Estrela Dalva (CLARIM CLA 5503) - (1971) - Peão Carreiro e Mulatinho

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Estrela Dalva
Estrela Dalva que acompanha as madrugadas
Em me dizer aonde vive o meu amor
Que há muito tempo me deixou e foi-se embora
E hoje mora em meu peito esta dor 
Estrela Dalva traz de volta aquela flor

Um certo dia quando em casa eu chegava
Bati na porta mas ela não me atendeu
Só um bilhete me deixou por despedida
Lágrimas doídas caíram dos olhos meus
Ai como é triste relembrar aquele adeus

Noites e noite que eu passo sem dormir
Perambulando seguindo o rumo do nada
De bar em bar vou afogando a minha dor
É um mal de amor que em meu peito fez morada
É a saudade que sinto da minha amada

A minha vida é como um pássaro sem rumo
Que perde o ninho e vaga a esmo no espaço
Eu também sofro por viver desiludido
Por ter perdido quem vivia nos meus braços
Maldita sorte me atirou neste fracasso

Chibata
Chora viola sentida encostada nos meus braços
Canto moda que eu mesmo faço
O meu peito é uma metralha
Onde chega vence qualquer batalha

Eu comparo a minha vida igual a do sabiá
Que veio ao mundo só pra cantar
Ele canta na gaiola
Eu canto nos braços desta viola

Duas coisas nesse mundo que meu coração palpita
É toque de viola e moça bonita
Tocando viola eu faço
Moça bonita vim nos meus braço

Eu canto cateretê, canto cururu e moda campeira
O rasqueado, xote e rancheira
Guarânia e o valseado
Moda de viola e o recortado

Pra ser um bom cantador não adianta tirar a patente
Tem que na viola ser competente
Não usar chapéu alheio
Chegar nas festas e não fazer feio

Galo canta no terreiro o leão urra na mata
Esse meu pagode é uma chibata
Que atinge diretamente
Nesses caboclos da língua quente

Filho Do Pecado
Caminhando sempre triste pela rua
De porta em porta lá vai o pobrezinho
Seu mal destino ou que seja a sua sorte
Sem agasalho maltrapilho coitadinho

Pobre menino que vive sem guarida
E todos dizem que é um mendigo sem morada
Ele se humilha e pede um prato de comida
Neste abandono dormindo pelas calçadas

Cai o sereno madrugada longa e fria
Silêncio da noite a cidade quase morta
Os galos cantam anunciando um novo dia
Lá está o menino deitadinho numa porta

Vive sofrendo, mas de Deus nunca se esquece
Quando escurece ele pede com fervor
Olhando o céu ele faz a sua prece
Que alguém lhe dê um abrigo pede ao Senhor

Este menino conversando com um homem
Que conhecia sua vida de amargura
A sua mãe nem se quer lhe deu um nome
Lhe entregou a uma pobre criatura

E abandonou a pena ao te ver nascer
Porque você és um filho do pecado
Sua tutora veio logo a falecer 
Este o motivo que você vive jogado

Conselho De Pai
Quando eu tinha quinze anos o meu velho pai falou
Meu filho seja um violeiro é um conselho que eu te dou
Esta viola que eu tenho que sempre me acompanhou
Eu te darei de presente pra você eternamente relembrar que te criou

Imaginei a minha vida meus planos foram traçados
Pedi benção aos meus pais deixei meu rincão amado
Pra mim seguir o conselho que meu velho tinha dado
Com a viola na mão fiz as minha embarcação pra São Paulo destinado

Ao chegar na capital fiquei triste de repente
Vivendo em terra estranha sem ter amigo e parente
Com apenas quinze anos dos meus pais fiquei ausente
Mas a verdade eu confesso ser violeiro e ter sucesso era o que eu tinha na mente

Na vida de violeiro passei trabalho e tormento
Mas para vencer na vida eu tive força e talento
Somente minha viola sabe meus padecimentos
Só ela me consolava às vezes quando eu chorava nas horas de sofrimento

Com o decorrer do tempo a sorte me protegeu
Pelo rádio e gravação o sertão me conheceu
Bons programas e bons amigos tudo me favoreceu
Quanta gente se consola no gemer desta viola que meu velho pai me deu

