Cacique E Pajé (1978) (Volume 1) (SERTANEJO 111405210) - (1978) - Cacique e Pajé

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Pela primeira vez, o disco registra duas vozes indígenas surgidas das tribos do Caiapós, da região de Rondonópolis, estado de Mato Grosso. Trata-se de Cacique e Pajé. Cacique foi criado por Francisco Borges de Alvarenga e Joana Geraldina de Oliveira, que adotaram-no dando-lhe o nome de Antônio Borges de Alvarenga, conforme, conforme assentamento feito no registro civil de Junqueira, estado de São Paulo, em 1954, em cujo o documento consta como nascido em 25 de março de 1935, porém, correto é impossível saber. Pajé, seu irmão de sangue, foi criado por Antônio Pereira Paiva e Cecília Verdoot, que lhe deram o nome de Roque Pereira Paiva. Foi registrado na cidade de Bofete, estado de São paulo, dando como data de nascimento 22 de agosto de 1936. Desde pequenos, Cacique e Pajé, conviveram com a música sertaneja, não só na família, mas também participando das festanças que se realizavam nos meios rurais. Aprenderam a tocar viola e violão, respectivamente, e são considerados pelos cultores do catira como dos mais autênticos sapateadores dessa dança folclórica e é um dos pontos altos das sua apresentações ao vivo nos shows que realizam pelo interior a fora. Para melhor identificação das origens de Cacique e Pajé, apresentam-se vestidos com indumentária típica e características típicas da tribo dos Caiapós e fazem questão de frisar que não se trata de nenhuma mistificação, pois, antes de tudo, é uma homenagem que prestam ao índio brasileiro. Com esta descoberta da Chantecler, a música sertaneja ganha uma duplas das mais autênticas dentro do gênero, principalmente pela originalidade das suas vozes, estilos e maneiras de criar o repertório. Apenas para situar a dupla Cacique e Pajé, dentro daquilo que chamamos escola musical, ele lembra o saudoso Zé Carreiro, um verdadeiro mestre que tantos nomes que hoje formam no cenário artístico brasileiro. Agora deixem que a dupla Cacique e Pajé fale através de sua música e de sua arte.

Pescador E Catireiro
Comprei uma mata virgem do coronel Bento Lira
Fiz um rancho de barrote amarrei com cipó cambira
Fiz na beira da lagoa só para pescar traíra
Eu não me incomodo que me chamem de caipira
No lugar que um índio canta muita gente admira

Canoa fiz de paineira, varejão de guaiuvira
Apoita pesa uma arroba, dois remos de sucupira
Se jogo a tarrafa na água sozinho um homem não tira
Capivara é um bicho arisco quando cai na minha mira
Puxo o arco e jogo a flecha lá no barranco revira

Eu sou grande pescador também gosto de catira
Quando eu entro num pagode não tem quem não se admira
No repique da viola contente o povo delira
Se a tristeza está na festa eu chego ela se retira
Bato palma e bato o pé até as moças suspiram

Muita gente não conhece o cantar da corruíra
Nem sabe o gosto que tem a pinga com sucupira
Morando lá na cidade não se come cambuquira
É por isso que eu gosto do sistema do caipira
Pode até ficar de fogo ele não conta mentira

Não Me Fale De Amor
Não venha me pedir perdão, também não me fales de amor
O meu coração não resiste sofrer golpes de dor
Deixe minha vida em paz e saia do meu caminho
Pra viver mal acompanhado eu sofro calado mais vivo sozinho

Não escreva, não mande recado que você anda mais interessa
Já cansei de ouvir suas juras e suas falsas promessas
Se for falta de adeus não precisa olhar parra traz
Apanha a bagagem sua da porta pra rua e não volte mais

Rabicho
Uma moça me pediu três presentes reunidos
Um par de sapatos, par de meia e um vestido
Sapato custou sessenta, par de meias custou deis
O vestido custou trinta lá se foi meu cem mil réis

Passa pra lá, passa pra cá, bem devagarinho
Morena dos olhos pretos dente de ouro miudinho
Que me mata é seus carinhos

Parece um pingo de prata o sereno quando cai
Uma morena bonita do meu sentido não sai
Canta galo em cima do arvoredo
Rabicho é bom é de manhã cedo

Morena nosso namoro tem sentimento profundo
Que treme a terra e balança o mundo
Resvala no coração parece nuvem que dá trovão
Morena bonita é minha paixão

Cigarro de palha é prá povo miúdo
Cigarro de papel é prá povo graúdo
Quem pita no cachimbo logo fica bicudo
E logo entorta a boca de tanto chupar o canudo
Oi de tanto chupar o canudo

Tua Decisão
Subi a rua a cima procurando um jeito
Achando consolo pra este meu peito
Vivo descontente, muito insatisfeito
Curtindo saudade sofrendo despeito
Quem me desatina é esta menina
Da cintura fina e corpo bem feito, ai, ai

