Presente De Aniversário (GTLLP 1068) - (1984) - Taviano e Tavares
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Chuva Grossa
Se um dia chover mulher vai ser uma boa
Meu barraco de sapé vai virar lagoa
Quero ver na enxurrada toda molhada até minha roupa
Quero amanhecer na lama e a minha cama virar uma sopa
Mulher do sul e do norte chova bem forte em cima de mim
Vou fazer uma novena e até quinzena pra chuva vim
Se for pra chover mulher eu quero um toró
Pode chacoalhar o barraco e quebrar o cipó
De coroa até menina bem grossa ou fina chova sem dó
Quero amanhecer molhado estou zangado com tanto pó
Mulher do sul e do norte chova bem forte em cima de mim
Vou fazer uma novena e até quinzena pra chuva vim
Se for pra chover mulher então chova já
Eu descubro o meu barraco e deixo molhar
Venha logo chuva grossa fazendo fossa pra me afogar
Quero ver chuva pesada formar enxurrada e me carregar
Mulher do sul e do norte chova bem forte em cima de mim
Vou fazer uma novena e até quinzena pra chuva vim
Nosso Agasalho
Minha amada ressentida com o frio da madrugada
Permanecia deitada em nosso ninho de amor
Abraçando-se comigo cochichou no meu ouvido
Meu amado meu querido meu preferido cobertor
Apertou-me em meus braços atendendo ao meu pedido
Entre beijos e fremidos nos amamos com loucura
Veio o sol de um novo dia e me diz perfeito sorrindo
A beijar seu rosto lindo aquecido de ternura
O frio mais rigoroso é o frio do abandono
Já passei noite sem sono caminhando com tremor
Mas agora em nosso leito nos aquecemos amando
Sinto o meu corpo queimando pelo agasalho do nosso amor
Andarilha
Tive um amor nessa vida, marcou na infância um passado importanteÂ
Apesar de ser criança tornamos um dia dois grandes amantesÂ
O caprichoso destino levou-a de mim para muito distanteÂ
Fiquei naquela cidade chorando a saudade que era bastanteÂ
Dizem que o primeiro amor por mais que se passe não há sucessão
Tive mulheres na vida nenhuma entrou em meu coraçãoÂ
E o meu primeiro amor perdi com tempo a sua feiçãoÂ
Nunca nos vimos adultos só mesmo um vulto na imaginaçãoÂ
Pra compensar o destino me deu uma surpresa em uma noite friaÂ
Uma mulher mal trajada batendo na porta um pouso pediaÂ
Na hora disse que não por fim aceitei porque ela insistiaÂ
Por piedade da dama reparti a cama até outro diaÂ
Passamos a noite juntinhos no dia seguinte eu se despediÂ
Senti o meu coração bater nesse peito faltando explodirÂ
Pela mulher mal trajada a quem dei pousada de tanto insistirÂ
Meu coração lhe queria então eu pedia pra ela não irÂ
Quando contou sua vida naquela mulher eu dei mais valorÂ
Porque o nosso destino sofreu no passado o mesmo fatorÂ
Lhe dei pra sempre a cama, meu corpo, alma e também meu calorÂ
A andarilha insistente era justamente meu primeiro amor
Volúvel
Você não entende qual é a razão que eu não a quero
Para ser bem claro teu amor volúvel assim considero
Vai por minha causa romper seu noivado vem propor-me agora
Mas te aconselho que me esqueça logo porque vou embora
Embora sofrendo mas estamos livres vou deixar você
Eu não tenho nada a não ser amor pra te oferecer
Você é volúvel se casar comigo pode acontecer
De gostar de outro e me deixar sozinho no mundo a sofrer
Vou partir não sei pra onde, preá muito distante pretendo viver
Vou a procura de alguém para ser meu bem que não seja você
Canoeiro
Domingo de tardezinha eu estava mesmo a toa
Convidei meu companheiro pra ir pescar na lagoa
Levemos a rede de lance ai, ai, fomos pescar de canoa
Eu levei meus apreparos pra dar uma pescada boa
Eu saà logo sereno remando minha canoa
Cada remada que eu dava ai, ai, dava um balanço na proa
Fui descendo o rio abaixo remando minha canoa
A canoa foi rodando foi deitando as taboas
A garça avistei de longe ai, ai, chega perto ela voa
O rio tava enchendo muito fui encostando a canoa
Eu entrei numa vazante fui sair noutra lagoa
Fui mexendo aquele lodo ai, ai, onde que os pintado amoaÂ
 Â
