Sertanejo Sem Mistura (GGLP 016) - (1981) - Dino Franco e Mouraí

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Três Namoradas
Eu tive três namoradas em minha vida
A primeira foi Rosana com cinco aninhos
Eu tinha a idade dela e imaginava
Que a vida fosse apenas um brinquedinho

Um dia ela foi embora e eu fiquei chorando
O primeiro desengano eu senti bem cedo
Na inocência de criança não compreendi
Por que a vida quebrou o nosso brinquedo

A segunda namorada durou bem menos
Eu tinha quatorze anos e ela também
Me lembro quanto sofremos na despedida
Por entender os espinhos que a vida tem

Eu sabia que ao perder um amor na vida
É bem difícil um dia recuperar
E só a encontrei de novo nos braços de outro 
Quando ela entrava na igreja para se casar

A terceira eu já tinha meus vinte anos
Que essa Deus a levou para nunca mais
Foi este o golpe maior que tive na vida
Por morarmos em dois mundos tão desiguais

A primeira posso um dia encontrar ainda
A segunda pode um dia se divorciar
A terceira nunca mais eu verei por que 
Lá no céu não há caminho para regressar

Mestiça Da Fronteira
Morena mestiça linda fronteiriça de lábios ardentes da cor de romã
Olhos sedutores tão cheio de amores você ilumina e beija a manhã
Luz aqui agita as noites de cio aqui no Brasil e no Paraguai
Vento de saudade que minh'alma invade tu seques pra longe sem voltar jamais
Deixo a fronteira triste amargurado vou pra outro lado pra Ponta Porá
E dali eu sigo para bem distante e você por certo fica em Pedro Juan

Lírio que espera sempre a primavera pra sair do lodo em lindo botão
Com o seu perfume enche de ciúme um pobre poeta e seu coração
Como eu te quis mariposa triste no meu peito existe uma lembrança atroz
Ouço a seriema seu cantar consiste em fazer lembrar sempre sua voz
Deixo a fronteira triste amargurado vou pra outro lado pra Ponta Porá
E dali eu sigo para bem distante e você por certo fica em Pedro Juan

Cara Ou Coroa
O cara é um mocinho muito esperto o coroa tem grana pra chuchu
O cara é um cara muito pobre o coroa é o bom do Paissandu

Mariazinha está muito confusa e sendo empregada muito boa
É preciso que escolha um dos dois mas não sabe se é o cara ou o coroa

Um dia ela sai com o coroa no seu carro possante e luxuoso
O cara fica todo enciumado coitado quase morre de invejoso
O coroa nada sabe sobre o cara que Mariazinha vive amando por tabela
O cara é que lucra escondido com as coisas que o coroa dá pra ela

Um dia o coroa deu de cara com o cara beijando a menina
O cara ficou com a cara no chão e se mandou logo na primeira esquina
Mariazinha ficou sem nenhum dos dois e foi chorar no ombro da patroa
A sorte pra ela não funcionou porque não deu nem cara nem coroa

Arrependimento
Eu fui injusto estou arrependido agora eu choro sem consolação
E por castigo já tenho sofrido por deus te peço tenha compaixão
Deste boêmio que mendiga ao menos destes teus olhos um olhar de dor
Sei que preciso desta tua esmola tenha piedade deste sofredor
O que vale a vida sem amor o que vale viver sem amar 
Eu te amo, te adoro e te estimo vem querida aliviar meu penar

Sei que com outro tu vives a vida, vida melhor eu já te posso dar
Tenho receio penso que não tens a felicidade dentro do teu lar
Se for verdade isto que eu receio talvez um dia te possa ajudar
Lembre querida que tens um amigo que te amou e continua a te amar

Cicatrizas Da Alma
Recordo com tristeza a minha terra um amor fingido que não mais vi
Deixei ela chorando de sentimento por um desprezo que recebi
Aqui muito distante da minha mãezinha
Eu relembro as frases que ela dizia

Meu filho querido por favor não vá
O amor é isso na vida da gente
Deixa cicatrizes e dores pungentes
Mas por isso um homem não deve chorar

