Modas De Viola Classe A (Volume 4) (CONTINENTAL 171405640) - (1984) - Tião Carreiro e Pardinho

Pousada De Boiadeiro
Eu recordo com muita saudade a fazenda onde me criei
A escola coberta de tábua e a professorinha com quem estudei
Meu cavalo ligeiro de cela as estradas que nele passei
Tudo isso me vem na lembrança do tempo da infância que longe eu deixei ai

Eu dançava nos fins de semana os bailinhos do velho Matão
O matungo pousava no toco seguro nas rédeas manoqueando o chão
A sanfona gemia num canto com viola pandeiro e violão
Minha dama encurtava o passo sentindo o compasso do meu coração, ai

Esse tempo já vai bem distante tudo, tudo na vida mudou
O piquete das vacas leiteiras cobriu-se de mato enfim se acabou
Os parentes mudaram de rumo ninguém sabe também onde estou
Despedi-me numa madrugada seguindo a estrada que Deus me traçou, ai

Adeus Conceição do Monte Alegre adeus povo do bairro Cancã
Adeus pousada de boiadeiros abrigo dos peões de Echaporã
Lá reside o César Botelho que demonstra ser meu grande fã
Com saudade de todos vocês eu volto talvez num outro amanhã, ai

Desculpe se eu não falei de outras terras que andei
Lá pras bandas de Agissei, São Mateus também santa ida
Daquela gente querida eu nunca vou me esquecer

Viola Vermelha
Esta viola vermelha cor de bandeira de guerra
Cor de sangue de caboclo cor de poeira de terra
Foi a fiel companheira numa longa trajetória
De um artista tão querido que deixou o nome na história
Um canhoteiro de fibra, um exemplo de violeiro
Com talento e traquejo do progresso sertanejo ele foi o pioneiro

Esta viola vermelha já fez tristeza acabar
Fez muitos lábios sorrir fez platéias delirar
Mas um dia entristeceu no silêncio da saudade
Quando pra sempre seu dono partiu para eternidade
Ela chora xonada, que até meu corpo arrepia
Dá um gemido em cada corda quando comigo recorda esta imortal melodia

Esta viola vermelha que tanto alegrou o povo
Defendendo o que é nosso está na luta de novo
Voltou a ser aplaudida como foi antigamente
O seu passado de glória revivendo no presente
Florêncio descanse em paz, porque esta viola sua
Voltou para o pé do eito encostada no meu peito sua luta continua

Esta viola vermelha está chorando comigo
Ela perdeu o seu dono eu perdi um grande amigo

Herói Sem Medalha
Sou filho do interior do grande estado mineiro
Fui um herói sem medalha na profissão de carreiro
Puxando tora do mato com doze bois pantaneiros
Eu ajudei desbravar nosso sertão brasileiro
Sem vaidade eu confesso do nosso imenso progresso eu fui um dos pioneiros

Veja como o destino muda a vida de um homem
Uma doença malvada minha boiada consome
Só ficou um boi mestiço que chamava lobisomem
Por ser preto igual carvão foi que eu pus esse nome 
Em pouco tempo depois eu vendi aquele boi pros filhos não passar fome

Aborrecido com a sorte dali resolvi mudar
E numa cidade grande com a família fui morar
Por eu ser analfabeto tive que me sujeitar
Trabalhar no matadouro para o pão poder ganhar 
Como eu era um homem forte nuqueava gado de corte pros companheiros sangrar

Veja só a nossa vida como muda de repente
Eu que às vezes chorava quando um boi ficava doente
Ali eu era obrigado matar a rês inocente 
Mas certo dia o destino me transformou novamente 
O boi da cor de carvão pra morrer na minha mão estava na minha frente

Quando eu vi meu boi carreiro não contive a emoção
Meus olhos encheram d’água meu pranto caiu no chão
O boi me reconheceu e lambeu a minha mão
Sem poder salvar a vida do boi de estimação 
Pedi a conta e fui embora desisti na mesma hora desta ingrata profissão

