Matando Saudades (RSDISCOS 199004413) - (0000) - Sulino e Carreirinho
A Volta Do Boiadeiro
Por que voltei vocês vão saber agora
Por que voltei se sorrindo eu fui embora
Por que voltei se deixei meu par de esporas
E o meu cavalo esquecido em campo a fora
Voltei trazendo no peito a dor da saudade
E o velho pinho, meu amigo de verdade
Voltei de novo pra cantar lá nas pousadas
As velhas modas com vocês companheirada
Há muito tempo vocês devem estar lembrados
Por um amor eu parti enfeitiçado
Um boiadeiro que jamais foi dominado
Por esta ingrata acabou sendo enganado
Voltei pra pôr minha bota empoeirada
Ouvir o galo anunciando a madrugada
Quero abraçar o meu cachorro campeiro
Ouvir ao longe o berro do pantaneiro
Se estou chorando com franqueza é que lhe digo
Não é por ela ao passado já não ligo
Igual a ave que retorna ao ninho antigo
Choro de alegre por rever os meus amigos
Quem não sentiu o ar puro das campinas
Quem não ouviu um berrante em surdina
Não viu a lua repousado num baixeiro
Não sabe amigos, quanto é bom ser boiadeiro
Não viu a lua repousado num baixeiro
Não sabe amigos, quanto é bom ser boiadeiro
Herói Sem MedalhaÂ
Sou filho do interior do grande estado mineiro
Fui um herói sem medalha na profissão de carreiro
Puxando tora do mato com doze bois pantaneiros
Eu ajudei desbravar nosso sertão brasileiro  Â
Sem vaidade eu confesso do nosso imenso progresso eu fui um dos pioneiros
Â
Veja como o destino muda a vida de um homem
Uma doença malvada minha boiada consome
Só ficou um boi mestiço que chamava lobisomem
Por ser preto igual carvão foi que eu pus esse nome
Em pouco tempo depois eu vendi aquele boi pros filhos não passar fome
Â
Aborrecido com a sorte dali resolvi mudar
E numa cidade grande com a famÃlia fui morar
Por eu ser analfabeto tive que me sujeitar
Trabalhar no matadouro para o pão poder ganhar
Como eu era um homem forte nuqueava gado de corte pros companheiros sangrar
Â
Veja só a nossa vida como muda de repente
Eu que às vezes chorava quando um boi ficava doente
Ali eu era obrigado matar a rês inocente
Mas certo dia o destino me transformou novamente
O boi da cor de carvão pra morrer na minha mão estava na minha frente
Â
Quando eu vi meu boi carreiro não contive a emoção
Meus olhos encheram d’água meu pranto caiu no chão
O boi me reconheceu e lambeu a minha mão
Sem poder salvar a vida do boi de estimação
Pedi a conta e fui embora desisti na mesma hora desta ingrata profissão
Saudade De Araraquara
Eu parti de Araraquara com destino pra Goiás
Quando eu vim de minha terra atravessei Minas Gerais
Eu passei Campinas triste, lagoa dos ananais
Os olhos que lá me viram de certo não me vêem mais
Â
Fiz a minha embarcação lá na estação do Brás
Meu amor me procurava notÃcias pelos jornais
Eu padeço ela padece, padecemos os dois iguais
Quem parte leva saudade pra quem fica é muito mais
Â
Eu olhei para o horizonte avistei certos sinais
Que as estrelas vão correndo deixando raios pra trás
Eu te quis ainda te quero cada vez querendo mais
Os agrados de outro amor para mim não satisfaz
Â
O meu peito é um retiro onde meus suspiro vai
Meu coração é um cuitelo que do seu jardim não sai
Que vive beijando a rosa onde que o sereno cai
Adeus minha rosa branca adeus para nunca mais
Irmão Do Ferreirinha
Na cidade de Pardinho no jornal foi anunciado
Vai haver um grande rodeio e o povo foi convidado
Lá chegou um potro famoso que um peão tinha matado
Pra quem aguentasse seus pulos dez conto tá reservado
Â
Quando eu li essa notÃcia o coração quase parou, ai
Por saber que o Ferreirinha esse potro é quem matou
Perdido pra aqueles campo mais bardoso ainda ficou, ai
Pra mim foi um desafio a notÃcia que chegou
Â
Dez conto é muito dinheiro, mas mais vale a vida minha
Lembrava no acontecido mais coragem ainda eu tinha
Mandarei fazer uma campa com esse dinheiro que vinha
É o derradeiro presente que eu darei ao Ferreirinha
Â
Imaginei a noite inteira resolvi ir pro rodeio
Quando cheguei no povoado o negócio tava feio