O Preto E A Italiana
Ora veja Pina italiana bonita
Se apaixonou pelo João Batista
Ele na fazenda era sanfonista
O nariz do bicho quando espirra apita
E vê o chaminé do trem da Paulista

Ora veja o João, oh que nego pato
Foi roubar a Pina lá no Morro Alto
Na curva do areião foram fazer trato
A Pina dizia oh, meu nariz chato
Se tu me deixar juro que eu te mato

Quando Pepe soube foi aquele estouro
O velho bufava parecia um touro
Cadê o rasto dele vou soltar cachorro
O amor da Pina acabou em choro
Ela foi pra casa debaixo de couro

O negro falou desta vez eu sumo
O seu pai me mata pego qualquer rumo
Eu quero escapar por aqui me aprumo
O velho gritava eu vou dar um consumo
Eu quero acabar com esse bate fundo

Pai João
Caminheiros que passar naquela estrada
Vê uma cruz abandonada como quem vai pro sertão
Há muitos anos neste chão foi sepultado
Um preto velho erado por nome de Pai João
 
Pai João na fazenda dos coqueiros
Foi destemido carreiro querido do seu patrão
Sua boiada o Chibante e o Brioso
Nos morros mais perigosos arrastava o carretão
 
Numa tarde Pai João não esperava
Que a morte lhe rondava lá na curva do areião
E numa queda embaixo do carro caiu
Do mundo se despediu preto velho Pai João
 
Caminheiro aquela cruz do caminho
Já contei tudo certinho a história do Pai João
Resta saudade daquele tempo que foi
Do velho carro de boi no fundo do mangueirão

Desiludido
Hoje eu vivo sem ninguém pra acalmar a minha dor
Vivo ausente do meu bem sem carinho e sem calor
Abraçado neste pinho eu quero chorar baixinho
Por viver assim sozinho distante daquele amor

Por ela ter vaidade hoje eu sofro deste jeito
Só me restou a saudade deste amor que foi desfeito
Hoje eu vivo sem um lar bebendo de bar em bar
Pra poder desabafar a dor que sinto no peito

Cada um tem um destino com uma sorte diferente
Uns leva a vida sorrindo outro vive descontente
Eu vivo desiludido tenho meu peito ferido
Por quem amo fui traído sofrerei eternamente

Das flores nasce o perfume da consciência o perdão
Do amor nasce o ciúme que traz a separação
Quando um amor vai-se embora a tristeza não demora
Não existe quem não chora quando sofre uma paixão

Brasil Gigante
O Brasil é um trem de ferro e nós somos os viajantes
Esses vinte e dois vagão São Paulo é o restaurante
Onde todos comem e bebem, mas São Paulo não percebe
Esse São Paulo gigante

A nossa locomotiva Brasília é o vagão primeiro
Lá está o presidente que manda o Brasil inteiro
Luta com força e vontade pra aumentar a velocidade
Desse trem de passageiro

Rio Grande e a Guanabara e também Minas Gerais
Mato Grosso e Catarina Paraná dos cafezais
São da terra das brasileiras um dos carros de primeira
Que a locomotiva traz

Bahia e o norte todo também são primeira classe
A seca e o clima quente pra viver lá não é fácil
É terra de pouca sorte se faltar chuva no norte
Tudo que planta não nasce

Esta classificação nos devemos refletir
Estados são diferentes, mas somos todos gentil
Desde o sul até o norte gritaremos em voz forte
Viva o nosso brasil

Florisbela
Florisbela é uma flor tão bonita por quem sempre eu tive paixão 
Ela eu amarei toda a vida mesmo não tendo compensação 
Porque ela de mim nem se lembra nem desejo a recordação 
Porque sou hoje um pobre aleijado cumprindo eu estou esta triste missão 

Florisbela eu sei que já esquecestes dos tempos feliz que passou 
Quantas vezes seu amor sincero com firmeza para mim jurou 
Mas a sorte foi tão traiçoeira para mim uma guerra mandou 
Batalhando eu fiquei aleijado por essa razão eu perdi meu amor 

Florisbela hoje até me odeia ao me ver sobre esta situação 
Arranjado pela rua esmolando por piedade um pedaço de pão
Sendo ela mais bela e faceira para outro dá seu coração
Para mim é o mesmo que um  punhal cravando em meu peito sem ter compaixão

Florisbela somente eu lhe peço porque não está longe o meu fim 
Mesmo estando nos braços de outro você não se esqueça de mim 