Linda moreninha não seja ingrata
Teus olhos bonitos quem me maltrata
Pra te declarar secreto esta carta
Se tu quiseres depressa nós trata
Se for nossa sina e Deus quem determina
Sei que nos combina e a sorte não falta, ai, ai

Eu quero saber tua decisão
Numa carta escrita pelas tuas mãos
Se tu me achares em condição
Eu também agrado com tua feição
Eu te considero, teu jeito é sincero
Por isso eu quero o teu coração, ai, ai

Linda moreninha te faço um favor
Venha ouvir a voz de um pobre cantor
Que vive cantando por ser inventor
Modinhas bonitas desse nosso amor
Por tua afeição eu tenho paixão
No meu coração tão cheio de dor, ai,ai

O Milagre Do Batismo
No estado do Paraná numa cidade pequena
Aconteceu este fato veja que bonita cena
Um casal muito feliz João Ribeiro e dona Helena
Tinha uma filha tão linda olhos verdes bem morena
Era a rainha do lar, quem vinha lhe visitar
Se encantava-se com Iracema

O casal se preparava para a filha batizar
Antes do dia marcado para as festas realizar
Iracema adoeceu foi ao doutor consultar
O Doutor disse aos seus pais vocês precisam se conformar
Sei que a notícia é dura sua filha não tem cura
Só Deus quem pode salvar

Os padrinhos de Iracema logo foram procurados
E saíram pra cidade pra fazer o batizado
Lá na igreja confessaram tudo que tinha passado
Mas o padre respondeu eu estou compromissado
Sou sozinho pra atender só deixando prá vocês
Um outro dia marcado

E o padre foi saindo muito triste comovido
Fazendo uma prece a Deus na hora foi atendido
Apareceu outro padre, porém um desconhecido
Foi quem salvou Iracema daquele mal recebido
Um milagre Deus mandou o padre que batizou
Há tempos tinha morrido

Trocadilho Sertanejo
Pra ser bom peão tem que levar tombo
Quem gosta de espaço não mora em biombo
Por o ovo em pé foi Cristovão Colombo
Escravos fugidos moravam em Quilombo
Do meu semelhante não fala e nem zombo
Pra comer a carne prefiro do lombo

Nas festas que canto elas tem outro brilho
O povo acha graça dos meus trocadilhos
Meus pais sempre falam que sou um bom filho
Um bom sertanejo nunca sai do trilho
Se entro na briga sou bom no gatilho
A cor que mais gosto é cavalo tordilho

O homem ateu não reza só xinga
Pra mim não cantar fizeram mandinga
Tem gente que briga por causa da pinga
Quem vive folgado não perde a moringa
O rei do baralho perde por curinga
O boi quando é brabo mora na restinga

Pra caçar tatu se faz o mondéo
Pra molhar a terra cai chuva do céu
A nossa cabeça não é só pra chapéu
Em qualquer concurso tem que ter troféu
Pra casar na igreja a noiva usa véu
Nas mãos das justiças é o fim do réu

Povo De Goiás
Quando saí de São Paulo deixei rasto para trás
Cortando verdes campinas passei por Minas Gerais
A saudade no meu peito está fazendo demais
Minha gente estou chegando no meu torrão de Goiás

Com carinho e respeito vou dar minhas credenciais
A todo povo goiano que tanto agrado me faz
Um abraço pras goianas com respeito de seus pais
Lugar de moça bonita é no sertão de Goiás

Dentro chão goiano o que mais me satisfaz
São suas paisagens lindas de belezas naturais
Do grande rio Araguaia esquecer não sou capaz
Não posso viver ausente do meu povo de Goiás

Meu Brasil do centro oeste tem cidades principais
Em Goiânia tem escolas e bonitas catedrais
O seu progresso não para e ninguém segura mais
Trago dentro do meu peito o coração de Goiás

Revivendo Mato Grosso
Vou rever o mato Grosso, as mato-grossenses lindas
Pra matar uma saudade que de lá eu sinto ainda
Dos gritos dos boiadeiros no meio dos pantanais
Do cantar da seriema quanta saudade me traz
Oh, Mato Grosso, tu és lindo e tão belo
Representa no Brasil o nosso verde e amarelo

Amigos mato-grossenses que muito tem me ajudado
Vou rever meu Campo Grande capital do novo estado
Aquelas lindas paisagens que se vê todas manhãs
Campo Grande e Cuiabá, duas capitais irmãs
Oh, Mato Grosso, coração deste país
Aceite esta homenagem de um brasileiro feliz

Capital do centro oeste nossa linda Cuiabá
Cidade hospitaleira para todos que vão lá
Esta é minha saudação à todo povo de lá
Capital de Mato Grosso, Campo Grande e Cuiabá
Oh, Mato Grosso, tu és mastro da bandeira
És a ordem e progresso desta terra brasileira

Ciumento
A vontade de chorar que sinto agora
Vai explodir aqui dentro do meu peito
A mulher que eu amo foi embora
Maldita hora que brigamos por despeito