O potro tinha jogado mais de seis peões dos arreios
Parecia até o demônio bufando e os olhos vermelhos
Â
Quando vi o redomão já conheci sem demora
Saltei de pelo no bicho com fé em Nossa Senhora
O potro caiu três vezes sangrando na minha espora
Deu o derradeiro pulo no prazo de meia hora
Â
O povo bateram palma com a vitória que era minha
Trouxe o potro no palanque fui buscar o prêmio que eu tinha
Perguntaram o meu nome e do lugar de onde eu vinha
Eu vim lá do Espraiadinho sou irmão do Ferreirinha
Quando A Lua Vem Surgindo
Por que é que a tardezinha o sertão fica mais lindo
Quando o sol avermelhado lá bem longe vai sumindo
O sereno sobre as matas silencioso vem caindo
E a malvada da saudade como dói quando a lua vem surgindo
É mais linda a natureza ver a floresta dormindo
E o cantar dos curiangos parece que estão sorrindo
De quebradas em quebradas vai seu eco repetido
E a malvada da saudade como dói quando a lua vem surgindo
Deixa um risco luminoso a estrela no céu caindo
E o gemer do minuano no telhado vem zunindo
O clarão da lua cheia como uma flor vem se abrindo
E a malvada da saudade como dói quando a lua vem surgindo
A saudade vai comigo pelo mundo me seguindo
Vejo no espelho da noite meu passado refletindo
Como as folhas amarelas do meu peito vem caindoÂ
E a malvada da saudade como dói quando a lua vem surgindo
Duas Rosas
Eu vendi minha boiada, gado de corte, gado leiteiro
Depois de entregar o gado eu dispensei os meu companheiros
Preciso ficar pra trás, vocês podem voltar primeiro
Nessa cidade de Minas eu vou fazer o meu paradeiro
A noite vou num a festa me divertir nesse chão mineiro ai, ai, ai
A noite eu fui na festa vi uma mineira muito mimosa
Menina muito bonita que parecia um botão de rosa
Eu fui conversar com ela, só fui dizendo frase amorosa
Além dela ser bonita era delicada e boa de prosa
Passeando ao lado dela, passei uma noite bem deliciosa ai, ai, ai
O leiloeiro da festa me fez surpresa de dar calor
Pos uma prenda em leilão que parecia não ter valor
Uma rosa perfumada muito bonita na sua cor
A mineira olhava a prenda e suspirava cheia de amor
Eu olhava na mineira do jeito que ela olhava na flor ai, ai, ai
A flor que estava em leilão por todas moça foi cobiçada
Os moços queria a prenda pra presentear as suas namorada
Pra presentear a morena eu entrei firme nessa jogada
Enquanto eu tiver dinheiro ninguém me tira dessa parada
Se for preciso eu gasto todo o dinheiro da minha boiada ai, ai, ai
Rapaziada dava o lance eu respondia sempre dobrado
Mineira batia palma toda feliz ali do meu lado
Rematei a flor pra ela, o que eu gastei foi bem empregado
Mineira ficou com a flor mas eu voltei muito apaixonado
Só não trouxe ela comigo porque eu já sou um homem casado ai, ai, ai
Duas Cartas
Eu recebi uma carta foi meu bem que me escreveuÂ
Abri a carta pra ler a minha coragem não deuÂ
Só pude ler duas linhas, minha vista escureceu
Ao ler a triste notÃcia que meu bem desprezou eu
Daquele dia em diante dobrou o sofrimento meu
Acabou minha alegria meu viver se entristeceu
Mas homem deve ser homem cumprir o destino seu
Dei ela por esquecida e disse o derradeiro adeus
Com esse golpe doÃdo que meu coração sofreu
Imaginei a minha vida que será que aconteceu
Na carta não explicava que plano novo era o seu
Não cumpriu o juramento que a ingrata prometeu
Quando foi um certo dia outra carta apareceu
Na carta vinha dizendo do que fez arrependeu
Eu mandei dizer pra ela que siga o caminho seu
Procure um outro amor que você pra mim morreu
Patriota
Vinte e seis de fevereiro pra servir eu fui chamado
Novecentos e dezenove até hoje eu tô lembrado
Eu segui para São Paulo eu levei meu certificado
Me apresentei no quartel onde eu fui inspecionado
O doutor de lá me disse você vai dá um bom soldado
Segue hoje pra Caçapava seu lugar designado
Doze meses e quinze dias que eu parei em Caçapava
lugar frio e de saúde aquele lugar onde eu tava
Depois de todo esse tempo o governo nos chamava
Para ir prestar serviço que a pátria precisava
