Casinha Da Serra (CHANTECLER CH 3055) - (1963) - Tião Carreiro e Pardinho

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Passagem De Minha Vida
Na serra onde eu nasci a gente só escuta o cantar dos pássaros
A cigarra canta naquela sombra nas árvores em dias de bem mormaço
É um lugar tão montanhoso que o sol demora surgir no espaço
Mas se de lá mudar meus parentes nem a passeio por lá não passo

Vivi lá até os quinze anos montando boi e jogando laço
Tirei diploma de quarto ano meu pai me dando muitos repassos
Depois vim pra Araçatuba fui pegando mais desembaraço
Com meus colegas de vez em quando uma serenata era meu disfarço

Em casa eu era o caçula levava a vida de um ricaço
Depois a minha mãe faleceu sofri também diversos fracassos
Me arribei por outras terras vim sem destino fiz como um pássaro
Que quando dá uma tempestade ele perde o ninho e vaga no espaço

Eu tenho essa inclinação que hei de viver com a viola no braço
Conheço o nosso Brasil inteiro de avião, de carro e de trem de aço
Antes não ganhava nada hoje no bolso o dinheiro é aos maços
Eu levo a minha vida folgada tudo o que eu quero eu faço e desfaço

Hoje a sorte me acompanha eu deixo saudade por onde passo
As morenas choram na despedida chegam até soluçar no meu braço
Certos caras vendo isso de despeitados tem feito ameaço
Sabem que eu tenho peito de bronze, braços de ferro e punhos de aço

Verdadeiro Palhaço
Uma noite eu encontrei sentado numa calçada
Um pobre velho engraxado brincando com a molecada
E parei para escutar ele contar suas piada
Mas quando o velho me viu me disse dando risada
Se tive interessado agora vou lhe conta a minha vida passada
E foi assim seu moço, que numa noite de função
Procurei o meu patrão por todo lado e não achei
Voltei correndo, quando na barraca entrei
Nos braços da minha esposa o meu patrão encontrei

Já fui palhaço numa grande companhia
Quando outra oferecia para mim bom ordenado
O meu patrão não deixava eu sair
No outro dia sem pedi meu salário era aumentado

E eu ficava cheio de satisfação 
Sem saber que meu patrão escondido me traía
Mas todo mau que nesta terra é feito 
Pode crer de qualquer jeito tem que aparecer um dia

Neste momento percebendo meu fracasso
E vestido de palhaço pelas ruas eu saí
De bar em bar muitas bebidas eu tomei
Logo eu me embriaguei e ali mesmo eu caí

E nunca mais eu voltei pro picadeiro
Sou um palhaço verdadeiro além da profissão
Porque o dinheiro daquela triste traição
Era eu quem recebia com as minhas próprias mãos

Porém um dia que esse infeliz morrer
Peço pra não esquecer este pedido que faço
Na minha campa vocês podem escrever
Descansa aqui para sempre o verdadeiro palhaço

Caboclo No Cassino
Pus o meu terninho branco de linho engomado
Meu sapato de verniz que eu comprei fiado
Dentro da algibeira pus algum trocado
E fui pro cassino diverti um bocado

Encontrei uma morena queimadinha pelo sol
Fui entrando com a conversa fui fazendo o meu farol
O meu pai é fazendeiro conhecido por major
Da conversa de malandro eu sabia ela de cor

Mandei vim bebida fina fui bancando o coronel
E pois a gaja pensava que eu Papai Noel
Tava com uma gaita grossa tinha dinheiro a granel
A carteira tava gorda mais era só de papel

Veio a conta para mim era uma bagatela
A despesa era três conto que eu fiz com a Gabriela
Sai doido do salão pois saltei pela janela
E cai em cima dum guarda que tava de sentinela

Por causa da Gabriela no xadrez passei calor
Isto serva de exemplo pra esses conquistador
Não tendo nem um tostão quer bancar o seu doutor
Caboclo tendo dinheiro pra ele não falta amor

Rei Sem Coroa
No lugar que tem violeiro e bons catireiros eu me sinto bem
Gosto do cateretê canto com prazer cururú também
Gosto da moda campeira, xote e rancheira como ninguém
Pra completar a coleção veja o batidão que o pagode tem

Vamos mostrar para o povo esse estilo novo especializado
Cantar comprazer nós pode porque o pagode já está afamado
É bonito a gente ver dois pinhos gemer bem repicado
Misturado no dueto do nosso peito bem afinado

