Em Tempo De Avanço (CONTINENTAL 171405605) - (1969) - Tião Carreiro e Pardinho

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A Beleza Do Ponteio
Muita gente me pergunta se eu nasci em Juiz de Fora
Barbacena ou Lafaiete, Ouro Preto ou Pirapora
Com toda sinceridade vou esclarecer agora

Pode ver que está na cara que eu sou puro mineiro
Cidade de Montes Claros é meu torrão verdadeiro
O meu pai já me ensinava a cantiga do carreiro

Por isso mesmo eu não quero carrear o carro vira e o carreiro vai sambar
Por isso mesmo eu não quero carrear o carro vira e o carreiro vai sambar

Quanto mais cantava o carro eu ficava mais contente
Eu ainda era um candeeiro o guia que vai na frente
E às vezes eu pensava numa vida diferente

Mesmo meu pai me dizendo ser carreiro é sua sina
Cismei em ser garimpeiro e rumei pra Diamantina
Ainda lembro a cantiga que cantava lá na mina

Esta cata está funda vão descendo de vagar
Um escora e outro segura pra ninguém se machucar
Tindê, tindá, tindê, timpá, tindê, tindá, tindê, timpá

Eu fui pra Belo Horizonte já não era mais menino 
Quando eu fiz dezoito anos vi chegar o meu destino
Fui sorteado pra servir no quartel de ouro fino

Mas agora felizmente vejo meu Brasil inteiro
E já sabem ver beleza no ponteio do violeiro
Hoje eu lembro com saudade do meu tempo de carreiro

Por isso mesmo eu não quero carrear o carro vira e o carreiro vai sambar
Por isso mesmo eu não quero carrear o carro vira e o carreiro vai sambar

Quatro Horas
São quatro horas da manhã bate o relógio
A noite foi sem que eu pudesse adormecer
Um novo dia vem surgindo no horizonte
E eu ainda estou chorando por você

É grande a dor que sinto agora neste instante
Não compreendo porque sofro tanto assim
Meu Deus do céu eu lhe pergunto porque que é
Que eu fui gostar de alguém quem não gosta de mim

Amargurado vou seguindo meu caminho
Sempre sozinho sem saber mais o que faço
Quando à tardinha o sol esconde então eu choro
Só de lembrar que você vive em outros braços

Dentro da noite no silêncio do meu quarto
As minhas lágrimas me causam desespero
Choro baixinho sufocando minhas mágoas
Enxugo o pranto na fronha do travesseiro

Não me conformo em viver assim sozinho
Mas vou seguindo seja lá o que Deus quiser
Não sei porque não esqueço esse amor
Não sei porque eu fui gostar dessa mulher

Feliz Casamento
Naquele momento no altar da capela
Na hora que ela me dizia o sim
Eu não pude ter o prazer de escutar
O órgão tocar pra ela e pra mim

Recordo que a igreja estava vazia
No altar não havia se quer uma flor
Mas o que importava é que eu estava casando
E realizando meu sonho de amor

Não é casamento com luxo e vaidade
Que faz o casal sentir felicidade
Não pude ter festa no meu casamento 
Mas vivo feliz a todo momento

Companheiro Do Ferreirinha

Recebi uma carta que veio lá de pardinho
Pra terminar uma empreitada que eu peguei com Ferreirinha
Pra buscar aquele mestiço no campo do espraiadinho
Aquilo no coração atravessou como espinho
Não tinha mais companheiro tinha que seguir sozinho

Por não ter outro vaqueano resolvi ir no redomão
Trouxe o potro na mangueira lacei passeio no mourão
Arriei com garantia duas barrigueiras e um chinchão
Quando ganhei os arreios o potro virou um leão
Preguei a espora no peito pra limpar meu coração

Sozinho pra aqueles campos bati todos malhador
Achei o lugar fresquinho onde o mestiço posou
Segui a batida do boi que desceu pro bebedor
O mestiço vinha vindo e de longe me avistou
Lembrei no Ferreirinha e a coragem redobrou

