Homem Até Debaixo Dágua (CHANTECLER 211405286) - (1980) - Tião Carreiro e ParaÃso
Marreta Do Desprezo
Meu Deus é muita pancada num peito só
Minha vida não é vida é uma tormenta
A mareta do desprezo é tão pesada
A pedreira do meu peito já não agüentaÂ
Martelo do desengano está na mão da paixão
Bate o prego da saudade no meu pobre coração
Nas cordas da falsidade me amarrei de pé e mão
Nas grades do sofrimento só recebo solidãoÂ
Meu Deus é muita pancada num peito só
Minha vida não é vida é uma tormenta
A mareta do desprezo é tão pesada
A pedreira do meu peito já não agüentaÂ
Há muito tempo estou preso na ilha da judiação
De um lado só tenho mágoa no outro desilusão
Pelas mãos da hipocrisia fui levado ao paredão
Para ser executado com balas de ingratidão
Meu Deus é muita pancada num peito só
Minha vida não é vida é uma tormenta
A mareta do desprezo é tão pesada
A pedreira do meu peito já não agüentaÂ
Noites De Angústia
Sei que nunca mais voltarei aos braços de quem tanto amo
Embora eu tenho que me esforçar para esquecer
Esta saudade que fere meu peito sempre me acompanha
E sei também que por muito tempo irei padecer
Amei demais fui abandonado inocentemente
Por isso mesmo aquela mulher eu não quero ver
Ela foi cruel ao renunciar meu amor sincero
Agora do mundo nada mais esperoÂ
Nem mesmo que outra possa me querer
Que noites tão longas são as minhas noites
Olho seu retrato e não posso dormir
Daquele dia que você meu bem destruiu meu sonhos
Esteja certa que por toda vida eu também morri
Mulher Modelo
Eu queria ser a cama onde ela deita
Eu queria ser seu primeiro amor
Eu queria ser o seu travesseiro
Pra encostar no rosto da mais linda flor
Eu queria ser aquela camisola
Pra cobrir o corpo da mulher mais bela
Eu queria ser o batom que ela usa
Pra sentir o mel que tem nos lábios dela
Eu queria ser o homem que ela ama
Que ganha seu beijo e abraço apertado
Na face da Terra eu sou tão pequeno
Sou menos que nada sou um pobre coitado
A mulher modelo não pode ser minha
Pode ser o fim desse apaixonado
A sua beleza clareia meu mundo
Neste mundo eu vivo sonhando acordo
Mulher maravilha, modelo do mundo
Minha pirâmide só de sucesso
Para o mundo inteiro revelo cantando
Cair nos seus braços para Deus eu peço
Ela vai na praia bronzear o corpo
Eu queria ser grãozinhos de areia
Pra colar no corpo da mulher mais linda
E ver bem de perto uma linda sereia
Eu queria ser aquele sabonete
Que no corpo dela inteirinho passeia
E pra terminar eu queria ser
O seu par de ligas que segura a meia
Berrante De Ouro
Vê ali está, o meu berrante no mourão do ipê
Vou cuidar melhor porque foi ele que me deu você
Nesta casinha junto ao estradão faz muito tempo que eu parei aqui
Vem minha velha vamos recordar quantas boiadas eu já conduzi
Fui berranteiro e ao me ver passar você surgia acenando a mão
Até que um dia eu aqui fiquei preso no laço do seu coração
Vê ali está, o meu berrante no mourão do ipê
Vou cuidar melhor porque foi ele que me deu você
Me lembro o dia que eu aqui parei naquela viagem não cheguei ao fim
Foi a boiada e com você fiquei e os peões dizendo adeus pra mim
Vem minha velha e veja o estradão e o berrante que uniu nos dois
Nuvens de pó que para trás deixei recordações do tempo que se foi
Vê ali está, o meu berrante no mourão do ipê
Vou cuidar melhor porque foi ele que me deu você
Daquele tempo em que bem longe vai do meu berrante repicando além
Ecos de choros vindos do sertão ao recordar fico a chorar também
Não é de ouro meu berrante não, mas para mim ele tem mais valor
Porque foi ele que me deu você e foi você quem me deu tanto amor
Vê ali está, o meu berrante no mourão do ipê
Vou cuidar melhor porque foi ele que me deu você
Aos Pés Do Altar
Estou triste muito triste nesta hora
E me esforço pra não dar demonstração
Choro por dentro, porém conservo o sorriso por fora
Pra esconder a grande mágoa do meu coração
Quem tanto amo vai casar neste momento
É o casamento mais feliz dessa cidade
E eu maldigo a santa lei do casamento
Que destruiu meu lindo sonho de felicidade
No momento que a multidão se cala
Ouço o ciúme a gritar dentro de mim
Eu gostaria que minha amada perdesse a fala
E não tivesse condições de dizer o sim
A vingança que o meu coração deseja
É uma loucura que eu não posso aceitar
O que eu queria era roubar a noiva da igreja
E deixar o noivo falando sozinho aos pés do altar
No momento que a multidão se cala
Ouço o ciúme a gritar dentro de mim
Eu gostaria que minha amada perdesse a fala
E não tivesse condições de dizer o sim
A vingança que o meu coração deseja
É uma loucura que eu não posso aceitar
O que eu queria era roubar a noiva da igreja
E deixar o noivo falando sozinho aos pés do altar
Tarde De Mais
Tarde demais, tarde demais
Não fique a minha esperaÂ
Aquele amor já era e não volta mais
Tarde demais, tarde demais
A sua ingratidão feriu meu coração
É tarde demais.
