Ninho De Cobra (CABOCLO-CONTINENTAL103405176) - (1975) - Jacó e Jacozinho

Filho De Pobre
Mamãe eu vivo distante da casa que você mora
Estou muito arrependido de um dia ter vindo embora
Eu quero voltar e não posso não tenho dinheiro agora
Não vá pensar mamãezinha que o filho saiu da linha e esqueceu da senhora

Mamãe eu saí de casa por um futuro melhor
Vivendo aqui tão distante vi que tudo é pior
Pois a malvada saudade tá machucando sem dó
Eu saí atrás dos cobres me sinto muito mais pobre vivendo aqui tão só

Eu aqui não faço farra nem vivo na boêmia
Meu negócio é trabalhar de noite e também de dia
Tô juntando um dinheirinho fazendo economia
Eu não enjeito serviço o meu grande compromisso é rever mamãe um dia

Não quero que mamãe me veja vestido assim nesses trapos
Vou comprar um terninho novo nem que seja o mais barato
Vou comprar camisa e meia e um parzinho de sapato
Se eu não puder ir agora eu vou mandar pra senhora nem que seja o meu retrato

Ninho De Cobra
Família da minha noiva tinha fama de valente
Pai e filhos perigoso todo armado até os dentes
A cambada de bandido quiseram me fazer frente
O trinta foi minha lei para trás não recuei
Entrei no rolo e casei porque sou do sangue quente

Invadi a casa deles numa busca violenta
Se vocês nunca viu macho puxa as armas e experimenta 
Se ninguém me obedecer o cano do berro esquenta
Eu entrei firme no jogo dei um aperto no sogro
Tomei as armas de fogo comprei tudo em ferramenta

Eu vendi todas as garruchas, os punhais e as peixeiras
Eu vendi os para-belos, carabina e cartucheira
Comprei enxada e machado e arado e carpideira
Cheguei a turma pra frente quero ver homem valente
Aqui firme no batente comigo a semana inteira

Reparti as ferramentas com meu sogro e meus cunhados
Entramos junto no mato de facão, foice e machado
No prazo de pouco tempo vi o mato derrubado
Depois fizemos a queimada apertei os camaradas 
Pra ver a terra tombada só no bico do arado

O meu sogro e meus cunhados agora me dão razão
Pegamos junto no eito e desbravamos o sertão
A turma de pistoleiro eu mudei de profissão
O fazendão tá formado pode olhar pra tudo lado
Só se vê capim e gado e roça de plantação

Longe Do Asfalto
Aonde eu estou morando o progresso não chegou
A minha tranquilidade ainda não acabou
Na frente da minha casa o asfalto não passou
O rastro do meu burrão ainda não apagou

Minha água mineral é natural lá da serra
Acordo de madrugada quando a bezerrada berra
Não sinto cheiro de gás e nem de bomba de guerra
Eu sinto o cheiro do pó quando a chuva cai na terra

Eu tenho tropa ensinada tratada só na cocheira
Nem que a viagem seja longa meus peões não tem canseira
Quando eu compro uma boiada eu pago lá na mangueira
Eu solto o gado na estrada só pra ver nuvem de poeira
 
Vivo longe do asfalto bem no alto da colina
A minha televisão é a beleza das campinas
O meu carro é de boi que canta e não desafina
Prefiro o cheiro do gado do que o da gasolina

O Bem Amado
Eu não acho que sou tão bonito eu não sei o segredo qual é
Meus cabelos já estão grisalhos mesmo assim as meninas me quer
Rosemeire, Suzana e Regina, Rosalina pegou no meu pé
Sabem até quando eu paro na esquina conhecem a buzina do meu Chevrolet

Das meninas eu sou bem amado todo lado que vou tem namoro
Estou fazendo minha coleção de morena e de cabelo louro
Meu carrão canta pneu em quarta roda larga e tapete de couro
Não tem crise, nem sol e nem chuva tá no porta luva o talão cheque ouro

Meu burrão já está na sombra meu dedão folgado na botina
Tô sentado em cima do dinheiro joguei fora o meu colchão de crina
Pra namorar não tenho preguiça nem que caia geada e neblina
As meninas suspiram baixinho não aguenta o cheirinho da gasolina

Vendo caro e compro barato o gaiato comigo se enleia 
Picareta metido a sabido já botou os pés na minha peia
Na goteira eu já dei um nó tenho dó de quem muito bobeia
Minhas terras é só de cultura é pura e não tem nenhum palmo de areia

Cachorro Valente
Eu fui um bom caçador mas não gosto de lembrar
Porque perdi minha esposa na beira do pantanal
Só ficou eu e o cachorro e um filhinho pra criar
O cachorro era valente ensinado pra caçar
Mas pra mim era mansinho parecia um gatinho desses da raça angorá

Lá naquela redondeza tinha uma onça pintada
A tal onça que matou a minha esposa adorada
O terror lá do sertão não caía na emboscada
Eu jurei fazer vingança saí firme na caçada pra sair rezei um terço 
Meu filho deixei no berço e o cachorro deixei de guarda

