Navalha Na Carne (CONTINENTAL 171405555) - (1982) - Tião Carreiro e Pardinho

Veneno Lento
São quatro horas desta madrugada fria 
Neste tormento eu não consigo dormir
A solidão neste quarto é demais 
Desesperado sem destino vou sair
Provavelmente hoje não volto pra casa 
Quero beber até o dia clarear
Enquanto ela amanhece em outros braços 
Eu amanheço bebendo de bar em bar

Oi, saudade, veneno lento que está me torturando
Oi, saudade, veneno lento que aos poucos vai me matando

E quando o sol clarear o novo dia 
Pressinto a mágoa que existe em meu rosto
Amargurado e solitário vou dormir 
Pra dar repouso ao cansaço e ao desgosto

Isso acontece uma noite atrás da outra 
Não durmo em casa nem uma noite se quer
Nem que eu beber toda bebida deste mundo 
Eu não consigo esquecer esta mulher

Oi, saudade, veneno lento que está me torturando
Oi, saudade, veneno lento que aos poucos vai me matando

Fonte Dos Prazeres
A noite vem com seu manto me cobre lentamente
Trazendo em minha mente lembranças de um amor
Que no meu passado minha fonte de prazer
Mas fiquei a sofrer neste cruel dissabor
A paixão que ainda sinto faz crescer meu sofrimento
Revivo em pensamento o que eu passei com ela
E sinto no corpo inteiro seus lábios umedecidos
E os carinhos atrevidos que eu recebia dela

Jamais senti inveja de alguém em minha vida
Com minh’alma ferida e meu peito a suspirar
Recordo com saudade os prazeres que já tive
Sinto inveja de quem vive ocupando o meu lugar

Nossas Vidas
A mulher que eu mais amei vive distante
E com ela foi também minha paixão
Por isso hoje eu caminho muito triste
Neste mundo só vivemos de ilusão

Eu me lembro nossas madrugadas frias
Bem mais fria é minh’alma a padecer
Que dor imensa, que tristeza, que fracasso
Ver noutros braços quem já foi todo meu ser

Vai mulher vai mostrar tua beleza
Este dom a natureza não é qualquer um que tem
Mas não se esqueça que nós temos muitas vidas
Eu te esperarei querida neste mundo ou mais além

Romance Proibido
Eu gostava tanto, tanto, tanto dela 
Que no meu peito grande paixão se escondia
E pra mim ela nunca revelou nada 
E pra ela eu também nada dizia

Mas um dia o amor falou mais alto 
De corpo e alma nos seus braços eu caía
Mas um beijo e um abraço disse tudo 
Sem dizer nada falei tudo que eu queria

A mulher da minha vida foi embora
Foi pra longe viver em outro país
Aqui distante estou curtindo uma saudade 
Perdi pra sempre a mulher que tanto quis

Nosso romance era contra a lei Divina 
O melhor jeito foi abreviar seu fim
Deus me tirou de uma estrada proibida 
Ela foi embora e o destino quis assim

Deus escreve direito por linhas tortas 
Todo mal transforma em semente do bem
Quando um amor se despede e vai embora 
Deixa um espaço para um outro amor que vem

A mulher da minha vida foi embora
Foi pra longe viver em outro país
Aqui distante estou curtindo uma saudade 
Perdi pra sempre a mulher que tanto quis

Ambiciosa
O culpado fui eu mesmo de gostar a esmo de quem não devia
E pela minha insistência veja a recompensa que tenho hoje em dia
Notei logo no começo que o dinheiro era a sua ambição
Com amor lutei para impedir, mas não consegui mudar seu coração

E pelo tempo que te amei desacreditei que nosso amor morreu
Minha vida passei te adorando gamado te amando e o tempo correu
Agora você está casada és amada tem tudo o que quis
E eu aos poucos estou morrendo sozinho sofrendo sou muito infeliz

Preto Velho
Perguntei ao Preto Velho porque chora meu herói
Preto Velho respondeu é meu coração que dói
Eu já fui bom candeeiro, fui carreiro e fui peão
Já derrubei muita mata e já lavrei muito chão
Com carinho carreguei os filhos do meu patrão
Em troca do que eu fiz só recebi ingratidão

Perguntei ao Preto Velho porque chora meu herói
Preto Velho respondeu é meu coração que dói
Sempre chamei de senhor quem me tratou a chicote
Livrei o patrão de cobra na hora de dar o bote
Eu sempre fui a madeira e o patrão fui o serrote
Sofri mais do que boi velho com a canga no cangote

Perguntei ao Preto Velho porque chora meu herói
Preto Velho respondeu é meu coração que dói
Da terra eu tirei o ouro que o patrão fez seu anel
Mas eu agora eu estou velho e meu patrão mais cruel
Está me mandando embora vou viver de deu em deu
O que me resta esperar é a recompensa do céu

Mundo Velho
Deus fez um mundo tão lindo só beleza que rodeia
Colocando lá no espaço lua nova e lua cheia
Fez o sol e a luz divina que o mundo inteiro clareia
No céu estrelas paradas a lua e o sol passeia
  
