O Ipê Florido (GTLP 1053) - (1983) - Liu e Léu

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O Ipê E O Prisioneiro
Quando ha muitos anos fui aprisionado nesta cela fria 
Do segundo andar da penitenciara lá na rua eu via 
Quando um jardineiro plantava um ipê e ao correr dos dias 
Ele foi crescendo e ganhando vida enquanto eu sofria 

Meu ipê florido junto a minha cela
Hoje tem altura de minha janela 
Só uma diferença há entre nos agora 
Aqui dentro as noites não tem mais aurora 
Quanta claridade tem você lá fora

Vejo em seu tronco cipó-parasita te abraçando forte 
Enquanto te abraça, suga tua seiva te levando a morte 
Assim foi comigo, ela me abraçava e depois me traía 
Por isso a matei e agora só tenho sua companhia 

Meu ipê florido junto a minha cela
Hoje tem altura de minha janela 
Só uma diferença há entre nos agora 
Aqui dentro as noites não tem mais aurora 
Quanta claridade tem você lá fora

Preciso De Alguém
Preciso dar um jeito na minha vida
E dar um fim nas minhas noites mal dormidas
Mas para isso eu preciso de alguém
Esse alguém tem que ser quem eu amo
Tem que ser quem me ama também
Ai, ai, se não há verão sem calor
Se não há inverno sem frio
Também não posso viver sem amor

A minha intenção ninguém imagina
Vou dar um jeito nesta ânsia que não termina
A vida que eu sonhei não foi assim
Na sombra da noite ao raiar do sol
Quero meu bem juntinho de mim
Ai, ai, se não há verão sem calor
Se não há inverno sem frio
Também não posso viver sem amor

Ninguém sabe ainda quem eu estou amando
Mas é por um grande amor que eu estou lutando
Pra quem me ama tenho muito amor pra dar
Meu Deus eu não vejo a hora desse bendito dia chegar
Ai, ai, se não há verão sem calor
Se não há inverno sem frio
Também não posso viver sem amor

Porta
Porta, que fechou pra assistir dentro deste meu quarto um amor tão bonito nascer
Porta, que fechou tantas vezes depois assistindo esse amor tão bonito crescer
Porta, que fechou para ver duas vidas se unirem com tanta emoção 
Porta, que fechou pra esconder dos olhos do mundo 
Esse amor tão bonito e profundo, a vida e a morte do meu coração

Porta, por que foi abrir quando uma tristeza estava rondando lá fora 
Porta, por que foi abrir e deixar minha felicidade pra sempre ir embora 
Porta, por que foi abrir e deixar acontecer o que aconteceu
Porta, que me lembra de tudo e arrepia meu corpo, 
Meu coração por fora está morto, mas por dentro ainda este amor não morreu

Cocho De Cabriúva
Igual um cocho de Cabriúva hoje é meu corpo, 
Que na floresta da mocidade foi derrubado
O boiadeiro meu coração, no curral do peito 
Batendo vai no compasso lento chamando o gado

E o gado manso dos longos anos que se alimentam 
Do sal da vida dentro do cocho esparramado
Porteira aberta onde o sol entra iluminando, 
Eu que fui mata e a mão do tempo me pois deitado

Eu sou o cocho por Deus lavrado, pelas campinas do meu destino abandonado
Eu sou o cocho por Deus lavrado, pelas campinas do meu destino abandonado

Dentro do velho cocho puído está meu tempo, 
Cheio de ciscos que pelo vento são arrastados
A capoeira de minha infância foi o seu berço 
E o dia-a-dia cortando fundo foi o machado

Cocho sem vida, vida sem ida, ida sem volta, 
Apodrecendo por longos frios pingos de chuva
Também meu pranto vai diluindo meu ser cansado 
No chão do mundo, igual um cocho de cabriúva

Eu sou o cocho por Deus lavrado, pelas campinas do meu destino abandonado
Eu sou o cocho por Deus lavrado, pelas campinas do meu destino abandonado

Senhora Da Penha
Quem conheceu meu passado se sente pasmado ao me ver passar
Porque passo ao lado de alguém que se sacrificou pra me regenerar
Meu viver foi transformado, não bebo, não fumo nem vivo jogando
Graças a Nossa Senhora da Penha eu levo a vida cantando

Foi a santa milagrosa que atendeu ao pedido que eu fiz
Minha fé religiosa me faz crer que agora sou feliz
Hoje vivo do trabalho, meu baralho joguei fora
E aos domingos vou a Penha levar flores pra Nossa Senhora