Eu não critico quem no amor tem ciúmes
Sou ciumento meu coração não tem jeito
Se eu souber aonde meu amor está
Vou lhe buscar ter paixão não é defeito

Vou agarrá-la e dar um beijo na boca
E neste beijo sufocar minha paixão
Quero apertá-la fortemente em meus braços
Para prendê-la dentro do meu coração

Vida De Caboclo
Chora viola sentida que eu vou chorar também
Aqui chora uma saudade da ausência de alguém
A viola vai chorando nas dez cordas que ela tem
A vida deste caboclo é viver triste sem ninguém

Seu saí da minha terra mais ou menos faz dois anos
Da minha mamãe querida vivo sempre recordando
Sem saber pra onde eu ia sem destino eu vim andando
Cheguei aqui em São Paulo onde hoje estou morando

Eu deixei na minha terra meus pais e meus irmãos
Amigo, como foi triste a dor da separação
Quantas vezes eu dormindo sonho com o sertão
Acordo assim tão distante como dói o coração

Adeus serras e montanhas adeus casa de meus pais
A minha noiva querida e meu sertão de Goiás
Eu deixei a minha terra porque a sorte é Deus quem faz
Estou morando distante e não sei se volto mais

Rapaz De Gosto
Eu inventei esta moda pra cantar em qualquer função
Onde tem moça bonita delicada de feição
Eu repico a viola prá dar mais inspiração
Sinto dentro do peito com mais sensação
Batendo depressa o meu coração
Nas festas que eu canto é uma tentação
As moças discutem por minha razão
Sempre fui rapaz de gosto, oi morena, cheio de satisfação.

A gente quando é violeiro sempre leva uma vidona
Em todas festas que vai as moças sempre se apaixona
Mais o que eu gosto mesmo essas coroas choronas
Dos cabelos curtos que é mais cafona
Sou muito jeitoso já convenço a dona 
Dou uma de pobre e a velha me abona
Com meu gabarito eu sento na poltrona
Sempre fui rapaz de gosto, oi morena, pra morena solteirona

Onde tem mulher bonita, pode ver que estou no meio
Cantando modas de viola e fazendo saracoteios
A moçada me aplaude na sala que sapateio
Sou muito cortês no meu galanteio
As modas que eu canto eu sempre floreio
No braço da viola cantando eu ponteio
Meu compasso é firme eu não perco o galeio
Sempre fui rapaz de gosto, oi morena não gosto de fazer feio

Sempre gostei de viola que não seja mentirosa
Meus dedo sempre percebe quando ela esta manhosa
As cordas ficam macias igual mulher carinhosa
A voz do meu peito sai mais caprichosa
Com muita cadência bem harmoniosa
No meio da sala, não se ouve prosa
Só sinto perfume de flores cheirosas
Sempre fui rapaz de gosto, oi morena Minha vida é cor de rosa

O grã-fino E O Boiadeiro
Quase caiu na armadilha  boiadeiro de palavra
Porque o pai da ricaça uma surra lhe jurava
Certo dia distraído passeando pela praça
Entrou no bar do grã-finos pra tomar uma cachaça

Nesse dia o diabo entrou na casa da reza
Mas quando o homem não deve sua consciência não pesa
Ali estava o grã-fino em uma mesa sentado
Quando viu o boiadeiro caminhou para o seu lado

Foi dizendo para o moço hoje chegou o seu dia
Agora a história termina do jeito que eu queria
Batendo a mão na cintura arrancou um para-belo
O grã-fino e o boiadeiro ali tiveram um duelo

O cidadão nessa hora veio encontrar a derrota
Numa laçada de reio chegou a virar cambota
Boiadeiro de palavra foi cortando ele na guasca
Cada lambada que dava do couro tirava lasca

O grã-fino derrotado que nem galo sem puleiro
Era o pai da ricaça que casou com boiadeiro
Ela quis fazer bonito, mas o caso ficou feio
Além da filha careca o velho dançou no reio

Músicas do álbum Cacique E Pajé (1978) (Volume 1) (SERTANEJO 111405210) - (1978)

Nome Compositor Ritmo
Pescador E Catireiro Cacique / Carreirinho Corta Jaca
Não Me Fale De Amor Tião Do Carro Rancheira
Rabicho Cacique Chibata
Tua Decisão Cacique / Valter O. Dos Santos Lundu
O Milagre Do Batismo Cacique / Tião Do Carro Moda De Viola
Trocadilho Sertanejo Cacique / Antonio C. De Santana Chibata
Povo De Goiás Cacique Rojão
Revivendo Mato Grosso Cacique / Tonico Rasqueado
Ciumento Tião Do Carro / Roberto Nunes Rojão
Vida De Caboclo Zé Carreiro / Pedrão Cururu
Rapaz De Gosto Cacique / Pajé Moda De Viola
O grã-fino E O Boiadeiro Tião Do Carro Cururu
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