Jeitão De Caipira (GTLLP 1067) - (1984) - Liu e Léu

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Jeitão De Caipira 
Vou voltar pra minha terra na vidinha de caboclo 
Vou trabalhar no roçado nem que for pra arrançar toco
O barulho da cidade está me deixando louco 
A coisa aqui já esta de rançar pica-pau do oco
Vou viver lá onde é bom, na vendinha do seu João 
Agente dá quinhentão ele ainda volta troco

Aqui não tem diversão, muitas coisas me tormentam 
Agente não vê o céu nessa cidade cinzenta
Fumaça das chaminés já não tem tatu que agüenta 
Não vejo a lua nascer e nem o sol quando entra
Meu sacrifício é tamanho, muito pouco aqui eu ganho 
Meus visinhos são estranhos, passam e não me cumprimenta

Pau podre não dá cavaco mais pra cortar é macio 
Eu vivo aqui na cidade batendo em ferro frio
Só tenho a cabeça quente e o bolso sempre vazio 
Por isso é que eu vou embora meu coração decidiu
Vou me embrenhar na quiçaça, vou viver de pesca e caça 
Morar num rancho de graça naquelas beiras de rio

No ranchinho de sapé amarrado com embira 
Pode falar quem quiser mas de lá ninguém me tira
Deixo a minha rede armada, também sou firme na mira 
Vejo a lua e as estrelas depois que o sol se retira
E lá naquele lugar sinto Deus me visitar 
Dinheiro não vai comprar o meu jeitão de caipira

Bandeirante Fernão 
A bandeira Fernão Dias com seus homens escolhidos 
Com Zé Dias Borba Gato bandeirante destemido 
O capitão João Bernal, padre Veiga decidido
Foram guias da bandeira ai, ai, ao sertão desconhecido

Também Matias Cardoso, Garcia Paz Francisco Dias 
E Antônio Prado Cunha foram servindo de guia 
Junto Antônio Bicudo entraram na mataria
Índio, Escravo e Mameluco ai, ai, animais de montaria

Frei Gregório Magalhães deu benção e deu alento 
Dizendo a missa campal frente ao mosteiro São Bento 
E o bandeirante partiu com grande carregamento
Cargueiros e munição ai, ai, fumo em rolo e mantimento

A bandeira avançou na Serra da Mantiqueira 
Cataguasca, Manducáia pela selva brasileira 
Porluco e Sapucaí foi avançando a bandeira
Passou Sabará Buçu ai, ai, pela mata traiçoeira

Vitoruna e Paraopéba o bandeirante seguia, 
Rio das Velha e Roça Grande, Sumidouro prosseguia 
Passando por Tucumbira e a mata da Pedraria
Serro Frio e Rio Doce ai, ai, foram chegar na Bahia

Morreu na selva em delírio o bandeirante Fernão 
Sete anos de martírio em conquista do sertão 
No lugar das esmeraldas que só foi uma ilusão
Surgiu São Paulo grandioso ai, ai, o diamante da nação

Quem Cria Cobra 
Seu Juarez Bernardino um fazendeiro afamado, 
Criou um filho sem mãe que encontrou abandonado
Dizia para o menino vai ser depois de herado 
Jagunço de confiança pra guardar o meu costado
Amor é pra gente fraca, eu mando e você ataca quem não for do meu agrado

Criou conhecendo o ódio ser conhecer a justiça 
Sem coragem pro trabalho e matava sem ter preguiça
Era bem mais traiçoeiro do que areia movediça 
O fazendeiro dizia comigo ninguém enguiça
Se alguém lhe desagradava pro bandido ele apontava, podia encomendar a missa

Dizem que o avarento é como saco furado 
Um homem já milionário quase dono do estado
Mas queria a fazenda de um sujeito endinheirado 
De conseguir sem trabalho já estava acostumado
Deu dez conto ao cangaceiro e disse tem mais dinheiro se consumir o Frajado