Procurando aquela onça eu entrei na mata adentro
Depois de andar bastante, parei, pensei um momento
Eu tratei bem da criança lhe dei bastante alimento
Pro cachorro não dei nada nem água e nem mantimento
Se ele ficar com fome o meu filhinho ele come foi esse o meu pensamento

Abandonei a caçada voltei pra casa chorando
O cachorro ensanguentado veio logo festejando
Você matou meu filhinho seu criminoso tirano
Dei dois tiros no cachorro morreu na boca do cano
Mas quando cheguei na porta encontrei a onça morta e o meu filhinho brincando

Xereta
Contrataram um feiticeiro muito feio e cambeta
Pra estragar nossa carreira fizeram muita cruzeta
Eu não posso pronunciar o nome desse careta
Esse cabra foi mexer com pimenta malagueta
Nós dois somos protegidos por uma santinha preta

Nosso pagode é um foguete girando nesse planeta
Todos os disco que nós grava o povo gosta das letras
O caboclo tinha inveja começou fazer fusqueta
Por frente era um santo por de trás era o capeta
Fuxicava nossa vida e depois fazia grandeza

Nossa viola está tinindo parece uma clarineta
Nosso peito é duas balas corta mais do que bereta
Se ele usou um golpe sujo pra jogar nós na valeta
Mas a sua arma falhou só estourou a espoleta
A queda dele foi feia tá jogado na sarjeta

Pra derrubar essa fera eu só usei a caneta
Fui fazendo moda boa e guardando na gaveta
Nosso sucesso não para dinheiro vem de maleta
O cara está na miséria já derrubou a trombeta
Acabou a alegria e deixou de ser xereta

O caboclo tá gemendo que nem burro na roseta
Sei que ele está chorando, mas eu não dou a chupeta
Eu sou que nem o coringa o mais querido da caixeta
Esse cara perdeu tudo ficou só de camiseta
Eu ando de terno novo e gravatinha borboleta

O Caçador
Vida de um caçador é um viver gozado naquele sertão pra quem é inclinado
Anta e Cateto tem pra todo lado naquelas montanhas lugar cultivado
Se vê tá trançando, de rastro de veado domingo e dia santo eu fico animado
Eu atrelo os cachorros e apronto o virado e toco a buzina meio repicado
É cachorro que uiva na trela amarrado

Eu saio cedinho, bem de madrugada deixo rastro fresco na areia molhada
Eu solto os cachorros e vou pra cilada a minha espingarda já está preparada
Com bucha de cera e bem carregada escuto o tropé da minha cãozada
O bicho levanta vem na disparada mateiro amarelo no pula picado
Eu atiro ele cai bem no meio da estrada

A buzina é metal, do bocal arcado patrona de couro de tigre pintado
Espingarda vinte e oito do cano tronchado facão jacaré bem embainhado
Cavalo Petiço hoje vai lotado tenho no arreio dois tentos engraxados
Ponho na garupa vem atravessado o Petiço traz o mateiro amarrado
Vem pingando sangue onde foi chumbado

Eu toco a buzina chamando a cãozada , ai ai
Chega de um a um é o final da caçada, ai ai

Meus Parabéns
Hoje é o dia do seu aniversário 
Nesta data que parece um dia santo
Peço à Deus que a Senhora Aparecida 
Abençoe a sua vida e te cubra com seu manto
Hoje é seu dia de alegria então sorria de alegria
Hoje é seu dia de alegria então sorria de alegria

Estou feliz por você estar feliz
Estou contente por você estar contente
Que esta data repita por muitos anos
Pra você estou desejando um futuro sorridente
Hoje é seu dia de alegria então sorria de alegria
Hoje é seu dia de alegria então sorria de alegria

Nesta festinha eu senti muita alegria
O teu deseja peço a Deus pra te atender
Parabéns, ´parabéns, meus parabéns
Eu te quero muito bem felicidade pra você
Hoje é seu dia de alegria então sorria de alegria
Hoje é seu dia de alegria então sorria de alegria

Baile De Barraca
Na minha casa vai ter baile de barraca
Tem churrasquinho de frango também de carne de vaca

Já preparei a barraca já limpei bem o terreiro
Pra dançar na minha casa não precisa ter dinheiro
Só quero muito respeito senhoras e cavalheiros
Pro baile não esfriar tem viola e sanfoneiro

Na minha casa vai ter baile de barraca
Tem churrasquinho de frango também de carne de vaca

Se acaso estiver chovendo o convite nós sustenta
A barraca está bem feita o enceradão aguenta
Mesmo embaixo de chuva este baile nós esquenta
Não precisa vir armado que armado lá não entra

Na minha casa vai ter baile de barraca
Tem churrasquinho de frango também de carne de vaca

Vai vir caminhão lotado de mocinha e senhora
Muita gente vem a pé, mas não vão perder a hora
E quem vier a cavalo deixa o cavalo lá fora
Pra dançar faça o favor de tirar o par de espora

Na minha casa vai ter baile de barraca
Tem churrasquinho de frango também de carne de vaca