Não se aprende nas escolas o tocar da viola e os desembaraço
Veja só quanta beleza é por natureza o cantar dos pássaros
Você diz que é cantador teve professor, mas tu é um fracasso
Já tenho visto peão que o afamado é bom, mas é ruim no laço

Quem canta seus mal espanta a tristeza vai e a alegria vem
Não seja assim tão gabola pegue na viola e cante também
Violeiro meia pataca da sua marca tem mais de cem
Amigo cante direito e note os defeitos que você tem

No nosso Brasil glorioso tem o famoso rei do café
O afamado rei do gado nem é preciso dizer quem é
Nós somos reis do pagode enquanto na bola o rei é Pelé
Você canta e não entoa rei sem coroa firme seu pé

Casinha Da Serra
Triste sorte de um homem coitado quando é destinado ao rumo do nada
Só encontra amarguras na vida estradas compridas de espinhos traçada
Pelo mundo eu vaguei sem destino desprezei a casinha da serra
Por amar uma ingrata fingida perdi a mãe querida e os prazeres desta terra

Ao sofrer essa cruel traição minha triste intenção era ir pra não voltar
Minha pobre velhinha chorava ajoelhada implorava para mim ficar
Mas o ódio roubou minha calma com a alma ferida fui embora
Fui cumprir meu destino perverso mãezinha hoje peço perdão à senhora

Amanhã partirei bem cedinho quando os passarinhos cantar na alvorada
Triste hora de uma despedida adeus terra querida adeus companheirada
Com a lua desta madrugada me despeço em uma serenata
Vou cantar uma triste canção pra magoar o coração desta tirana ingrata

Como é triste viver sem ninguém a quem fiz tanto bem me trazia enganado
Minha velha morreu de desgosto hoje eu trago em meu rosto de pranto molhado
Essa terra que me viu nascer que jamais pode ser esquecida
Voltarei pra trazer umas flores ofertar em louvor a mãezinha querida

Preto Inocente
Quando eu soube deste fato pelo rádio anunciado
Que o tal um preto fugido morreu por haver roubado
As façanhas que ele fez me deixou muito amolado
Por lembrar que os pretos sempre são os mais visados
Mas diante da verdade eu vi que estava enganado

Vou contar o causo direito do modo que se passou
Porque o pai de Suzana num criminoso virou
Na hora que deu o tiro foi que a Suzana gritou
Oh! Papai por que fez isso o senhor nem me consultou
Se eu ainda estou com vida é o preto que me salvou

No mato eu tava lenhando logo pegou a escurecer
O caminho que voltava eu não podia mais ver
Naquilo avistei um preto de susto peguei tremer
Mocinha não tenha medo escutei ele dizer
Eu sou preto só na cor mal nenhum vou lhe fazer

Eu tava muito cansada o meu corpo não agüentou
Fui sentar de par de um toco uma cobra me picou
O preto arrancou da faca o meu pé ele sangrou 
O veneno da serpente com a boca ele tirou
Pra salvar minha vida com a morte ele brincou

E aqui nesta cabana ele trouxe eu carregando
E que nem uma sentinela na porta ficou vigiando
Lá fora na mata escura as feras tava uivando
Abatido pelo sono coitado foi cochilando
Veio o senhor de surpresa a vida foi lhe tirando

Com as palavras de Suzana o seu pai pegou chorar
Fosse coisa que eu pudesse de novo a vida eu lhe dar
Com o sangue deste inocente minha honra eu fui manchar
Este chão que ele pisava eu não mereço pisar
Sei que vou ser condenado só Deus pode me livrar

Tudo Certo
Jacaré carrega a serra, mas nunca foi carpinteiro
E o bode também tem barba e não precisa ir ao barbeiro
Galo também tem espora, mas nunca foi cavaleiro
Sabiá canta bonito e não pode ser violeiro
Vigário faz casamento, mas vivem tudo solteiro

Lua nova é bonita não precisa usar pintura
Também a boca da noite nunca teve dentadura
Eu sei que o braço do mar não pode sofrer fratura
Navio também tem casco e não precisa ferradura
O engenho faz garapa, mas não come a rapadura

Aprendi dançar catira, mas não se dançar twist
O meu carro também canta e o seu cantar é triste
Tem violeiro que não vai, mas da viola não desiste
Prego também tem cabeça e nunca teve sinusite
Chaleira também tem bico, mas não pode comer alpiste

