Sementinha (GTLLP 1008) - (1980) - Liu e Léu

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O Baiano E O Boiadeiro
No estado da Bahia este fato é verdadeiro
De volta pra sua terra vinha vindo um boiadeiro
Quase morrendo de fome mesmo trazendo dinheiro
Ainda estava distante do seu estadão mineiro
Na casinha de um baiano o boiadeiro foi chegando bateu palma no terreiro

O baiano atendeu mandou o peão descer
Filharada do baiano saíram pra conhecer
Tinha uma filha moça mais linda que a flor do ipê
Aquela beleza pura dava gosto a gente ver
Rebatendo o pó da estrada o peão pediu pousada e comida pra comer

O baiano foi dizendo pro peão sinceramente
Há tempos que nós não vê o que comer na nossa frente
A fome que está deixando os meus filhinhos doentes
A seca por estes lados tem acabado com a gente
Pra encerrar nossa prosa se tiver dinheiro pousa com minha filha inocente

A proposta do baiano quase matou o mineiro
Jogou a guaiaca na mesa ta aí todo meu dinheiro
Pegue tudo se quiser sem luxo meu companheiro
Pode fazer uma compra pra comer o ano inteiro
Menina ficou tristonha quase morta de vergonha
Chorava em desespero

O peão montou no burro já foi dando a despedida
Ninguém deve aproveitar de um coitado sem saída
Sua filha pode ter um bom futuro na vida
Dinheiro eu ganho mais labutando nesta lida
Deus que perdoe você ninguém deve se perder por um prato de comida

Sementinha
Lá na casa da fazenda onde eu vivia numa manhã da garoa e de céu nublado
Achei no chão do terreiro uma sementinha pensei logo em plantá-la no chão molhado
O tempo passou depressa e a mocidade chegou como chega à noite ao cair da tarde
Veio morar na fazenda uma caboclinha graciosa bela e meiga e na flor da idade

Iniciou-se um romance entre eu e ela na sombra aconchegante de uma paineira
Dei a ela uma rosa com muita esperança que eu colhi de um galhinho daquela roseira
Marcamos o casamento pro fim do ano pra mim só existia ela e pra ela só eu
Pouco mais de uma semana pra o nosso idílio a minha flor prometida doente morreu

Arranquei o pé de rosas na primavera e plantei na sepultura de minha amada
Todas as tardes eu molhava com o meu pranto a roseira foi murchando e acabou em nada
A chuva se foi embora e o sol ardente matou a minha roseira e secou meu pranto
Só não matou a saudade da caboclinha pois eu vejo sua imagem em todo canto

Por isso é que eu vivo longe da minha terra seguindo a longa estrada de minha vida 
Procuro viver sorrindo mas no entanto eu choro ao me recordar amada querida
O destino como sempre é caprichoso é cheio de traições e de sonhos loucos
Tal qual aquela roseira e a minha amada eu pressinto que também vou morrendo aos poucos
 
Velho Pouso De Boiada
Numa tardinha fui andando por aí coincidiu que descobri pedacinhos de saudade
Tudo igualzinho há um retrato descorado num cenário amarrotado pelo avanço da cidade
A figueirona com seu tronco já ferido pelo golpe desferido de um machado sem amor
Condenada sem direito a julgamento vai tombar qualquer momento pelas mãos de um mal feitor
Memorizando minha vida já passada recordei naquele instante um velho pouso de boiada
Ou viaja boi

E ali mesmo encontrei só um pedaço do que um dia foi um laço de um habilidoso peão
E da baldrama as pequenas margaridas igual estralas caídas espalhadas pelo chão
E do lombilho tropecei num velho caco o farrapo de um guanapo que um dia foi chapéu
Sons de viola explodiam pelo ar parecendo anunciar um fandango lá no céu
Memorizando minha vida já passada recordei naquele instante um velho pouso de boiada
Vai, vai boiada, vai vaca preta cada boi numa carreta

Resto de cerca que já foi de algum potreiro armação de um cargueiro e um trempe enferrujada
E num palanque velho tronco de ipê a inscrição que a gente lê velho pouso de boiada
Num sonho louco retornei a mocidade e ruminando a saudade até alta madrugada
Juro por Deus que chorei naquele instante quando ouvi som de berrante despertando a peonada
Memorizando minha vida já passada recordei naquele instante um velho pouso de boiada
Altar De Amores
Bendita hora que eu te vi querida porque aquela foi a nossa hora
Abri a porta de meu peito triste e toda mágoa eu mandei embora
Mandei entrar o verde da esperança o azul das tardes que eu vi lá fora
O seu amor me trouxe claridade hoje em meu mundo de felicidade tem um eterno despertar de aurora
Bendita hora que nos encontramos e este encontro me preocupa agora
Antes temia que você não vinha hoje sabendo que é somente minha eu tenho medo de que vás embora