Você jurou um amor eterno puro e sincero e eu acreditei
Com todas as forças do meu coração sem pensar em traição à você me entreguei
Agora eu vejo quanto fui errado, pois fui enganado passado pra trás
O seu novo amor também lhe deu o fora e você volta agora tarde demais
Tarde demais, tarde demais
Não fique a minha esperaÂ
Aquele amor já era e não volta mais
Tarde demais, tarde demais
A sua ingratidão feriu meu coração
Minha Vida, Minha Cruz
Não esqueças nunca que Jesus um dia
Renasceu das águas do rio Jordão
Ensinou a lei pra muitos doutores
Respondeu ao ódio com o seu perdão
Curou os leprosos e endemoniados
Fez também o injusto se arrepender
Mostrou o caminho, a luza da verdade
E pra nos salvar chegou até morrer
Oh meu Jesus Cristo, eu estou sofrendo
Quero tua força quero tua luz
Vivo me arrastando às vezes caindo
Por não suportar esta pesada cruz
Também fui traÃdo por um outro Judas
Sigo meu caminho busco meu calvário
O mundo me bate com tala de espinhos
De abrolhos fizeram meu pobre rosário
Perdão meu Jesus por estar comparando
Com as suas penas os meus tristes ais
Tu ressuscitaste ao terceiro dia
Porém eu se morro não volto jamais
Oh meu Jesus Cristo, eu estou sofrendo
Quero tua força quero tua luz
Vivo me arrastando às vezes caindo
Por não suportar esta pesada cruz
Chega De Sujeira
Na beira de um grande abismo eu vejo o mundo pendendo
Sei que vai quebrar o nariz quem errado esta vivendo
Na unha de quem não presta tem gente boa sofrendo
Tem homem de duas caras sem palavra se vendendo
Chega de tanta sujeira eu vou começar varrendo
Nos quatro cantos do mundo o respeito esta morrendo
Sei que tem homem casado do juramento esquecendo
Atrás de mocinhas novas é ouro que vai correndo
Esposa de quem não presta osso duro esta roendo
Chega de tanta sujeira eu vou começar varrendo
Pra não casar na justiça tem malandro se escondendo
Casamento é muito pouco e filharada esta nascendo
Pra criar filhos sem pai tem avô que esta gemendo
Também as custas do sogro tem genro que esta vivendo
Chega de tanta sujeira eu vou começar varrendo
Igualzinho cão e gato pai e filhos se mordendo
Quando o pai vai dar conselho só coice vai recebendo
Do jeito que o diabo gosta tudo vai acontecendo
Os velhos fora de casa tem muitos filhos querendo
Chega de tanta sujeira eu vou começar varrendo
A moral esta tão baixa lá do alto deus tá vendo
Que a falta de respeito dia a dia vai crescendo
Palavrões que arrepia vejo criança dizendo
Vou por o mundo no eixo nem que eu morra combatendo
Chega de tanta sujeira eu vou começar varrendo
Homem Até De Baixo D'água
Um caboclinho de sangue na veia vergonha na cara e bastante opinião
A filha mais nova de um fazendeiro ele namorava com boa intenção
O velho cismou de impedir o romance e num gesto severo chamou a atenção
Você não passa de um pé rapado levar minha filha não dou permissão
Minha filha nasceu no conforto você não tem aonde cair morto nunca passa de um pobre peão
O pobre rapaz escutava calado igual a um aluno aprendendo a lição
No outro dia fugiu com a menina os dois foram viver nos confins do sertão
Ombro a ombro eles trabalharam a noite dormiam num velho galpão
A menina dormia na cama e o caboclinho dormia no chão
Foi a primeira vez na história que uma rolinha teve glória ser protegida por um gavião
O caboclinho de fibra e talento enfrentando garimpo trabalho cruel