Eu não sou muito esperto, mas também não sou otário
Minhas contas eu não pago junto pra fazer rosário
Relógio trabalha tanto e nunca recebeu salário
João de Barro fez a casa hoje ele é proprietário
Papagaio fala muito e não conhece o dicionário

Garrincha tem perna torta, mas foi o mais aplaudido
Meu carro tem pé redondo e faz o rastro cumprido
Serrote também tem dente e não come nada cozido
O martelo tem orelha e não sofre dor de ouvido
As meninas dos meus olhos não precisam usar vestido

Minha História De Amor
Foi na festa da fazenda do seu coronel Janjão
Que eu conheci minha Rita formosa como um botão
Seus olhos pretos me olharam senti meu corpo a tremer
Não foi preciso mais nada pra nos dois se compreender

Como eu era cantador afamado do sertão
Logo todos me pediram a saudade do Matão

Neste eu mundo choro a dor por uma paixão sem fim

Num canto a Rita chorava fui logo saber porque
Não é por nada responde é de orgulho de você

Sempre gostei de ser livre levando a vida a cantar
Mas ali mesmo com a Rita eu combinei me casar
Mas Deus não quis que assim fosse não quis ver a nossa alegria. 
Uma semana depois a minha Rita morria

E no seu leito morrendo, apertando minha mão...
Me pediu cante baixinho a saudade do Matão

Neste eu mundo choro a dor por uma paixão sem fim

Não pude mais continuar embaçaram os olhos meus
Olhei chorando pra Rita ela já estava com Deus

E hoje sempre que escuto a saudade do Matão
Parece que eu vejo a Rita deitada no seu caixão
Toda vestida de branco como querendo dizer
Não foi nada vou contente orgulhosa de você

Bebendo Pra Esquecer
Falam de mim por me ver sempre bebendo
Mais os que falam não entendem a minha dor
Hoje eu bebo é pra esquecer o que estou sofrendo
Por uma ingrata que zombou do meu amor

Com falsidade ela arruinou a minha vida
Com falsas juras enganou meu coração
Acreditei nesta infame tão fingida
Por isso hoje vivo nessa solidão

A noite desce e eu entro para o meu quarto
Em desespero passo a noite acordado
Vejo sorrindo na parede o teu retrato
É o que resta do nosso amor fracassado

Nesse tormento mais uma noite se passa
De amargura, saudade e desilusão
Quantos cigarros destruídos em fumaça
Pra aliviar o meu pobre coração

Hoje eu vivo desprezado sem carinho
Meu sofrimento é amargo e profundo
Assim eu sigo a vagar triste e sozinho
Todos me chamam de boêmio vagabundo

Ela deixou-me pra viver na boemia
Hoje na vida sou um farrapo qualquer
Esse é o fim de um homem que confia
Nas juras falsas de uma hipócrita mulher

Doce Ilusão
Esta noite eu sonhei contigo a noite inteirinha 
Sonhei que estavas em meus braços meu grande amor 
Mas quando eu acordei estava sozinho 
Sem o teu carinho na solidão chorei de dor 
Mas quando eu acordei estava sozinho 
Sem o teu carinho na solidão chorei de dor 

Juro por Deus que não posso viver a vida sem te amar 
Nasci para te adorar tu és minha doce ilusão 
Depois que beijei teus lábios nunca mais querida beijei ninguém 
Levaste contigo meu bem a minha vida e o meu coração

Bi-Campeão Mundial
A seleção canarinho brilhou lá no estrangeiro
Mostrou a classe e o valor do futebol brasileiro
Conquistou o bi campeão nem um tento eles perderam
Trouxeram a taça de volta pra terra que eles nasceram

Brasil com os mexicanos primeiro a ser disputado 
Perderam de dois a zero choraram ser derrotado
Brasil e Tchecoslováquia o jogo ficou empatado
E os dois quadros perderam um ponto pra cada lado

Brasil jogou com a Espanha que o primeiro gol marcaram
A nossa turma reagiu até no fim triunfaram
Brasil jogou com a Inglaterra que o futebol inventaram
A taça campeão mundial os inglês nunca levaram

Chileno entraram no campo todos gritaram olé
Ontem nos tomamos vodka hoje nós toma café
Vamos vencer o Brasil com Pelé ou sem Pelé
Dessa vez dançaram samba na cadência do Mané

