Violas (CABOCLO 103405254) - (1978) - Pedro Bento e Zé Da Estrada
A Boiada Do Araguaia
A Boiada do Araguaia logo após a travessia
Parou pra fazer pousada porque já escurecia
Naquele ermo deserto só céu a mata existia
Morava uma Pintada terror da selva bravia
Quando essa fera miava tudo ali silenciava sertão inteiro tremia
Moído pelo cansaço da luta daquele dia
Naquela noite soturna enquanto o fogo ardia
Deitada sobre o baixeiro a peonada dormia
Somente um urutau o silêncio interrompia
De vez em quando gritando parece que anunciando o perigo que surgia
A noite já ia alta era quase madrugada
A boiada remoía lá na beira da aguada
Ouvindo o mugir do gado a fera esfaimada
Naquele andar de felino veio vindo de emboscada
O cheiro da carne humana aquela fera tirana foi atacar a boiada
Aquele pobre boi velho que nas águas foi jogado
Conseguiu sair com vida antes de ser devorado
Pra se ajuntar a boiada com o corpo retalhado
Ele ia caminhando passo a passo bem cansado
Andando com lentidão chegou na hora que os peões já iam ser atacados
Defendendo a peonada que acordou espavorida
Aquele pobre boi velho com o corpo em feridas
Morreu lutando com a fera que por ele foi vencida
Disse o moço Ponteiro com a alma comovida
Foi quem não valia nada que salvou toda a boiada e também as nossas vidas
As Esporas Do Ferreirinha
No campo do espraiadinho uma cruz foi fincada
Onde morreu Ferrerinha naquela triste jornada
Duas esporas chilenas nessa cruz foi pendurada
Foi com elas que o vaqueiro morreu naquela empreitada
Eu me lembro como hoje num rodeio em Rancharia
Ferrerinha foi o dono do rodeio nesse dia
Foi tratado pra montar no lombo de uma novilha
A danada corcoveava e a poeira suspendia
Depois de poucos minutos lá no centro da mangueira
Vi a novilha deitada entre nuvens de poeira
Ferrerinha amarrava as suas patas traseiras
Depois arrastou a fera até o pé da porteira
Logo vi em alto brado no meio da multidão
Quero ver esse mocinho montar no meu redomão
Dou minhas esporas de prata, mais um cheque de milhão
Se fizerem o meu mestiço rolar na poeira do chão
Senti uma coisa estranha a ouvir essa proposta
Meu amigo Ferrerinha disse sim como resposta
Foi um duelo difícil como a plateia gosta
No prazo de dois minutos o burrão caiu de costa
Recebeu o par de espora e um cheque assinadinho
Veio muito sorridente a cantar pelo caminho
Nos morava nesse tempo na cidade de Pardinho
As esporas até hoje estão lá no Espraiadinho
Cinco Letras
Quem olhar neste meu rosto não nota meu sentimento
Só minha viola sabe meu grande padecimento
Meu destino transformou minha vida é um tormento
Sobre amar e querer ninguém sofre mais que eu
Amei um alguém na vida que não me correspondeu
Não tenho mais alegria são bem tristes os dias meus
Dediquei meu puro amor recebi sua traição
Eu não pude transformar o seu negro coração
Vivo no mundo sofrendo você não tem compaixão
Por toda parte que vou vejo a luz do teu olhar
E mais lindo que as estrelas e mais linda que o luar
E a flor que mais desejo e não consigo apanhar
Teu nome tem cinco letras que não canso de escrever
Cada letra é uma saudade que eu sinto de você
Saudade esta me matando, eu moro por te querer
Não Tem Rei No Meu Sertão
Não tem rei no meu sertão, no meu sertão não tem rei
Ao pegar essa viola no seu braço eu ponteio
Com muito amor eu semeio as frases do coração
Pra vocês que estão me ouvindo com forças eu gritarei
No meu sertão não tem rei, não tem rei no meu sertão
Eu saí da minha terra percorri várias cidades
Eu vi muita majestade sem coroa e nação
Caminho que estão pisando que há muito já pisei
Se não me tornei um rei não tem rei no meu sertão
Nesta minha caminhada muita coisa eu aprendi
Quiseram até dividir o que não tinha ganhado
Lutei com fé a coragem, bradei com voz de leão
Falo mas é com a razão eu vi o rei destronado
Cheguei ao fim da viagem passam por muita lama
Galguei o degrau da fama num príncipe me tornei
Estou aqui de regresso aprendi grande lição
Não tem rei no meu sertão, não meu sertão não tem rei
Rei Do Algodão
Quem passar por Santa Helena não deixa em conhecer
Paulo Lopes e sua família outra igual não pode
Gente boa de verdade usa só sinceridade no seu nobre proceder
