Caboclo Abençoado (AMCLP 5360) - (1976) - Liu e Léu

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Caboclo Abençoado
Muita gente me pergunta se é bonito onde eu moro
Se de fato eu adoro minha casa ao pé da serra
Muitas vezes eu repito se acaso for preciso
Eu moro num paraíso que Deus, pois aqui na terra

A minha faixa de terra não é de boa cultura
Mas tenho muita fartura na minha humilde morada
Meus filhinhos valem ouro minha esposa me adora
Sou feliz a toda hora para mim não falta nada

Quando vem rompendo o dia com prazer sou despertado
Com o canto apaixonado de um tristonho sabiá
Que gorjeia tristemente e anuncia na garganta
Novo dia quando canta na copa de um pé de Angá

O meu Pai lá das alturas sempre me abençoou
Por isso nunca faltou no meu pedaço de chão
A chuva que molha a terra, o meu pão de cada dia
Muita paz e alegria, muito amor e união

Saudade De Um Grande Amor
Saudade bateu no peito não tive jeito eu chorei de dor
Me fez triste amargurado lembrar um passado de um grande amor
Tentei reprimir meu pranto mas no entanto não fui capaz
Então chorei de saudade porque este amor na realidade foi um amor imenso demais

Agora como viver daqui por diante 
Se não consigo um só instante esquecer meu passado tão feliz
Saudade fez terminar meus dias de paz 
porque este amor não morreu jamais dentro deste peito tão infeliz

Devoção
Senhor Deus onipotente veja quanto desespero retiraram da igreja nosso santo padroeiro
Tudo agora ficou triste ninguém mais quer ser festeiro se isso é o fim do mundo eu quero morrer primeiro
Ai, ai , ai nosso santo padroeiro

Senhor Deus peço perdão se blasfemo no que falo dizem que vão derrubar o São Jorge do cavalo
Para quem tem devoção esse assunto é um abalo mas eu nunca deixarei de louvar meu São Gonçalo
Ai, ai, ai meu louvado São Gonçalo

A noticia no jornal deixou todo mundo aflito que o nosso arraial ficou muito esquisito
Com o nosso padroeiro tudo era tão bonito e agora ninguém sabe onde está São Benedito
Ai, ai, ai onde está São Benedito

A promessa que eu fiz não sei onde vou pagar a capela está vazia não tem santo no altar
Meu pretinho milagroso padroeiro do lugar no oratório do peito para sempre ficará
Ai, ai, ai para sempre ficará

Motivo De Saudade
De um certo tempo para cá eu fiquei triste e sinto isso em cada lágrima que cai
E é meu pobre coração que não resiste está saudade que eu sinto do meu pai
De um certo tempo para cá eu fiquei triste
E sinto isso em cada lágrima que cai
E é meu pobre coração que não resiste
Está saudade que eu sinto do meu pai

A sua imagem de amor está presente
Em minha mente em cada irmão que entra e sai
É um pedaço desse homem muito gente
Tudo é motivo de saudade do meu pai

Vejo mamãe entristecida fingindo que está contente
Mas tua alma está ferida e a gente sente a mesma dor que ela sente

Desde que o rei deixou o trono é só tristeza
E a saudade ficou nossa companheira
E cada um que vai sentando em nossa mesa
Sente que falta o principal na cabeceira

Observando o olhar da irmandade
Vejo nos olhos aonde o pensamento vai
Em nossa casa tudo fala de saudade
Desta saudade que sentimos do papai

Vejo mamãe entristecida fingindo que está contente
Mas sua alma está ferida e a gente sente a mesma dor que ela sente

O Menino
De calças curtas pés no chão vai o menino
Coitadinho peregrino aprender o B-A-BA
Mas ninguém sabe o que ele está sentindo
Não amparam o menino e nem querem lhe ajudar

A professora que foi sempre sua amiga
Perguntou da sua vida ele respondeu chorando
Eu sou um órfão que não tem o que deseja
No coreto da igreja é o lugar que estou morando

De manhãzinha no domingo assisto a missa
Depois vou vender revista pra ganhar alguns vinténs
Se sobra troco e me dão se eu mereço
Deus lhe pague eu agradeço, pois não roubo de ninguém

