Canção Do Boiadeiro (CABOCLO-CONTINENTAL CLP 9108) - (1971) - Pedro Bento e Zé Da Estrada

Canção Do Boiadeiro
Se ouve distante o berrante
Se avista na estrada a boiada
Eh! Boiadeiro, saudade de sua amada
Eh! Boiadeiro, saudade de sua amada

Lá vai o boiadeiro cortando serras e serras
De pago em pago rodando distante de sua terra
Boiadeiro de planície, da poeira e das estradas
Na noite de lua clara canto esta linda toada

Se ouve distante o berrante
Se avista na estrada a boiada
Eh! Boiadeiro, saudade de sua amada
Eh! Boiadeiro, saudade de sua amada

Só quem foi é que conhece a vida de boiadeiro
Np galpão faz sua pousada reunindo os berranteiros
Lembrando de sua amada palpita seu coração
Pra disfarçar essa mágoa canto esta linda canção

Se ouve distante o berrante
Se avista na estrada a boiada
Eh! Boiadeiro, saudade de sua amada
Eh! Boiadeiro, saudade de sua amada

Seu destino é como o vento que percorre a colina
Quando a noite escura passa e o sol abre a cortina
Boiadeiro se levanta põe o gado na rotina
Com saudade ele canta a canção da sua sina

Se ouve distante o berrante
Se avista na estrada a boiada
Eh! Boiadeiro, saudade de sua amada
Eh! Boiadeiro, saudade de sua amada

Gato De Três Cores
Foi naquele dia de corpo de Deus
Recebi uma carta que me ofendeu
Portador que trouxe foi quem mesmo leu
O povo queria ver o encontro meu
Com o tal campeão que apareceu
Chegou esse dia o tempo escureceu
Trovejou bastante, mas não choveu
Logo meu colega compareceu
Pra cumprir com o trato que prometeu
 
Chegamos na festa que o portão bateu
O festeiro alegre me recebeu
Lá pra dentro estava os amigos seus
Já veio uma pinga tudo ali bebeu
O meu peito velho já desenvolveu
Repiquei no pinho que as cordas gemeu
Chamei o festeiro ele me atendeu
Vamos lá pra sala que a hora venceu
Diga pro campeão quem falou fui eu
Gato de três cores ainda não nasceu
Que dirá campeão para quebrar eu
 
Primeira moda fui pra dizer adeus
O festeiro veio e me agradeceu
O pessoal dali já me conheceu
Um disse baixinho outro respondeu
Violeiro igual esse ainda não nasceu
Um dueto triste o coração doeu
Pra falar a verdade até me comoveu
Tantos elogio que não mereceu
O próprio festeiro já me protegeu
 
Cantei outra moda não me respondeu
O campeão famoso já se encolheu
Nem pra afinar a viola não se atreveu
Lá pra meia noite o relógio bateu
O campeão dali desapareceu
Estava perdido reconheceu
Só a minha dupla que amanheceu
Para trabalhar o meu peito não deu
Mas pra fazer moda apostou perdeu
Gato de três cores ainda não nasceu
Que dirá campeão para quebrar eu

Candeeiro Do Pai João
Minha gente a história todos conhecem
Quem escuta não esquece o nome de pai João
Que no passado ele foi o rei dos carreiros
E eu fui seu candeeiro no tempo da escravidão

Hoje em dia só a saudade ficou
Do tempo que já passou, só resta recordação
Sua boiada, uns pros campos se perdeu
Outros pro corte vendeu só resta o carretão

Já estou velho, de sofrer estou cansado
Do patrão fui dispensado veja só a minha sorte
Morreu pai João, velho carreiro querido
Meus dias estão vencidos espero somente a morte

Empurrado pela estrada da vida
Minhas pernas enfraquecidas, hoje não sou mais ninguém
Quando eu morrer meu Deus, pai da geração
Pra onde foi pai João é onde quero ir também

A Saudade Vai
Ai, saudade, saudade que vai e vem
Saudade do meu amor que pena de mim não tem
Ai, amor por que foi me abandonar
Pra esquecer a minha mágoa tristonho ponho a cantar
Ai, que saudade

No dia que foste embora nem se quer me disse adeus
Bem lá na curva da estrada você desapareceu, ai, que saudade

Ai, saudade, saudade que vai e vem
Saudade do meu amor que pena de mim não tem
Ai, amor por que foi me abandonar
Pra esquecer a minha mágoa tristonho ponho a cantar
Ai, que saudade

O jardim que nos plantamos toda roseira secou
Porque que você não volta reviver o nosso amor, ai, que saudade