O seu Frajado estava na maior tranqüilidade 
Quando chegou o bandido carregado de maldade
E disse, eu vim lhe matar mais não é por vaidade 
É que o meu padrinho quer a fazenda Piedade
E pra lhe juntar os pés me deu dez contos de rés, pode rezar a vontade

O seu Frajado tremeu, mas pensou com precisão 
Esse homem por dinheiro ele mata o próprio irmão
E disse eu dou mais cinqüenta pra ir matar seu patrão 
Mas só terá o pagamento depois dele no caixão
Pois era mesmo mesquinho e foi matar seu padrinho sem nenhuma compaixão
 
A Volta Que O Mundo Dá 
No estado de São Paulo lá em Guaratinguetá
Um casal de namorados jurou de não separar
Mas o malvado dinheiro fez a jura se quebrar
O pai falou para a filha, seu namoro vai parar
Nós somos família nobre, o seu namorado é pobre, não vamos se misturar 

Rapaz que não tem dinheiro no meu lar não vai entrar
Caboclinho do pesado suspirou pra não chorar
Retrucou assim dizendo, dinheiro eu posso ganhar
Minha mão ta calejada, meu defeito é trabalhar
Se fosse como eu queria, nosso pão de cada dia eu não deixava faltar

Um sujeito engravatado um dia baixou por lá
Contando tantas vantagens fez o velho acreditar
Eu sou filho de um ricaço meu trabalho é estudar
Levando a moça no tapa, quatro anos sem casar
O cara de posição não passava de um ladrão que a polícia foi buscar

O ladrão deixou uma filha, o avô quem vai criar
E a mãe ficou solteira, não adianta reclamar
A menina todo instante para a mãe vai perguntar
Mãezinha cadê meu pai, quero ver onde ele está
Nesta hora a mãe se cala, a verdade ela não fala porque a coragem não dá

O amor é coisa séria, nunca vi ninguém comprar
Muitos pais sem coração tem filhas pra negociar
Procura quem tem dinheiro para as filhas namorar
Desprezaram o caboclinho que devia respeitar
Caboclinho do pesado hoje tem seu lar honrado, é a volta que o mundo dá

Clarão Do Horizonte 
Deitado na minha cama, foi para amanhecer ontem 
Acordei muito cedinho no clarão do horizonte
Dormindo eu estava sonhando eu te vi perfeitamente
No sonho nós estava junto, eu acordei vós estava ausente
Este teu lindo semblante ai, ai, perturba o sono da gente

Na hora que eu acordei reparei por todo lado
Quem eu via agora mesmo já está tão retirado
É pra vós ficar sabendo, a saudade o que é que faz 
Quem eu vi agora mesmo talvez eu não vejo mais
Eu te vejo é só no sonho ai, ai, por isto eu sofro demais, ai 

Menina por te amar não tenho as vontade livre, 
De tudo eu posso esquecer mais de você acho impossível
Posso viver muitos anos, meus sentidos não descansa 
Tem um ditado que diz que quem espera sempre alcança
Não morro sem te amar ai, ai, não perco a minha esperança

Se for indo deste jeito vou sofrendo até morrer 
Daria tudo na vida pra ta junto de você
Fico triste, fico alegre, do risada sem vontade 
Pra não dar demonstração que eu ando roxo é de saudade
Assim mesmo o povo fala ai, ai, que eu tenho felicidade

As Três Cuiabanas 
Eu nasci em uma data feliz, bem depois do dia dezesseis 
Por eu ser um menino sem pai fui criado com titio Inez
Titio era cuiabano, nesta lida também me criei
Ele era criador de gado, no seu regime eu me acostumei
Tinha laço couro de mateiro, não escapava uma rês do mangueiro, eu deixava correr trinta dias por mês

Titio me deu um burro pampa que atendia por nome Truques 
Foi tirado da Tropa Rio Grande, outra escolha melhor não achei
Eu deixei pra mostrar minha ciência quando lá em Mato Grosso eu cheguei
O mestiço saltou lá na cerca foi enquanto a laçada aprontei, 
Eu bambeei a rédea do pampa e o laço serrou pelas guampas, berrava na chincha o zebu javanês

