É Fogo (CLP9037) - (1962) - Jacó e Jacozinho
Velho Valente
Ora, veja seu Zé Gomes morador lá das três IlhasÂ
Quem tem bom procedimento às vezes acontece eivaria
Ele sendo homem direito e de muita garantiaÂ
Induziu sua cunhada pra mudar lá pra Bahia
A polÃcia deu de cima levando a fotografiaÂ
Foram presos em Avaré na porta do café friaÂ
E trouxeram pra Ourinhos recolheram na enxoviaÂ
Foram interrogar a moça só pra ver o que ela dizia
Ela disse que o Zé Gomes até aqui honrou o seu nomeÂ
Eu quero que soltem o homem eu fugi porque eu queria
Mandaram chamar o velho só pra ver o que ele diziaÂ
A polÃcia levou uma carta do doutor é quem escrevia
Veio a dona Vitalina junto com seu Jeremias
Esperaram lá no Fórum na alta categoria
Perguntaram pra mocinha que idade ela traziaÂ
Ela foi respondeu vinte e um anos e alguns dias
A velha disse que não o doutor não consentiaÂ
Foi um bafafá danado mãe e filha discutia
O baiano entusiasmado ali perto do delegadoÂ
Não justou advogado a morena defendia
Foram tomando providencias conforme a lei prometiaÂ
O baiano tinha dinheiro notas de grande valia
Pegou na mão da mocinha e foram pra delegaciaÂ
Pra fazer o casamento porque o velho não queria
Falou baixinho no ouvido do doutor Cintra GarciaÂ
O doutor disse que sim vou mostrar minha teoriaÂ
O velho perdeu a fala sua barba até tremiaÂ
Dava tiro sem saber pra que lado a bala ia
Foi uma guerra arrojada rebentou tanta granadaÂ
Na sarjeta e na calçada era sangue que corriaÂ
A moça pediu perdão, ai ai ai ele falou que não podia, ai aiÂ
Pois foi eu quem te criei você sabe minha filha
Você também já conhece sabe das minhas maniasÂ
Sou que nem o sete ouro só morro se for espadilha
Meu revolver não respeita quem tiver na pontariaÂ
Eu já matei um malvado e ainda não fiz o que eu deviaÂ
Você também não me escapa que me pois nesta anarquia
Eu quero matar sua mãe pra não sofrer da nevralgiaÂ
A velha virou um sorvete escondeu na sorveteria
Por causa deste bandido hoje eu sou um velho perdidoÂ
Pois eu dou um tiro no ouvido e morre o resto da famÃlia
Papai Me Disse
Papai me disse que eu perdi minha vergonha
E uma palavra que doeu meu coração
Mas só por eu estar controlando uma menina
E a meia-noite encostadinho no portão
Ele falou que eu cometi um grande erro
E um pecado que nem Deus não dá o perdão
Eu fiquei triste aborrecido nessa hora
Eu chorei tanto, mas não dei demonstração
No outro dia eu peguei a minha mala
E brevemente fui parar lá na estação
Comprei o passe e sentei na plataforma
Mas o meu plano já não estavam muito bom
O meu destino era só de sentar praça
Fui em São Paulo me apresentei no batalhão
Ai com três dias eu já tive incorporado
Fazendo marcha em cima do meu alazão
Eu passei pronto fiquei um praça entusiasmado
E foi ordenança do tenente-Capitão
Ai eu só ia no correio buscar carta
E os pracinhas não achavam muito bom
Desarranchei e despedi dos meus amigos
E pra aqueles recos nem num dei satisfação
Meu ordenado era pouco nesse tempo
Ainda sobrava para mim pagar pensão
O pensionista tinha uma filha linda
Uma morena delicada de feição
Eu custei muito e controlei essa menina
Mas o pai dela era bravo que nem leão
O velho quando soube do namoro
Um homem ativo nem não deu satisfação
Uma bela noite eu roubei essa menina
Casei com ela e fui morar lá no sertão
Seis Reis
Afirme o pé companheiro nós vamos ter um trabalho
Pra cantar moda pesada é desse jeito que eu saio
Já desde o primeiro verso nós vamos descer o maio
No lugar que nós diz canta se tiver campeão espanta nós toma conta do assoalho
As modas boas que eu tenho dá pra encher um balaio
Violeiro arma a esparrela, mas é nela que eu não caio
Meus dedos correm no arame do jeito que corre um raio
To por cima e não me afundo meu nome corre no mundo no pagode é que eu me espalho
Andam derrubando a praça violeiros que são retalhos
A turma de trapaceiro neste verso é que eu chacoalho
Se eu der um balanço no rádio cai gente que nem orvalho
Por aà tem violeiro que já foi no macumbeiro pra me derrubar do galho
Meus versos são planejados não sou igual papagaio
Só canto moda bem feita só canto depois que saio
No Brasil só tem seis reis estrada tem muito atalho
Eu sou o rei da viola, outro ta jogando bola e quarto ta no baralho
Se O Governo Me Ajudasse
Abandonei a cidade não quero voltar pra trás
Enfeitei o meu sertão derrubando os matagais
Meu machado e minha foice nas matas deixou sinais
Fiz picada e fiz caminho pra transportar cereais
