Poema Das Cordas (Volume 3) (CHANTECLER 211405317) - (1980) - Cacique e Pajé

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Poema Das Cordas
Sabiá canta na mata o seu canto de amor
No meu peito se desata igual a cascata um pranto de dor
Então pego na viola para afastar a solidão
Porque ela me consola essa dor que amola o meu coração

No mi eu vejo minha vida, no si eu sinto quanto amei
O sol é a luz perdida dos olhos de quem deixei
O ré é resto de esperança, o lá á lágrimas que vem
E volto outra vez ao mi a minha vida sem ninguém

Mas a dor pra violeiro é motivo pra cantar
O meu amor verdadeiro só foi o primeiro não vai mais voltar
É porque eu amo tanto é que canto esta canção
Da viola então deságua o rio de mágoa em meu coração

No mi eu vejo minha vida, no si eu sinto quanto amei
O sol é a luz perdida dos olhos de quem deixei
O ré é resto de esperança, o lá á lágrimas que vem
E volto outra vez ao mi a minha vida sem ninguém

O Homem Das Províncias
Eu venho vindo de uma selva bruta pisando em terras que só Deus olhou
Mãos calejadas e um rosto suado e um coração carente de amor
Eu não cheguei a conhecer meus pais não aprendei a ler nem escrever
Mas fui formado na escola do mundo quantos tropeços pra sobreviver
Talvez encontre alguém para cuidar de mim porque eu não sou bicho pra viver assim

Eu me criei no ventre das montanhas olhando alto sem nada enxergar
Trago no peito uma força estranha querendo sempre com deus conversar
Queria tanto entender o mundo que o homem pensa que já entendeu
Talvez melhor é ser um vagabundo do que ser dono sem ter nada seu
Talvez encontre alguém para cuidar de mim porque eu não sou bicho pra viver assim

Eu venho vindo da terra do ouro este tesouro eu nunca colhi
Mas eu garanto que não tenho culpa porque da luta eu nunca fugi
E se alguém puder me ouvir estou pedindo muito descontente
Sou um sofrido homem das províncias sou lá do mato, mas também sou gente
Talvez encontre alguém para cuidar de mim porque eu não sou bicho pra viver assim

Moça Bonita 
Moça bonita no balcão é dinheiro dobrado na mão do patrão
Moça bonita no balcão é dinheiro dobrado na mão do patrão

Eu falo porque freqüento onde tem moça grã-fina
E gosto de uma menina que é bonita demais
Gasto muito e sempre volto e juro que não me importo
Com o preço que ela me faz

É por isso que eu digo e quero que o povo ouça
Aonde trabalha moca vai pra frente e não pra trás

Moça bonita no balcão é dinheiro dobrado na mão do patrão
Moça bonita no balcão é dinheiro dobrado na mão do patrão

Tem patrão inteligente que sempre soube viver
Contrata empregada boa que dá gosto a gente ver
Por uma me apaixonei e agora já nem sei
O que eu posso fazer

Por isso que eu confirmo pedindo que o povo ouça
Aonde trabalha moça dá gosto comprar e vender

Moça bonita no balcão é dinheiro dobrado na mão do patrão
Moça bonita no balcão é dinheiro dobrado na mão do patrão

Estrela Dalva
Você diz que vai embora, ai me escreva se você for, ai que eu
Quero assinar meu nome, ai com tinta de toda cor 
Se não tiver papel nem tinta vou mandar um portador
Levando minha mensagem num lindo botão de flor

Você guarde por lembrança este lindo botão de flor, ai
Pra não esquecer tão cedo este pobre sofredor
Ai despediu de mim chorando e soluçando ainda falou
Daquela distância eu vou sofre a minha dor

Foi-se embora a estrela D’alva que nesta terra morou, ai

Na hora da despedida, ai que meu coração cortou, ai 
Que o vapor saiu sereno e os meus olhos acompanhou
Ai da janela ela sorriu e um lenço branco me acenou
Desejo felicidade a quem de mim se retirou

O Boiadeiro E A Viola
Um rapaz pra ter gosto na vida é preciso ser bom boiadeiro
Tem que ser bem esperto na lida e no laço ser muito certeiro
Pra fazer uma viagem comprida ter no bolso bastante dinheiro
Ter uma comitiva completa, vinte burros e quatro cargueiros
Os peões têm que ser de confiança da culatra até na ponteiro
É preciso ter muito cuidado se for cobiçado não ser prisioneiro

Tem que usar o chapéu panamá, a bombacha e a bota gaúcha
No pescoço bom lenço de seda, na guaiaca uma boa garrucha
Não fazer desaforo a ninguém pra evitar de comer qualquer bucha
No jardim onde a rosa perfuma ao lhe ver de alegria ela murcha
Namoros só com moças bonitas que não seja magra e nem gorduchas
É preciso patuá de oração prá evitar tentação e malfeitos de bruxas

