Jacó E Jacozinho (1967) (CABOCLO-CONTINENTAL CLP 9040) - (1967) - Jacó e Jacozinho

Florzinha Do Campo
Entre as lindas florzinhas do campo 
Sob a luz de um luar cor de prata 
Eu beijei os teus lábios ouvindo 
Os acordes de uma serenata
 
Muitas noites porém já passaram 
De beleza e de lindo esplendor 
Para mim essas noites são tristes 
Porque vivo sem o seu amor 

Onde te encontra que não vem acalmar o meu pranto 
Sigo agora vagando sozinho como abelha nas flores do campo 
Quero saber porque fosse cruel para mim 
Desprezou a minha serenata não mereço desprezo assim

Pula Pula
Americano e russo tão pulando lá no espaço
Todos dois pulam pensando em não cair no fracasso
Quem não der o pulo certo nunca mais acerta o passo
Eu nunca dei pulo errado com minha viola nos braços
Todos pulam de alegria com os pagode que eu faço
 
Professor pula na escola pra ensinar o analfabeto
O engenheiro também pula pra dar conta do projeto
O servente pula muito só na hora do concreto
Operário pula cedo pagamento vem completo
Tem velhos que ainda pulam pra ajudar criar os netos
 
Tem gente que pula muito, mas dá seu pulo escondido
Mas o gato quando pulo dá seu pulo prevenido
O advogado pula pra ganhar caso perdido
As mocinhas também pulam pra arrumar moço sabido
Solteirona tá pulando pra arranjar qualquer marido
 
Quero ver quem que não pula com um chute na canela
Pois a onça também pula pra poder pegar a vitela
Passarinho que é sabido não dá pulo na esparrela
Ladrão entra pela porta sai pulando pra janela
Eu dou pulo no catira e a pipoca lá na panela
 
Nosso povo brasileiro está pulando com fé
Pulando com Deus na frente vai vencer se Deus quiser
Pulando com esperança desde o pobre ao coronel
Tem gente boa pulando pra vender nosso café
Nosso presidente pula pra deixar o Brasil de pé

Conselho De Um Ladrão
Muita gente diz que existe destino 
Quero acreditar, ao mesmo tempo não
Ta certo que eu prazer não teria 
De viver nas grades de uma prisão

Agora entre as grades eu fico pensando 
É a minha mãe que foi a culpada 
Nasci e cresci na maior liberdade 
Só vinha dormir em altas madrugadas

Minha mãe devia ter me repreendido 
No primeiro roubo da vida que eu fiz 
Arrombei um cofre tirei Cem Cruzeiros 
Dentro da igreja da nossa matriz 

Eu era criança ainda bem me lembro 
Dez a onze anos eu muito teria 
Minha mãe pegou aquele dinheiro 
Notei no seu rosto com muita alegria 

Assim fui crescendo até ficar moço 
Profundando sempre no vício tirano
Tinha inteligência que dava de sobra 
Esperto e tão vivo, tal qual um cigano 

Fiz muitos assaltos, roubos e crimes 
Só prazer sentia fazendo maldade 
No assaltar um Banco a mascara caiu 
Nesta vez cai nas mãos da autoridade 

Agora entre as grades eu fico olhando 
As aves serenas voando no espaço 
O meu coração de tanta tristeza 
Parece que vai repartir em pedaço

E fique dizendo aos pais de família 
Que tem tanto amor nos filhinhos seus 
Repreenda seus filhos desde pequeninos 
Pra depois não verem sofrer como eu

Tira E Põe
Eu ponho carta pra ela tiro carta do correio 
Ponho fim no sofrimento vou tirar o meu receio 
Ponho as armas na cintura tiro e faço bombardeio 
Ponho todos pra correr tiro a turma do bloqueio 
Ponho a minha mão no fogo tiro a moça lá do meio. 

Eu ponho meu pé na cova mas eu tiro essa donzela 
Ponho o burro na estrada tiro a trava da cancela 
Ponho o macho na calçada tiro a moça pra janela 
Ponho a moça pra casar tiro a moça da capela 
Eu vou por meu sobrenome tiro o sobrenome dela

Eu ponho fogo na casa mas tiro a moça comigo 
Ponho a moça na garupa tiro dos meus inimigos 
Ponho a moça em meu regime tiro do regime antigo 
Ponho a moça em liberdade tiro a moça do castigo 
Ponho a moça do meu lado tiro a moça do perigo 

Ponho vela pra queimar vou tirar esse mal feito 
Ponho meu sogro na linha vou tirar seu preconceito 
Ponho balas nos capangas tiro a moça do meu jeito 
Ponho a vida no perigo vou tirar um bom proveito 
Ponho a moça lá em casa tiro a tristeza do peito

Suspirando
Suspirei apaixonado quando eu vi sua feição
Depois suspirei dobrado ao pegar na sua mão
Hoje eu vivo suspirando com você no coração
O suspiro é alívio preá quem sofre de paixão

