Moda De Viola Volume 1 (LIDER 527404266) - (1985) - João Mulato e Douradinho

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O Peso Da Idade
To sentido o peso da idade
Como o tempo vai se passando
Já não tenho a mesma destreza
Quando eu tinha meus dezoito anos
Minhas pernas já estão cansadas
E as juntas todas doendo
Acredite na minha franqueza
Com toda certeza nem o quatro eu estou fazendo

Você sente a velhice chegando
Quando os filhos já estão crescendo
Minha filha já quase mocinha
É o fruto que estou recebendo
Vejo o cabelo da minha esposa
E os meus que estão embranquecendo
Isso tudo não me traz tristeza
Meus pais viram isto o que hoje estou vendo

Muitos fogem da realidade
O janeiro querendo esconder
Mas a ruga é a testemunha
Tá no rosto para todos ver
Eu não tenho este preconceito
Nem vaidade para viver
Como têm muitos por aí
Se a idade sobe eles fazem descer

Eu só quero que Deus me proteja
Quando eu não puder mais trabalhar
Que eu tenha a paz e sossego
E um lar onde possa morar
Não me sinto bem perambulando
Nem jogado daqui e pra lá
Quem ganhou tudo aquilo que quis
Hoje é tão infeliz sem lugar pra ficar

Bandeirante Fernão
Ai, a bandeira Fernão Dias com seus homens escolhidos 
Com Zé Dias Borba Gato bandeirante destemido 
O capitão João Bernal, padre Veiga decidido
Foram guias da bandeira ai, ai, ao sertão desconhecido

Também Matias Cardoso, Garcia Paz, Francisco Dias 
E Antônio Prado Cunha foram servindo de guia 
Junto Antônio Bicudo entraram na mataria
Índio, Escravo e Mameluco ai, ai, animais de montaria

Frei Gregório Magalhães deu benção e deu alento 
Dizendo a missa campal frente ao mosteiro São Bento 
E o bandeirante partiu com grandes carregamentos
Cargueiros e munição ai, ai, fumo em rolo e mantimento

Vitoruna e Paraopéba o bandeirante seguia, 
Rio das Velha e Roça Grande, Sumidouro prosseguia 
Passando por Tucumbira e a mata da Pedraria
Serro Frio e Rio Doce ai, ai, foram chegar na Bahia

Ai, a bandeira avançou na Serra da Mantiqueira 
Cataguais, Camanducáia pela selva brasileira 
Porluco e Sapucaí foi avançando a bandeira
Passou Sabará Do Sul ai, ai, pela mata traiçoeira

Morreu na selva em delírio o bandeirante Fernão 
Sete anos de martírio em conquista do sertão 
No lugar das esmeraldas que só foi uma ilusão
Surgiu São Paulo grandioso ai, ai, o diamante da nação

Preto Fugido
Do jeito que me contaram eu vou contar bem direitinho
Que um dia o pai de Suzana saiu passear no vizinho
Suzana ficou em casa companheiro era um irmãozinho
Um preto tava sondando de dentro de um capãozinho
Aproveitou a oportunidade roubou a pobre mocinha
 
O preto disse à Suzana veja todos os seus vestidos
Bem depressa e bem ligeiro que o momento está vencido
Que de hoje por diante eu vou ser o seu marido
Suzana entristecida dava suspiro doído
Ela se viu obrigada a acompanhar o preto fugido
 
Suzana se viu no aperto consigo ela pensou
Pegou um punhado de sal e consigo ela levou
Deixou sal esparramado por todo lugar que andou
Papai vem seguindo o sal e vem achar aonde eu estou
Justamente saiu certo como a Suzana pensou
 
O preto era indecente em mal estado ele se achava
Já fazia muito tempo que na mata ele habitava
Com a roupa toda rasgada quase sem roupa se achava
Cabelo estava comprido as unhas ele não cortava
Parecia fera bruta que nas montanhas morava
 
O preto disse à Suzana eu sou de cor, mas sou de raça
Você vai morar comigo e sem comer você não passa
Eu tenho o meu trabuco que é meu matador de caça
Não tenta fugir de mim este papel você não faça
Se você tentar fugir ai, você deita na fumaça
 
Pra Suzana não fugir no colo dela ele deito
Ai ele já pegou no sono e seu querido pai chegou
Pois o revólver no ouvido e um tiro ele disparou
O preto estava dormindo como tava ele ficou
Tava com sono pesado e nunca mais ele acordou

Ingrata
Contratei a ventania que vai pras banda do oeste
E mandei notícias minhas pra um amor que me conhece
O vento foi e voltou resposta não aparece
Não sei se ela ainda me ama ou se talvez já me esquece
 
Cada vez que lembro dela o meu coração padece
Pego na viola de pinho com franqueza me aborrece
O peito geme e soluça a minha voz enrouquece
É bem triste a gente amar alguém que não reconhece
 
Aqui no bairro onde eu moro toda vez que amanhece
O cantar dos passarinhos é como um hino celeste
Me faz lembrar o passado água dos meus olhos descem
Minha vida é como as folhas que caindo se apodrecem