Ai, saudade, saudade que vai e vem
Saudade do meu amor que pena de mim não tem
Ai, amor por que foi me abandonar
Pra esquecer a minha mágoa tristonho ponho a cantar
Ai, que saudade

Sertão
Sertão desenhado numa tela
Trabalhado em aquarela por Deus é abençoado
Sertão das matas verdejantes
Teu caboclo é gigante que te faz tão respeitado

Sertão teu humilde lavrador
Que te dá todo valor dando a ti tanta fartura
Sertão da caboclinha catita
Simples meiga e bonita mesmo sem usar pintura

Sertão do engenho e do monjolo
Grandes frutos dá teu solo tem moinho e canavial
Sertão da gamela e do pilão
Do paio e o mangueirão da tuia e do cafezal

Sertão da boiada e do carreiro
Da topa e do tropeiro, do café e a samambaia
Sertão do catira e do violeiro
Dos bailinhos no terreiro, da tuia e chapéu de palha

Sertão do Corguinho e da biquinha
Da arapuca e da rolinha da rocinha no espigão
Sertão do girau e o malhador
Do aceiro e o carreador, da porteira e do peão

Sertão és a terra mais preciosa 
Das manhãs tão invernosas ornamenta um lindo véu
Sertão do sol quente e dourado
Do luar tão prateado e as estrelas lá no céu

Dois Ébrios
Pra esquecer o meu amor eu fui beber num botequim
Quando veio um pobre ébrio que sentou perto de mim
Com seu rosto maltratado mostrava seu triste fim
E olhando um retrato ele me falou assim

A mulher que eu tanto amava destruiu minha esperança
Me deixando um certo dia não honrou nossa aliança
Sua negra falsidade trago sempre na lembrança
E até a própria vida eu perdi a confiança

Com o coração em brasa sua historia eu contei
E ouvindo essas palavras de tristeza até chorei
Naquele mesmo retrato minha amada eu avistei
Pra aliviar meu sofrimento a verdade eu confessei

Aquela mulher malvada que abandonou seu lar
Pra realizar meu sonho veio comigo morar
Certo dia foi-se embora me deixou triste a penar
Hoje afogo as minhas mágoas nas bebidas deste bar

Romper Da Aurora
Deitado na minha cama quando vem rompendo a aurora
Sinto uma dor esquisita o peito quase não escora
Amor que eu tenha em você dentro deste meu peito mora
Vejo este seu rosto risonho todo instante e toda hora

Tem dia que dá vontade de sair pro mundo afora
Talvez a saudade acalma pra longe eu indo embora
Na capela do arraial toda a tardinha as seis horas
Pra aliviar a minha dor peço pra Nossa Senhora

Coração dentro do peito tá roxo que nem amora
Olhando no seu retrato eu dou suspiro e melhora
A saudade de você é só que me resta agora
Adeus minha estrela Dalva quem for no romper a aurora

Cabocla eu vivo triste desde que tu foste embora
Sinto aqui dentro do peito uma dor que me devora
É duro uma despedida quando se ama e adora
Mas homem quando é homem sofre calado e não chora

Chitãozinho E Chororó
Eu não troco meu ranchinho amarradinho de cipó
Por uma casa na cidade nem que seja bangalô
Eu moro lá no deserto sem vizinho eu vivo só
Só me alegra quando pia lá pra aqueles cafundó
É o nhambú chitão e o xororó, é o nhambú chitão e o xororó

Quando rompe a madrugada canta o galo carijó
Pia triste a coruja na cumeeira do paiol
Quando chega o entardecer pia triste o jaó
Só me alegra quando pia lá pra aqueles cafundó
É o nhambú chitão e o xororó, é o nhambú chitão e o xororó

Não me dou com a terra roxa com a seca larga pó
Na baixada do areião que eu sinto prazer maior
É ver a rolinha no andar no areião faz caracol
Só me alegra quando pia lá pra aqueles cafundó
É o nhambú chitão e o xororó, é o nhambú chitão e o xororó

Eu faço minhas caçadas bem antes de sair o sol
Espingarda de cartucho patrona de tiracol
Tenho buzina e cachorro pra fazer forrobodó
Só me alegra quando pia lá pra aqueles cafundó
É o nhambú chitão e o xororó, é o nhambú chitão e o xororó

Quando eu sei de uma notícia que outro canta melhor 
Meu coração dá um balanço fica meio banzaró
Suspiro sai do meu peito quem bala jeveló
Só me alegra quando pia lá pra aqueles cafundó
É o nhambú chitão e o xororó, é o nhambú chitão e o xororó