Deus fez o mar azulado é o castelo da sereia
Fez peixe grande e pequeno e também fez a baleia
Fez a terra onde formei meu cafezal de ameia
Baixadão cheio de água onde meu arroz cacheia

Deus fez cachoeiras lindas lá na serra serpenteia
Fez papagaio que fala passarada que gorjeia
Tangará canta de bando a natureza ponteia
Para os catireiros de penas lá no galho sapateia

Mundo velho mudou tanto que já está entrando areia
Grande pisa no pequeno coitadinho desnorteia
Quem trabalha não tem nada enriquece quem tapeia
Pobre não ganha demanda, rico não vai pra cadeia

Na moral do velho mundo quem não presta pisoteia
Os mandamentos de Deus têm gente que até odeia
Igrejas estão vazias antigamente eram cheias
O que ruim está aumentando o que é bom ninguém semeia

Oh! meu Deus venha na Terra por que a coisa aqui tá feia
Mas que venha prevenido traga chicote e correia
Tem até mulher pelada no lugar da Santa Ceia
Só Deus pode dar um fim no que o diabo desnorteia 

Navalha Na Carne
É muita navalha na minha carne é muita espada pra me furar
Muitas lambadas nas minhas costas, é muita gente pra me surrar
É muita pedra no meu caminho é muito espinho pra eu pisar
É muita paixão e muito desprezo não há coração que possa agüentar

É muito calo na minha mão é muita enxada pra eu puxar
É muita fera me atacando é muita cobra pra me picar
É muito bicho de paletó estão de tocaia pra me pegar
A maldade é grande Deus é maior abre caminho pra eu passar

É muita serra pra eu subir é muita é muita água pra me afogar
Muito martelo pra me bater muito serrote pra me serrar
É muita luta pra eu sozinho é muita conta pra eu pagar
É muito zape em cima de um As, mas a Terra treme quando eu trucar

É muita salmoura pra eu beber é muita fogueira pra me queimar
É muita arma me apontando é uma grande guerra pra me matar
É muita corda no meu pescoço é muita gente pra me enforcar
Por ai tem gente que quer meu tombo, mas Deus é grande e não vai deixar

Veneno Da Mentira
Sem saber de onde veio sem vontade de voltar
Mentira chegou no mundo antes de Cristo chegar
Hasteou sua bandeira no ar, na terra e no mar
Correndo de boca em boca dia e noite sem parar
Atravessando fronteira e vai pra qualquer lugar

Mentira com seu veneno separa muitos casais
Atira pais contra os filhos e os filhos contra os pais
Vai separando os amigos e aumentando os rivais
Quem sofre com a mentira sabe a dor que ela traz
A cicatriz da mentira não desaparece mais

Eu luto contra a mentira com a espada da verdade
No fim de cada combate é triste a realidade
Se a mentira não vencer ela destrói a metade
Já perdi um grande amor e ainda sinto saudade
Mentira já conseguiu roubar minha felicidade

Mentira tem perna curta, mas anda sempre na frente
Inocenta quem tem culpa e condena um inocente 
No lugar por onde passa vai espalhando semente
Vai crescendo a todo instante e ficando mais potente
Só morre no tribunal do Supremo e Onipotente

Nó Cego
Malandro que é malandro não carrega meu dinheiro
A barata que é sabida não atravessa galinheiro
A barata que é sabida não atravessa galinheiro

Veio com papo furado um malandro respeitado
Era o conto do vigário comigo deu pulo errado
Ele caiu direitinho que nem mosca no melado
Eu entreguei o nó cego na unha do delegado

Malandro que é malandro não carrega meu dinheiro
A barata que é sabida não atravessa galinheiro
A barata que é sabida não atravessa galinheiro

Lá no trem da zona leste um dia de sexta feira
Foi dia de pagamento da gente trabalhadeira
Malandro encostou em mim, minha mão foi mais ligeira
Peguei a mão do nó cego puxando a minha carteira

Malandro que é malandro não carrega meu dinheiro
A barata que é sabida não atravessa galinheiro
A barata que é sabida não atravessa galinheiro

Lá no largo Paissandu na Avenida São João
Trombadinha bate e rouba logo sai no carreirão
Trombada bateu em mim eu passei o sapatão
Trombada caiu de bruços bateu a cara no chão

Malandro que é malandro não carrega meu dinheiro
A barata que é sabida não atravessa galinheiro
A barata que é sabida não atravessa galinheiro

O ladrão chegou em casa eu moro no pé do morro
Ele quis entrar por cima tinha concreto no forro
Lá na porta da cozinha o ladrão pediu socorro
O nó cego viu o diabo nos dentes do meu cachorro

Malandro que é malandro não carrega meu dinheiro
A barata que é sabida não atravessa galinheiro
A barata que é sabida não atravessa galinheiro

Cruz Pesada
Pra gente ganhar o céu com a cruz tem que cair
Jesus caiu com a cruz pra no céu poder subir