Conforme o tempo se passa meus cabelos embranquecem
Abandono e sofrimento é o que a sorte me oferece
Ingrata vou me ausentar da minha vida terrestre
Dou-lhe um derradeiro adeus e você dai-me uma prece

Família Tangerino
Em lugar que a gente passa traz saudade e também deixa
Quando encontro gente boa não me esqueço de voltar
Ter amigo é muito fácil o difícil é conservar
Eu falo de peito aberto e jogo no lugar certo sem ter medo de errar
Passa meses, passa anos por Lençóis vou retornando
Ver meu amigo como é que está 

Nasci em Passos de Minas, mas São Paulo é meu destino
Pra falar de bons amigos meu peito é bom estou sentindo
Meus dedos correm nas cordas e a viola está um sino
Eu não vou perder o embalo dos amigos que eu falo sempre encontro ele sorrindo
Por eles não sou esquecido sempre sou bem recebido
Da família Tangerino

Benedito irmão mais velho com sua esposa Euripes
Tiveram um casal de filhos como souberam criar
Degleir é o filho mestre companheirão pra danar
É uma estrela que brilha em qualquer lugar que está e a sua irmã Mirna
Com um bom procedimento casou-se com o jovem Marco
Moço de fibra e talento

Senhor Nelson e sua esposa que é a senhora Marília
Tiveram seus quatro filhos também souberam criar
São estes o filho Edson, Diginane e Waldemar 
A Silney é a casada com o moço José Ângelo acabou de completar
Vejam que povo bacana devemos a Deus do céu
E também a vovó Ana

Na fazenda Delemilta chegou lá estou amparado
E também a São João que fica logo pegado
Benedito e irmão Nelson os donos desses reinados 
Vejam que lugar bonito cantando agora eu cito que a natureza criou
Coisas boas lá produz é certeza que Jesus
Nesses dois lugares passou

Por aqui eu me despeço satisfeito vou falar
O outro lado da família gente humilde popular

São minhas grandiosas fãs dão-me muitas alegrias
Neusa, Sandrinha e Ângela quando eu canto de viola
Amanhecemos o dia

Tempo De Infância
Parei pra pensar o tempo de infância
E me vi criança lá no meu sertão
Que um dia deixei e vim pra cidade
Seguindo o progresso da evolução
Que destrói a beleza e a natureza
Ainda mata o caboclo com a solidão, ai

O tal de progresso que é um mal necessário
Com o seu avanço em tudo deu fim
Antigas pinguelas as pontes cobriram
Não tem mais monjolo batendo pra mim
Os grandes roçados e os cafezais
Não tem mais sinais, também teve fim, ai

Asfalto cobriram as velhas estradas
No céu formam nuvens de poluição
Nas grandes fazendas construiu indústria
Que triste angústia pro nosso sertão
Os burros cargueiros foram abandonado
Também foi trocado por caminhão, ai

Malvado progresso, você me maltrata
Destruiu as matas aonde eu vivia
O inhambu-guaçú e a onça pintada
E lá na baixada a paca e a cutia
Nas altas perobas as pombas do ar
Nas grandes ramagens jacu se escondia, ai

O carro de boi num canto esquecido
Seus cocões roídos, rodas cai não cai
Seguindo o progresso da evolução
Dos bois o mugido eu não ouço mais
Não escuto a voz do velho carreiro
Grande companheiro, meu querido pai, ai

Padecimento
Ai a viola me conhece que eu não posso cantar só
Ai se eu sozinho canto bem, junto eu canto melhor
 
Ai vai chegando o mês de agosto bem pertinho de setembro
Os passarinhos cantam alegres por as matas florescendo
Ai eu não sei o que será que já vai me entristecendo
Passando tantos trabalhos debaixo de chuva e sereno
Eu não como e não bebo nada vivo triste padecendo
Ai pra um coração de quem ama o alívio é só morrendo ai, ai, ai
 
Ai quem já teve amor na vida e por desventura perdeu
Não deve se lastimar e ficar triste como eu
Pois eu também já tive amor, mas não me correspondeu
O desgosto no meu peito quis ser inquilino meu
Mas eu tenho esta viola que foi enviada por Deus
Ai que só me trás alegria e a tristeza rebateu ai, ai, ai
 
Ai a viola me acompanha desde quinze anos de idade
Ela é minha companheira nas minhas contrariedades
Faço moda alegre e triste conforme a oportunidade
Esse dom de fazer moda não é querer e ter vontade
Tem muita gente que quer, mas não tem facilidade
É um dom que Deus me deu pra desabafar saudade ai, ai, ai
 
Ai pra aprender cantar de viola primeiro estudo que tive
Aprendi com um violeiro velho que fazia moda impossível
Pois eu sou um violeiro novo, mas também quero ser terrível
Faço moda de gente boa e de alguns incorrigíveis
Toda moda que eu invento ocupo régua, prumo e nível
Ai pensando bem um violeiro com prazer no mundo vive ai, ai, ai