Tudo o que eu ia passar o meu coração contava
Tanto como eu padecia eu também me arregalava
De Caçapava pro Rio nós seguimos em contingente
Cento e vinte soldado e muitos cabos competentes
E nos carro de primeira ia o segundo tenente
Por quem fomos comandados uns chorando, outros contente
Uns chorava por patife outros por deixar os parente
Mas quem cair nesse artigo é obrigado a ser valente
Até hoje ainda me lembro o nome do vapor
Que nós fomos conduzidos do Rio à São Salvador
Seiscentos homens e armas fomos tomando o interior
Pra honrar a nossa farda e mostrar nosso valor
Fomos todos equipado pra garantir um doutor
Que no Estado da Bahia queria ser governador
Conheci muitos lugares no navio de passagem
Fui ver coisas que eu não via se não fosse esta viagem
Nós fizemos na Bahia quinze dias de paragem
Muitos lá até chorava vejam que grande bobagem
Quando a pátria nos chama deve ir e ter coragem
Assim como eu também fui e fui feliz na minha viagem
Morena Dos Olhos Pretos
Morena dos olhos pretos linda igual não pode haver
Vós é a mais linda flor que eu cheguei conhecer
Quando meus olhos te viram senti meu corpo tremer
Daquela hora em diante eu senti amor por você
Em ficar te conhecendo pra mim foi grande prazer
Eu gostei dos seus agrados também do seu proceder
Quem me dera se eu pudesse teus carinhos merecer
Eu te amava rosa branca até na hora de morrer
Eu só tenho um sentimento vós sabe a razão porque
Por eu ter que me ausentar pra bem longe de você
Mas deixo meu endereço se acaso vos resolver
Pro amor não tem distância depende a gente querer
Vou deixar uma lembrança pra você não esquecer
A lembrança é estes versos que eu fiz para você
De vós só levo saudade, lembrança de um bem quererÂ
Adeus linda rosa branca se nós nunca mais se ver
A Volta De Corumbá
No sertão do Paraná um amigo me mandou
Uma carta emocionante que o meu coração cortou
Relembrando a triste história que nas matas se passou
Da jovem paranaense que enlouqueceu por amor
Tive dó da Madalena, triste sorte acompanhou
Por causa de um namorado, vejam o quanto ela penou
Ela era moça nova bonita que nem uma flor
Tava noiva pra casar mas a sorte não ajudou
Seu noivo foi muito ingrato foi um grande traidor
Iludiu a pobre moça e depois abandonou
Nesse dia ficou triste com ninguém mais conversou
Em dar fim na sua vida foi o que ela pensou
Chorando sem ter consolo pela mata ela entrou
Um revolver carregado consigo ela levou
Pensando em suicidar mas sua coragem faltou
Quando quis voltar pra trás o seu caminho não achou
Perdida na mata escura seu sofrimento dobrou
Passando fome e se de sua vida se acabou
O cachorro Corumbá, seu amigo defensor
Daquelas fera bravia Madalena ele salvou
Depois que ela morreu pra sua casa ele voltou
Chegando lá no terreiro muito triste ele uivou
Parece que naquele uivado o seu dono ele chamou
E dali voltou pro mato e o povo acompanhou
Bem no pé de uma figueira aonde o Corumbá parou
Encontraram Madalena onde os Ãndio sepultou
Corumbá deu um uivado que o sertão silenciou
Foi um momento tão triste não teve quem não chorou
Pai e mãe de Madalena nunca mais se conformou
Por perder a sua filha que o destino carregou
Teu Nome Tem Sete Letras
Quem tem seu amor distante alegre não pode ser
Ninguém sabe que eu canto somente pra me esquecer
Morena eu deito na cama sonhando eu vejo você
Quando acordo eu fico triste pensando o que hei de fazer
Na distância que separa de você meu bem querer
Â
Teus olhos são verdes claros ilumina o meu viver
Tem o brilho das estrelas na hora do escurecer
Morena cor de canela é a razão do meu sofrer
As ondas do teu cabelo como vento pega a tremer
Como as ondas do oceano aonde eu queria morrer
Â
Morena teu lindo nome que eu não canso de escrever
A sua linda cartinha eu leio e torno a reler
Teu nome tem sete letras cada letra tem um dizer
Sete lágrimas que eu choro sete dias a padecer
É uma semana tão longa quando eu passo sem te ver
Â
Morena eu tenho esperança e o futuro há de dizer
Que ainda vou ser feliz bem juntinho de você
