Recordando Zé Carreiro E Carreirinho (CABOCLO-CONTINENTAL 103405205) - (1976) - Tonico e Tinoco

Último Adeus
Vem a aurora raiando distante
Vou embora daqui soluçando 
Seu amor para outro pertence
Não condeno a ficar esperando 

Que seus lábios ingratos pudessem 
Despedindo unir-se aos meus 
Esta valsa sentida que canto 
Seria baixinho meu último adeus

Adeus talvez não te vejo mais 
Se ouvir  dentro da noite meus ais 
Não procure saber por que choro 
E depois se souber que eu morri 
Não lastime que a morte é um alívio 
A vida é triste ausente de ti 

E de branco com outro a seu lado 
Quando a escada da igreja descia 
Era a noiva mais linda da tarde 
E eu era o que mais padecia 

O seu véu e a grinalda de flores 
Aumentavam os encantos seus 
Vendo o povo te dar o parabéns, compreendi 
Que era aquele o último adeus

Adeus talvez não te vejo mais 
Se ouvir  dentro da noite meus ais 
Não procure saber por que choro 
E depois se souber que eu morri
Não lastime que a morte é um alívio 
A vida é triste ausente de ti 

Carreiro Sebastião
O meu nome é Sebastião Rodrigues de Carvalho 
Fui carreiro e com saudade lembro o tempo de trabalho 
Hoje eu moro na cidade, mas nem de casa eu não saio 
Chego a sonhar com meu carro cortando pelos atalhos
Quatorze boi todos moiro, desde a guia ao cabeçalho
 
Nome da minha boiada até hoje estou lembrado 
Redondo e Marechal, Craveiro e Desejado
Jagunço e Violento, Estrangeiro e Numerado 
Retaco e Barão, boi baixo reforçado 
O Maneiro e o Rochedo, doze boi aparelhado. 
Na junta de cabeçalho, Ouro Preto e Coração 
José Martins de Azevedo, o nome do meu patrão 
Na fazenda São Luiz, onde eu morei um tempão 
Cortava aquele serrado lotadinho de algodão 
Dava um dueto doído o gemido do cocão 

Hoje eu moro na cidade mais não posso acostumar 
Em outubro fez dois anos que eu deixei de carrear 
Às vezes quando estou sozinho eu começo a lembrar 
Parece que estou escutando o meu carro a cantar 
Eu nasci pra ser carreiro não nego meu natural 

Ranchinho De Taquara
Eu nasci naquela serra num ranchinho beira chão 
Eu adoro a minha terra lá foi minha criação 
Só não ama sua terra quem não tiver coração

Meu ranchinho é de taquara amarradinho de cipó 
A noite é lua clara só se escuta o chororó 
Piando naquelas furnas lá pra aqueles cafundó

De lá mudei prá cidade hoje estou morando aqui 
Eu tenho muita saudade lá do rancho onde eu nasci 
Mas o que vamos fazer minha sorte eu vou cumprir

Meu destino é cantar canto quase todo dia 
Canto pra me disfarçar uma dor que me judia 
Vou deixar da minha viola quando a morte vier um dia

Saudades De Araraquara
Eu parti de Araraquara com destino pra Goiás 
Quando eu vim da minha terra deixei mãe e deixei pai 
Eu passei campina verde atravessei Minas Gerias 
Os olhos que lá me viram de certo não me vê mais
 
Fiz a minha embarcação um adeus pra nunca mais 
Meu amor me procurava notícias pelos jornais 
Eu padeço, ela padece, padecemos os dois iguais 
Quem parte leva saudade, pra quem fica é muito mais 

Eu olhei lá no horizonte avistei certos sinais 
As estrela me guiando, nestes campos de Goiás 
Moreninha ainda te quero, cada vez querendo mais 
Os agrados de outro amor para mim não satisfaz 

O meu peito é um retiro onde meu suspiro vai 
Meu coração é um cuitelo que do seu jardim não sai 
Que vive beijando a rosa onde o sereno cai 
Adeus minha rosa branca, adeus para nunca mais 

Gaúcho Alegre
Eu vou deixar meu querido Rio Grande 
Eu vou contar este meu padecimento 
Eu era noivo duma linda China 
Tava marcado o nosso casamento
Ela fugiu com um cabra aventureiro 
E esqueceu do nosso juramento 

Saí correndo como as folhas seca 
Que sem destino acompanhando o vento 
Peguei meu pingo, bati rasto afora 
Hoje eu mudei este meu pensamento 
Não vale apenas gastar uma bala 
Ai no costado de um mau elemento
 