Só voltarei um dia à minha terra depois de haver convencido a dor
E levarei meu riso em vez de pranto meu canto alegre àquele amor
Aqui muito distante da minha mãezinha
Eu relembro as frases que ela dizia

Meu filho querido por favor não vá
O amor é isso na vida da gente
Deixa cicatrizes e dores pungentes
Mas por isso um homem não deve chorar

Sertanejo Sem Mistura
Sou caboclo sertanejo nasci pra viver na roça
Eu gosto do meu sertão de toda coisa que é nossa
O meu cavalo alazão, a minha velha palhoça
Não vou viver na cidade não é questão que eu não possa ai, ai

Com a vida da cidade franqueza não acostumo
Gosto de tá na fartura que sobra é do meu consumo
Um paiol cheio de milho umas trinta arroubas de fumo
Num ano que corre bem numa colheita eu aprumo ai, ai

Caboclo trabalhador miséria ele nunca passa
Tenho minha cartucheira perdigueiro bom de caça
Eu pego meus aviamentos sumo pra aquela quiçaça 
Codorna levanta voo faço deitar na fumaça ai, ai

Como frango todo dia, um no almoço outro na janta
Levanto de madrugada na hora que o galo canta
Trato meus porcos de seva que de gordo nem levanta
Dou um abraço na cabocla e vou cuidar de minhas planta, ai, ai

Eu só visito a cidade umas duas vezes por mês
Assim mesmo eu paro pouco na venda que sou freguês 
Ali eu bebo umas pingas converso com o Português
Compro do que necessito e volto pro rancho outra vez ai, ai

Avança Matungo, Avança
Eu levo a vida cantando tocando minha boiada
Mas não me deixo prender pelos amores da estrada
Tenho meu cavalo baio matungo de boa era
Ele me leva aos braços de quem chorando me espera

Avança matungo, avança jogue a poeira no ramo
Hoje eu quero dormir nos braços de quem eu amo
Avança matungo, avança jogue a poeira no ramo
Hoje eu quero dormir nos braços de quem eu amo

Tenho além de um revólver um cão valente e amigo
Em cada tombo da estrada ele está sempre comigo
Depois de entregar o gado quero rever minha terra
Porque meu bem me espera lá na porteira da serra

Avança matungo, avança jogue a poeira no ramo
Hoje eu quero dormir nos braços de quem eu amo
Avança matungo, avança jogue a poeira no ramo
Hoje eu quero dormir nos braços de quem eu amo

Dois Amantes
O nosso caso de amor é um caso sem solução
Não queiras viver comigo ouvindo seu coração
Dizem que dois amantes às vezes não se dão bem
Jamais seremos felizes tirando a vida de alguém

Não se desesperes nem me queiras tanto
Faça como eu faço que será melhor
O sonho que alimentamos talvez não dure
O erro que praticamos é bem pior

Viagem Ao Meu Passado
Eu fui fazer um passeio no meu mundo de poesia
E divisei meu passado do jeito que pretendia
Em meu cavalo pedreis, a minha besta ruzia
Meu velho carro de boi rodeando a cercania
Meu avô cantando firme na sua viola macia
Batendo o pé num catira até no romper do dia

Eu vi a porteira grande que no balanço ringia
Toda vez que alguém chegava, toda vez que eu saía
O caminho da moenda era o mesmo que eu fazia
Quando pra escola mista bem cedo me dirigia
Avistei toda a baixada minha roça que crescia
Muito milho foi plantado meu pai de tudo colhia

O ribeirão Santa Helena do mesmo jeito corria
Quantas vezes de anzol eu fiz boa pescaria
E no pasto verdejante meu gado todo mugia
Ainda encontrei pedaços da cerca de alvenaria
As batidas do monjolo só o eco respondia
Vi balaios de farinha que a minha mãe fazia

É lá por detrás da serra o lugar que eu vivia
Hoje só resta os sinais da casinha que existia
A saudade desse tempo me persegue me judia
Recordo as chuvas de pedra quando o céu se escurecia
Seu moço, este cenário o senhor desconhecia
Meu pontão mal-assombrado, minha velha moradia

Pioneiro Do Sertão 
Seu moço preste atenção procure me compreender
Bem certinho vou dizer se o senhor me permitir
Este imenso progresso que cobre o Brasil de glória
Analisando a história eu ajudei construir
Hoje os meios de transportes são por vias asfaltadas
Mas as primeiras picadas fui eu que ajudei abrir