Suspiro vai, suspiro vem
Suspiro por causa dela e ela por mim também
Suspiro vai, suspiro vem
Suspiro por causa dela e ela por mim também

O suspiro mais doído é o suspiro de quem chora
No coração de quem ama é onde o suspiro mora
Hoje eu vivo suspirando por alguém que foi embora
A saudade me machuca dou suspiro toda hora

Suspiro vai, suspiro vem
Suspiro por causa dela e ela por mim também
Suspiro vai, suspiro vem
Suspiro por causa dela e ela por mim também

Tem suspiro da alegria tem o suspiro da dor
Suspiro que nós suspira é suspiro que não tem cor
Eu gosto de suspirar sentindo o seu calor
Pois quem é que não suspira nos braços do seu amor

Suspiro vai, suspiro vem
Suspiro por causa dela e ela por mim também
Suspiro vai, suspiro vem
Suspiro por causa dela e ela por mim também

Tem suspiro no sertão tem suspiro na cidade
O mundo inteiro suspira suspiro não tem idade
A juventude suspira por uma felicidade
Os velhos quando suspira é o suspiro da saudade

Suspiro vai, suspiro vem
Suspiro por causa dela e ela por mim também
Suspiro vai, suspiro vem
Suspiro por causa dela e ela por mim também

A Viola Do Zé
Vou contar tudo que eu vi acredite quem quiser 
Já vi o gavião Penacho respeitar gavião pinhé 
Já vi um leão correndo com medo de um chipanzé
Eu já vi peixe pequeno que bateu num jacaré 
Só não vi outra viola bater na viola do zé

Eu já vi um canoeiro remando contra a maré 
Já vi um peão caindo do lombo de um pangaré 
Eu já vi um boi na chincha voltando de marcha ré
Eu já vi homem valente apanhando de mulher 
Só não vi outra viola bater na viola do zé 

Já vi sujeito de fogo só bebendo capilé 
Já vi uma deputada discutir com um coronel 
Já vi conforto e riqueza num ranchinho de sapé
Vi a fama do Tostão batendo na do Pelé 
Só não vi outra viola bater na viola do zé

Eu já vi o pau quebrando foi lá na praça da Sé 
Eu já vi tanta rasteira não ficou ninguém de pé 
Já vi soldado brigar sem derrubar o boné
Eu já vi um galo índio apanhar de um garnisé 
Só não vi outra viola bater na viola do zé

Chave Do Apartamento
Um certo dia ao voltar de uma viagem
Faltou-me toda coragem ao chegar no apartamento
Bati na porta e a porta estava fechada
Passei hora amargurada no mais triste sofrimento
 
E por castigo para a dor ser mais patente
Meu vizinho estava ausente só à noite que voltou
Entregou-me amargurado com pena do meu estado
A chave que ela deixou
 
Abri a porta envolvido de emoção
Meu infeliz coração loucamente a pulsar
Entrei no quarto estava bem arrumado
Com alcova de noivado como alguém que vai se casar
 
Na ânsia louca este amor fui revivendo
Nas gavetas remexendo um bilhete dizia assim
Perdoe-me por favor se nunca lhe tive amor
Adeus esqueça de mim

Ladrão De Terra
Tinha eu quatorze anos quando deixei meu estado
Meu pai era sitiante trabalhador honrado
Por esse mundão de Deus eu dei murro no pesado
Quando a sorte me sorria os meus planos foram cortados
Triste notícia chegava meu destino transformava e fiquei um revoltado
 
Meu pai tinha falecido nas cartas vinha dizendo
As terras que ele deixou minha mãe acabou perdendo
Para um grande fazendeiro que abusava dos pequenos
Meu sangue ferveu na veia quando eu fiquei sabendo
Invadiram as terras minhas tocaram minha mãezinha pra roubar nosso terreno
 
Eu voltei pra minha terra foi com dor no coração
Procurando meus direitos eu entrei no tabelião
Quase que também caía nas unhas dos gaviões
Por que o dono do cartório protegia os embrulhão
Me falou que o fazendeiro tinha rios de dinheiro pra gastar nesta questão
 
Respondi no pé da letra não tinha nenhum tostão
Meu dinheiro é dois revólver e balas no cinturão
Se aqui não tiver justiça para minha proteção
Vou mandar os trapaceiros pra sete palmos de chão
Embora saia uma guerra vou matar ladrão de terra dentro minha razão
 
Negar terra pro caboclos ai, ai é negar pão pro nossos filhos, ai, ai
Tirar terra dos caboclos ai, ai, é tirar o Brasil dos trilhos ai, ai
 
Nós tava da onze a onze na parada deste dia
Os pobre é carta baixa e os ricos são a mania
Fui uma chuva de bala só capanga que corria
Foi pela primeira vez que o dinheiro não valia
O barulho acabou cedo entregaram foi de medo terras que me pertencia
 
Nas cercas de minha terra ai, ai, quem mexer ninguém imagina, ai, ai
Os arames são de bala ai, ai e os mourão de carabina ai, ai