E no dia do seu casamento não me odeie por me ver assim 
Ao descer a escada da igreja por piedade diga um adeus pra mim

Boi Cigano
Na cidade de Andradina com a boiada eu fui chegando
Eu tava só com dez peões oitocentos bois nos vinha tocando
Na frente vinha o ponteiro com o berrante arrepicando
Com este gadão de raça naquela praça eu fui atravessando
 
No meio desta boiada eu levava um boi por nome Cigano
O mestiço era valente por onde andava fazia dano
Ganhei o boi de presente na negociada dos cuiabanos
Já vinha recomendado pra ter cuidado com esse tirano
 
O comprador deste gado na estação já tava esperando 
Pra fazer o pagamento depois do embarque dos cuiabanos
Soltei os bois na chiringa e gritei pros peões já podem ir embarcando
Embarcamos os pantaneiros e no mangueiro ficou o Cigano
 
Chegou naquela cidade o grande circo sul africano
Uns homens com o proprietário a respeito do boi tava conversando
Insultou-me numa briga do leão feroz e o cuiabano
Bati vinte mil na hora e jogos por fora estava sobrando
 
O circo estava lotado e dado momento estava chegando
Quando as feras se encontraram eu vi que o mundo ia se acabando
Uns gritavam de emoção e outros de medo estavam chorando
Em vinte minutos o leão debruçou no chão e ficou urrando
 
O leão é o rei das feras na selva ele é o soberano ai, ai
Com sentimento seu dono entregou o trono pro meu Cigano ai, ai

Linda Uruguaia
Lá no bairro aonde eu moro quando a tardinha desmaia
Sento na porta do rancho fumo um cigarro de paia
Fumaça sobe pro ar com o vento ela se espalha
Entra a fumaça eu vejo a imagem da uruguaia

Vou buscar esta morena a mais linda uruguaia
Se ela não quiser vir por lá eu fico de faia
Quero encostar no seu peito onde o coração trabalha
Dizem que o amor não dói, corta mais do que navalha

Vou tirar seu retratinho pra trazer numa medalha
Vestidinha desse jeito com vestido de cambraia
Quando olho em seu semblante a minha vista embaralha
Todas cores se desmudam só seu rosto não desmaia

A roseira do alpendre de tanta rosa desgalha
Do rancho eu avisto porto no lugar que a água espalha
A garça vem voando serena e senta na praia
Parece o vestido branco da minha linda uruguaia

Boiadeiro Feliz
Sou um boiadeiro feliz que vivo pelas estradas
Sempre alegre e cantando tocando a minha boiada
Todos transportes que eu faço não deixo boi de arribada
A gente ouve distante o toque do berrante de lá das baixadas

Meu chapéu de aba larga um par de espora prateada
Lenço vermelho de terra da poeira da boiada
Na garupa sempre levo uma viola pendurada
Aonde nós faz o pouso eu canto gostoso uma linda toada

Quando vai escurecendo eu grito pra peonada
Pare o gado no varjão pra fazer nossa pousada
Forro o baixeiro no chão minha cama ta arrumada
Dormindo vejo em sonho o rosto risonho paulista adorada

Quando vem rompendo a aurora que surge a madrugada
Nós reúne os companheiro pra fazer a retirada
Não tenho pai e nem mãe eu nunca tive morada
Sou um peão estradeiro sem paradeiro moro nas estradas

Músicas do álbum Estrela Dalva (CLARIM CLA 5503) - (1971)

Nome Compositor Ritmo
Estrela Dalva Pião Carreiro Cururu
Chibata Pião Carreiro Pagode
Filho Do Pecado Mulatinho / Hélio Figuerato
Conselho De Pai Pião Carreiro / Mulatinho Moda De Viola
O Preto E A Italiana Sebastião Victor Cururu
Pai João Zé Carreiro / Chanduzinho Toada Balanço
Desiludido Pião Carreiro / Passarinho Cururu
Brasil Gigante Carreirinho Pagode
Florisbela Zé do Rancho / Zé Gregório cateretê
Boi Cigano Pião Carreiro / Tião Carreiro Moda De Viola
Linda Uruguaia Zé Carreiro Cateretê
Boiadeiro Feliz Dito Mineiro / Pardinho Cateretê
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