As 12 Mais (CHANTECLER 211405390) - (1980) - Jacó e Jacozinho

Empreitada Perigosa
Já derrubamos o mato terminou a derrubada
Agora preste atenção meus amigos e camaradas
Não posso levar vocês na minha nova empreitada
Vou pagar tudo que devo e sair de madrugada
 
A minha nova empreitada não tem mato e nem espinho
Ferramentas não preciso guarde tudo num cantinho
Preciso de um cavalo bem ligeiro e bem mansinho
Preciso de muitas balas e um colt cavalinho
 
Eu nada tenho a perder pra minha vida eu não ligo
Mesmo assim eu peço à Deus que me livre do inimigo
A empreitada é perigosa sei que vou correr perigo
É por isso que não quero nenhum de vocês comigo
 
Eu vou roubar uma moça de um ninho de serpente
Ela quer casar comigo a família não consente
Já me mandaram um recado tão armado até os dentes
Vai chover balas no mundo se nós topar frente a frente
 
Adeus, adeus Preto Velho, Zé Maria e Serafim
Adeus, adeus Paraíba, Minerinho e seu Joaquim
Se eu não voltar amanhã podem até rezar por mim
Mas se tudo der certinho a menina tem que vim

Terra Bruta
Você vê esta cidade que agora está de pé
O meu pai aqui plantou milhões de pés de café
A primeira casa erguida foi seu rancho de sapé
O velho chegou sozinho pro que der e o que vier
Com amor e muita luta enfrentou a terra bruta com coragem e muita fé

Quando os índios atacavam gritando lá nas fronteiras
Meu pai manobrava firme carabina e cartucheira
Os bichos feroz das matas também morreu na chumbeira
Pros bandidos e assaltantes o meu pai foi a barreira
Pra defender esta terra o velho fez uma guerra sem precisar de trincheira

Eu passo nessa cidade e vejo a população
Movimento de transporte, cereais e algodão
Vejo escola e ginásio e uma fina educação
Ao ver uma carabina já me dói o coração
Quem lutou por tudo isso sofreu igual Jesus Cristo e não teve compensação 

Nessa história do meu pai me lembro e pego a chorar
Lutou por uma cidade e não pôde aproveitar
Ele morreu na miséria dentro de um rico lugar
É como diz o ditado pra vocês eu vou falar
Morre o homem e fica a fama lutando ele fez a cama pra outros poder deitar

Filho De Pobre
Mamãe eu vivo distante da casa que você mora
Estou muito arrependido de um dia ter vindo embora
Eu quero voltar e não posso não tenho dinheiro agora
Não vá pensar mamãezinha que o filho saiu da linha e esqueceu da senhora

Mamãe eu saí de casa por um futuro melhor
Vivendo aqui tão distante vi que tudo é pior
Pois a malvada saudade tá machucando sem dó
Eu saí atrás dos cobres me sinto muito mais pobre vivendo aqui tão só

Eu aqui não faço farra nem vivo na boêmia
Meu negócio é trabalhar de noite e também de dia
Tô juntando um dinheirinho fazendo economia
Eu não enjeito serviço o meu grande compromisso é rever mamãe um dia

Não quero que mamãe me veja vestido assim nesses trapos
Vou comprar um terninho novo nem que seja o mais barato
Vou comprar camisa e meia e um parzinho de sapato
Se eu não puder ir agora eu vou mandar pra senhora nem que seja o meu retrato

Ninho De Cobra
Família da minha noiva tinha fama de valente
Pai e filhos perigoso todo armado até os dentes
A cambada de bandido quiseram me fazer frente
O trinta foi minha lei para trás não recuei
Entrei no rolo e casei porque sou do sangue quente

Invadi a casa deles numa busca violenta
Se vocês nunca viu macho puxa as armas e experimenta 
Se ninguém me obedecer o cano do berro esquenta
Eu entrei firme no jogo dei um aperto no sogro
Tomei as armas de fogo comprei tudo em ferramenta