Brasil e Tchecoslováquia para a disputa final
Contavam que eles venciam a seleção nacional
Aplicaram o tal ferrolho e saíram muito mal
Brasil conquistou invicto o bi campeão mundial

Viva Aimoré Moreira, viva o Vicente Feola
Viva os craques brasileiro e o Marechal da Vitória
Viva o Amarildo e Garrincha e o Pelé que é o rei da bola
Brasil é campeão do mundo nos somos campeão na viola

Guarda Judeu
Pra um menino malcriado veja só o que aconteceu
Era ele o mais perverso no lugar onde nasceu
Foi crescendo e ficou moço e seu pai não repreendeu
Com destino a sentar praça ele desapareceu

Esse pai saiu pro mundo procurando o filho seu
Num lugar desconhecido pediu pouso e ninguém deu
Foi dormir numa garagem e um guarda percebeu
Por suspeitar de ladrão pegou o velhinho e prendeu

O velhinho comovido disto o que lhe aconteceu
Mostrou o seus documentos, mas o guarda não atendeu
Foi trancando ele na grade em seu rosto ainda bateu
Com a friagem da noite o pobre velho morreu

Depois do velhinho morto esse guarda arrependeu
Abraçando o corpo frio pego os documento e leu
Ficou louco nesta hora com o golpe que recebeu
O velhinho era o pai daquele guarda judeu

Filho De Araçatuba
Comprei um burrão ligeiro lá pras banda de Jaú
Mandei fazer um arreio da sola de couro cru
Pra nós viajar cantando no Brasil de norte a sul
Comprei uma viola boa porque nós não desentoa
Quando canta um cururu

Enfrentei a vida dura pra poder alcançar a glória
Hoje eu entro nos fandango sempre saio com a vitória
Também sou compositor faço modas na memória
Dentro de uma cantoria eu quero morrer um dia
Mas deixo o nome na história

A sina de um cantador é somente Deus quem dá
Não adianta forçar o peito quem não nasceu pra cantar
Eu canto sem fazer força minha voz é natural
Sou filho de Araçatuba quero ver quem me derruba
Nos torneios que eu entrar

Não gosto dos invejoso inveja matou Caim
Sou caboclo de verdade foi do interior que eu vim
Gosto de ajuda os colegas do começo até o fim
Falo de peito largado sei que Deus vai dá dobrado
O que desejam pra mim

Meu Passado
Se os dias do meu passado renascessem novamente
Eu teria ao meu lado quem eu amo loucamente
Meus sonhos teriam vida meus lábios beijos ardentes
Eu não padecia mais, afogando os meus ais e a dor que meu peito sente

Se voltassem meus cabelos a cor de antigamente
As rugas que me envelhecem se acabavam simplesmente
Minhas pernas enfraquecidas ficariam resistentes
Eu seguia a minha estrada procurando minha amada que eu perdi para sempre

Vai bem longe aquele tempo que jamais me sai da mente
Levando a felicidade que passou tão de repente
Assim como o vento passa vai pra outros continentes
Passou minha mocidade só deixando por maldade a velhice no presente

Vivo mergulhado em pranto a fingir que estou contente
Carregando um sofrimento que aos poucos mata a gente
No silêncio dos meus dias eu alcançarei somente
O final da minha estrada onde eu encontro morada pra morar eternamente

Músicas do álbum Casinha Da Serra (CHANTECLER CH 3055) - (1963)

Nome Compositor Ritmo
Passagem De Minha Vida Pardinho / Carreirinho Querumana
Verdadeiro Palhaço Tião Carreiro / Paulo Calandro Milonga
Caboclo No Cassino Tião Carreiro / Teddy Vieira Xote
Rei Sem Coroa Tião Carreiro / Sebastião Victor Pagode
Casinha Da Serra Pardinho Cururu
Preto Inocente Teddy Vieira / Campão / Bento Palmiro Moda De Viola
Tudo Certo Tião Carreiro / Moacyr Dos Santos Pagode
Minha História De Amor Carreirinho / Armando Rosas Balanço
Bebendo Pra Esquecer Tião Carreiro / Nízio Tango
Doce Ilusão Nízio / Mário Aguinaldo Rasqueado
Bi-Campeão Mundial Teddy Vieira / Zé Carreiro Pagode
Guarda Judeu Marrueiro / Anízio Teodoro Toada Balanço
Filho De Araçatuba Tião Carreiro / Moacyr Dos Santos Cururu
Meu Passado Dino Franco Cateretê
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