Naquela hora que você entrava em minha vida sempre tão vazia
Queimou meu peito no calor do encontro a noite escura logo se fez dia
A longa estrada de sua jornada me trouxe os ramos das mais lindas flores
Raios de sol iluminou seus passos abri a porta larga de meus braços e a conduzi em nosso altar de amores
Bendita hora que nos encontramos e este encontro me preocupa agora
Antes temia que você não vinha hoje sabendo que é somente minha eu tenho medo de que vás embora 

Verdadeiro Amor
Os capangas da fazenda derramou suor no chão
Pra amarrar o namorado da filhinha do patrão
O moço falou pra velho no dia da execução
Por ela eu poço morrer, mas primeiro eu quero ver minha mãe do coração

Chamando o pai de lado ela disse sem temor
Eu ficarei amarrada no lugar do meu amor
Se acaso ele não voltar, pois me matem por favor
Eu vou garantir seu nome porque sei que ele é homem bem mais homem que o senhor

Conversa de pai com a filha ninguém viu foi na surdina
Mas o velho enraivecido já mandou prender a menina
A moça ficou amarrada na mira da carabina
Mandaram soltar o rapaz pra despedir dos seus pais e vir cumprir com sua sina

Capanga falou pra moça venceu a hora marcada
O malandro foi embora e te deixou na laçada
Eu vou matar com prazer a florzinha cobiçada
Nesse instante a fazendeira ouviu bater a porteira e um cavalo em disparada

O pai da moça sorriu também chorou no momento
Vocês se amam de fato e não era fingimento
Eu só queria uma prova pra dar o consentimento
Com sorriso e alegria na fazenda outro dia houve um grande casamento

O Mineiro E O Italiano
O mineiro e o italiano viviam as barra dos tribunais
Numa demanda de terra que não deixava os dois em paz
Só em pensar na derrota o pobre caboclo não dormia mais
O italiano roncava nem que eu gaste alguns capitais
Quero ver este mineiro voltar de a pé pra Minas Gerais

Voltar de a pé pro mineiro seria feio pros seus parentes
Apelo pro advogado fale pro juiz pra ter dó da gente
Diga que nós somos pobre que meus filhinho vivem doente
Um palmo de terra a mais para o italiano é indiferente
Se o juiz me ajudar a ganhar lhe dou uma leitoa de presente

Retrucou o advogado o senhor não sabe o que está falando
Não caia nesta besteira senão nós vamos entrar pro cano
Este juiz é uma fera caboclo sério e de tutano
Paulista da velha guarda família de quatrocentos anos
Mandar a leitoa pra ele é dar a vitória pro italiano

Porém chegou o grande dia que o tribunal deu o veredicto
Mineiro ganhou a demanda o advogado achou esquisito
Mineiro disse ao doutor eu fiz conforme lhe havia dito
Respondeu o advogado se o juiz vendeu eu não acredito
Jogo meu diploma fora se nesse angu não tive mosquito

De fato falou o mineiro nem mesmo eu to acreditando
Ver meus filhinhos de a pé meu coração vivia sangrando
Peguei uma leitoa gorda foi Deus no céu me deu esse plano
De uma cidade vizinha para o juiz eu fui despachando
Só não mandei no meu nome mandei no nome do italiano

Prato Do Dia
Sobre as margens de uma estrada uma simples pensão existia
A comida era tipo caseira e o frango caipira era o prato do dia
Proprietário homem de respeito ali trabalhava com sua família
Cozinheira era sua esposa e a garçonete era uma das filhas

Foi chegando naquela pensão um viajante já fora de hora
E dizendo para garçonete me traga um frango vou jantar agora
Eu estou bastante atrasado terminando eu já vou embora
Ela então respondeu num sorriso mamãe está de pé pode crer não demora

Quando ela foi servir à mesa delicada e com muito bom jeito
Me desculpe mas trouxe uma franga talvez não esteja cozida direito
O viajante foi lhe respondendo pra mim franga crua talvez eu aceito
Sendo uma igual a você seja qualquer hora também não enjeito

Foi saindo de cabeça baixa pra queixar ao seu pai a mocinha
Minha filha mate outra franga pode temperar mais só não cozinha
Vou levar esta franga na mesa se bem que comigo a conversa é curtinha
É a coisa que mais eu detesto ver homem barbado fazendo gracinha

Foi chegando o velho e dizendo vim servir o pedido que fez
Quando o cara tentou recusar já se viu na mira de um Schmidt inglês
O negócio foi limpar o prato quando o proprietário lhe disse cortês
Nós estamos de portas abertas pra servir a moda que pede o freguês

Plenilunio
Eu sou matuto moro no alto da serra quero bem a minha terra quero bem o meu sertão
Aqui de cima vejo a lua quando nasce retornando sua face às belezas desse chão
Até parece a porta do céu se abrindo Deus o nosso pai surgindo junto com este clarão
Abençoando a canção em serenata e esta lua que retrata os tentos de suas mãos
Só mesmo vendo para crer como é lindo este lugar todo sertão adormecer ao encontro do luar