Todo ano em sua terra Paulo Lopes tem plantado
Algodão só de primeira superlotando o mercado
Na sua grande invernada se avista grande manada de zebu selecionado
Sua riqueza é imensa e impõe bastante respeito
Sempre foi homem de fibra, nunca teve preconceito
Lutando ganhou a vida é vitória merecida pra quem sempre foi direito
Com muita força e coragem conseguiu isso que tem
Sempre foi trabalhador os pobres tratando bem
Ele é o pai dos violeiros por esse Brasil inteiro igual ao Lopes não tem
Eu não sou nenhum poeta e simples tudo que faço
Mas uso sinceridade com muito desembaraço
Paulo Lopes e seus herdeiros em nome dos violeiros aceite o nosso abraço
Evolução
O mundo evolui na paz ou na guerra
Mas falta amor na face da terra
O amor é que manda no mundo, olha a nova geração
Jogando a paz contra a guerra, liberdade em profusão
Canta, canta, gente boa, canta gente varonil
Quem canta tem liberdade no mundo do meu Brasil
Oi, meu Brasil, quem canta tem liberdade
Oi, Brasil canta, canta mocidade
O olhar de uma criança, uma criança que cresce
Em cada canto do mundo reza sempre uma prece
Meu cantar é oração quem canta bem pode crer
Com orgulho vê de pressa o nosso Brasil crescer
Oi, meu Brasil, quem canta tem liberdade
Oi, Brasil canta, canta mocidade
Herói Sem Medalha
Sou filho do interior do grande estado mineiro
Fui um herói sem medalha na profissão de carreiro
Puxando tora do mato com doze bois pantaneiros
Eu ajudei desbravar nosso sertão brasileiro
Sem vaidade eu confesso do nosso imenso progresso eu fui um dos pioneiros
Vejam como o destino muda a vida de um homem
Uma doença malvada minha boiada consome
Só ficou um boi mestiço que chamava lobisomem
Por ser preto igual carvão foi que eu lhe pus esse nome
Em pouco tempo depois eu vendi aquele boi pros filhos não passar fome
Aborrecido com a sorte dali resolvi mudar
E numa cidade grande com a família fui morar
Por eu ser analfabeto tive que me sujeitar
Trabalhar num matadouro para o pão poder ganhar
Como eu era um homem forte nuqueava o gado de corte pros companheiros sangrar
Veja só a nossa vida como muda de repente
Eu que às vezes chorava quando um boi ficava doente
Ali eu era obrigado matar a rês inocente
Mas certo dia o destino me transformou novamente
Um boi da cor de carvão pra morrer na minha mão estava na minha frente
Quando vi meu boi carreiro não contive a emoção
Os olhos encheram d’água meu pranto caiu no chão
O boi me reconheceu e lambeu a minha mão
Sem poder salvar a vida do boi de estimação
Pedi a conta e fui embora desisti na mesma hora desta ingrata profissão
Cabelos Cor De Prata
Me lembro e tenho saudade do tempo que eu fui solteiro
Lá no estado de Minas fui um grande catireiro
Eu digo com vaidade minha doce mocidade
Hoje só resta saudade daqueles tempos primeiro, ai
Lá na minha redondeza fui o melhor violeiro
Eu não vencia os convites que me mandavam os festeiros
Em toda festas que eu ia o povo todo sabia
Que o fandango amanhecia onde cantava o mineiro, ai
O tempo foi se passando meus cabelos embranqueceram
Com o decorrer da idade minhas pernas enfraqueceram
Cantar assim se desgosta, mas de ouvir a gente gosta
Já tenho na minhas costas mais de oitenta janeiros, ai
Meus colegas de função alguns desapareceram
Uns deixaram por velhice e outros porque morreram
Só resta eu desta data meus cabelos cor de prata
Moro na borda da mata ausente dos companheiros, ai
Juramento Quebrado
Adeus ó minha terra querida, nunca mais aí hei de voltar
Cada vez quero estar mais distante, o passado eu nem quero lembrar
Um alguém que tanto eu queria, me deu o desprezo pra me ver penar
Eu jurei de todo coração não ir mais pra lá nem pra passear
Sinto só deixar uma pessoa tão santa e tão boa naquele lugar
Eu já percorri terras estranhas, já sofri como um filho sem pais
To sofrendo talvez por castigo, assim nós dois sofremos iguais
Sei estou cometendo um pecado judiar de uma mãe isto nunca se faz
Mas não quero ser um criminoso por um passado que tão longe vai
Minha mãe na cidade a não vem e por causa de alguém eu lá não volto mais
Eu já tenho sabido notícias de pessoas que chegam de lá
Minha velha me manda recado me pedindo para mim voltar
