Brasil Colosso (RCA-CAMDEN 1060112) - (1980) - Zé Do Rancho e Zé Do Pinho

Brasil Colosso
Eu saí pra conhecer esse meu Brasil colosso
Viajando conheci vários estados
E me deixou encantado o estado de Mato Grosso
Lugar de gente de raça gente de muito valor
Nas terras mato-grossenses reina a paz e o amor

Visitei Minas Gerais que é o berço onde nasci
Eu parti deixando boas amizades 
Já estou sentindo saudade de tudo que vi ali
Os seus rios e cachoeiras de belezas naturais
Do triângulo mineiro não me esqueço jamais

Também fui ao Paraná que é um estado glorioso
Onde aquele que sonha com a riqueza
Luta com toda certeza que será vitorioso
É o estado do café há sempre grande produção
Quem vai lá pro Paraná logo terá o seu quinhão

Não podia esquecer do meu querido Goiás
Das boiadas e campinas verdejantes
A terra que os viajantes quando vê não esquece mais
Lá está nossa Brasília que o mundo inteiro conhece
A bondade dos goianos é coisa que não se esquece

Outras terras visitei hoje digo com certeza
Quem conhecer este Brasil tão grandioso
Vai sentir-se orgulhoso ao ver as suas belezas
Só falei de quatro estados sem nenhuma pretensão
O que o Brasil tem de belo não cabe numa canção

Canoeiro Apaixonado
Eu tenho minha canoa caprichada coisa fina
Pra fazer namoração rio abaixo e rio acima
Eu encosto em qualquer porto quem quer não imagina
Sou manhoso de paixão nos braços de quem me estima

Na praia da barra mansa eu tenho um rancho barreado 
Todos sabem que ali mora canoeiro apaixonado
Lá do porto da saudade as moças mandam recado
Bilhetinho cor-de-rosa lembranças de todo lado

Quando eu solto a canoa eu gosto da brincadeira
Com três ou quatro morenas do lado da corredeira
Dou balanço na canoa só pra ver a tremedeira
A coisa que mais eu gosto é o grito da mineira

E depois que o sol esquenta tô na sombra do ingazeiro 
To perto da rosa branca que tem os olhos morteiros
To no braço da viola o momento é prazenteiro
Cantando minhas toadas relembrando o amor primeiro

Vou remando a minha vida eu nasci pra querer bem
Navegando em rio sereno a canoa vai e vem
Carrego moças bonitas aquelas que me convém
Só não vai a Juliana porque dó de mim não tem

Conselho
Eu não desejo te enganar anjo adorado 
És muito nova está na flor da mocidade
Eu já sou velho e além disso eu sou casado
Na minha casa reina a felicidade

Existem homens que aproveitam essa chance
Eu penso muito e tenho filhas pra criar
Não quero ver no meu lar triste romance
De uma filha amargurada a soluçar

Quero que saibas que isso é uma fraqueza
Está reinando no teu crâneo de criança
Procure um moço que te ame com franqueza
No teu caminho tem um ramo de esperança

Quero que sejas bem feliz em tua vida
Que Deus lhe dê bastante paz e proteção
Olhe onde pisa para não pisar em espinhos
E desconheça a cruel ilusão

Velho Carro
Meu velho carro de boi encostado na varanda
Já está tão esquecido de tão velho já nem anda
Aquele cantar bonito que muita saudade traz
Seus cocões emudeceram e hoje não cantão mais

Meu velho carro de boi como ficou estragado
Os bois carreiros morreram te deixaram abandonado
Naquela estrada deserta aonde à tempo passou 
Ainda ontem estive vendo o seu rasto que ficou

Meu velho carro de boi o tempo lhe envelheceu 
Sua estória é muito triste seu passado é igual ao meu
Sempre foi na minha lida o meu grande companheiro
Que hoje está desprezado neste canto do terreiro

Meu velho carro de boi este mundo é mesmo assim
Alguém que eu tanto queria não se lembra mais de mim
Ao me ver envelhecido me deixou na solidão
São iguais nossos destinos neste mundo de ilusão.

