Zé Carreiro E Carreirinho (1961) (RCA CAMDEN 5016) - (1961) - Zé Carreiro e Carreirinho

Noturno
Vou contar pro meus amigos que comigo acontece
De um triste apartamento de um grande amor que foi meu
Foi-se embora e me deixou nem satisfação me deu
Foi o golpe mais doído que meu peito recebeu

Eu cheguei na minha casa na hora que escureceu
Encontrei porta fechada o meu coração doeu
Sem saber a triste surpresa que o destino me envolveu
Meus olhos encheram dágua e pelo rosto desceu

Perguntei pro meu vizinho ele então me respondeu
Ontem ela esteve aqui hoje não apareceu
Eu soube que ela foi embora não sei o destino seu
Diz que viram ela embarcar no noturno que desceu

Ninguém sofre por amor como tenho sofrido eu
A mulher que eu mais queria tanto desgosto me deu
Quando saí pro trabalho uniu seus lábios no meu
Sem saber que aquele beijo foi o derradeiro adeus

Ai Amor
Um dia longe de ti é um ano de sofrimento
O suspiro nesse peito sai ligeiro como o vento
Não como e não bebo nada com suspiro me alimento
Sei que não suporto a dor, ai amor

Minha vida transformou com esse amor profundo
Quando estou em seus braços sinto não estar no mundo
Eu passo horas inteiras horas pra mim é segundos
É um paraíso em flor, ai amor

Seus braços é uma cadeia ditado que o povo diz
Em ser o seu prisioneiro assim o destino quis
Se me soltar fico triste se me prende sou feliz
Quero sentir seu calor ai, amor

Esqueça Tua Maria
Eu sei de gente que anda aqui na redondeza
Rindo da minha tristeza do meu triste padecer
Gente que sabe a vida feliz que eu tive
Sabem até onde ela vive e não querem me dizer

Se eu soubesse eu não ía condenar
Só queria perguntar porque foi que ela deixou
Nossa morada onde nós vivia bem 
Talvez por causa de alguém Maria me abandonou

Gente malvada por despeito e por maldade
Pra aumentar mais a saudade e pra mais me ver penar
Passa na rua quando me vê na janela
Me pergunta sempre dela e se ela   vai voltar

Pois essa gente que invejava o meu amor
Pra aumentar mais minha dor vejam o que fizeram um dia
Pois escreveram com carvão na minha porta
Seu amor nunca mais volta esqueça a tua Maria

Adeus Amigos 
Adeus amigos companheiros de seresta
Hoje esta festa é para me despedir
Eu vou deixar desta vida de boêmio
Porque um prêmio na velhice recebi

Me deram um livro, a Escritura Sagrada
Serão a espada para o mal me defender
Este violão aos meus amigos deixarei
Só para o lar de hoje em diante irei viver

Os meus cabelos já estão ficando grisalhos
Como o orvalho caindo sobre a mata
Foi este prêmio que ganhei da boemia
E da orgia e das minhas serenatas

Aos meus amigos aqui deixo o meu abraço
Este meu passo foi o mais certo que eu dei
Se algum dia a ilusão chegar ao fim
Vinde a mim que eu lhe ajudarei

Os meus cabelos já estão ficando grisalhos
Como o orvalho caindo sobre a mata
Foi este prêmio que ganhei da boemia
E da orgia e das minhas serenatas

Aos meus amigos aqui deixo o meu abraço
Este meu passo foi o mais certo que eu dei
Se algum dia a ilusão chegar ao fim
Vinde a mim que eu lhe ajudarei

Peito Sadio 
Foi as quatro horas da manhã meu cachorro de guarda latiu
Levantei para ver o que era e vesti meu casaco de frio
Então vi que chegou um mensageiro amontado num burro tordio
Apeou e me disse bom dia e o bolso da baldrana ele abriu
Uma carta o rapaz me entregou e de novo amontou e na estrada sumiu

Dei a carta pro meu irmão ler ele leu e me olhando sorriu
É convite pra nós ir na festa vai haver um grande desafio
O meu pai já correu no vizinho foi chamar o vovó e o titio
Nós chegamos a pular de contente lá em casa ninguém mais dormiu
Pra quebrar aqueles campeonato nem com sindicato ninguém conseguiu