Esta roupinha que com ela estou vestido
Eu ganhei do Aparecido já não lhe servia mais
Às vezes como e às vezes passo fome
Do papai nem soube o nome mamãe não existe mais

E quando eu vejo aproximar o fim do ano
Oh meu Deus o desengano vem à tona me ferir
Tudo que sei aprendi com a senhora
Foi quem sempre que na hora de chorar me fez sorrir

Mas do que nunca necessito sua ajuda
Pois talvez a sorte muda e não tenho aonde ir
Eu gostaria de morar com a senhora
Na verdade até agora foi a mãe que conheci

Encoste A Porta De Mansinho
Tua volta pode ser mais breve que tua partida
Por isto é bom não bater a porta após tua saída
Meu desejo é deter-te, mas se estás decidida
Vá lá fora para ver como é triste o amanhecer da despedida

Felicidade não se encontra facilmente
E nem a noite vive chovendo carinho
Saia lá fora meu amor e pense um pouco
Depois volte encoste a porta de mansinho

Pioneiro Do Sertão
Seu moço preste atenção procure me compreender bem certinho vou dizer se o senhor me permitir
Este imenso progresso que cobre o Brasil de glória analisando a história eu ajudei construir
Hoje os meios de transportes são por vias asfaltadas mas as primeiras picadas fui eu que ajudei abrir

Com o meu carro de boi arroxo de couro crú cambito de guatanbú fueiro de cambuí
Cortava terras barrentas nas ferragens dos rodeios no rigir dos camoeiros nos estalos dos cansís
Carregado de cereais eu seguia passo a passo caprichava nos chumaços pro cocão fazer zunir

Na força do meu destino desdobrando a sorte amarga deitado embaixo da carga ouvindo a chuva cair
Sem lamentar minha sorte depois que a chuva passava de novo continuava minha jornada seguir
Com fé na Virgem Maria que sempre me abençoava e também me acompanhava quando eu ia partir

A cantiga do meu carro na distante caminhada pra sempre ficou gravada na minha imaginação
Meu velho carro de boi que tanto gosto me deu  carunchou e apodreceu lá no fundo do galpão
Onde eu for enterrado quero que deixe um letreiro descança aqui um carreiro pioneiro do sertão

Essa Terra É Boa
Neste chão abençoado eu acabo de chegar
Eu venho de Ponta Grossa não carrego patuá
Me criei na terra roxa sou filho de Paraná
Já plantei ponta de cana já formei canaviá
Essa terra é boa ai senhor ai sinhá
Vou muer a minha cana pra ver o lucro que ela dá
Vou muer a minha cana pra ver o lucro que ela dá

A viola está tinindo mas não tem colher de chá
Ela é feita de Pinho braço de Jacarandá
Não confio em ferradura nem em pedra de sevá
Já plantei ponta de cana já formei canaviá
Essa terra é boa ai senhor ai sinhá
Vou muer a minha cana pra ver o lucro que ela dá 
Vou muer a minha cana pra ver o lucro que ela dá

Vida Triste
Desponta a aurora vai amanhecendo eu saio correndo pelo campo a fora
Buscar o gado que la vai pastando molhado de orvalho eu já vou chegando
Ó que vida triste ó que sorte amarga quanto mais trabalho mais aumenta a carga
Ó que vida triste ó que sorte amarga quanto mais trabalho mais aumenta a carga

Lá vem o patrão com a cara amarrada ó seu mandrião cadê a boiada
Tu não vales nada tu não é homem és um vagabundo e não vale o que come
Ó que vida triste ó que sorte amarga quanto mais trabalho mais aumenta a carga
Ó que vida triste ó que sorte amarga quanto mais trabalho mais aumenta a carga

Não suporto mais esta minha lida quanto mais trabalho mais piora a vida
Tudo quanto ganho dou pra Margarida assim mesmo ela é mal agradecida
Ó que vida triste ó que sorte amarga quanto mais trabalho mais aumenta a carga
Ó que vida triste ó que sorte amarga quanto mais trabalho mais aumenta a carga

Travessia Do Araguaia
Naquele estradão deserto uma boiada descia
Brás bandas do Araguaia pra fazer a travessia
O capataz era um velho de muita sabedoria
As ordens eram severas e a peonada obedecia