Desde o dia da minha partida a pobre velhinha só vive a chorar
Seus cabelos já estão branquinhos, coitada sofreu tanto pra me criar
Minha mãe eu sou um filho infeliz juramento que eu fiz, eu não posso quebrar
Certo dia recebi um recado francamente eu fiquei comovido
Minha mãe estava muito doente para mim foi um golpe dolorido
Foi que quebrei o meu juramento e voltei lá pra casa muito aborrecido
No caminho encontrei um enterro pra um perguntei quem que tinha morrido
É sua mãe que vai neste caixão e deixou uma benção pro seu filho querido
Melodias Da Saudade
Nasci entre campos e serras do meu querido sertão
Por isso sou sertanejo, adoro o meu rincão
Quando a noite escurece a lua ilumina a imensidão
Faço minha serenata cantando esta canção
Minha querida terra que me viu nascer
Debaixo deste céu feliz hei de morrer
Um caboclo quando canta sente vontade de chorar
Vai disfarçando a tristeza levando a vida a cantar
Nesses versos tão singelo minha bela, meu amor
O seresteiro cantando recorda o tempo de amor
Com melodia tão linda na voz do eu trovador
Neste mundo eu choro a dor por uma paixão sem fim
Um dia quando eu morrer levarei meu violão
Lá no céu em serenata quero cantar essa canção
Não há o gente, oh, não luar como esse do sertão
Goiano Magoado
Meu suor vai correndo quando dia chegar
Muita gente vai ver um goiano brigar
Alô, alô Pernambuco, Paraíba e Ceará
Alô Rio Grande do Norte, Alagoas e Pará
Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná
Meio mundo vai ver sangue no dia que eu brigar
Recebi um telegrama de um rival de namoro
Seu dizer mal criado eu tomei por desaforo
Meu bem cai nos meus braços menina deixa de choro
Ninguém pisa neste solo pra roubar o meu tesouro
Adeus chão de Pontalina adeus, adeus meu Goiás
Vou partir em pé de guerra e talvez não volteo mais
Vou cruzar muita fronteira vou lá pra Minas Gerais
Se der tudo como eu penso eu torno voltar pra trás
Vou morrer nesse duelo se esta for minha sina
Um goiano magoado morre rindo e não se afina
Mas garanto muito breve estarei em Pontalina
Comemorando a vitória nos braços dessa menina
História Do Brasil
Um grito de terra a vista a tripulação ouviu
No ano de mil e quinhentos, dia vinte e um de abril
Na esquadra Portuguesa o comandante sorriu
Quando viu no horizonte de primeiro avistou um monte que hoje chama Brasil
O comandante da esquadra Pedro Álvares Cabral
Mandou logo um mensageiro de volta pra Portugal
Avisaram Dom Manuel que um forte temporal
O fez afastar da rota conduziu a sua frota ao achado colossal
A partir desse momento nascia a nossa nação
Começava a ser formada a nossa colonização
Mais tarde um outro homem não gostou da situação
De vivermos dependente foi aí que Tiradentes começou fazer pressão
O mártir da Independência não tardou ser condenado
Perante a grande assistência ele foi executado
Por um amigo traído ele foi dependurado
Pra nos ver independente o nosso herói Tiradentes perecia enforcado
E mais tarde nossa terra seria então libertada
Mas havia muita coisa que ainda estava errada
Existia a raça negra que vivia escravizada
Mas a princesa Isabel fez um bonito papel, escravidão foi quebrada
Hoje tudo é harmonia vivemos em união
Temos Deus que é nosso guia que nos dá proteção
Seja preto ou seja branco, nos somos todos irmãos
Mostrando a toda gente o nosso Brasil pra frente e o valor dessa nação
Msicas do lbum Violas (CABOCLO 103405254) - (1978)
Nome | Compositor | Ritmo |
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A Boiada Do Araguaia | Sulino | Moda De Viola |
As Esporas Do Ferreirinha | Pedro Bento / João Amaral | Moda De Viola |
Cinco Letras | Tomaz / Platinense | Cururu |
Não Tem Rei No Meu Sertão | Zé Da Estrada / Douradense | Rojão |
Rei Do Algodão | Pedro Bento | Querumana |
Evolução | Correto / Pedro Bento | Toada Balanço |
Herói Sem Medalha | Sulino | Moda De Viola |
Cabelos Cor De Prata | Carreirinho / Zé Carreiro | Moda De Viola |
Juramento Quebrado | Sulino / Carreirinho | Moda De Viola |
Melodias Da Saudade | Mineiro | Toada Balanço |
Goiano Magoado | Pedro Bento / João Amaral | Corta Jaca |
História Do Brasil | Pedro Bento / João Amaral | Rojão |