Com o meu carro de boi arroxo de couro cru
Cambito de guatambu vueiro de cambuí
Cortava terras barrentas na ferragen dos rodeios
Nos ringir dos tamboeiros nos estalos dos canzis
Carregado de cereais eu seguia passo à passo
Caprichava no chumaço pros cocões poder zunir

A força do meu destino me deu esta sorte amarga
Deitei debaixo de carga ouvindo chuva cair
Sem lamentar minha vida depois que a chuva passava
De novo continuava minha jornada seguir
Com fé na Virgem Maria que meus passos abençoava
E sempre me acompanhava quando eu ia partir

A cantiga do meu carro na distante caminhada
Pra sempre ficou gravada na minha imaginação
Meu velho carro de boi que tanto gosto me deu
Carunchou e apodreceu lá no fundo do galpão
Onde eu for enterrado quero que deixe um letreiro
Descansa aqui um carreiro pioneiro do sertão 

Berrante Pantaneiro
Este berrante feito de um chifre de boi
Outrora foi instrumento de trabalho 
Era com ele que eu chamava a boiada
Quando viajava na estrada ou atalho 
Este berrante hoje está silenciado 
O seu passado já ficou muito distante 
Não mais se vê boiadeiro na estrada 
E a boiada não precisa de berrante 

Este berrante hoje belo e esquecido 
Foi preferido do companheiro Prudêncio 
Não mais se ouve seus repiques na invernada 
E a boiada chora seu triste silêncio 
Tal qual a ele vou vivendo na tristeza 
Minhas proezas já não tem nenhum valor 
Nada mais somos que as cinzas do passado 
Estou magoado sem carinho e sem amor 

Quando eu morrer quero levá-lo comigo 
Em meu jazigo caberá ele também 
Entre lembranças para sempre viveremos 
Não mais seremos humilhados por ninguém 
Berrante amigo, chifre de boi pantaneiro 
Seu companheiro também não tem profissão 
Iremos juntos pra derradeira morada 
Chamar boiada no céu do Eterno Patrão

Pescaria No Mogi Guaçu
Fui fazer uma pescaria lá no rio mogi guaçú
Fiquei no rancho do Dida caboclo bom pra chuchu
Eu levei anzol de vara pra pegar piabauçú
O Xô preparou um cóvo só de taquara bambu

O Chicão encheu a cara com o Cridão Barbaçú
E foram fazer a janta saiu tudo meio cru
O Neto tava com fome foi aquele sururu
Sei dizer que nós não vimos nem o cheiro do tatu

Perguntei pro Zé Cardoso se ali dava nhambu
Ele disse não é sempre mas às vezes canta um jacu
Então já me deu vontade de matar esse jaburu
Mas o nosso tira-gosto foi rolinha com angu

Eu fisguei um peixe grande bem maior que um jaú
Ele arrebentou o anzol da linhada do Dudu
Peguemos de promombó muito lambari tambiú
Pescaria igual a essa é só no mogi guaçú

Músicas do álbum Sertanejo Sem Mistura (GGLP 016) - (1981)

Nome Compositor Ritmo
Três Namoradas Dino Franco / José Fortuna Rancheira
Mestiça Da Fronteira Dino Franco / Oswaldo De Andrade Rasqueado
Cara Ou Coroa Dino Franco / Cid Ribeiro Corrido
Arrependimento Raul Torres Guarânia
Cicatrizas Da Alma Dino Franco / Siqueira Martins Rancheira
Sertanejo Sem Mistura Dino Franco / Nhô Neco Cururu
Avança Matungo, Avança Zé Venâncio / Dino Franco Toada Balanço
Dois Amantes Vicente P. Machado / Dino Franco Guarânia
Viagem Ao Meu Passado Dino Franco / Tenente Walderley Cururu
Pioneiro Do Sertão Luiz De Castro / José David Vieira Rojão
Berrante Pantaneiro Dino Franco / Hilde Moreira Toada
Pescaria No Mogi Guaçu Dino Franco / Caetano Garrido Cururu
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