Tem que ser cantador de viola deixar fama por onde que passa
Na disputa de qualquer torneio ser campeão colecionando taças
Ter cuidado com os invejosos pra evitar que eles façam trapaças
Não cair em laço de amor e nem ser fazedor de arruaça
Com os lábios sempre sorridentes prá evitar que a viola fracassa
É preciso ter Deus pela frente porque a serpente sempre lhe faz graça

Ter cuidados com certos sorrisos prá evitar da emboscada e traições
No lugar que você for cantar faça sempre a sua oração
Rezar o Credo e a Salve Rainha bata o pé três vezes no chão
Leve o seu pensamento a Deus e rezando pede a proteção
Conservai sempre a humildade ser honesto e ser bom cidadão
Porque nunca deve um boiadeiro deixar prisioneiro o seu coração

Rancho Quarto De Milha
Viajando pelo Brasil conhecendo muita gente
Nossos laços de amizades tem uma forte corrente
Ficamos impressionados na cidade de Prudente
Lá existe uma família o rancho Quarto de milha só tem pessoas decentes

A união faz a força quando tem boa gerência
Saudamos o presidente com a sua inteligência
O seu corpo associado, pessoas de competência
Que esporte tão brilhante até nós os viajantes lhe fazemos continência

Presidente Prudente é uma cidade importante
Tem um cartão de visita para os seus visitantes
O rancho Quarto de Milha é a sua representante
O que mais lhe envaidece, o Brasil todo conhece essa terra bandeirante

O rancho Quarto de Milha com a sua corporação
Agora em nosso Brasil já é uma tradição
Parabéns a essa gente pela sua formação
O que a gente mais deseja e pede a Deus que proteja este clube de campeão

Velho Peão
Às vezes quando escuto bem longe no chapadão
O repique de um berrante e os gritos de peão
Saio no terreiro e vejo lá distante um poeirão
Eu sinto dentro do peito remoer meu coração
Eu vejo um burro da carga a saudade é tão amarga
Lágrimas descem no chão

Vejo da minha varanda a boiada passo a passo
Meu espírito ainda é jovem, mas o corpo é um fracasso
Boiadeiro venha cá quero lhe dar um abraço
Pra matar minha saudade quero pegar no seu laço
Eu quero sentir o cheiro do suor de boiadeiro
Pra aliviar o meu cansaço

É triste sentir saudade do tempo de boiadeiro
Da poeira das estradas e berros de pantaneiros
Um estouro de boiada, o arreio e o baixeiro
Magoa o coração de um velho peão estradeiro
Quando eu vejo atrás da porta o laço e o par de bota
Eu choro em desespero

Quando eu olho no espelho e vejo ruga no rosto
Cabelos embranquecidos de quem já foi tão disposto
Sinto tristeza na vida, desilusão e desgosto
Sei que estou chegando ao fim, mas já fui peão de gosto
Adeus para os companheiros o velho peão estradeiro
Agora entregou seu posto

Macaco Velho
Na escola desse mundo eu não sou nenhum letrado
Mas invento moda boa e faço qualquer ditado
Sou igual macaco velho nunca dá o pulo errado
Por isso não vou em festa quando não sou convidado

Na moita que tem jacú o inhamú passa e não pia
Quem não sabe fazer moda não se meta na porfia
Quem é bom já nasce feito meu avô sempre dizia
Que o rato nunca faz festa no lugar que o gato mia

O empregado e o patrão têm o mesmo compromisso
Quem trabalha quer dinheiro e quem paga quer serviço
Quem quiser viver em paz procure evitar enguiço
Quem tem Deus no coração não tem medo de feitiço

Comigo não tem distância nem buraco no caminho
Vou além do fim do mundo se me chama com carinho
Para evitar desavença nós cantamos direitinho
Nós não atiramos pedra no telha do vizinho

Eu hoje durmo na cama, mas já dormi em jirau
Araruta também o seu dia de mingau 
Quem despreza o semelhante além de arrogante é mal
Quem não gosta do caipira merece apanhar de pau

Pescador Caprichoso
Eu não troco a minha vida de pescador piraquara
Pois a vida da cidade com a minha não se compara
Eles vivem em palacete, eu num rancho de taquara
Cobertinho de sapé nem que chova água não vara
Enquanto eles pulam cedo pra pegar o pau-de-arara
Eu durmo tranqüilamente e acordo quando está quente com o sol batendo na cara

Levanto já pego a rede, tarrafa e também as varas
Boto a espingarda no ombro que é pra matar capivara
Solto o bote rio abaixo na correnteza dispara
Quando chega no remanso sozinho então ele para
Bem na barranca do rio faço um monte de coivara
Ali acendo a fogueira vou pescando a noite inteira e ouvindo a soidara