Milagre Da Vela
Lá no bairro aonde eu moro um dia desses passados
Se deu um caso impressionante que ficamos admirados
Uma vizinha de casa que há tempo tinha enviuvado
Ficou ela e três filhinhos resuduiam num sobrado
O velho quando morreu deixou alguns cobres guardados

Era meia noite e meia o relógio tinha marcado
E a viúva não dormia virando por todo lado
Quando quis pegar no sono escutou um forte chamado
Ela então reconheceu ai, que era a voz do seu finado
Vai acudir nossos filhos para não morrerem queimados

A velha virou pro canto pensou que tinha sonhado
Quando a voz se repetia vai fazer o meu mandado
Ela levantou depressa e o quarto estava trancado
Arrombou entrou, ai num gesto desesperado
Uma vela sobre a mesa já com fogo no atoalhado

Com o barulho da porta os meninos acordaram assustados
E a mesinha em labareda na cama estava encostada
Meus filhos pra esta vela se a força não tem faltado
Minha mãe quinze de agosto nós estamos bem lembrados
Que hoje completa um ano que papai foi sepultado

Boi Cigano
Entre tantas companhias de grande circo rodeio
O capitão Asa Branca se destaca nesse meio
Exibindo o boi cigano nos seus pesados torneios
Muitos peões de nome e glória
Foi em busca de vitória e acabou fazendo feio

A atração da companhia permanece à muitos anos
A platéia se arrepia quando entra o boi Cigano
Pra montar e não cair, ai não conheço um ser humano
Derrotou em Andradina
A grande fera assassina o leão sul africano 

Um peão compareceu pelo anuncio dos jornais
Por sinal tinha seu nome entre os bons profissionais
O Fumaça em montaria já ganhou prêmio demais
Mas no lombo do cigano
Conheceu o desengano e acabou o seu cartaz, ai

Zé Corisco peão mineiro veio com toda a certeza
Por ter ele derrotado a tal mula Fortaleza
A platéia lhe aplaudia o tombo foi de surpresa
Por Cigano derrotado acabou sendo vaiado
Não valeu sua destreza

O capitão Asa Branca percorre o Brasil inteiro
Desafiando a peonada pagando prêmio em dinheiro
A derrota do cigano eu tenho que ver primeiro
Se um dia acontecer e o peão aparecer
Será o campeão brasileiro 

Violeiro Do Passado
Pra passar trabalho neste mundo eu vim
Não tenho ninguém que chore por mim
Sofrendo desgosto saudade sem fim
Está minha vida sempre foi assim
Eu sou como as flores que não têm jardim

Quando me mudei da onde nasci
Um amor que eu tinha não me viu sair
Fiz coração duro, mas não resisti
Só eu é que sei o quanto sofri
Varei quatro noites sem poder dormir

No tempo de moço eu me diverti
Meus amores tinham certeza de eu ir
Chegava nas festas vinham me pedir
Pra que eu cantassem pra elas ouvir
Modinhas chorosos versos de ferir

O vosso convite quando eu recebi
Com muito prazer eu me preveni
Afinei a viola que até eu senti
Fui na sua festa e melhor não vi
Eu gozei carinhos que não mereci

Eu vivo correndo terras, ai jogado daqui pra ali
Vou deixar de querer bem, ai chega o tempo que eu perdi

Pra ser violeiro foi que eu nasci
Em muitos catiras eu amanheci
Fiz moça orgulhosa chorar e sorrir
Suspirei saudade e me despedi
Mas a rosa branca nunca esqueci

Arreio De Prata
São José do Rio Preto muito tempo se passou
O seu Oscar Bernardino com a boiada ele viajou
Num transporte à Mato Grosso na comitiva levou
Um filho de criação que na lida ele ensinou
Com seu arreio de prata que no rodeio ganhou
O menino ia garboso no potro que ele amansou

Aquele arreio de prata era o que mais estimava
Somente em dia de gala que em rio preto ele usava
Nesta viagem seu Oscar pros peões recomendava
Pra zelar bem do peãozinho que recente se formava
O menino de ponteiro o berrante repicava
O Itamar e o Tiãozinho de perto lhe vigiava