Sol a sol a procura do ouro sem ver pela frente o azul do céu
Respeitando a menina que amava o caboclo fez um bonito papel
Tão pertinho da fonte do amor morrendo de sede por ser tão fiel
Ele foi um gavião sem asa com a menina dentro de casa bem distante da lua de mel
De volta pra casa do velho disse o caboclinho sem temer castigo
Roubei sua filha com boa intenção pra cumprir meu dever voltei como amigo
Que é do homem o bicho não come sou filha nasceu pra se casar comigo
Já não sou mais um pé de chinelo posso dar pra ela o melhor dos abrigos
Dois anos a luta foi dura mas ela voltou virgem e pura no meu lado não correu perigo
O velho muito arrependido abraçou sua filha pedindo perdão
Pro mocinho ele foi dizendo entre eu e você acabou o paredão
Seu talento e moral foi a flecha que fez meu orgulho tombar sobre o chão
Minha filha vai ser a rainha lá no seu castelo em eterna união
De você já não tenho mágoa foi homem até debaixo d’água
Vai ser o genro do meu coração
Adeus Rio Piracicaba
Adeus rio Piracicaba adeus terra tão queridaÂ
Estou chorando a despedida Piracicaba, Piracicaba, é minha vida.Â
Já foi o rio mais bonito só quem viu que acreditaÂ
Da linda Piracicaba foi o cartão de visita
A cachoeira murmurante de água pura e cristalinaÂ
Era o véu que enfeitava nossa noiva da colina.Â
Adeus rio Piracicaba adeus terra tão queridaÂ
Estou chorando a despedida Piracicaba, Piracicaba, é minha vida.Â
Entre águas poluÃdas vejo lágrimas correndoÂ
São as lágrimas do povo pelo rio que está morrendoÂ
Eu também estou chorando e a tristeza não acaba
Eu choro por ver morrendo o rio de Piracicaba.Â
Adeus rio Piracicaba adeus terra tão queridaÂ
Estou chorando a despedida Piracicaba, Piracicaba, é minha vida.Â
Candeeiro Da Fazenda
Chibante, Valente, Bordado e CoraçãoÂ
Marmelo, Marcante, carreiro Pai João
Na frente o candieiro menino de pé no chão
Ele era apaixonado pela filha do patrão
Ai meu Deus o menino era eu, ai meu Deus o menino era eu
A paixão virou ferrão como fere o peito meu
A menina se formou tem um diploma na mão
Eu na escola do mundo não aprendi a lição
Hoje ela é casada está morando na cidade
Esta nos braços de outro e eu nos braços da saudade
Ai meu Deus o menino era eu, ai meu Deus o menino era eu
A paixão virou ferrão como fere o peito meu
Pai João já foi pro céu sua boiada morreu
O velho carro de boi nem sei o que aconteceu
Eu não bati na boiada mas o mundo me bateu
A paixão virou ferrão o boi de carro sou eu
Ai meu Deus o menino era eu, ai meu Deus o menino era eu
A paixão virou ferrão como fere o peito meu
Mineirinho De Fibra
Um mineirinho de fibra neto de um velho escravo
Da pele bem bronzeada cor de canela com cravo
Criado no sertão bruto no meio de bicho bravo
Dentro da sua razão ele gastava um milhão pra defender um centavo
Na sua cama de esteira sonhava com o tesouro
Decidiu ganhar dinheiro mas sem levar desaforo
Com esperança e coragem chegou na terra do ouro
Onde a lei era o patrão e quem lhe disse se não ali deixava seu couro
Mas o mineiro de fibra com boato não se zanga
Na luta em busca do ouro ele arregaçou as mangas
Encontrou uma fortuna sofrendo igual boi de canga
Foi receber seu quinhão mas encontrou seu patrão entre um bando de capangas
Como estava acostumado seu patrão falou assim
Tudo que sai dessa terra pertence somente a mim
Ou você volta sem nada ou vai encontrar seu fim
