido que na guerra combateu
Sua lágrima se ajunta com o sangue do guerreiro 

Chora Cavaquinho
Instrumental

Fandango Mineiro
Eu recebi um convite veio de Três Corações 
Pra ir cantar de viola com mais quatro folgazões 
Fomos chagando era tarde era noite de São João 
De longe vi a figueira o estouro de rojão 

Gostamos daquele povo dos modos e da educação 
Divertimos a noite inteira com grande satisfação 
Fandango tava animado tinha seis violeiros bom 
O sapateado fazia levantar poeira do chão 

O sol já vem despontando abra a porta do salão 
Não é que eu tenha pressa em deixar sua função
Eu sou um rapaz solteiro pra traz não deixo pensão 
É dispensar os casados pra cuidar da obrigação 

Adeus estado de Minas, ai, ai não sei quando volto, não
Levarei minha saudade, ai, ai deixarei meu coração 

Chega pra cá rapaziada vamos reunir os folgazão 
Faça uma roda bem feita no meio deste salão
Vamos repicar a viola pra bater o pé no chão 
O último sapateado pra despedir da função 

Calango Mineiro
O meu lenço branco é que eu gosto mais 
Balança o calango de Mina Gerais
Um passo aqui, um passo lá, 
Vamos mineirinha, calanguear 

A mineirinha foi pra Goiás 
Pra dançar o calango de Mina Gerai. 
Um passo aqui, um passo lá, 
Vamos mineirinha, calanguear 

O calango mineiro a saudade traz
É da mineirinha de Mina Gerais 
Um passo aqui, um passo lá 
Vamos, mineirinha calanguear 

Enquanto A Estrela Brilhar
Da minha rede no alpendre da fazenda 
Eu vejo o rancho e a moenda bem lá na curva do rio 
O meu olhar fita a casinha amarela 
E sabe que hoje ela é um triste ninho vazio
 
E a noite desce com ela desce a tristeza 
Eu olho na redondeza e começo a soluçar 
Sobre a casinha descamba um véu azulado 
Iluminando o telhado vejo uma estrela brilhar

Olhando a estrela eu vejo o retrato dela 
Cabocla flor de canela que tanto me castigou 
Essa malvada deixou a casa fechada 
Rancho na beira da estrada nesse abandono ficou 

Mais sempre fica no fim do amor a lembrança 
Saudade é irmã da esperança, que faz a gente penar 
Da minha rede contemplo o céu azulado 
E ela sempre a meu lado enquanto a estrela brilhar

Músicas do álbum Mourão Da Porteira (CABOCLO-CONTINENTAL CLP 6069) - (1969)

Nome Compositor Ritmo
Mourão Da Porteira Raul Torres / João Pacífico Toada
Barqueiro Tonico Cururu
Carta Zé Fortuna Valsa
Boi Araçá Tonico / Pedro Chiquito Cateretê
As Duas Mães Tonico / Tinoco Toada
Paraguaia Zé Da Estrada / Pedro Bento Guarânia
Escolinha Tonico / Nhô Crispim Marchinha
A Enfermeira Tonico / Ariston Rasqueado
Chora Cavaquinho Tonico / Tinoco Vanerão
Fandango Mineiro Zé Carreiro / Carreirinho Moda De Viola
Calango Mineiro Tonico / Tinoco Calango
Enquanto A Estrela Brilhar Raul Torres / João Pacífico Toada
Compartilhe essa página
Aprenda a tocar viola, acesse Apostila de Viola Caipira Material de qualidade produzido por João Vilarim