Se o governo me ajudasse eu fazia muito mais
O Brasil é terra rica tão cheia de minerais
O que falta no sertão é homem e materiais
Cultivei a terra bruta só na base de animais
Eu não pude fazer muito só fiz o que fui capaz
Se o governo me ajudasse eu fazia muito mais
Combati com as formigas que foram minhas rivais
Plantei milho e feijão e formei canaviais
Algodão e batatinha plantei muitos cafezais
Fiz até roça de arroz na beira dos pantanais
Se o governo me ajudasse eu fazia muito mais
Pro Brasil não ter miséria e aumentar o seu cartaz
É só expandir São Paulo, Mato Grosso e Goiás
Amazonas e Paraná e também Minas Gerais
Sem apoio do governo eu fiz o que ninguém faz
Se o governo me ajudasse eu fazia muito mais
Menina Linda
A menina mais bonita mora lá na minha rua
Vou comprar aquela casa encostadinha na sua
Seu corpinho é de boneca seu semblante é de rainha
Eu quero ser dono dela pra ela ser todinha minha
Quero deitar no seu colo e sentir o seu calor
O meu sonho toda vida é ser seu primeiro amor
Você vestida de noiva embaixo de um lindo véu
Os convidados dizendo um anjo desceu do céu
Quem tem seu amor não deixe não procure quem não tem
Procurando vai sofrer deixando sofre também
É Fogo
Uma vez fiz um brinquedo no terreiro de uma venda
Topei um cara marrudo capataz de uma fazenda
Nesse dia eu dei pancada que nem ferreiro na fenda
Nasci na zona da mata valentão pra mim é lenda
Eu disse assim pro sujeito a camisa nós emenda
Meu aço tá na cintura não é pra cortar merenda
Minha faca corta e fura mandei fazer de encomenda
Os taios que eu dou com ela não tem doutor que remenda
Ele virou parafuso eu virei chave de fenda
Fiz ele passar espremido que nem cana na moenda
Nesse dia fui tesoura entrei gostoso na renda
Quem tiver amor na vida que do meu lado não penda
Uma donzela me vendo da janela da vivenda
Papai corra aqui depressa vem ver que briga tremenda
Tô brigando e tô falando pra aquela bonita prenda
Pra vida não tô ligando não quero que me defenda
Se eu daqui sair com vida a polÃcia que me prenda
Se eu morrer nesse combate não quero que vela ascenda
Pra quem lê um pingo é letra espero que me compreenda
Quem tá no braço da viola foi quem venceu a contenda
O Peão E O Ricaço
Me contaram um certo caso que eu achei muito engraçado
Diz que foi em Uberaba que este fato foi se dado
Numa estrada boiadeira um peão vinha cansado
Seu burro tordilho negro de suor tava molhado
Naquela estradinha estreita barranco de lado a lado
O burro cortava chão naquele passo picado
Surgiu atrás do peão um homem rico importante
Ele vinha dirigindo um Cadilac possante
Pediu caminho pro peão num gesto deselegante
Tocando a mão na buzina e buzinava a todo instante
O peão apertava o burro pra ele correr bastante
Mas só pode dar passagem num desvio bem adiante
O ricaço todo garboso naquele carro macio
Correndo a cem por hora naquela estrada sumiu
Mais adiante um baixada onde tinha um desvio
O seu carro derrapou e da estrada saiu
Ele todo apavorado quis brecar e não conseguiu
E o carro desgovernado foi parar dentro do rio
Depois de uma meia hora lá vinha vindo o peão
Ao ver o carro dentro d'água correu de satisfação
Chegou perto do ricaço montado no seu burrão
Fez o burro corcovear levantando um poeirão
E perguntou pro milionário num gesto de gozação
O senhor tá dando água pra sua tropa patrão
Pagode Dos Três
Por falar em cantar pagode eu vou contar pra vocês
Cada um fez seu pagode agora é a minha vez
Tem do sete e tem do nove, tem do cinco e tem do seis
Pra quebrar todos pagodes agora eu fiz o do três
Onde tem um bate pé pode ver que é três mineiros
Casado pula três águas já pensa que é solteiro
Eu vi três galos cantando anunciando a madrugada
Três repiques de berrante é três estouros de boiada
Quando encontra três gaúchos três chaleira de quentão
Jogam a viola pra cima parecem três folgazão
Quando encontra três nortista é só falando do norte
Encontra três italiano é só clamando da sorte
Quando encontra três turco é falência na certeza
Aonde encontra três velhos é só contando proeza
Quem quiser escapar da bala se esconda na trincheira
Quando encontra três baianos cada um tem três peixeira
Se encontrar três pescador só fala em peixe e anzol
Quando encontra três paulista só conversa em futebol
Aonde eu canto três moda de novo eu sou chamado
Com este pagode dos três fui campeão de três estados
Pra Roubar A Prima
Quando eu fui solteiro fiz uma burrada
Peguei meu cavalo lá na invernada