O ponteiro um moço novo muito desembaraçado
Mais era a primeira viagem que fazia desses lados
Não conhecia os tormentos do Araguaia afamado
Não sabia que as piranhas era um perigo danado

Ao chegarem na barranca disse o velho boiadeiro
Derrubamos um boi na água deu a ordem ao ponteiro
Enquanto as piranhas comem temos que passar ligeiro
Jogue logo este boi velho que vale pouco dinheiro

Era um boi de aspas grandes já ruído pelos anos
O coitado não sabia do seu destino tirano
Sangrando por ferroadas no Araguaia foi entrando
As piranhas vieram loucas e o boi foram devorando

Enquanto o pobre boi velho ia sendo devorado
A boiada foi nadando e saiu do outro lado
Naquelas verdes pastagens tudo estava sossegado
Disse o velho ao ponteiro pode ficar descansado

Então o moço falou que tamanha crueldade
Sacrificar um boi velho isto é uma barbaridade
Respondeu o boiadeiro aprenda esta verdade
Que Jesus também morreu pra salvar a humanidade

A Voz Do Tempo

No meu tempo de mocinho eu carregava muita ilusão
Morava numa fazenda ali vivia lavrando o chão
Os bailes da redondeza era a minha diversão
A rapaziada reunia todos com grande alegria
Era certeza que eu ia junto com meus irmãos

Chegava de madrugada só pelo rangido do portão
Papai da cama dizia meu filho agora cadê João
Com quem ficou Rafael como demora vir Sebastião
Isto sempre repetia sei que o velho não dormia
Enquanto ele não ouvia os filhos pedir benção

Um dia falei pra ele papai agora quero saber
Porque se preocupa tanto se todos nós sabemos viver
Meu filho sua pergunta deixo pro tempo lhe responder
Na hora pensei comigo entender eu não consigo
Isso é mania de antigo em tudo se intrometer

Sou casado há muito anos e já assisto um filho crescer
Vendo a maldade de perto que é bem sujeito acontecer
O nosso mundo é uma estrada tem muitos lados pra se vender
Por mais que eu seja disposto pensando em certos desgostos
As rugas deste meu rosto já começa aparecer

Agora compreendi quanto o papai já tinha sofrido
A pergunta que eu lhe fiz o tempo havia me respondido
Na frase que ele me disse somente agora encontrei sentido
Com pesar no coração eu lhe dou toda razão
Fiz a ele uma oração papai já é falecido

Conselho De Filho
Pai sou o seu filho querido vou lhe fazer um pedido me atenda por favor
Pai lhe peço não vá embora vou pedir pra mãe agora fazer as pazes com o senhor
Mãe a senhora não é mais jovem e sabe que não resolve ficar de mal com o meu pai
Mãe faça as pazes com pai agora antes que ele vá embora e não volte nunca mais
Mãe sou seu filho idolatrado não quero ver separado os meus queridos pais
Pai peça desculpas a ela à paz é coisa bela por favor não briguem mais 

Mãe a senhora não é mais jovem e sabe que não resolve ficar de mal com o meu pai
Mãe faça as pazes com pai agora antes que ele vá embora e não volte nunca mais
Mãe sou seu filho idolatrado não quero ver separado os meus queridos pais
Pai peça desculpas a ela à paz é coisa bela por favor não briguem mais 

Músicas do álbum Caboclo Abençoado (AMCLP 5360) - (1976)

Nome Compositor Ritmo
Caboclo Abençoado Luiz De Castro / Bambui Rasqueado
Saudade De Um Grande Amor Zé Matão Rasqueado
Devoção Nonô Basílio Reisado
Motivo De Saudade Nonô Basílio Toada
O Menino Luiz De Castro / Hélio Alves Balanço
Encoste A Porta De Mansinho Luiz De Castro / Edward De Marchi Fox
Pioneiro Do Sertão Luiz De Castro / José David Vieira Querumana
Essa Terra É Boa Luiz De Castro / José David Vieira Rojão
Vida Triste Luiz De Castro / Liu Rancheira
Travessia Do Araguaia Dino Franco / Décio Dos Santos Moda de Viola
A Voz Do Tempo Geraldinho / Zeca Moda de Viola
Conselho De Filho Jack / Milton José Balanço
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