Depois Que A Rosa Mudou
Eu deitei na minha rede, mas o sono não chegou
Pensei no correr da vida e a saudade me apertou
Dei um suspiro alongado meu coração balançou
Já não sou mais quem eu era depois que a Rosa mudou

Fui dar um passeio perto da casa que ela morou
Já não tem mais a roseira no jardim que ela plantou
Antes não tivesse ido nunca mais pra lá eu vou
A casa ficou mais triste depois que a Rosa mudou

Já estou quase descrente desse mundo enganador
Já não tenho mais sossego coração se aquebrantou
Já não toco mais viola já não sou mais trovador
Já perdi toda esperança depois que a Rosa mudou

Não fiz nada pra ninguém pra ser tanto sofredor
Vou acabar com essa tristeza e a saudade que chegou
Vou romper essa barreira que o destino me cercou
Onde a Rosa está morando é pra lá que eu também vou

Desconsolo
Eu vou fazer um ranchinho amarradinho de cipó
Cobertinho de sapé lá eu quero viver só
Onde cantam as arapongas pia triste o chororó
Vou levar minha viola só ela de mim tem dó

Eu quero viver alegre tristeza não quer deixar
Se um dia tenho alegria quatro ou cinco é pra chorar
Eu suspiro noite e dia treze anos sem parar
Vivo no mundo em balanço fora do meu natural

Esta minha triste vida já não tem comparação
Nem no braço da viola não acho consolação
De que serve a saudade pra quem sofre judiação
Se eu vivo neste mundo é porque tenho opinião

Vou embora desta terra da minha sorte eu não sei
Eu só levo sentimento de tudo que já passei
Adeus campinas de flores casinha onde eu morei
Adeus saudade doída coração que tanto amei

De Longe Também Se Ama
Por tudo que um dia fiz a saudade se vingou
Em ti que amor encontrei eu muito pensei e chorei de dor
Da nossa separação uma cicatriz ficou
Se eu não te ver um dia minha alegria se acabou

Linda flora da minha vida já de partida estou daqui
Deixando a todos meus pra nos braços teus outra vez sentir
Quem ama como eu amei e tanto esperou pelo teu amor
Nunca mais esquece porque padece uma grande dor
Quem ama como eu amei e tanto esperou pelo teu amor
Nunca mais esquece porque padece uma grande dor

Duas Moças
Eu não sei mais o que faço neste mundo de ilusão, ai
Duas moças no fracasso por querer meu coração
Uma segue os meus passos só me faz perseguição, ai
Outra vive nos meus braços delirosa de paixão

Uma vive aqui perto outra vive mais distante, ai
Estão de braços abertos me esperando a todo instante
Eu estou mais do que certo que não vamos à diante, ai
São dois corações incertos duas almas delirantes

Elas rezam na igreja implorando uma graça, ai
E seu coração deseja mais depressa vida passa
Não quero que a sorte seja para nós uma ameaça, ai
Pois se hoje uma me beija amanhã outra me abraça

Vou pedir um longo prazo ao pai de cada menina
E quanto mais eu atraso o nosso drama termina
São duas flores no vaso de porcelana da China
Mas não sei com qual me caso eu não sei a minha sina

Saudação Aos Mineiros
O vento que vem dos campos passa por aqui rasteiro
Leva o perfume das rosas dos cravos do meu canteiro
Vai junto com a garça branca despede de mim primeiro
Vai até Minas Gerais dar lembrança pros mineiros

Viajante que vem de longe chega aqui no meu terreiro
Se quiser passar a noite também sou hospitaleiro
Se amanhã continuares ser o mesmo caminheiro
Chegando em Minas Gerais dá lembrança pros mineiros

Meu sabiá cantador que tem o voar ligeiro
Amanhã de madrugada também serás mensageiro
Vai levar minha saudade já no ponto derradeiro
Com teu cantar melodioso dá lembrança pros mineiros

Sou paulista cuidadoso na viola cancioneiro
Eu atendo a quem me chama o meu viver é maneiro
Esta minha saudação tem sentido verdadeiro
É porque sempre gostei do grande povo mineiro