A mania do menino seu Oscar sempre lembrava
Na hora do reboliço com a vida não contava
E foi lá no pantanal quando ninguém esperava
Uma onça traiçoeira numa rês ela pulava
A boiada deu um estouro que o sertão se abalava
Parecia que o mundo nessa hora se acabava 

Os ares de campo virgem cheirava chifre queimado
O menino dando gritos para tentar segurar o gado
A barrigueira partiu do cavalo foi jogado
Nos cascos dos cuiabanos pelos campos foi pisado
Quando a boiada passou viram o peãozinho estirado
Com seu arreio de prata estava morto abraçado

O seu Oscar Bernardinho sua alegria acabou
Pegou o arreio de prata pro Antonio ele falou
Esse arreio é do menino deixe com ele, por favor,
Na sombra de um anjiqueiro uma cruzinha fincou
E na cruz fez um letreiro aqui jaz um domador
Que apesar da pouca idade nem um peão com ele igualou

Fazenda Caioçara
Na fazenda Caioçara toda vez que rompe o dia
Canta triste a seriema a codorninha assovia
Ronca o porco no chiqueiro e a cachorrada vigia
Riscando o chão com o casco berra um touro no pasto
De alma xucra e bravia

É bonito na fazenda quando é noite de porfia
Todo mundo se diverte com viola e cantoria
O Tupy canta rancheira o Dino fala poesia
O Nelsão abre cerveja uma pinga com carqueja
Traz um gole de alegria

O Raimundo e o Toninho nunca têm as mãos vazias
Quando chegam na fazenda fazem boa pescaria
O Luizinho despachante come peixe sem quantia
O Décio faz a fritada é aquela pingaiada
Credo em cruz ave-maria

Quando chega o mês de junho só vendo que maravilha
Tem a festa de São Pedro a promessa da família
A mulherada faz terço a Virginia forma quadrilha
Junto ao fogo da lareira tem trucada a noite inteira
Ninguém joga sem manilha

Liu e léu chegou à hora, vem vindo à barra do dia

O Didi levanta cedo e os trabalhos principiam
Faz um escaldado forte para aumentar a energia
O Antonio traz o leite já correu a freguesia
Eu também vou ver meu eito pra vocês o meu respeito
Temos Deus na companhia

Dever De Um Policial
Ano de sessenta e seis mês de dezembro surgiu
A noite do dia sete de desespero cobriu
Na cidade de Olímpia grande temporal caiu
A rua nove de julho parecia um grande rio
E um grito de socorro na escuridão se ouviu

Era uma voz de criança com a vida ameaçada
Pela forte correnteza estava sendo arrastada
Um corisco iluminou seu corpo na enxurrada
E um mocinho de fibra de coragem redobrada
Correu em sua defesa sem ter receio de nada

A menina inconsciente com sacrifício tirou
Um socorro de urgência com perfeição aplicou
O brilho da luz da vida nos olhos dela voltou
Viu que era marca Neves a menina que salvou
Levando ela nos braços para a família entregou

A família quis pagar ele não quis receber
E se despediu dizendo não precisa agradecer
Somente estou de folga quando nada acontecer
Na profissão que abraço de tudo aprendi fazer
Sou policial militar e só cumpri meu dever

Saudosa Vida De Peão
Da minha vida de peão só recordação eu tenho guardada
Da peonada gritando o berrante tocando chamando a boiada
Nas tardes quentes de agosto o suor do meu rosto coberto de pó
De quebrada em quebrada nas longas estradas só Deus tinha dó

No estado de Mato Grosso eu era bem moço, mas tinha coragem
Enfrentei o Pantanal uma vida infernal laçando selvagem
Junto com meus companheiros cruéis pantaneiros tiramos de lá
No perigoso transporte encontrando com a morte a cada lugar

De passo a passo a boiada uma onça pintada às vezes seguia
Querendo matar sua fome o cheiro do homem a fera temia
O som do berrante manhoso o andar preguiçoso da tropa cansada
Foi brutalidade, mas tenho saudade da vida passada

Ao deixar o estradão para o meu coração foi um forte veneno
Minha rede macia que nela eu dormia até no sereno
Expressos boiadeiros deixou os pioneiros com a vida arrasada
Acabou-se o berrante, o transporte elegante de uma boiada