Estou morando neste chão paulista 
Deixo a querência e muito sentimento 
Meu apelido é Gaúcho Alegre 
Ninguém conhece meu padecimento 
Eu canto xoti lá do meu Rio Grande 
Meu olhos choram, mais eu não lamento
 
Eu brinco e danço com toda a moçada 
Mas tudo dentro do regulamento 
Eu canto moda que até as velhas choram 
As morenadas querem casamento 
Meu coração é como a flor do campo 
Que ela nasce e morre ao relento

Canoeiro
Domingo de tardezinha eu estava meio à toa 
Convidei meu companheiros pra ir pescar na lagoa 
Levamos rede de lanço, ai, ai,... fomos pescar de canoa 

Eu levei meus preparos pra dá uma pescada boa 
Saímos cortando água na minha velha canoa 
A graça avistei de longe, ai, ai, ... chega perto ela voa

Fui descendo o rio a baixo, remando minha canoa 
Eu entrei numa vazante, fui sair noutra lagoa 
É o remanso do Rio Pardo, ai, ai... aonde o pintado amoa
 
Pra pegar peixe dos bons, dá trabalho e a gente soa 
Eu jogo timbó na água com isso o peixe atordoa 
Jogo a rede e dou um grito, ai, ai,... o dourado amontoa 

O rio estava enchendo muito tava cobrindo a taboa 
Acompanhei a maré e encostei minha canoa 
Cada remada que eu dava ,ai, ai,...dava um balanço na proa

Teu Nome Tem Sete Letras
Quem tem um amor distante alegre não pode ser 
Ninguém sabe que eu canto somente pra te esquecer
Morena eu deito na cama sonhando eu vejo você 
Quando acordo fico triste pensando no que fazer 
Na distância que separa de você meu bem querer 

Teus olhos são verdes claros ilumina meu viver 
Tem o brilho das estrelas na hora do escurecer
Morena de cor canela é a razão do meu sofrer 
As ondas do teu cabelo com o vento pega a tremer 
Como as ondas do oceano onde eu queria morrer 

Morena teu nome lindo que eu não canso de escrever 
A sua linda cartinha eu leio e torno a reler 
Teu nome tem sete letras cada letra tem um dizer 
Sete lágrimas que eu choro sete dias a padecer 
É uma semana tão longa quando eu passo sente ver 

Morena tenho esperança e o futuro há de dizer 
Ainda vou ser feliz bem juntinho de você 
Numa casinha modesta por entre as flores do ipê
Os dias serão mais lindos a vida tem mais prazer 
Nossas almas sempre unidas até na hora de morrer

Jangadeiro Do Norte
Jangadeiro do Norte que luta com a sorte 
Nas ondas do mar
Sai bem de madrugada na sua jangada 
Ele vive a pescar

Quando chega à tardinha que o sol vai entrar 
A mulher tá rezando na praia esperando 
A jangada chegar
Ela avista de longe jangadeiro a remar
Um temporal tremendo e a maré crescendo
Não pôde chegar

Jangadeiro do norte que luto com a morte 
Não pode salvar
Deixou seus fiinho no veio ranchinho 
Na beira do mar 
Mulher do jangadeiro é jangadeira também 
Lutando com a vida pra trazer comida 

Pros filhos que tem 
Jangadeiro foi embora com a sereia do mar 
Sua voz encantada Levou a jangada 
Pra não mais voltar

Bombardeio
Ai, do jeito que em contaram o negócio pra mim tá feio 
Já fizeram uma reunião já formaram esse torneio 
A respeito à cantoria querem me tirar o galanteio 
Pra rebaixar o meu nome aplicaram todos meios
 
Já mandaram fazer moda e essa moda já veio 
Vieram todas de longe enviada pelo correio 
Moda só de me abater diz que tem caderno cheio 
Pro dia do nosso encontro me fazer um bombardeio 

Sendo que eu não mereço de cair nesses enleios 
Quando eu chego nos fandangos meus colegas não odeio 
Todas as modas que ela cantam dou valor e aprecio 
Conforme repica a viola bato palma e sapateio

Ai, eu não sou mesmo instruído ai, eu pouco escrevo, pouco leio, ai 

Ai, eu não sou mesmo instruído ai, eu pouco escrevo, pouco leio, ai 
A minha sabedoria serve só pro meu custeio
Quando passo a mão no pinho canto sem ter receio 
Porque eu faço a cortesia sem pegar chapéu alheio 