Tinham três mocinhas na janela, Juvilhana, Clarice e Inez, 
Uma delas tava me gavando, paulistinha ainda surra vocês
Cuiabanos quiseram achar ruim o meu trinta na cinta bambeei 
Pra mostrar minha ciência melhor por capricho o mestiço eu soltei, 
Ele tinha as guampas revessas e o laço escapou da cabeça pelas duas mãos eu lacei outra vez

O patrão me chamou lá pra dentro, eu entrei com meu jeito cortês
Eu entrei no salão de visita, lá fiquei rodeado das três 
Perguntou qual era a mais bonita, vejam só que apuro eu passei 
Respondi todas três são iguais, foi do jeito que eu dizapurei 
A mais velha é uma flor do campo, a do meio é um cravo vermelho, a mais nova é uma rosa quando está de vez

Na hora da despedida foi preciso eu falar o português, 
O meu coração ficou roxo, foi da cor de um alho chinês
Eu deixei pra dar meus três suspiros quando o porto pra cá atravessei 
As meninas me escreveram cartas, brevemente a resposta eu mandei 
Vou tomar a linha sorocabana, quero ver as três cuiabanas vou ver Juvilhana, Clarice e Inez

Homem Até O Fim 
Boiadeiro de palavra que nasceu lá no sertão
Não pensava em casamento por gostar da profissão
Mas ele caiu no laço de uma rosa em botão
Morena cor de canela, cabelo cor de carvão
Desses cabelos compridos quase esbarrava no chão
E para encurtar a história era filha do patrão

Boiadeiro deu um pulo de pobre foi pra nobreza
Além da moça ser rica, dona de grande beleza
Ele disse assim pra ela com classe e delicadeza
Esses cabelos compridos são minha grande riqueza
Se um dia você cortar nós separa na certeza
Além de te abandonar vai haver muita surpresa

Um mês depois de casado o cabelo ela cortou
Boiadeiro de palavra nessa hora confirmou
No salão que a esposa foi, com ela ele voltou
Jogou ela na cadeira e desse jeito ele falou
Passe a navalha no resto do cabelo que sobrou
O barbeiro não queria, a lei do trinta mandou

Com o dedo no gatilho pronto pra fazer fumaça
Boiadeiro virou um leão querendo pular na caça
Quem mexeu nesse cabelo vai cortar o resto de graça
A navalha fez limpeza na cabeça da ricaça
Boiadeiro caprichoso, caprichou mais na pirraça
Fez a morena careca dar uma volta lá na praça

E lá na casa do sogro ele falou sem receio
Vim devolver sua filha eu não achei outro meio
A minha maior riqueza eu olho e vejo no espelho
É um rosto com vergonha que a toa fica vermelho
Sou igual um puro sangue que não deita com arreio
Prefiro morrer de pé pra não viver de joelho

Rei do Gado 
Num bar de Ribeirão Preto eu vi com meus olhos essa passagem
Quando champanhe corria a rodo no alto meio da granfinagem
Nisto chegou um peão trazendo na testa o pó da viagem
Pediu uma pinga para o garçom, que era pra rebater a friagem

Levantou um almofadinha e disse pro dono não tenho fé
Quando um caboclo que não se enxerga num lugar desses vem por os pés
Senhor que é o proprietário deve barrar a entrada de qualquer
E principalmente nesta ocasião que está presente o rei do café

Foi uma salva de palmas e gritaram viva pro fazendeiro
Que tem milhões de pés de cafés por este rico chão brasileiro
Sua safra é uma potência em nosso mercado e no estrangeiro
Portanto veja que este ambiente não é pra qualquer tipo rampeiro

Com um modo bem cortês responde o peão pra rapaziada
Esta riqueza não me assusta, topo e aposto qualquer parada
Cada pé do seu café eu amarro um boi da minha boiada
E pra encerrar o assunto eu garanto que ainda sobra boi na invernada