A Caminho Do Céu
De Monte Santo a Mococa, Totoca foi pioneiro
Transportou carga pesada quase oitenta janeiros
Foi candeeiro em menino depois de moço carreiro
E no frio da madrugada o carro cantava na estrada no seu eterno roteiro

Depois de carreiro feito muda a voz com arrogância
Nove juntas aparelhadas amestrou desde criança
Ao chamar enchia o peito porque tinha confiança
Sua boiada de grito vem na fumaça do pito pastar na sua lembrança

O boi de guia Maiado, desempenhava o papel
Filho da vaca Bandeira que tinha como troféu
Agora as forças minguando já não vai de deu em deu
No seu rangido chorando vai o meu carro cantando por entre as nuvens do céu

Tardes Morenas De Mato Grosso
Com a rainha do meu destino fui conhecer o jardim de Alá
Onde nas cores da madrugada ainda canta um sabiá
Tardes morenas de Mato Grosso a paz do mundo achei por lá
Árvores lindas e bem cuidadas soltando flores amareladas sobre as calçadas de Cuiabá

Domingo triste da despedida chora a viola lá do Crispim
Deixei o Mato Grosso querido, mas pela deusa chorando eu vim
Eu fiz pra ela um simples verso, o universo sorriu pra mim
Minha viola brilhou nos campos devido aos bandos de pirilampos dos verdes campos lá de Coxim

A nova aurora tão radiosa aconteceu e seguia além
Em Campo Grande passei pensando, porque será que quero outro alguém
Mas um amor assim repentino às vezes vale por mais de cem
Tratei de modo tão caprichoso aquele lindo rosto charmoso, olhar manhoso de quem quer bem

Adeus rainha mato-grossense, não sei se foi meu bem ou meu mal
Só sei que nunca em minha vida eu conheci outro amor igual
Adeus gatinha tão carinhosa, estátua viva escultural
Adeus menina de fala franca, que tem a graça, beleza e panca da garça branca do pantanal

Cabo Mesquita
O bravo cabo Mesquita patrulheiro rodoviário
Velava por vida alheia no seu trabalho diário
Somente a sua família dedicava o seu salário
Muito honesto e competente, era esse o comentário
Só punia o infrator quando era necessário

Em um comando na pista, proteção à sociedade
Foi surgindo um caminhão em alta velocidade
O seu sinal de parada o motorista invade
Vou atrás disse mesquita, se reagir tranco nas grades
Por ultrapassar oitenta e desrespeito a autoridade

Foi entrando na cidade lhe seguindo o policial
O motorista parou na porta do hospital
Socorra doutor depressa, este é um caso fatal
Um menino atropelado ta passando muito mal
Socorri ele na estrada e o autor não sei do tal

Quando o doutor no momento acabou de receber
Foi voltando o motorista com o guarda se entender
Sobre a minha imprudência não é preciso dizer
Aqui está meus documentos, veja lá o que vai fazer
Eu não podia deixar uma criança morrer

O Mesquita foi dizendo sentindo grande emoção
Aqui dentro desta farda também tem um coração
Nada vai lhe acontecer, siga em frente meu irmão
Por você estar cumprindo o dever de um cidadão 
O teu gesto de nobreza foi maior que a infração

Colheita De Dor
Lavrei a terra, derramei o meu suor e no roçado semeei o grão melhor
Veja seu moço minha triste situação, bateu a praga e eu perdi a plantação
O drama que eu ouvi tão comovido é muito conhecido de quem é lavrador
A terra muitas vezes caprichosa é a mulher formosa que nega o seu amor
E todo drama igual que eu escuto em que a terra nega o fruto que se planta com amor
Eu acho a minha história parecida, também na minha vida a colheita foi de dor

O drama que eu ouvi tão comovido é muito conhecido de quem é lavrador
A terra muitas vezes caprichosa é a mulher formosa que nega o seu amor
E todo trama igual que eu escuto em que a terra nega o fruto que se planta com amor
Eu acho minha história parecida, também na minha vida a colheita foi de dor

Casinha Tosca
Aquela casinha tosca lá da colina, coberta de sentimento e cheirando a flor
Não tem nenhuma pintura, só tem saudade e todos sabem que a saudade não tem cor
Seu teto já abrigou dois apaixonados, morava a felicidade em seu interior
Agora só tem tristeza por todo lado e nas paredes perdidas frases de amor