Mineiro Do Pé Quente
Mato Grosso é um gigante onde eu piso devagar
Eu comparo esse estado um grande jequitibá
Que faz uma sombra amiga esperando quem chegar
Este estado hospitaleiro vou falar de um mineiro
Residente em Cuiabá

No dia seis de janeiro há muitos anos atrás
Nasceu na terra do milho no chão de minas gerais
Nasceu no dia de reis assim diziam seus pais
Acredito no destino vai ter sorte esse menino
Deus pra nós é bom demais

O menino foi crescendo com a fibra de mineiro
Ele pensava em silêncio seu talento era ligeiro
Honestidade e trabalho trazem vitória e dinheiro
Pra ele não tinha erro começou com três bezerros
Mais tarde foi boiadeiro

Na enxada e na foice e no machado pegou 
Foi carreiro, foi tropeiro, com caminhão trabalho 
No grande jogo da vida não perdendo só ganhou
Sua estrela só brilhava Deus sempre o acompanhava 
Por onde ele passou

Casou com dezoito anos entregou seu coração
Quem faz um bom casamento tem um tesouro na mão
Com o seu consentimento vou dar minha opinião
Sua esposa companheira no seu lar é a roseira
Cada filho é um botão

O mineiro está lá em cima lutando honestamente
Dono de uma grande empresa dá emprego à muita gente
Sendo ele o grande esteio diretor e presidente 
Falo a verdade e não minto senhor Augusto Alves Pinto
É mineiro do pé quente

Sua vida é um livro aberto que nem o tempo consome
Mostrou pra filho e parente que vencer honestamente
Não é impossível pro homem

Boi Veludo
Num jornal que sempre leio procurando distração
Eu encontrei bem no meio uma grande atração
Ia ter um grande torneio lá na minha região
Eu que sempre tive anseio num duelo de ação
Fui assistir um rodeio por nome de Furacão
Eu avistei bem no meio um boi da cor de carvão
O seu nome é Veludo esse boi está com tudo
Não deixa nada pro peão

Peão que de longe veio com fama e tradição
Foi dizendo sem receio já montei até no cão
Nunca precisei de freio pra montar em bicho pagão
Não vou precisar de reio pra quebrar o boi campeão
Hoje vou dar um passeio no lombo do Veludão
O brinquedo ficou feio bateu com a cara no chão
O pobre peão tremendo de medo saiu correndo
E trocou de profissão

Peão que não fizer feio vai ganhar um dinheirão
Está crescendo o rateio dinheiro tem de montão
O lombo do boi é cheio, mas é liso igual sabão
Pra quebrar o seu galeio duvido que tenha peão
Nesta viola que ponteio vai aqui minha opinião
Boi veludo é um esteio garantia do patrão
O boi veludo é um craque o amigo João Gargalak
Tem um tesouro na mão

Músicas do álbum Modas De Viola Classe A (Volume 4) (CONTINENTAL 171405640) - (1984)

Nome Compositor Ritmo
Pousada De Boiadeiro Dino Franco / Tião Carreiro Moda De Viola
Viola Vermelha Tião Carreiro / Jesus Belmiro Moda De Viola
Herói Sem Medalha Sulino Moda De Viola
Milagre Da Vela Carreirinho / Zé Carreiro Moda De Viola
Boi Cigano Geraldino / Fauzi Kanso Moda De Viola
Violeiro Do Passado Dino Franco / Zico Dias Moda De Viola
Arreio De Prata Teddy Vieira / Roque José De Almeida / Mário Bernardino Moda De Viola
Fazenda Caioçara Tião Carreiro / Dino Franco Moda De Viola
Dever De Um Policial Jesus Belmiro / Tião Carreiro Moda De Viola
Saudosa Vida De Peão Peão Carreiro / Tião Carreiro Moda De Viola
Mineiro Do Pé Quente Lourival Dos Santos / J. Dos Santos Moda De Viola
Boi Veludo Lourival Dos Santos / Jesus Belmiro Moda De Viola
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