Meus olhos estão chorando não consigo esquecer
Choro de portas abertas para o mundo todo ver 
Dos meus olhos descem água vem da fonte da paixão
Os meus olhos são torneiras ligadas no coração

Pra gente ganhar o céu com a cruz tem que cair
Jesus caiu com a cruz pra no céu poder subir

Se alguém matou por amor peço a Deus pra perdoar
A dor da separação é difícil suportar 
Eu já tive um desengano parei muito pra pensar 
Só não mata por amor quem tem forças pra chorar

Tudo É Beleza
A beleza do poeta está dentro da cachola 
Beleza do repentista é quando canta e não enrola
A beleza do catira é quando a botina descola
A beleza do violeiro é o ponteio da viola

A beleza do terreiro é o canto das angolas
Beleza do sabiá é cantar fora da gaiola
A beleza do arreio está no brilho das argolas
Beleza do laçador é quando o laço desenrola

A beleza do aluno é nota boa na escola
A beleza de um craque tá no controle da bola
A beleza da viagem é o bolso cheio de dólar
E a beleza das mãos na hora de dar esmola

A beleza do modelo é desfilar toda pachola
A beleza do sapato tá no capricho da sola
A beleza do casaco é pele de onça na gola
E a beleza da mulata é quando dança e rebola

A beleza do banquete é quando a fartura rola
Beleza da sociedade tá no fraque e na cartola
A beleza das touradas é o "olé†das espanholas
A beleza da mulher é quando veste a camisola

Pra Tudo Se Dá Jeito
Menina que vive presa nas mãos de um homem malvado
Seu padrasto é um carrasco e traz ela num cortado
Seu lindo jardim do amor foi destruído e queimado
Eu vou dar uma alegria que a menina bem merece
Dou um aperto no carrasco na prensa ele amolece
A menina deita e rola e o jardim do amor floresce

A seca bateu no norte destruiu a plantação
A miséria foi com tudo na mesa do nosso irmão
O pasto está todo seco, boi magro lambendo o chão
Eu faço um pedido à Deus lá do céu a chuva desce
Fortuna volta na mesa com a plantação que cresce
A boiada magra engorda à Deus a gente agradece

Cruzeiro virou carneiro e o dólar virou leão
O dinheiro americano parece burro pagão
Tá derrubando ministro que não sabe ser peão
Mas o nosso presidente é um cavaleiro bom
Ele vai cortar de espora está malvada inflação
Vai fazer um cruzeiro forte e jogar o dólar no chão

Empregado vai pra rua não é culpa do patrão
Homens do nosso governo eu peço de coração
Não deixe de encher de areia manteiga do nosso pão
Deus nasceu na Palestina no Brasil hoje ele mora
Meu Brasil é um puro sangue que vai correndo por fora
Ele vai chegar em primeiro sem chicote e sem espora

Suspiro Da Viúva
O telhado lá do céu está por cima da chuva
O leite é o sangue da vaca e o vinho é o sangue da uva
Quem não mata formigueiro está plantando pra saúva
Não tem açúcar nem clara no suspiro da viúva

Moça que morre solteira tendo juízo morre pura
Mas sendo desmiolada deixa o fruto da aventura
A garça tem pena branca urubu tem pena escura
Papagaio nasce verde, morre verde e não madura

A onça quando está viva todo mundo desconjura 
Mas depois da onça morta até medroso segura
Alfaiate e costureira não gostam de linha dura
Por isso a linha do trem nunca serve pra costura

A cachaça e o cigarro é uma dupla de malvados
A cachaça deixa tonto e o cigarro envenenado
O cigarro e a cigarra só viveram separados
Cigarra morre cantando, cigarro more queimado

Músicas do álbum Navalha Na Carne (CONTINENTAL 171405555) - (1982)

Nome Compositor Ritmo
Veneno Lento Tião Carreiro / Zé Matão Rojão
Fonte Dos Prazeres Tião Carreiro / Jesus Belmiro Tango
Nossas Vidas Tião Carreiro / José Milton Faleiros Guarânia
Romance Proibido Lourival Dos Santos / Pardinho Rojão
Ambiciosa Vicente Dias / Tião Carreiro Guarânia
Preto Velho Lourival Dos Santos / Jesus Belmiro / Tião Carreiro Toada Balanço
Mundo Velho Lourival Dos Santos / Tião Carreiro Cururu
Navalha Na Carne Lourival Dos Santos / Tião Carreiro Pagode
Veneno Da Mentira Tião Carreiro / Jesus Belmiro Cururu
Nó Cego Moacyr Dos Santos / Tião Carreiro / Pardinho Pagode
Cruz Pesada Lourival Dos Santos / Tião Carreiro Cururu
Tudo É Beleza Lourival Dos Santos / Tião Carreiro Pagode
Prá Tudo Se Dá Jeito Lourival Dos Santos / Tião Carreiro Pagode
Suspiro Da Viúva Lourival Dos Santos / Chicão Pereira / Duduca Pagode
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