Violeiro que mandou o convite moram lá no outro lado do rio
Eles pensam que nós não vai lá mas nós somos caboclo de brio
A peteca aqui do nosso lado por enquanto no chão não caiu
Quando nós chegamos no catira os mais fracos na hora sumiu
Só cantamos moda de campeão e os tal que era bom nem se quer reagiu

Perguntei para o dono da festa onde foi que o senhor conseguiu
Esses tal violeiro famoso que as moda de nós engoliu
O festeiro ficou pensativo e mordeu no cigarro e cuspiu
Vocês são dois caboclo batuta quem falou pode crer não mentiu
Teve algum que cantar experimentou mas o peito falhou e a voz não saiu

As violas nós faz de encomenda nosso peito é tratado e sadio
Já cantamos três noites seguidas e as modas nós não repetiu
Quem repete é relógio de igreja e o triste cantar do tiziu
E agora com essa vitória ainda mais nossa fama  subiu
E vocês não devem discutir se viemos aqui foi vocês que pediu

Decisão 
Já casei de esperar por sua decisão
Você não diz que eu sim Mas também diz não
Eu não quero ficar nessa ilusão 
Pois não é brinquedo este meu coração

Se você não me que e só me dizer
Não insistir em você me querer 
Pergunto o porque eu preciso saber 
Eu acho que chega de tanto sofrer

Eu nasci no mundo foi pra lhe querer 
Se tem outro amor o que eu hei de fazer 
Se me desprezar vou desaparecer
Nos braços de outro não quer lhe ver

Oceano Da Vida 
Vejo no espelho o meu rosto envelhecendo qual oceano após a sanha de um tufão
A espuma branca são meus cabelos grisalhos minha calvície é a praia da ilusão
As minhas rugas são as ondas traiçoeiras que se avolumam com os fortes vendavais 
Meus olhos fundos são dois barcos naufragados que sobre as ondas não emergem nunca mais

Meus lábios frios já quase mortos tem sido o porto anos atrás
Onde atracavam lábios ardentes hoje só resta a solidão no cais
Velhos amores para bem longe voaram como gaivotas que se perdem sobre o mar 
A mocidade ficou longe como as rochas onde só as ondas da saudade vão beijar

Vagando eu vou como um navio que perde o rumo não acho cais onde eu consiga me ancorar
É tão pesada a bagagem dos meus anos que está fazendo minha vida naufragar
Meus lábios frios já quase mortos tem sido o porto anos atrás
Onde atracavam lábios ardentes hoje só resta a  solidão no cais

Desiludida
A mulher que me deixou já voltou arrependida
Chorando desesperada e me pedindo guarida
Agora não quero mais esta mulher fingida
Deixou o filho dormindo e a minha alma ferida

Meu filho aqui de joelho vim implorar seu perdão
Eu muito tenho sofrido recebi só ingratidão
Por amor de nosso filho tenha de mim compaixão
Receba-me outra vez este infeliz coração

Tenho pena de meu filho ainda por você chora
Chamando-a dia e noite deixou aqui e foi-se embora
Nunca mais quero lhe ver quero ver daqui pra fora
O que eu já tenho sofrido terás que sofrer agora

Minha mãezinha querida entre pra me abraçar
Perdoe papai perdoe deixe mamãezinha entrar
Entre mãe sem coração venha abraçar seu filhinho
Terá um lar, terá abrigo mas não terá meu carinho

Meu filho abrace sua mãe que há tempo aqui te deixou
Bem debaixo dos cabelos seus bracinhos entrelaçou
E eu vendo esta sena meus olhos se orvalhou 
Por você amado filho minha própria vida eu dou

Sinhá Maria
Nosso Senhor, me perdoa essa descrença magoada
Tinha uma vida tão boa hoje, não eu creio em mais nada
Não canto mais ladainha não faço mais oração
Até a crença que eu tinha fugiu do meu coração

Porque não foste justo, outro dia vindo buscar sinhá Maria a santa do meu altar 
Talvez tu não pensasse em maldade E que mais tarde, a saudade vinha me desesperar