Soja E Trigo
Eu já fui om bom empregado honrado no meu querido sertão
Trabalhei de tratorista fui orgulho do patrão 
Um dia Deus me ajudou comprei um pedaço de chão
Negócio bom do momento agora é esse meu amigo
Tiro trigo e planto soja, tiro soja e planto trigo

Quem sabe preparar a terra não erra é lucro que não tem fim
Já destoquei minha mata e arei todo o capim 
To plantando e to colhendo a coisa virou pra mim
Negócio bom do momento agora é esse meu amigo
Tiro trigo e planto soja, tiro soja e planto trigo

Eu tenho todos maquinários calcário jogo muitas toneladas
Depois ponho um bom adubo pra ficar bem reforçada
Depois passo a herbicida a terra está preparada
Negócio bom do momento agora é esse meu amigo
Tiro trigo e planto soja, tiro soja e planto trigo

Eu sou um homem muito franco no banco eu entro de botinão
Tenho o gerente sorrindo e pega na minha mão
Ponho trigo e ponho a soja que me fez virar patrão
Negócio bom do momento agora é esse meu amigo
Tiro trigo e planto soja, tiro soja e planto trigo
Negócio bom do momento agora é esse meu amigo
Tiro trigo e planto soja, tiro soja e planto trigo

Fazenda Santa Luzia
No começo de Janeiro um convite eu recebia
Fui conhecer o Sítio Estrela pertinho de Alexandria
Encontrei só gente boa meu Deus quanta cortesia
Passei por dentro de Assis cidade limpa e sadia
Esta moda não é lenda eu hospedei numa fazenda por nome Santa Luzia

Eu vi beleza e riqueza que há muito tempo não via
Honestidade e respeito lá naquela moradia
O seu dono conversava com classe e categoria
Esta fortuna ganhei mas não foi na loteria
No lombo de burro bravo trabalhei igual escravo pra chegar onde eu queria

Trabalhar não mata a gente se matasse eu morreria
Quatro e meia da manhã pelo mundão eu saía
Comprando boiada magra depois de gorda eu vendia
A minha tropa ensinada junto comigo sofria
A minha esposa adorada me ajudou desesperada só fazendo economia

Eu ouvi com atenção o que o grande homem dizia
Os seus olhos confirmaram as belezas que eu via
O verde do colonião as suas terras cobria
Os touros brancos de raça vacada branca de cria
Lá na beira do Panema Deus me deu o grande tema desta simples melodia

Eu descobri um tesouro que ainda não conhecia
Família do Dorvalino só me deu muita alegria
Sua esposa e duas filhas são três grandes simpatias
Seu filho é seu grande amigo é bom que não tem quantia
Um bom amigo que vale o Dorvalino Murale mereceu esta poesia

Despedida De Nortista
Adeus São Paulo querido capital dos paulistanos
Eu aqui só tive glórias nunca tive desengano
Os braços desse caboclo meu norte está precisando
É hoje que eu vou-me embora vou me despedir chorando
Mas deixo um abraço forte preciso voltar pro norte mamãe está me chamando

Eu quero pedir desculpas se faltei com a educação
Se pisei no pé de alguém não foi a minha intenção
Se eu tive alguma falta vocês me deem o perdão
Quando eu saí do norte São Paulo me deu a mão
Vou tentar nova conquista mas levo o povo paulista dentro do meu coração

Os nossos bons dirigentes são homens de alma pura
Estão ajudando o norte no comércio e na leitura
Na indústria e na pecuária, transporte e agricultura
Meu norte está progredindo já é terra de fartura
Os homens de pulso forte querem ver o sul e o norte os dois na mesma altura

Pra minha santa mãezinha eu vou fazer companhia
Sentindo a minha falta ela chora noite e dia
Quando estiver distante lá em minha moradia
Vou falar bem dos paulistas e da sua cortesia
São Paulo é bom de fato eu não posso ser ingrato com quem me acolheu um dia

Músicas do álbum Ninho De Cobra (CABOCLO-CONTINENTAL103405176) - (1975)

Nome Compositor Ritmo
Filho De Pobre Moacyr Dos Santos / Jacó Rasqueado
Ninho De Cobra Moacyr Dos Santos / Jacó Corta Jaca
Longe Do Asfalto Moacyr Dos Santos / Jacozinho Corta Jaca
O Bem Amado Jacozinho Rasqueado
Cachorro Valente Moacyr Dos Santos / Jacozinho Moda De Viola
Xereta Jacozinho Pagode
O Caçador Moacyr Dos Santos / Jacozinho Balanço
Meus Parabéns Moacyr Dos Santos / Jacozinho Rojão
Baile De Barraca Moacyr Dos Santos / Jacozinho Rojão
Soja E Trigo Moacyr Dos Santos / Jacó Rojão
Fazenda Santa Luzia Moacyr Dos Santos / Jacozinho / Lourival Dos Santos Corta Jaca
Despedida De Nortista Sulino / Moacyr Dos Santos Rojão
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