Foi um silêncio profundo o peão deixou o povo mais pasmado
Pagando a pinga com mil cruzeiros disse ao garçom pra guardar o trocado
Quem quiser meu endereço nem é preciso ser anotado
É só chegar lá em Andradina e perguntar pelo rei do gado

Festa De Barretos 
Pra aqueles que não conhecem hoje vão nos conhecer 
Nós estamos de passagem trazendo esta mensagem 
Da cidade de Andradas cantando pra vocês ver

Eu vou pedindo desculpa por esta intimidade 
Pra saudar os barretenses e altas autoridades 
E também a jovem guarda no aniversário da cidade 
Pra fazer a saudação na grande festa do peão já tomei a liberdade

Na grande festa do peão todo ano nesse mês 
Vem peão de todo lado, só não vi peão japonês 
Quero saudar a peonada que vieram desta vez 
Eu não sei da onde vem, quero dar os parabéns a cada um de vocês

Pra dizer que é peão tem que conhecer Barretos 
No meio da peonada passando o branco no preto 
Os peões de boiadeiro no berrante faz dueto 
Quem quiser que acredite que o chão é o limite e o gramado é um barro preto

Barretos ficou na história no coração dos artistas 
Esta terra brasileira, nos jornais e nas revistas 
A rainha e princesas fazem suas entrevistas 
Na grande festa do peão a maior da região do grande estado paulista

Companheiro Do Ferreirinha 
Eu recebi uma carta que veio lá de Pardinho 
Pra terminar a empreitada que eu peguei com Ferreirinha
Pra buscar aquele mestiço no campo do Espraiadinho 
Aquilo no coração atravessou como espinho
Não tinha mais companheiro eu tinha que seguir sozinho

Por não ter outro vacano, resolvi ir no redomão, 
Trouxe o potro no mangueiro, lacei, passei no mourão
Apertei com garantia duas barrigueira e o chinchão 
Quando eu ganhei o arreio o potro virou leão
Preguei a espora no peito pra limpar meu coração

Dali eu sai sozinho, bati todo os maiadô, 
Achei o lugar fresquinho onde o mestiço posou
Segui a batida do boi que desceu pro bebedor 
O mestiço vinha vindo e de longe me avistou
Eu lembrei do Ferreirinha a coragem redobrou

O mestiço furioso pro meu lado ele partiu 
Que nem faísca de raio no potro ele investiu
Joguei o laço de tirão que os tento até rangio 
A laçada fez um oito quando nas guampas caiu
O redomão veiaquiava virava de corrupio

Com o boi no chinchador me custou pra por na linha 
Queria limpar meu nome, também o do Ferreirinha
Terminar o meu trabalho, empreitada tão mesquinha 
Labutei com o mestiço com o traquejo que eu tinha
Depois de muito trabalho que eu mostrei a ciência minha

Ao passar numa restinga o potro e o boi levei 
Naquele lugar tão triste que morto o rapaz achei
Soluçando de saudade uma cruz ali finquei 
Com a ponta da minha faca estas palavras eu gravei
Descase em paz Ferreirinha que a empreitada  terminei

Msicas do lbum Jeitão De Caipira (GTLLP 1067) - (1984)

Nome Compositor Ritmo
Jeitão De Caipira Tião Do Carro / Eduardinho Moda De Viola
Bandeirante Fernão Carreirinho / Campos Negreiro / Ado Benatti Moda De Viola
Quem Cria Cobra Tião Do Carro / Zé Mulato Moda De Viola
A Volta Que O Mundo Dá Lourival Dos Santos Moda De Viola
Clarão Do Horizonte Donizete / Mário Dos Santos Moda De Viola
As Três Cuiabanas Carreirinho / Zé Carreiro Moda De Viola
Homem Até O Fim Lourival Dos Santos / Moacyr Dos Santos Moda De Viola
Rei Do Gado Teddy Vieira Moda De Viola
Festa De Barretos João Damiciano Da Costa Moda De Viola
Companheiro Do Ferreirinha Germano Caldino / Pinheirinho Moda De Viola
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