Sentimento Sertanejo
Ai, quem me dera se eu voltasse a minha terra
Rever lá no pé da serra o recanto onde nasci
Quero rever o riacho cristalino
Que brinquei quando menino, chorei tanto ao partir

Como é bonito ver o sol no horizonte
De longe ouvir a fonte com suas águas rolar
E no pomar ouvir os passarinhos
Despertando dos seus ninhos começavam a cantar

E lá bem longe as campinas verdejantes
Não me esqueço um só instante a porteira da estrada
Pois foi ali que encontrei o meu amor
E lhe dei aquela flor, a minha prenda adorada

Agora sinto no meu peito de caboclo
Que a saudade pouco a pouco fere meu coração
Ainda tenho quase que uma certeza
De rever estas belezas e morrer no meu sertão

Homem De Fibra
Nasci neste mundo com fibra e com raça
Sou neto de índio criado em quiçaça
Só quando me abusam eu faço arruaça
Sou rei das pernadas aqui nesta praça

A escola que tive e o mundo que tenho
Não sei onde vou, não sei de onde venho
Amigo e parente me serve de espelho
A cor que eu mais gosto é o branco e o vermelho

Uns certos amigos quiseram provar
A minha destreza pra me derrotar
Armados de faca foram me atocaiar
Com poucas pernadas fiz eles tombar

Meu corpo é fechado, meu peito é de aço
Meu braço é de ferro que agüenta balaço
Eu sei que algum dia em pó me desfaço
Mais deixo saudade no lugar que passo

O meu endereço não digo a ninguém
Meu trato são feito conforme eles vem
Se me atiram pedra, eu atiro também
Tenho muitos amores, mas não amo ninguém

Saudade Do Meu Sertão
Ai, como eu sinto saudade do meu sertão altaneiro
Do meu rincão brasileiro onde a natureza é bela
Eu nunca mais respirei as cheirosas madrugadas
Das matas toda enfeitada com flores na primavera

Pia tão triste o nhambu na capoeira pertinho
A noite lá no ranchinho a lua clareia o chão
Canta o galo de manhã, o mestre madrugador
Canta cigarra com ardor nas tardes quando é verão

Hei de rever meu sertão, o sabiá sonoroso
Ouvi o barulho gostoso das águas nas cachoeiras
Um filho sempre enaltece a terra onde nasceu
E foi feliz e sofreu lembrando a vida inteira

Chego a sonhar com a boiada passando lá no estradão
O pó subindo do chão vermelhando a paisagem
Das coisas do meu sertão confesso que não esqueço
Ao sertanejo ofereço esta sincera homenagem

Piraquara
Construí o meu ranchinho beirando o Mogi-Guaçú
As paredes de barrote, é ripada de bambu
Quando chega a tardezinha gosto de caçar nambu
De noite me preparo pra caçada de tatu

Eu tenho minha espingarda e eu não troco por nada
Ela é forte e resistente, a coronha é desenhada
Quando puxo do gatilho se faz eco na baixada
De longe fico escutando o ladrar da cachorrada

Eu tenho minha canoa do motor bem reforçado
Pra subir o rio acima onde tenho meu cevado
Pra pescar é com minhoca que os peixes tá acostumado
No prazo de meia hora o meu barco sai lotado

No dia que chove muito gosto de me prevenir
Um anzol bem reforçado aquele duro de abrir
Naquela poço mais fundo que gosto de divertir
Cada puxão é um ronco cada ronco um mandi

Também tenho inclinação na caça de capivara
Eu só saio noite escura não preciso noite clara
Construí um bom girau e uma fisga de vara
Por isso que me orgulho de ser um bom piraquara

Músicas do álbum Canção Do Boiadeiro (CABOCLO-CONTINENTAL CLP 9108) - (1971)

Nome Compositor Ritmo
Canção Do Boiadeiro Pedro Bento / J. Leonel Rojão
Gato De Três Cores Carreirinho Moda De Viola
Candeeiro Do Pai João Tomaz / Platinense Toada Balanço
A Saudade Vai Pedro Bento Rojão
Sertão Francisco Lacerda Toada e Cururu
Dois Ébrios José Maffei / Djalma Batista Toada
Romper Da Aurora Carreirinho Rancheira
Chitãozinho E Chororó Serrinha / Athos Campos Toada
Sentimento Sertanejo Platinense / Pedro Bento Toada
Homem De Fibra Gáio Velho / Pedro Bento Cururu
Saudade Do Meu Sertão B. Amorim / Zé Dionísio Toada Balanço
Piraquara Pedro Bento / Celinho Cururu
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