Pra pegar peixe dos bão dá trabalho a gente soa
Eu jogo o timbó na água que a peixaria atordoaÂ
Jogo a rede e dou um grito ai, ai, os dourados amontoa
Patrono Dos Violeiros
De São Paulo pra Goiás com destino a JataÃ
Emparei em Santa Helena confesso me arrependi
Com o coração chorando fiz os meus olhos sorrir
Pra poder cumprimentar certas pessoas ali
Eu não dei demonstração só sabe meu coração a saudade que que senti
Ao ver a ex residência de uma pessoa modesta
Patrono dos violeiros promotor de grandes festas
Esse amigo dos artistas dos cantores de serestas
Ouvi a mente dizer bom às vezes não presta
A saudade do amigo até hoje por castigo no meu peito manifesta
Onde havia todo ano grandes festas que beleza
Muitas lindas melodias enfeitando a natureza
Muito amor muita bondade muita fartura na mesa
De alegria festejando o coração da pobreza
Encontrei tão diferente só amigos e parentes numa nuvem de tristeza
Deus levou um grande amigo sua alma era pura
Mas pra mim representava estar vendo a criatura
Repartindo com os pobre amor e muita farturaÂ
E pra nós os violeiros seus aplausos de ternura
O seu jeito sorridente não apaga em minha mente vejo até em noite escura
Hoje lá não mora mais o Paulo Lopes e de Goiás Deus levou para o além
Por ser o pai da pobreza está no céu com certeza os anjos que digam amém
Em um pranto de saudade nestes versos derradeiros
Vai as nossas condolências dos amigos e companheiros
Adeus bom pai de famÃlia adeus grande hospitaleiro
Adeus coração caboclo adeus grande brasileiro
Seu coração era nobre adeus pai de muitos pobres patrono dos violeiros
Presente De Aniversário
Hoje é dia de aniversário aproxima a data de alguém
Vamos todos cantar pra você parabéns, parabéns, parabénsÂ
Parabéns, parabéns a você parabéns nesta data querida
Deus que dê muitas felicidades e também muitos anos de vida
Peço a Deus para o ano que vem estaremos todos juntinhos
Pra cantar parabéns pra você com amor e muitos carinhos
Parabéns, parabéns pra você parabéns nesta data querida
Deus que dê muitas felicidades e também muitos anos de vida
Berrante Da Saudade
Quanta saudade de um berrante repicando amadrinhando uma boiada do estradão
Ver a poeira formar nuvem no espaço sentir cansaço do troteio de um pagão
Sentir o gosto da comida boiadeira a costumeira carne seca do feijão
Levar a vida sem parede, sem telhado tocando gado nas estradas do sertão
Hei, hei, hei boi, toque o berrante, boiadeiro, hei boi
Na despedida uma cabocla na janela coisa tão bela igual a flor do amanhecer
Lá bem distante conversar com a saudade sentir vontade de voltar para lhe ver
Tingir a roupa com poeira da estrada lá na pousada ouvir o gado remoer
Armar a rede nos esteios do galpão na escuridão se balançando adormecer
Hei, hei, hei boi, toque o berrante, boiadeiro, hei boi
Fui boiadeiro por gostar da profissão o estradão foi o meu mundo colorido
Cada viagem uma história pra contar a cavalgar pelos rincões desconhecido
Sem comitiva, sem berrante e sem boiada por outra estrada solitária agora eu sigo
Não sei aonde colocar tanta saudade felicidade já não vive mais comigoÂ
Hei, hei, hei boi, toque o berrante, boiadeiro, hei boi
Caminhos Diferentes
Eu não sei como é que eu faço para prosseguir em frenteÂ
Pela estrada do futuro se alguém não está presenteÂ
Quem eu amo foi embora por caminhos diferentesÂ
Eu sei que meu coração vai morrer de solidão por este amor ausenteÂ
Eu procurei numa estrela ver um motivo de vidaÂ
Mas ela longe da lua como eu vive perdidaÂ
Igual a rosa vermelha chora a pétala caÃdaÂ
Chora um pássaro sem ninho eu também choro sozinho nossa triste despedidaÂ
Eu perguntei soluçando à água do rio correnteÂ
Cantando na cachoeira por que vive tão contente
Ela disse estou chorando por deixar longe a nascenteÂ
Na hora que o sol brilhava e sobre mim derramava seu clarão resplandecenteÂ
Eu fiquei mais conformado porque vi que tudo é igualÂ
Todos vão perdendo tudo neste caminho fatalÂ