Numa casinha modesta por entre as flores do ipê
Os dias serão mais lindos e a vida tem mais prazer
Nossas almas sempre unidas até na hora de morrer
Encruzilhada Da Vida
Quando um dia meu peito cansado já sem forças parar de cantarÂ
Quando minha viola sem corda pendurada num canto ficarÂ
Nesse tempo você moreninha soluçando talvez lembraráÂ
Dos prazeres que você outrora deixou ir embora, sem aproveitar
É por isso que eu digo, morena neste mundo devemos gozarÂ
Um beijinho não tira pedaço e um abraço não vai machucarÂ
Pois a vida é uma simples fumaça com o vento se apaga no arÂ
Quem não goza sua mocidade vê sem piedade, a velhice chegar
Você é como a pombinha arisca que fugiu e se escondeu no pombalÂ
Venha ouvir minha voz na janela venha ver como é lindo o luarÂ
Como é bela a estrada do mundo onde nós bem podia ir passearÂ
E juntinho a uma fonte chorosa palavra amorosa, eu vou te falar
Quando um dia os teus olhos morena, vir chorando essa vida acabarÂ
E olhando o passado distante do que foi só nos resta lembrarÂ
Esta é a encruzilhada da vida onde todos devemos passarÂ
E talvez nesse fim de caminho nós dois bem velhinhos, vamos se encontrarÂ
Mar Vermelho
Durante o mês de dezembro a chuvarada caiuÂ
E as águas do Rio do Peixe com as enchentes subiu
Quinhentos metros de vargem as águas todas cobriuÂ
Parecia um Mar Vermelho, ai naquele sertão bravio
Frederico Cruz morava do outro lado do rioÂ
Tinha uma menina doente um remédio a mãe pediu
Um camarada da casa aproveitando o estioÂ
Num cavalo de corrida, ai pela estrada ele partiu
Na ida ele teve sorte a chuva não impediuÂ
Quando voltou com os remédios uma capa ele vestiu
No atravessar o rio de novo os galhos submergiuÂ
Cavalo espantou e ele, ai na correnteza caiu.Â
Cavalo nadava muito do outro lado saiuÂ
Chegando em casa molhado com os arreio e coxonilho
A famÃlia vendo aquilo o povo se reuniuÂ
Foram achar no outro dia, ai lá numa curva do rio
Nos galhos o corpo enroscado que a famÃlia descobriuÂ
Os remédios ainda no bolso pra levar e não conseguiu
Deixaram uma cruz fincada naquele lugar sombrioÂ
Todos que soube a noticia, ai não teve quem não sentiu
Missão Cumprida
Eu conheço um cantador que canta, mas não inventa
Também tem compositor que faz e não apresenta
Os fãs que me consideram diz que eu sou, pedra noventa
Porque faço melodia canto com a voz macia
Escrevo minhas poesias e a moringa não esquenta
Esta viola de pinho é a minha ferramenta
Com ela eu ganho dinheiro e o pão que me alimenta
À mais de quarenta anos que viola me sustenta
Com este pinho no peito eu enfrento o preconceito
A inveja o e despeito da violeirada ciumenta
Eu não uso aparelhagem nem guitarra, barulhenta
Como fazem muitas duplas na hora que se apresenta
No lugar que eu estou cantando a plateia fica atenta
Minha modas são pesadas nosso show não desagrada
Só moda selecionada sem piada e sem pimenta
Ao longo desta jornada minha luta foi violenta
As glórias que eu alcancei o povo ainda comenta
O que eu fizer pra frente é lucro logo a gente se aposenta
A missão está cumprida e as finanças garantidas
Vou pela estrada da vida caminhando em marcha lenta
Músicas do álbum Matando Saudades (RSDISCOS 199004413) - (0000)
Nome | Compositor | Ritmo |
---|---|---|
A Volta Do Boiadeiro | Sulino / Teddy Vieira | Toada |
Herói Sem Medalha | Sulino | Moda De Viola |
Saudade De Araraquara | Zé Carreiro / Carreirinho | Cururu |
Irmão Do Ferreirinha | Carreirinho / Teddy Vieira | Moda De Viola |
Quando A Lua Vem Surgindo | Sulino / José Fortuna | Cururu |
Duas Rosas | Sulino / Moacyr Dos Santos | Moda De Viola |
Duas Cartas | Zé Carreiro / Carreirinho | Cateretê |
Patriota | Carreirinho | Moda De Viola |
Morena Dos Olhos Pretos | Sulino / Ado Benatti | Cururu |
A Volta De Corumbá | Sulino | Moda De Viola |
Teu Nome Tem Sete Letras | Zé Carreiro / Zé Fortuna | Cateretê |
Encruzilhada Da Vida | Sulino / José Fortuna | Cateretê |
Mar Vermelho | Carreirinho | Cururu |
Missão Cumprida | Carreirinho / Nhô Chico | Moda De Viola |