O mestiço furioso pro meu lado ele partiu
Que nem faísca de raio no potro ele investiu
Joguei o laço de tirão que os tentos até ringiu
A laçada fez um oito quando nas guampas caiu
O redomão veiaqueava virava de corrupio

Com o boi no chinchador me custou pra por na linha
Queria limpar meu nome também o do Ferreirinha
Terminar aquele trabalho empreitada tão mesquinha
Labutei com o mestiço com o traquejo que eu tinha
Depois de muito trabalho que mostrei a ciência minha

Ao passar uma restinga o potro e o boi levei
Naquele lugar tão triste que morto o rapaz achei
Soluçando de saudade um cruz ali finquei
Com a ponta de minha faca essas palavras eu gravei
Descansa em paz Ferreirinha que a empreitada terminei

Paisagens Do Sertão
Quando eu era morador lá na cidade
Não tinha a tranqüilidade vivia contrariado
Pra me alegrar procurava sempre um jeito
Pois tinha dentro do peito um coração abafado

Ouvi contar os encantos da natureza
As paisagens e as belezas que existe no sertão
Então troquei meu palacete elegante
Por um rancho bem distante na beira do ribeirão

Acordo cedo com o sabiá cantando
A seriema gritando lá no alto da colina
Então levanto vou alegre e satisfeito
Com a camisa aberta ao peito lavar meu rosto na mina

Agora vejo que encontrei o remédio
Que veio curar o tédio que tanto me maltratou
Tirei pra sempre minha gravata seu moço
Pus um lenço no pescoço agora feliz eu sou

Tirei pra sempre minha gravata seu moço
Pus um lenço no pescoço agora feliz eu sou

Canoeiro Do Mar
Canoeiro, tome cuidado canoeiro pra não afundar
Canoeiro, olha o balanço da canoa nas ondas do mar

Espero toda tardinha as ondas que vai e vêm
As ondas voltam sozinhas sem notícias do meu bem
Canoeiro, tome cuidado canoeiro pra não afundar
Canoeiro, olha o balanço da canoa nas ondas do mar

Eu vivo sem esperança na praia da solidão
O mar inteiro balança dentro do meu coração

Canoeiro, tome cuidado canoeiro pra não afundar
Canoeiro, olha o balanço da canoa nas ondas do mar

Minha saudade se espalha nas ondas que o mar levou
Fiquei sozinho na praia meu bem nunca mais voltou

Canoeiro, tome cuidado canoeiro pra não afundar
Canoeiro, olha o balanço da canoa nas ondas do mar

Rainha mãe Iemanjá tem pena da minha dor
Vai até o fundo do mar vai buscar o meu amor

Canoeiro, tome cuidado canoeiro pra não afundar
Canoeiro, olha o balanço da canoa nas ondas do mar

Em Tempo De Avanço
O destino aqui me trouxe cantar pra vocês eu vou
Eu só trouxe coisa boa foi meu sertão quem mandou

No lugar que tem tristeza, eu vou levar alegria
Vou levar sinceridade onde existe hipocrisia
No lugar que tem mentira eu vou levar a verdade
Vou levar amor sincero onde existe falsidade
Quando eu daqui sair vocês vão sentir saudade

A Terra hoje balança vou agüentar o balanço
Quem espera sempre alcança eu espero e não me canso
Cantando a gente avança para depois ter descanso
Cheguei trazendo esperança cantando em tempo de avanço

Vou soltar o inocente não tem culpa quem prendeu
Vou castigar quem matou vou rezar pra quem morreu

Vou defender quem apanha batendo em quem bateu
Vou tomar de quem roubou tirando o que não é seu
Vou jogar com que ganhou vou ganhar pra quem perdeu
E para quem não tem nada vou dar o que Deus me deu
Se eu der tudo que eu tenho não acaba o que é meu