Eu vendi todas as garruchas, os punhais e as peixeiras
Eu vendi os para-belos, carabina e cartucheira
Comprei enxada e machado e arado e carpideira
Cheguei a turma pra frente quero ver homem valente
Aqui firme no batente comigo a semana inteira

Reparti as ferramentas com meu sogro e meus cunhados
Entramos junto no mato de facão, foice e machado
No prazo de pouco tempo vi o mato derrubado
Depois fizemos a queimada apertei os camaradas 
Pra ver a terra tombada só no bico do arado

O meu sogro e meus cunhados agora me dão razão
Pegamos junto no eito e desbravamos o sertão
A turma de pistoleiro eu mudei de profissão
O fazendão tá formado pode olhar pra tudo lado
Só se vê capim e gado e roça de plantação

Gato De Três Cores
Foi naquele dia de corpo de Deus 
Recebi uma carta que me ofendeu
Portador que trouxe foi quem mesmo leu
O povo queria ver o encontro meu
Com esse campeão que apareceu
Chegou esse dia o tempo escureceu
Trovejou bastante, mas não choveu
Logo meu colega compareceu
Pra cumprir com o trato que prometeu

Chegamos na festa o portão bateu
O festeiro alegre me recebeu
Lá pra dentro estava os amigos seus
Já veio uma pinga tudo ali bebeu
O meu peito velho já desenvolveu
Peguei a viola que as cordas gemeu
Chamei o festeiro ele me atendeu
Vamos lá pra sala que a hora venceu
Diga pro campeão quem falou fui eu
Gato de três cores ainda não nasceu
Quem dirá campeão para quebrar eu

Primeira moda fui pra dizer adeus
O festeiro veio e me agradeceu
O pessoal dali já me conheceu
Um disse baixinho outro respondeu
Violeiro igual esse ainda não nasceu
Um dueto triste o coração doeu
Pra falar a verdade até me comoveu
Elogios que nós não mereceu
O próprio festeiro já me protegeu

Lá pra meia noite o relógio bateu
O famoso campeão já se encolheu
Nem pra afinar a viola não se atreveu
Cantei outra moda não me respondeu
O campeão dali desapareceu
Que estava perdido reconheceu
Só nós dois cantando que amanheceu
Para trabalhar meu peito não deu
Mas pra fazer moda apostou perdeu
Gato de três cores ainda não nasceu
Que dirá campeão para quebrar eu

Cavalo Enxuto
Eu tenho um vizinho rico fazendeiro endinheirado
Não anda mais à cavalo só compra carro importado
Eu conservo a minha tropa o meu cavalo ensinado
O fazendeiro moderno só me chama de quadrado
Namoramos a mesma moça veja só o resultado

Um dia a moça falou pra não haver discussão
Vamos fazer uma aposta a corrida da paixão
Grã-fino corre no carro você no seu alazão
Eu vou pra minha fazenda esperar lá no portão
Quem dos dois chegar primeiro vai ganhar meu coração

Ele calibrou os pneus apertou bem as ruelas
Eu ferrei o meu cavalo que tem asas nas canelas
O grã-fino entrou no carro pulei em cima da sela
Ele funcionou o motor, fechou bem as janelas
Chamei o macho na espora bem por baixo das costelas

Eu entrei pelos atalhos pulando cerca e pinguela
Quando terminou o asfalto ele entrou numa esparrela
Numa estrada boiadeira toda cheia de cancela
Cheguei no portão primeiro dei um beijo na donzela
Quando o grã-fino chegou eu já estava nos braços dela

O progresso é coisa boa reconheço e não discuto
Mas aqui no meu sertão meu cavalo é absoluto
Foi deus e a natureza que criou esse produto
Essa vitória foi minha e do meu cavalo enxuto
A menina hoje vive nos braços desse matuto