Duas Cartas
Eu recebi uma carta foi meu bem que me escreveu 
Abri a carta pra ler minha coragem não deu 
Só pude ler duas linha minha vista escureceu 
Ao ler a triste notícia que o meu bem desprezou eu 

Daquele dia em diante dobrou o sofrimento meu 
Acabou a minha alegria meu viver se entristeceu 
Mas homem deve ser homem cumprir o destino seu 
Dei ela por esquecida disse o derradeiro adeus 

Com este golpe doído que o meu coração sofreu 
Imaginei a minha vida que será que aconteceu 
Na carta não explicava o plano que era o seu 
Não cumpriu o juramento que ingrata me prometeu 

Quando foi um certo dia outra carta apareceu 
Na carta vinha dizendo do que fez arrependeu 
Eu mandei dizer pra ela que siga o caminho seu 
Procure um outro amor que você pra mim morreu

Ferreirinha
Eu tinha um companheiro por nome de Ferrerinha 
Nós lidava com boiada desde nós dois rapazinho 
Fomos buscar um boi bravo no campo do espraiadinho 
Eram vinte e oito quilômetros da cidade de Pardinho 

Nós chegamos no tal campo cada um seguiu pra um lado 
Ferrerinha foi num potro redomão muito cismado 
Já era de tardezinha eu já estava cansado 
Não avistava o Ferrerinha e nem o tal boi arribado 

Nisto eu avistei o potro que vinha vindo assustado 
Sem arreio e sem ninguém fui ver o que tinha se dado 
Avistei o Ferreirinha numa restinga deitado 
Tinha caído o potro e andou pro campo arrastado 

Quando eu vi meu companheiro meu coração se desfez 
Apeei do meu cavalo com tamanha rapidez 
Chamava ele pelo nome, chamei duas ou três vezes 
E notei que estava morto pela sua palidez 

Pra levar meu companheiro veja quanto eu padeci 
Amarrei ele pro peito e numa arvore eu suspendi 
Cheguei meu cavalo em baixo e na garupa desci 
E com o cabo do cabresto amarrei ele em mim 

Saí pra aquela estrada tão triste, tão amolado 
Tava um frio do mês de junho seu corpo estava gelado 
Já era uma meia noite quando cheguei no povoado 
Deixei na porta da igreja fui e fui chamar delegado 

A morte desse rapaz mais do que ninguém sentiu 
Deixei de lidar com gado minha inclinação sumiu 
Quando lembro esta passagem, franqueza me dá arrepio 
Parece que a friagem das costas ainda não saiu

Fandango Mineiro
Recebi um convite veio de Três Corações 
Pra ir cantar de viola com mais quatro folgazões 
Fomos chagando era tarde, era noite de São João 
De longe vi a figueira o estouro de rojão 

Gostamos daquele povo do modo e da educação 
Divertimos a noite inteira com grande satisfação 
Fandango tava animado tinha seis violeiro bom 
O sapateado fazia levantar poeira do chão 

O sol já vem despontando abre a porta do salão 
Não é que eu tenha pressa de deixar sua função 
Eu sou um rapaz solteiro pra traz não deixo pensão 
É dispensar dos casados pra cuidar da obrigação 

Adeus estado de Minas, ai,ai 
Que eu não sei eu volto, não 
Levarei muita saudade, ai, ai 
Deixarei meu coração 

Chega pra cá rapaziada vamos reunir os folgazões 
Faça uma roda bem feita no meio deste salão 
Vamos repicar a viola pra bater o pé no chão 
O último sapateado pra despedir da função 

Músicas do álbum Recordando Zé Carreiro E Carreirinho (CABOCLO-CONTINENTAL 103405205) - (1976)

Nome Compositor Ritmo
Último Adeus José Fortuna / Fernandes Valsa
Carreiro Sebastião Carreirinho Cateretê
Ranchinho De Taquara Carreirinho Cururu
Saudades De Araraquara Zé Carreiro Cururu
Gaúcho Alegre Tonico / Zé Carreiro Xote
Canoeiro Zé Carreiro / Alocin Cururu
Teu Nome Tem Sete Letras Zé Carreiro / José Fortuna Cateretê
Jangadeiro Do Norte Tonico / Zé Carreiro Toada
Bombardeio Zé Carreiro / Carreinho Moda De Viola
Duas Cartas Zé Carreiro / Carreirinho Cateretê
Ferreirinha Carreirinho Moda De Viola
Fandango Mineiro Zé Carreiro / Carreirinho Moda De Viola
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