A Terra hoje balança vou agüentar o balanço
Quem espera sempre alcança eu espero e não me canso
Cantando a gente avança para depois ter descanso
Cheguei trazendo esperança cantando em tempo de avanço

A Vida De Um Policial
A vida do policial é bastante arriscada
Não tem dia não tem hora nem noite nem madrugada
Encontra de hora em hora o perigo na emboscada
Ele só encontra espinho não tem flor na sua estrada
Policial não é medroso policial é corajoso
Vê o perigo e dá risada

Aquele que for medroso à policia já não cabe
Pois a porta do perigo não é qualquer um que abre
Mas um policial valente nem que o mundo desabe
Ele entra e vai varando mesmo que a vida se acabe
Policial é positivo ele diz hoje eu estou vivo
Amanhã Deus é quem sabe

Falo bem de quem merece a classe dos policiais
Precisamos dar valor àqueles que bem nos faz
Policiais da minha terra não dão um passo pra traz
Não tem distinção de classe na bravura são iguais
Eu presto a minha homenagem para um homem de coragem
Que merece muito mais

Policial quando solteiro tem sempre uma esperança
No dedo de sua amada colocar uma aliança
Mas se ele for casado também leva na lembrança
O carinho da esposa e o sorriso de criança
Policiais amigos meus pra vocês eu peço a Deus
Muita sorte e segurança

Nossa Senhora Da Guia
Nossa Senhora da Guia padroeira dos navegantes
Mãe de Deus Santa Maria rogai por nós nesse instante
Os que nascem nesse dia os que estão agonizantes
Os cegos da luz do dia e os que estão no mundo errante

Nossa Senhora da Guia por vosso Jesus infante 
Como o pão de cada dia fazei que eu exalte e cante
Do mundo toda poesia a lua e o sol brilhante
Nas pedras a água fria e as lágrimas do semblante

Nossa Senhora da Guia sou um violeiro caminhante
Não deixai minha valentia faça meu braço arrogante
No mundo só te valia quem ama seu semelhante
Dai-me a luz que alumia meus passos atrás e adiante

O Justiceiro
Eu vim de longe de onde a chuva é coisa rara
Onde a gente sofre e cala dia e noite sem parar
Eu sou de um povo que não deixa pra depois
Sou de onde agarra o boi a unha no carrascal

Não tive escola não escrevo sou grosseiro
Mas porém sou brasileiro deste céu azul de anil
Durmo em baixeiro estendido no pedregulho
Mesmo assim eu me orgulho de ser filho do Brasil

Perdi meus pais cresci no mundo sozinho
Andei por muitos caminhos sempre escolhendo o melhor
Passando fome fui vivendo e aprendendo 
Devagar fui compreendendo que a verdade é uma só

Topei com a onça certo dia na cancela
Perseguindo uma vitela cuja mãe tinha morrido
Só sei dizer que a nossa luta foi tão feia
Sangue que manchou areia foi do animal vencido

Como a serpente que ninguém chegava perto
Na tocaia do deserto quatro homens fui topar
Quatro sujeito, quatro cabras indecentes
Tombaram na areia quente sem ter tempo pra rezar

Segui um rastro de um sujeito macumbeiro
Que tinha dez cangaceiros mais veloz do que um puma
Cruzei fronteiras sem temer nenhum fracasso
Na justiça do meus braços desordeiro não se apruma

Você seu moço que só vive na cidade
Não conhece a verdade que se passa no sertão
Aonde o homem faz a lei na pura bala
Onde a gente nem não fala pra não perder a razão

Fui cara a cara peito a peito frente a frente
Vi tombar um inocente nas garras de um valentão
Brigaram tanto por causa do ordenado
Um deles era o empregado e o outro era o patrão

Quem fere a ferro com ele vai ser ferido
Por Deus nada é esquecido liberdade paz e amor
Só a justiça vence no juízo final
Quando tudo for parar na balança do Senhor