Companheiro Do Ferreirinha
Eu recebi uma carta que veio lá de Pardinho 
Pra terminar uma empreitada que eu peguei com Ferreirinha
Pra buscar aquele mestiço no campo do Espraiadinho 
Aquilo no coração atravessou como espinho
Não tinha mais companheiro eu tinha que seguir sozinho

Por não ter outro vacano, resolvi ir no redomão, 
Trouxe o potro no mangueiro, lacei, passei no mourão
Arriei com garantia duas barrigueira e o chinchão 
Quando eu ganhei o arreio o potro virou leão
Preguei a espora no peito pra limpar meu coração

Sozinho pra aqueles campos bati todo os maiadô, 
Achei o lugar fresquinho onde o mestiço posou
Segui a batida do boi que desceu pro bebedor 
O mestiço vinha vindo e de longe me avistou
Eu lembrei do Ferreirinha a coragem redobrou

O mestiço furioso pro meu lado ele partiu 
Igual faísca de raio no potro ele investiu
Joguei o laço de tirão que os tento até rangio 
A laçada fez um oito quando nas guampas caiu
O redomão velhaqueava virava de corrupio

Com o boi no chinchador me custou pra por na linha 
Queria limpar meu nome também o do Ferreirinha
Terminar aquele trabalho empreitada tão mesquinha 
Labutei com o mestiço com o traquejo que eu tinha
Depois de muito trabalho que eu mostrei a ciência minha

Ao passar numa restinga o potro e o boi levei 
Naquele lugar tão triste que morto o rapaz achei
Soluçando de saudade uma cruz ali finquei 
Com a ponta da minha faca essas palavras eu gravei
Descase em paz Ferreirinha que a empreitada terminei

Derrota
Ai lá no bairro aonde eu moro assim o pessoal proseia
Que os campeões na redondeza da minha fama receia
Ai por saber que do meu lado a corda velha não bambeia
Só lembram de Santa Bárbara na hora que relampeia

Ai gente que só garganteava tem a pulga atrás da orelha
Nas festas que vou chegando a violeirada raleia
Ai eles vão se escorregando que nem lagarto na areia
Lugar que a onça transita os macacos não passeiam

Ai tem violeiro imitador que longe de mim proseia
Dentro do meu repertório eu não tenho moda feia
Ai folgazão que não faz moda não leva tempo chateia
Perto do gavião penacho os passarinhos não gorjeiam

Ai eu e o meu companheiro canta baixo e ondeia
Coração pode ser duro com nossos versos brandeia
Ai quando estamos cantando os violeiros desnorteiam
Perto da estrela d'álva outra estrela não clareia

Última Viagem
Numa fria madruga da eu arriei o meu picaço
Fui fazer uma caçada no campo de Santo Inácio
No rancho beira da estrada pra aliviar meu cansaço
Parei pra beber uma água conheci o velho Epitácio
Era o rei dos cantador que teve um triste fracasso
 
Seu moço você esta vendo esta viola empoeirada
Faz dez anos que este pinho está no canto pendurada
Dez anos atrás esta viola sempre foi a minha enxada
Eu com meu companheiro nós dois não tinha parada
Toda semana cantava levando a vida folgada
 
Cada dia uma cidade sempre fazendo viagem
Pra violeiro despeitado bater com nós é bobagem
Em modas de desafios nós tinha grande bagagem
Desafiava dia e noite não levava desvantagem
Afamado e o Epitácio já estavam em muitas paragens
 
Fizemos à última viagem do lado do Itararé
Quando bateu meia noite os campeões chamou no pé
Cantamos o resto da noite sem desconfiar da má fé
O povo fingia alegre dançando e batendo o pé
Quando foi de madrugada pra nós trouxeram café, ai
 
Seu moço aquele café foi verdadeira cilada
A parte que nos trouxeram tava toda envenenada
Por eu não tomar café me livrei dessa emboscada
Sem dizer que aquela gente tava toda despeitada
Os campeões que nós quebramos tinha a fama respeitada
 
No outro dia faleceu meu parceiro de estimação
Pendurei ali a viola e nunca mais botei a mão
Essa viola vitoriosa nunca perdeu pra campeão
Esta foi a última viagem que enlutou meu coração
Porque perdi meu parceiro e, além disso, é meu irmão

Msicas do lbum Moda De Viola Volume 1 (LIDER 527404266) - (1985)

Nome Compositor Ritmo
O Peso Da Idade João Mulato / Zacopé Simões Moda De Viola
Bandeirante Fernão Carreirinho / Ado Benatti / Campos Negreiro Moda De Viola
Preto Fugido Carreirinho / Zé Carreiro Moda De Viola
Ingrata Dino Franco / João Caboclo Moda De Viola
Família Tangerino João Mulato Moda De Viola
Tempo De Infância João Mulato / Tião De Ouro Moda De Viola
Padecimento Carreirinho Moda De Viola
Companheiro Do Ferreirinha Pinheirinho / G. Galdino Moda De Viola
Derrota Décio Dos Santos Moda De Viola
Última Viagem Carreirinho / Fernandes Moda De Viola
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