Nosso Senhor, que tristeza quando regresso à tardinha
Debruço e choro na mesa lembrando a vida que eu tinha
Minha choupana vazia com a porta aberta pra trás
Não sabe que Sinhá Maria não volta mais, nunca mais

Perdão, volve para mim teu olhar só tu me podes vingar o que a saudade me fez
Por Deus, escuta Nosso Senhor mandai do céu por favor sinhá Maria, outra vez

Adeus Minha Mocidade
Alembro e tenho saudade do tempo que eu fui rapaz 
Pra gozar como eu gozei eu sei que eu não gozo mais
Eu fui como um beija-flor vivia entre os roseirais
Hoje choro de saudade rosas que eu não beijo mais

Mesmo assim eu sou teimoso puxei pro meu velho pai
Acompanho os companheiros por toda parte que vai
Um fandango de viola é o que ainda me distrai
Conforme o assunto da moda água dos meus olhos caem

Que eu fazia antigamente hoje já não faço mais
Meus cabelos embranqueceram são coisas que a idade traz
Eu comparo a mocidade como a flor que murcha e cai
No galho que foi nascida não se ergue nunca mais

Meus colegas de função hoje já não dançam mais
Eu também já esmoreci nem cantar não sou capaz
A minha infância querida tem anos que fica atrás
Foi um passado risonho que pra mim não volta mais

Espelho Da Vida
Quando eu olho no espelho que desgosto
Vejo meu rosto completamente mudado
Neste momento eu me lembro com saudade 
A mocidade que ficou lá no passado
Também relembro do tempo da boemia
Das noites frias e das minhas lindas canções 
Só resta agora aqui dentro deste peito
Sonhos desfeitos e tristes recordações

A minha vida foi um passado risonho
Parece um sonho que agora fui despertar
Tempos felizes que de mim bem longe vai
Não volta mais eu nem quero recordar
Sinto o cansaço tenho as pernas enfraquecidas
É o fim da vida que já vem se aproximando 
Eu reconheço que já estou ficando velho
Neste caminho para o fim vou caminhando

Peço aos amigos para em que eu morrer
Mande escrever em minha campa um letreiro
Jaz um boêmio no sono da eternidade 
Deixou saudade para os velhos companheiros
Entre as mulheres que eu amei em minha vida
Só uma fingida que feriu meu coração
Espero um dia em minha campa ela chegar
Hás de chorar e implorar o meu perdão

Sertanejo Solitário
Eu moro num campo triste onde o rio faz um remanso
Toda tarde eu penso a vida no terreiro do meu rancho
Olhando lá no banhado jaburú parece ganso
Codorna pia macio e a perdiz pia de avanço, ai

A saudade me aperta desde a hora que eu levanto
Deste pobre coração o suspiro sai de arranco
Quando me aperta nervosa choro mesmo falo franco
Tenho fé de ser feliz tô sofrendo por enquanto,  ai

Quando queima a camparia forma um fumaceiro branco
Onde vem as andorinhas pro verão de canto a canto
Essas andorinhas par das que faz ninho no barranco
Eu divido a flor roxa no brilhar dos pirilampos, ai

O que mais me aborrece é quando floresce os campos
Encosto a velha canoa amarrada no barranco
Fico na porta do rancho sentadinho no meu banco
Passo a mão de vez em quando nestes meus cabelos brancos, ai

Músicas do álbum Zé Carreiro E Carreirinho (1961) (RCA CAMDEN 5016) - (1961)

Nome Compositor Ritmo
Noturno Zé Carreiro / Carreirinho Cateretê
Ai Amor Carreirinho Cururu
Esqueça Tua Maria Raul Torres / João Pacífico Toada
Adeus Amigos Zé Carreiro / Carreirinho Tango
Peito Sadio Raul Torres / Rubens Ferreira Bueno Cururu
Decisão Zé Carreiro / Carreirinho Rancheira
Oceano Da Vida Zé Carreiro / José Fortuna Tango
Desiludida Carreirinho Toada Balanço
Sinhá Maria René Bittencourt Toada
Adeus Minha Mocidade Zé Carreiro Cururu
Espelho Da Vida Zé Carreiro / Carreirinho Tango
Sertanejo Solitário Zé Carreiro / Carreirinho Corta Jaca
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