Eu passo horas contemplando esta beleza pois a própria natureza se orgulha do que tem
O céu a terra lindos campos verdejantes afluentes murmurantes que se encontram muito além
A lua cheia com seus raios reluzentes ilumina continentes pressentindo algum desdém
Até parece que me fala assim passiva sertanejo não se aflija Deus é caboclo também
Só mesmo vendo para crer como é lindo este lugar todo sertão adormecer ao encontro do luar

Berrante De Ouro
Nesta casinha junto ao estradão faz muito tempo eu parei aqui
Vem minha velha vamos recordar quantas boiadas eu já conduzi
Fui berranteiro e ao me ver passar você surgia me acenando a mão
Até que um dia eu aqui fiquei preso no laço do seu coração
Vê ali está, o meu berrante no mourão do ipê
Vou cuidar melhor, porque foi ele que me deu você

Me lembro o dia que eu aqui parei naquela viagem não cheguei ao fim
Foi à boiada e com você fiquei e os peões dizendo adeus pra mim
Vem minha velha veja o estradão e o berrante que uniu nós dois
Nuvens de pó que para traz deixei recordações dos tempos que se foi
Vê ali está, o meu berrante no mourão do ipê
Vou cuidar melhor, porque foi ele que me deu você

Naquele tempo que bem longe vai o meu berrante repicando além
Ecos de choro vindo do sertão ao recordar fico a chorar também
Não é de ouro meu berrante não mas para mim ele tem mais valor
Porque foi ele que me deu você e foi você quem me deu tanto amor
Vê ali está, o meu berrante no mourão do ipê
Vou cuidar melhor, porque foi ele que me deu você

O Novato
Eu sou novato neste bairro minha gente
Eu aqui cheguei recente sou estranho pra vocês
Mas muito breve aqui terei muitos amigos
Brevemente aqui consigo amizade que deixei

Deixei distante minha doce vizinhança
Gente boa de confiança que jamais vou esquecer
Saldos e dívidas acertei bem direitinho
Só ficou lá um beijinho que não pude receber

Deixei o beijo pra cobrar na despedida
Porém a minha querida veio com outro ideal
Só um abraço ela me deu naquele ensejo
E pra receber o beijo quer que eu volte no natal

Deixei o beijo pra cobrar na despedida
Porém a minha querida veio com outro ideal
Só um abraço ela me deu naquele ensejo
E pra receber o beijo quer que eu volte no natal

A Volta Do Caminhoneiro
Quando o sol se escondia atrás da terra na casa branca da serra eu deixei o seu recado
Sua mãezinha até chorou comovida me ofertou pouso e comida relembrando o filho amado
Chorei também ouvindo o seu violão soluçando em minhas mãos com tanta saudade sua
Seu galo índio sentindo você mais perto cantava de peito aberto alegre ao clarão da lua
Andei, andei por este sertão inteiro, já fui, voltei, nasci pra ser caminheiro 

Seu cavalo relinchou quando me viu seu cachorro até latiu pensando ser sua volta
Sua espingarda está sendo bem cuidada no seu quarto pendurada no batente atrás da porta
Meu bom amigo já levei o seu recado quando estiver formado vai cuidar do que é seu
Sua mãezinha continua esperando por você sempre rezando naquele mundão de Deus
Andei, andei por este sertão inteiro, já fui, voltei, nasci pra ser caminheiro

Tua Ausência
Eu já nem sei quantos dias que me restam eu já nem sei se é desespero ou sofrimento
Ao pensar nela ouço eco em minha alma a me dizer ser impossível o esquecimento
Vivo pensando em adorá-la eternamente mas queira Deus que isso não seja um delírio
São nos momentos mais difíceis como estes que eu preciso libertar este martírio

Às vezes penso que foi um sonho sua partida infelizmente sua ausência é verdade
Partiu deixando um grande amor na minha vida que não me deixa libertar esta saudade
Eu lutei tanto pelo amor daquele amor lhe dei carinho dei afeto e dei guarida
Hoje só resta recordar cheio de dor aquele amor que foi toda a minha vida

Eu lutei tanto pelo amor daquele amor lhe dei carinho dei afeto e dei guarida
Hoje só resta recordar cheio de dor aquele amor que foi toda a minha vida

Msicas do lbum Sementinha (GTLLP 1008) - (1980)

Nome Compositor Ritmo
O Baiano E O Boiadeiro Moacir Dos Santos / Liu Rasqueado
Sementinha Itapuã / Dino Franco valsa
Velho Pouso De Boiada Índio Vago / Dino Franco Toada
Altar De Amores José Fortuna / Dino Franco Guarânia
Verdadeiro Amor Moacyr Dos Santos / Liu Cururú
O Mineiro E O Italiano Teddy Vieira Moda De Viola
Prato Do Dia Geraldinho Querumana
Plenilúnio Dino Franco Toada
Berrante De Ouro Carlos César / José Fortuna Toada
O Novato Marcelo Mello / Praense Bolero
A Volta Do Caminhoneiro Atilio Versutti / Liu Cateretê
Tua Ausência Francisco Lacerda / Belmonte Guarânia
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