Tropa Saudosa
No tempo que eu fui tropeiro tudo foi felicidade
Eu tratava com carinho a minha tropa de qualidade
Nos lugares que eu passava causava curiosidade
Acabou aquela lida acabou minha vaidade
Daquela saudosa tropa conhecida até na Europa hoje só resta saudade

Me lembro do burro preto e também da bailarina
Da minha besta ruzia e da saudosa granfina
Lembro e tenho saudade da tordilha campolina
No lombo desse mulão eu atravessei Nova Londrina
Eu só tive bons produtos com o meu cavalo enxuto ganhei aquela menina

Com o meu cavalo preto eu lidava com a boiada
Na chincha da mula baia arrastei boi da envernada
E o meu burro picaço foi o campeão da estrada
A minha mulinha branca eu não vendi nem por nada
Minha tropa era elegante fiz proeza importante com minha besta adorada

Com o meu cavalo branco eu passeava fim de semana
Com o meu zaino na raia eu ganhava muita grana
Hoje só resta saudade daquela tropa bacana
Só pude guardar o arreio e aquela linda baldrama
Lá no fundo da gaveta a foto da mula preta e também da besta ruana

Os Filhos Da Bahia
Dois irmão de muita de muita vida da família despedia 
Afim de ganha dinheiro pro sertão os dois seguia 
No sertão do amazona onde a justiça não ia 
Lugar que um filho distante chorava e o pai não via 
Além daquele sertão era ordem do patrão só bala que resolvia 

La naquele fim de mundo o trabalhador sofria 
Igualzinho um cão sem dono a cor da nota não via 
Quem falava em dinheiro só bala que recebia 
Os capanga da fazenda deste jeito respondia 
Aqui a bala domina a boca da carabina é a nossa tesoraria

Os dois irmão de coragem um para o outro dizia 
Mais vale quem Deus ajuda todo santo tem seu dia 
Só Deus e nossa coragem é a nossa garantia 
Entramos numa trucada vamos jogar sem mania 
O capital dos dois mano era sangue de baiano na veia dos dois fervia 

Os dois irmãos combinado dois anos ali vivia 
Com um sorriso nos lábios mas por dentro remoía 
Foi feito um grande levante os dois irmãos dirigia 
Pegaram o capanga unha na raça e na valentia 
Naquele mundo esquecido pra quem já estava perdido qualquer negócio servia 

Virou uma praça de guerra foi só bala que tinia 
Trabalhadores venceram a escravidão caía 
Receberam o seu dinheiro patrão pagou o que devia 
Cada um seguiu seu rumo levando Deus como guia 
Acabou a escravidão quem pôs a lei no sertão foi dois filhos da Bahia

Caboclinha
Um dia desses viajei muitas léguas
Sentado firme no lombo do alazão
Comi poeira e tomei chuva na estrada
Relampeava depois batia o trovão

Mas um caboclo quando sai apaixonado
Nem chuva brava muda ele de opinião
Sofri bastante, mas eu fui pedir a mão
Da caboclinha mais bonita do sertão

Ela me viu e correu para o meu lado
Também corri para a sua direção
Fui misturando sorriso com choro
Ela sorria e chorava de emoção

Quando encontramos dei um abraço apertado
Fiz a menina suspender o pé do chão
Senti até o bater do coração
Da caboclinha mais bonita do sertão

Ficamos os dois ali trocando carinho
E conversando encostado no portão
O nosso assunto era sobre o casamento
Nosso futuro nesse mundo de ilusão

Olhava firme nos lábios da menina
Ela depressa entendeu minha intenção
Ganhei um beijo que dobrou minha paixão
Da caboclinha mais bonita do sertão

Entrei pra dentro, fui falar com o pai dela
Com meu respeito e com toda educação
Fiquei sorrindo cheio de felicidade
Porque o velho deu a sua permissão

Agora vou mandar fazer o convite
E convidar toda a nossa região
Juro que vou ser feliz nesta união
Com a caboclinha mais bonita do sertão