Minha Esposa Vale Ouro
Na hora que eu chego em casa oh meu deus quanta beleza
Abraço mulher e filhos a minha maior riqueza
Na hora que eu chego em casa oh meu deus quanta beleza
Abraço mulher e filhos a minha maior riqueza

Minha esposa vale ouro ela sofre e não reclama
Eu não sou um bom marido mesmo assim ela me ama
Coitadinha pula cedo e me traz café na cama
Eu devo à minha esposa minha glória e minha fama

Na hora que eu chego em casa oh meu deus quanta beleza
Abraço mulher e filhos a minha maior riqueza
Na hora que eu chego em casa oh meu deus quanta beleza
Abraço mulher e filhos a minha maior riqueza

Lá em casa todos cantam minha casa não te choro
Foi feliz no casamento, tive sorte no namoro
Minha sogra é uma santa, meu sogro vale um tesouro
Família da minha esposa é gente que vale ouro

Na hora que eu chego em casa oh meu deus quanta beleza
Abraço mulher e filhos a minha maior riqueza
Na hora que eu chego em casa oh meu deus quanta beleza
Abraço mulher e filhos a minha maior riqueza

Minha vida é uma rede o destino me balança
Estou com a vida feita não vou precisar de herança
Comecei a ser feliz desde que pus aliança
A minha maior riqueza minha esposa e as crianças

Na hora que eu chego em casa oh meu deus quanta beleza
Abraço mulher e filhos a minha maior riqueza
Na hora que eu chego em casa oh meu deus quanta beleza
Abraço mulher e filhos a minha maior riqueza

A Viola E O Violeiro
Tem gente que não gosta da classe de violeiro
No braço desta viola defendo os meus companheiros
Pra destruir nossa classe tem que me matar primeiro
Mesmo assim depois de morto ainda eu atrapalho
Morre o homem e fica a fama e minha fama dá trabalho

Todos que nascem no mundo têm seu destino traçado
Uns nascem pra ser engenheiro outros pra ser advogado
Eu nasci pra ser violeiro me sinto bastante honrado
De tanto pontear viola meus dedos estão calejados
Sou um violeiro que canta para os vinte e dois estados

Viva o povo mineiro cantador de recortado
Também viva os gaúcho que no xote e respeitado
Viva o violeiro do norte que só canta improvisado
Goiano e paranaense cantam tudo bem cantado
Viva o chão de Mato Grosso que é o berço do rasqueado

Representando São Paulo este pagode é um recado
As músicas dos estrangeiros quer invadir nosso mercado
Vamos fazer uma guerra cada violeiro é um soldado
Nossa viola é a carabina e o nosso peito é um trem blindado
A viola e o violeiro é que não pode ser derrotado

Músicas do álbum Em Tempo De Avanço (CONTINENTAL 171405605) - (1969)

Nome Compositor Ritmo
A Beleza Do Ponteio Capitão Furtado / Tião Carreiro Pagode
Quatro Horas Léo Canhoto Milonga
Feliz Casamento Tião Carreiro / Luiz De Castro Valsa
Companheiro Do Ferreirinha Pinheirinho / Geraldo Galdino Moda De Viola
Paisagens Do Sertão Luiz De Castro / Pardinho Rasqueado
Canoeiro Do Mar Tonico / Alencar Balanço
Em Tempo De Avanço Lourival Dos Santos / Tião Carreiro Pagode
A Vida De Um Policial Tião Carreiro / Lourival Dos Santos Querumana
Nossa Senhora Da Guia Dr. Alves Lima / Piraci Folia De Reis
O Justiceiro Léo Canhoto Cururu
Minha Esposa Vale Ouro Tião Carreiro / Lourival Dos Santos Arrasta-pé
A Viola E O Violeiro Lourival Dos Santos / Tião Carreiro Pagode
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