Casinha tosca quando me lembro do meu passado, 
Chego juntinho e choro abraçado nesta saudade que não tem fim
E quando chove sento no chão e fico te olhando, 
O teu telhado também chorando a dor que mora dentro de mim

Vinte E Cinco De Dezembro
Vinte e cinco de dezembro, nessa data de alegria
Recordamos com saudade outros tempos nesse dia
Que papai e a mamãe a família reunia 
Pra cantar e fazer festa na mais perfeita harmonia, 
Em louvor ao nascimento daquele menino bento que nasceu na estrebaria

Meus irmãos eram mocinhos, nós ainda bem criança
Mas ainda recordamos aquelas lindas festanças
Em todos os fins de semana tinha reza e tinha dança
A nossa velha Congonha não apaga da lembrança
A mamãe a Dona Rosa ai, como sempre carinhosa, a nossa doce esperança

Hoje estive analisando como esta tão diferente
O papai já não existe, nos deixou infelizmente
Os irmãos também mudaram pra lugares diferentes
Não podemos reunir como era antigamente
A eles escrevo esta ai, desejando boas festa, aceite o nosso presente

Com o coração ao alto ouvindo a voz do vento
Falando em nossa memória nesse importante instrumento
Sentimos estar juntinhos através do pensamento
Pessoalmente bem distante, relembrando os bons momentos
Alguns trechos do passado ai, que não foi do nosso agrado passamos pro esquecimento

Aos amigos bem distantes, nossos fãs de tradição
Enviamos um abraço e um aperto de mão
As cunhadas e sobrinhos que temos adoração
Desejamos boas festas do fundo do coração
Terminamos com abraço ai, um pedido a Deus eu faço, mande benção aos meus irmãos

O Juiz E O Réu
Há muitos séculos passados a pena de morte estava em ação
Há quem fosse decretado só existia uma apelação
Que pagasse o seu tributo, uma taxa de infração
Somente tinha alcance pessoas de posição
Foi enquadrado no artigo um pobre da região
Por um roubo praticado por fraqueza de noção
Com o juiz da comarca não havia proteção

Sobre a maior audiência o seu jurado na ocasião
O réu estava arrasado diante a forte acusação
Confirmando disse o juiz, conforme a lei da nação
Senhores membros do júri, assistente, atenção
Este réu que aqui se encontra a minha disposição
Permanece por instante sobre uma opção
Caso não pague o tributo morrerá no paredão

Tenho profundo respeito pela vida de um cristão
Que por se tratar de vida vou abrir uma exceção
Em pagar o seu tributo o réu não tem condição
Ele depende de ajuda de pessoas que aqui estão
Isso não é uma ordem, é uma simples sugestão
Foi dizendo um dos presentes demonstrando compaixão
Após o fuzilamento eu lhe darei o caixão

Aquele juiz no trabalho não dava demonstração
Que estava atravessando por difícil situação
Pois o réu a quem julgava estimava como irmão
Então consigo dizia na sua imaginação
Vou perder neste jurado um dedo de minha mão
Junto irá o meu anel, renuncio a profissão
Pensando nas leis Divinas teve esta conclusão

O juiz tirou sua toga e foi usando essa expressão
Eu agora me coloco como um simples cidadão
Deu as moedas ao réu e abraçou com emoção
Vim devolver sua vida, fora da minha função
Um dia serei o réu ao juiz da salvação
Ele é quem nos deu a vida e poderá nos dar o perdão
Lembrei de Cristo na cruz que enviou ao céu um ladrão

Msicas do lbum O Ipê Florido (GTLP 1053) - (1983)

Nome Compositor Ritmo
O Ipê E O Prisioneiro José Fortuna / Paraíso Guarânia
Preciso De Alguém Paraíso Rasqueado
Porta Paraíso Valsa
Cocho De Cabriúva José Fortuna / Paraíso Toada
Senhora Da Penha Francisco Ávila Valsa
A Caminho Do Céu Dr Alves De Lima / Liu Toada Balanço
Tardes Morenas De Mato Grosso Goiá / Valderi Rasqueado
Cabo Mesquita Geraldinho / Rogério Dantas Cururú
Colheita De Dor Zancopé Simões / Paulo Gaúcho Toada
Casinha Tosca Leonardo Rasqueado
Vinte E Cinco De Dezembro Joaquim Moreira / Liu Moda De Viola
O Juiz E O Réu Geraldinho / Léu Moda De Viola
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