Minha Mãe É Uma Santa
Minha doce mamãezinha Deus lhe fez uma rainha a rainha do meu lar
Quando eu olho pra você vejo logo com prazer uma santa sem altar
Não há coisa mais bonita quando a minha mãe aflita vai rezar lá na capela
Duas santas no altar e eu fico a meditar qual das duas a mais bela

Mamãe ainda me lembro a nossa casa de madeira
Eu no seu colo segurava a mamadeira
Era criança, mas já era tão contente

Mamãe nem a pobreza ofuscou o seu sorriso
Um simples lar sempre foi seu paraíso
Deus vai lhe dar um outro céu como presente

Menina Moça
Menina moça não chores tanto
Rosto molhado quebra todo seu encanto
Menina moça não chores tanto
Eu não sou lenço, mas vou enxugar seu pranto

Não sou cigano, mas adivinho
Na sua vida não tem flor só tem espinho
Vou por um riso na sua dor
Pedindo à Deus pra te dar sorte no amor

Menina moça não chores tanto
Rosto molhado quebra todo seu encanto
Menina moça não chores tanto
Eu não sou lenço, mas vou enxugar seu pranto

Quem tá chorando levanta e chora
A coitadinha vive presa e não namora
O pai é bravo não quer o namoro
Os olhos dela foram feitos só pra choro

Menina moça não chores tanto
Rosto molhado quebra todo seu encanto
Menina moça não chores tanto
Eu não sou lenço, mas vou enxugar seu pranto

Preto E Branco
Preto bebe porque gosta, branco porque aprecia
Mas tem preto e tem branco que não tem essa mania
Preto e branco em nossa terra tem a mesma regalia
O sol nasceu para todos, todos tem a luz do dia
E nos pretos e nos brancos que nosso Brasil confia, ai, ai

A cor que nós tem na pele a natureza quem trás
Tudo aquilo que Deus fez não tem ninguém que desfaz
Seja preto, seja branco nos somos todos iguais
Eu não tenho preconceito tanto fez ou tanto faz
Se tem preto que perturba tem branco chato demais, ai, ai

Mulher seja preta ou branca, grande prestigio desfruta
Por elas preto e branco vivem numa grande luta
Tem preta que muitos brancos por ela sofre e labuta
Tem branca que muitos pretos o seu carinho disputa
Se tem branca que é boa tem muitas crioula enxuta, ai, ai

O que manda é paz na Terra e Glória a Deus nas alturas
Seja preto, seja branco nosso fim é a sepultura
Porque a terra come mesmo não respeita a criatura
Preto e branco estão unidos até dentro da leitura
É com o preto no branco que se faz a assinatura

Músicas do álbum As 12 Mais (CHANTECLER 211405390) - (1980)

Nome Compositor Ritmo
Empreitada Perigosa Moacyr dos Santos / Jacozinho Rojão
Terra Bruta Moacyr dos Santos / Jacozinho Rojão
Filho Pobre Moacyr dos Santos / Jacó Rasqueado
Ninho De Cobra Moacyr dos Santos / Jacó Corta Jaca
Gato De Três Cores Carreirinho Moda De Viola
Cavalo Enxuto Moacyr dos Santos / Lourival dos Santos Pagode
Tropa Saudosa lino / Moacyr dos Santos Rasqueado
Os Filhos Da Bahia Moacyr dos Santos / Lourival dos Santos Rojão
Caboclinha Moacyr Dos Santos / Milton José Rojão
Minha Mãe É Uma Santa Tony Damito / Paulo Sérgio Toada
Menina Moça Lourival dos Santos / Jacozinho Cana Verde
Preto E Branco Sulino / Moacyr dos Santos Pagode
Compartilhe essa página
Aprenda a tocar viola, acesse Apostila de Viola Caipira Material de qualidade produzido por João Vilarim