Caboclo Decidido
Eu comprei uma mula ligeira e que tem a marcha leviana
Eu saí de Porto Epitácio e fui descendo a Sorocabana
Pra atender um recado amoroso de uma moreninha lá da Mogiana

Eu já sei por notícia corrida foi no meio dessa semana
Que os parentes da moreninha contra eu vão fazer uma trama
Diz que vão me dar uma surra quebrado de pau com três dias de cama

Essa gente ainda não me conhece onde eu moro e de onde que eu vim
Pois qualquer paixão me diverte já mandei um recado assim
No pedaço de chão que eu brigar nunca mais minha gente não nasce capim

Eu mandei avisar os parentes prevenindo a linda donzela
Eu cheguei na frente da casa e ela estava na janela
Eu subi com o mulão na calçada e sem dizer nada dei um beijo nela

Era coisa que eu esperava os parentes fazer alvoroço
Me fizeram grande tiroteio nessa briga que foi um colosso
O que foi que tanto me valeu foi reserva de bala e de chumbo grosso

E depois desse rolo danado que pra mim só foi um passatempo
Eu agora estou fazendo parte da família dos briguentos
Se não fosse a minha coragem eu não realizava o meu casamento

Azul Cor De Anil
Vai fazer um ano mais ou menos moreninha que eu te conheci
Para mim foi um grande desgosto quando lá do meu bairro eu saí
Tanto tempo que eu não me esqueço dos agrados que eu recebi
Hoje me vejo tão desprezado esperança que tinha agora já perdi
 
Eu entrei no salão de dentro a feição mais bonita que eu vi
Foi de uma morena trigueira mas era família daqui
Eu cantei um versinho pra ela fez um arzinho de ri
Ela me acompanhava eu na sala com os olhos ligeiro que nem lambari
 
Eu achei a morena elegante só por ela saber se vestir
Enfeitada de botão de vidro um vestidinho azul cor de anil
A morena ganhava das flores das flores que dão no mês de abril
Parecia um céu estrelado quando resplandece por todo o Brasil
 
Eu queria ser um cravo-chita para ir morar no seu jardim
Pra sentar pertinho da açucena quando a rosa deixasse de mim
Pra ver flores da minha esperança veja só a distância que eu vim
O amor é só pra quem tem sorte começa de pouco depois não tem fim

A Seca
Quando o roceiro viu a terra esturricada
Da sua roça já cansada seu olhar umedeceu
Com a falta dágua da seca do mês de agosto
Foi tamanho seu desgosto que de tristeza morreu

E no momento que a pobre criatura
Baixava na sepultura por debaixo de uma cruz
Aquela alma nos murmúrios do cipreste
Ia na mansão celeste pra pedir chuva a Jesus

Depois de um pouco que o pobre foi enterrado
Todo céu ficou nublado e de crepe se enlutou 
E veio a chuva pingos dágua cristalina
Como lágrimas divinas de Jesus Nosso Senhor

Depois da chuva quando é noite de luar
Vem o vento a ciciar o milho que floresceu
Até parece que é a alma do roceiro
Rodando pelo carreiro da roça que reviveu

Músicas do álbum Brasil Colosso (RCA-CAMDEN 1060112) - (1980)

Nome Compositor Ritmo
Brasil Colosso Zé Do Rancho / José Russo Polca
Canoeiro Apaixonado Serrinha / Zé Do Rancho Cururu
Conselho Zé Do Rancho / Zé Cocão Guarânia
Velho Carro Zé Do Rancho Cateretê
Depois Que A Rosa Mudou Serrinha Rasqueado
Desconsolo Serrinha / Zé Do Rancho Cateretê
De Longe Também Se Ama Serrinha / Zé Do Rancho Rasqueado
Duas Moças Zé Do Rancho / Zé Cocão Rojão
Saudação Aos Mineiros Serrinha / Zé Do Rancho Cateretê
Caboclo Decidido Serrinha Rasqueado
Azul Cor De Anil Arlindo Santana Rasqueado
A Seca Serrinha / Campos Negreiro / Ado Toada
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