A Mulher E A Viola
Com a mulher e a viola eu fiz a comparação
A mulher me dá carinho e a viola inspiração
Eu quero sentir as duas na palma da minha mão
Encostada no meu peito pertinho do coração

A mulher e a viola gostam muito de agrado
Para lidar com as duas precisa ser delicado
É preciso por a mão com jeito e muito cuidado
Note bem que elas têm o corpinho cinturado

Por mulher e por viola já perdi noite de sono
Pra eleger a mais sincera minha viola vai no trono 
Se a mulher me dá o desprezo vou viver no abandono
A viola é mais sincera não despreza o próprio dono

Eu recebo todo dia muitas cartas e telegramas
Eu vou com minha viola aonde o povo me chama
A mulher me dá carinho enquanto ela me ama
A viola me deu glória a viola me deu fama

Carteiro
Eu estava no portão quando o carteiro passou
Tirou da correspondência uma carta e me entregou
Abri a carta pra ler os ares diferenciou
Quando eu li o cabeçalho os meus olhos se orvalhou
Ai, lágrimas no chão pingou
 
Dois amigos que passavam me viu chorando e parou
Se eu estava doente um deles me perguntou
A causa dessa tristeza meu amor me abandonou
Amigos fiquem sabendo primeira vez por amor
Ai, que este caboclo chorou
 
O amor que eu tinha nela em ódio se transformou
Por ser uma mulher falsa não cumpriu o que jurou
Não quero saber onde anda nem ela onde eu estou
Vou ser como o sol e a lua quando um sai o outro já entrou
Ai, não quero ter mais amor
 
Das mulheres que eu conheci só uma que confirmou
Um amor sincero e puro que nunca me atraiçoou
Em minhas horas amargas quanta vez confortou
Primeiros passos da vida foi ela que me ensinou
Ai, minha mãe que me criou

Tudo Sai
É deste jeito que sai quando canta dois irmão
Sai levando nossa voz na onda dessa estação
E nós dois não sai do sai mas sai um pagode bom

Quando nós dois sai de casa de casa nós sai pensando
Pensando já sai pagode e pagode nós sai cantando
Cantando que sai a fama na fama nós sai ganhando

Da cana sai a garapa da garapa sai a cachaça
Da cachaça sai pau dágua do pau dágua sai arruaça
Na rua só sai pancada sai na rua e sai na praça

Da bainha sai a faca e da faca sai o corte
Do corte que sai a dor sai do fraco e sai do forte
E dos forte sai valente e dos valente sai a morte

Dos namoros sai noivado do noivado casamento
Casamento sai mal feito já sai arrependimento
Do arrependimento sai as brigas e o sofrimento

Da minha cabeça sai, sai sucesso permanente
Permanente sai pagode, pagode pra minha gente
Quando sai pagode novo invejoso sai da frente

Pura Verdade
As mulheres representam na Terra 
A beleza e o nosso progresso 
Representa o amor e o ciúme 
Muitos crimes e diversos processos 
É por elas que os homens trabalham 
E procura fazer o seu sucesso 
Eu também tenho a minha donzela 
E é por ela que eu interesso

As mulher são igual a cachaça 
Uma é boa, duas é de mais 
Quem quiser arranjar três ou quatro 
Perde a ideia e não sabe o que faz 
Tem mulher que só quer o dinheiro 
Acabar com os nossos capitais 
Mas tem outras que são diferentes 
Falo francamente elas não são iguais 

Tem mulher que não gosta de prosa 
Outras falam demais que atrapalha 
Tem algumas que tem bom juízo 
Já tem outras foguinho de paia 
Tem algumas que são amorosas 
Que no seu compromisso não falha 
Tem algumas do sangue fervido 
Que traz o marido na barra da saia 

Quem se ilude por muitas mulheres 
Muitas vezes fica andando na tanga 
Quando a gente fala a verdade 
Tem caboclo que ainda se zanga 
Eu já vi homem de cadilac 
Tão agora guiando charanga 
Já perderam tudo que eles tinham 
Hoje anda na linha que nem boi na canga

Músicas do álbum Jacó E Jacozinho (1967) (CABOCLO-CONTINENTAL CLP 9040) - (1967)

Nome Compositor Ritmo
Florzinha Do Campo Léo Canhoto Rancheira
Pula Pula Moacyr Dos Santos Pagode
Conselho De Um Ladrão Carreirinho Rasqueado
Tira E Põe Moacyr Dos Santos / Lourival Dos Santos Pagode
Suspirando Lourival Dos Santos Cana Verde
A Viola Do Zé Moacyr Dos Santos / Lourival Dos Santos Pagode
Chave Do Apartamento Carreirinho Milonga
Ladrão De Terra Moacyr Dos Santos / Lourival Dos Santos Cateretê
A Mulher E A Viola Moacyr Dos Santos / Lourival Dos Santos Samba Caipira
Carteiro Sebastião Victor / Tião Carreiro Cateretê
Tudo Sai Moacyr Dos Santos / Lourival Dos Santos Pagode
Pura Verdade Moacyr Dos Santos / Sulino Moda De Viola
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