Naquele poço mais fundo a seva a gente prepara
Armo a rede entraiada numa perfeição tão rara
Só pego peixe graúdo tabarana e piapara
Se pegar peixe miúdo dos grandes a gente separa
Solto de novo na água pra depois pescar de vara
Sou pescador caprichoso o que acho mais gostoso é a vida do piraquara

Puro Brasileiro
 Sou filho do verde da mata tenho minha pele bronzeada
Tenho sangue do índio que abriu neste imenso Brasil as primeiras picadas
Meu colar é de dente de bicho trago no pescoço pendurado
Meu penacho arrastando no chão e por todo sertão sou guerreiro afamado

De aroeira eu fiz minha aldeia bem distante da povoação
O meu lar para mim é a floresta a caça e a pesca é minha profissão
Sou ligeiro no arco e flecha, garanto minha vida segura
No perigo sou forte e valente se fico doente as raízes me curam

Se na taba repica os tambores pros guerreiros saírem caçar
Sou o primeiro a correr pela mata de noite e de dia sem medo de errar
O meu corpo não sente cansaço quando em luta as feras enfrento
Invencível minha força bruta carne, peixe e fruta é meu alimento

Quando a noite chega, eu me deito numa esteira estendida no chão
Esperando o dia amanhecer faço ao Tupã a minha oração
Sou da raça dos Caiapós que aqui chegaram primeiro
Me orgulho deste país e me sinto feliz por ser puro brasileiro

Zé Neguinho
O povo de hoje em dia vive cheio de maldade
Não se encontra facilmente um amigo de verdade
No seu tempo de carreiro eu tinha muita amizade
Pois viva viajando pra fazenda transportando o progresso da cidade

Pra guiar minha boiada tive o melhor candeeiro
Um menino surdo e mudo, esse foi meu companheiro
Se chamava Zé Neguinho, era filho de um tropeiro
Enjeitado pelos pais eu criava o bom rapaz como filho verdadeiro

Eu saí de Rio Preto levando carga pesada
Meu velho carro chorava na subida e na baixada
Zé neguinho lá na frente brincava com a boiada
Esperava chegar perto depois dava um pulo certo correndo na disparada

Contente naquela lida cumpria a nossa missão
Mas chegando na porteira da fazenda Promissão
O menino escorregou, caiu e rolou no chão
Eu fiquei paralisado vendo o garoto esmagado sem a minha proteção

Minha vida de carreiro nessa hora se acabou
Naquele estradão deserto uma cruz ali ficou
Nunca tive alegria , minha vida transformou
Até hoje não consigo esquecer daquele amigo que sempre me acompanhou

Rainha Da Flora
Roda mundo e passa era quem tem fé não desespera, oi, larai
A sorte sempre melhora existem tantas belezas
Aqui nesta redondeza que o meus olhos tanto explora
Se eu pudesse eu declarava no mesmo instante mostrava quem meu coração adora

Sua nobre cor morena comparo com a açucena, oi, larai
Ou senão com a flor da aurora que de todo o vegetal
Tem seu brilho natural, é uma flor que não descora
Se pudesse eu te via trinta vezes em um dia, duas ou três vezes por hora

Os traços do vosso rosto maltratam qualquer caboclo, oi, larai
Cativam quem te namora francamente meu amigo
Quero ver se eu consigo um plano que não é de agora
Eu sempre tive desejos de dar abraços e beijos nesta rainha da flora

Se eu conseguir o meu plano acho que no fim do ano, oi, larai
Este meu sonho vigora vou fazer uma casinha
Para pôr esta rainha, quero ver quem me ignora
No jardim todo florido eu vou ser o seu marido e ela minha senhora

 

Músicas do álbum Poema Das Cordas (Volume 3) (CHANTECLER 211405317) - (1980)

Nome Compositor Ritmo
Poema Das Cordas José Raimundo / Gaúcho Rasqueado
O Homem Das Províncias Tony Damito Toada
Moça Bonita Zé Batuta / Lourival Dos Santos Corta Jaca
Estrela Dalva Sebastião Malvez / Retrato / Retróis Corta Jaca
O Boiadeiro E A Viola Cacique / Lolito / Negrão Da Costa Moda De Viola
Rancho Quarto De Milha Cacique / Antonio C. De Santana / Pajé Rasqueado
Velho Peão João Ferreira / Lino Filho Querumana
Macaco Velho Zé Batuta / Ari Guardião Chibata
Pescador Caprichoso Cacique / Pajé / Tony Damito Corta Jaca
Puro Brasileiro Cacique Querumana
Zé Neguinho Zé Batuta / Sebastião Aragon Dias Cururu
Rainha Da Flora Cacique / Francisco Do Carmo Moda De Viola
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