O luar perde seu brilho com o clarão matinalÂ
Como a noite perde a tarde também a felicidade tem um dia seu final
O Que Passou Passou
Num passado bem distante fui sapato de patrão
Eu cansei de ser paçoca e virei mão de pilão
Não importa o que passou sofrer também é lição
Já fui bem recompensado ganho salário elevado com minha viola na mão
Já comi feijão sem sal também arroz sem gordura
Quebrei osso na gengiva por falta de dentadura
Não importa o que passou não vivo mais na pendura
Gozando de boa estima vivo de papo pra cima rodeado de fartura
Morando em baixo do céu minha casa eu construÃa
Assentando nas paredes um tijolo em cada dia
Não importa o que passou trabalho trouxe alegria
Na minha linda mansão gente rica faz serão pra ver minha moradia
Nas ondas fortes da vida eu remei contra a maré
Trabalhei honestamente sem perder a minha fé
Não importa o que passou mas sim o que a gente é
Minha viola tá tinindo meu conceito tá subindo minha fama tá de pé
Grileiro De Terra
Nesses versos eu vou revelar uma história do nosso passado
Existia um grileiro de terras o que tinha era tudo tomado
Numa área que vi empossando foi deixando o caboclo cercado
Foi falar com aquele caboclo um capanga por ele mandado
O jagunço falou com o caboclo conversando na sua varanda
Meu patrão vai tomar suas terras tá cercado por todas as bandas
Acho bom sair quanto antes pegue a sua famÃlia e se manda
Pois que saibas que um mal acordo é melhor do que boa demanda
O caboclo já foi respondendo essa terra pra mim é sagrada
Pois aqui derramei meu suor minha honra será sepultada
Vai dizer para o seu patrão que eu não cedo um palmo por nada
Para evitar confusão dou um boi por um boi, perco toda boiada
Neste mundo eu não devo a ninguém a não ser, minha vida à Jesus
De uma coisa pode ter certeza como vê este Sol como luz
Se vier invadir minhas terras diga a ele que assim eu propus
Cada marco da minha divisa no lugar eu coloco uma cruz
O grileiro chegou com os jagunços arrancando as primeiras balizas
Receberam o que não esperava o estanho furando a camisa
O caboclo venceu na tocaia em defesa do chão que hoje pisa
Com as cruzes dos grileiros de terra fez a cerca da sua divisa
Catireiro
Foram ler minha sorte quando eu fui nascido
E a sina que eu trouxe e de ser divertido
Tenho me arregalado tenho padecido
Não são poucos fandangos que eu já tenho ido
Não vou mesmo em catira se não me convidam
Assim ninguém diz que sou oferecido
Quando eu chego nas festas o povo rodeia
Ansioso pra ver minha voz sem pareia
Quando eu canto de viola não tem moda feia
Com a viola nos braços meus dedos ponteia
E no meu repicado o pessoal sapateia
O assoalho da casa até balanceia
Violeiro invejoso me olha de lado
Quanto mais me odeia eu canto folgado
Eu não gosto de intriga sou muito educado
Todo lugar que chego sou considerado
Mas se alguém me abater eu já fico irritado
A paciência se acaba e meus versos pesado
Esta lida que eu levo alegre tem sido
No lugar que eu canto não fico esquecido
Sempre deixo saudade coração ferido
Quantas juras de amor eu tenho recebido
Por eu ser violeiro e cantar dolorido
Fiz mulher casada largar do marido
Músicas do álbum Presente De Aniversário (GTLLP 1068) - (1984)
Nome | Compositor | Ritmo |
---|---|---|
Chuva Grossa | Joaquim Moreira / Taviano | Rojão |
Nosso Agasalho | Dino Franco / Aparecida Mello | Guarânia |
Andarilha | Geraldinho | Querumana |
Volúvel | Geraldinho / Osvaldo Soares | Guarânia |
Canoeiro | Zé Carreiro / Alocim | Cururu |
Patrono Dos Violeiro | Joaquim Moreira / Taviano | Moda De Viola |
Presente De Aniversário | Criolo / Celso Willian | Rancheira |
Berrante Da Saudade | Peão Carreiro / J. Dos Santos | Toada Balanço |
Caminhos Diferentes | José Fortuna / ParaÃso | Cateretê |
O Que Passou Passou | Izaltino Gonçalves / Taviano | Cururu Piracicabano |
Grileiro De Terra | Geraldinho / Taviano | Querumana |
Catireiro | Dino Franco / João Caboclo | Cururu |