Pra roubar a prima minha namorada
Ela me esperava ali na chegada
Pra nós dois fugir na hora marcada
Andei quatro léguas pra aquelas estradas
Atravessei de noite a mata assombrada
Pensando na prima sem medo de nada
Quando eu cheguei era madrugada
E a prima esperava em pé na calçada
Bem devagarzinho dei uma assobiada
E a prima sabia da minha mancada
Veio de carreira com a mala arrumada
Cheguei meu cavalo no degrau da escada
E a prima montou, fizemos a retirada
Hoje me casei, oh vida gozada
E a minha mulher, ela é uma coitada
Fica o dia inteiro só dando risada
Por moda de viola ela é apaixonada
Por isso que eu canto nessa terra amada
Frango Novo
Vou dar um balanço na ideia pra ver quantas modas eu sei
Trezentas e sessenta moda numa hora eu recordei
Contando só moda nova moda velha eu não contei
Três partes das minhas modas duas foi eu que inventei
Eu já tinha desdeixado agora eu vou cantar outra vez
Só por causa de uns colegas que de mim muito desfez
Me tratando com orgulho tá enganado o freguês
Porque moda de campeão eu faço sessenta por mês
Na cantiga eu sou rebelde e na pronúncia eu sou cortês
Na sistema sertaneja eu trato os outros de messeis
Frango novo entra na rinha o bico é que nem torquês
Vocês vai ver um garnisé dá num Ãndio japonês
Quem se sentir ofendido com a resposta que eu dei
Eu não vou pedir desculpas se no seu pé eu pisei
Pois eu sou um frango novo e tenho a coroa de rei
No braço desta viola eu sustento o que falei
Não Estou Fazendo Nada
Fiz um negócio da china eu comprei uma boiada
Paguei com cheque sem fundo preparei minha embrulhada
Fazendeiro muito vivo morou na minha jogada
A polÃcia me deixou quinze dias na gelada
Eu não sei por que razão, não tava fazendo nada
A filha do meu vizinho uma garota mimada
Marquei encontro com ela, ela topou a parada
O velho pegou nós dois querendo me dar pancada
O velho quis me bater mas ela foi camarada
Por que bater no mocinho se não tá fazendo nada
Não gosto de trabalhar gosto da vida folgada
Em casa tinha de tudo até roupa bem passada
Meus irmãos que trabalhavam fiz encrenca danada
Me puseram eu na rua, tô dormindo na calçada
Veja só que judiação, não tava fazendo nada
Namorei uma menina até alta madrugada
De um certo tempo pra cá ela tá desconfiada
Marco encontro ela não vai, eu vou na hora marcada
Tá fazendo quinze dias que ela tá dando mancada
Tô solteiro e tô folgado e não tô fazendo nada
Tapa De Luva
Alembro e tenho saudade dos anos que vão embora
Da vergonha e do respeito daqueles tempos de outrora
Porque tenho reparado certos namoro de agora
Vocês prestem atenção do jeito que alguns namoram
Não respeita o cavalheiro, nem criança e nem senhora
A conversa dos malandro sabido logo decora
Passa conversa nas moças com aquela voz sonora
Pensando no casamento tem moças que se apavoram
Com a pressa de casar com a vontade de ser nora
O namoro escandaloso já começa sem demora
Se namoram pela rua em qualquer lugar escora
Se vão namorar em casa é pra se as coisas melhoram
O mal que já vem da rua dentro de casa piora
Nenhum deles não tem modos pra mostrar que se adora
Até na frente dos pais trocam beijos toda hora
Se o papai chama atenção e a mamãe também implora
Com o conselho dos velhos tem moças que logo estoura
Dá coice pra todo lado responde a ainda chora
Dizendo que vai fugir qualquer dia dá o fora
Parecendo um burro brabo que nunca provou espora
Tem tantas moças bonitas parece um romper da aurora
Parece um botão de rosa no jardim quando ele flora
Mas no rosto dos seus pais é aonde a vergonha mora
Meninas tomem juÃzo façam força e colabora
Vergonha quando não mata o rosto do pai descora
Músicas do álbum É Fogo (CLP9037) - (1962)
Nome | Compositor | Ritmo |
---|---|---|
Velho Valente | Jacó / Jacozinho | Moda De Viola |
Papai Me Disse | Jacó / Jacozinho | Corrido |
Seis Reis | Lourival Dos Santos / Zé Batuta | Pagode |
Se O Governo Me Ajudasse | Moacyr Dos Santos / Lourival Dos Santos | Moda De Viola |
Menina Linda | Lourival Dos Santos / Tony Gomide | Corrido |
É Fogo | Lourival Dos Santos / Zé Batuta | Pagode |
O Peão E O Ricaço | Sulino / Moacyr Dos Santos | Moda De Viola |
Pagode Dos Três | Zézé Campos / Jacozinho | Pagode |
Pra Roubar A Prima | Jacozinho / Piracáia | Rasqueado |
Frango Novo | Jacozinho / Vieirinha | Moda De Viola |
Não Estou Fazendo Nada | Moacyr Dos Santos / Lourival Dos Santos | Pagode |
Tapa De Luva | Moacyr Dos Santos / Zé Batuta | Moda De Viola |