Mineirinho respondeu vou levar o que é meu foi pra isso que eu vim
Começou o jogo da morte aonde o ouro era taça
Mas só se via capanga tombando entre a fumaça
Patrão deu a sua parte deixou de fazer trapaça
Não viveu mais na pobreza mas pra ter sua riqueza mineirinho mostrou raça
Sertão Vazio
Sertão vazio gigante adormecido coração ferido por golpes fatais
Ninho sem ave, jardim sem flor, começo de dor final de uma paz
No teu recanto cheio de tristeza chora natureza o riacho murmura
Vivo na cidade sou um pobre coitado longe do roçado colhendo amargura
Os donos do mundo com golpes vibrantes meu sertão gigante fez adormecerÂ
Velhas tradições caÃram pra sempre ficando somente a brisa a gemer
Descendo serra entre o verde mato soluça o regato despertando a fonte
Até a lua que era risonha parece tristonha lá na horizonte
Sertão vazio devagar vai morrendo em silêncio sofrendo a destruição
Igual tecido desfeito em retalhos gotas de orvalho sumindo no chão
Lágrimas de sangue derramando eu vejo muitos sertanejos com alma ferida
Meu sertão vazio dorme soluçando acorda chorando nas manhãs sem vida
Aqui bem distante um grande desgosto sentindo no rosto meu pranto cair
Sertão vazio é um reinado sem rei seu nome gritarei pra cidade ouvir
As grandes cidade sem agricultura ninguém segura sua marcha ré
Querido sertão poderosa raiz sem você meu paÃs não agüenta em pé
Carga Pesada
Eu vou pela estrada
Guiando meu caminhão
Com a sua carga pesada
Colado no para brisa tem um retrato que diz
Papai eu espero em casa você chegar felizÂ
Por isso durmo primeiro para depois prosseguir
São Cristóvão que me guia por onde eu devo irÂ
Eu vou pela estradaÂ
Guiando meu caminhão
Com a sua carga pesada
Estrada noiva da noite pelas baixadas do rio
O véu de neblina branca cobre seu corpo frio
Uma cruz de alguém que um dia por ela se destraiu
Morreu porque o perigo na serração não viuÂ
Eu vou pela estrada
Guiando meu caminhão
Com a sua carga pesada
Barranco de lado a lado parece um risco no chão
Na estrada que não termina la vai o caminhãoÂ
Quantos pássaros desperta o acelerado motorÂ
Caminhoneiro carrega saudade paz e amorÂ
Eu vou pela estrada
Guiando meu caminhão
Com a sua carga pesada
Subindo e descendo serra o caminhoneiro vai
Cobrindo a carga pesada se a tempestade cai
Auroras e horizontes ele deixou para trazÂ
Flores campos e lugares que já não voltam mais
Eu vou pela estrada
Guiando meu caminhão
Com a sua carga pesadaÂ
Músicas do álbum Homem Até Debaixo Dágua (CHANTECLER 211405286) - (1980)
Nome | Compositor | Ritmo |
---|---|---|
Marreta Do Desprezo | ParaÃso / Lourival Dos Santos / Carminha | Rojão |
Noites De Angústia | Dino Franco / Tião Carreiro | Guarânia |
Mulher Modelo | Tião Carreiro / Dalvan | Toada Balanço |
Berrante De Ouro | Carlos Cezar / José Fortuna | Toada Balanço |
Aos Pés Do Altar | Ronaldo Adriano / Rubens Avelino | Guarânia |
Tarde Demais | Ronaldo Adriano / Tião Carreiro | Rasqueado |
Minha Vida, Minha Cruz | Dino Franco / Tião Carreiro | Cururu |
Chega De Sujeira | Lourival Dos Santos / ParaÃso / Arlindo Rosas | Pagode |
Homem Até De Baixo Dágua | Lourival Dos Santos / Tião Carreiro / Arlindo Rosas | Corta Jaca |
Adeus Rio Piracicaba | Jesus Belmiro / Tião Carreiro / Craveiro | Cururu Piracicabano |
Candeeiro Da Fazenda | Jesus Belmiro / Tião Carreiro / Lourival Dos Santos | Toada Balanço |
Mineirinho De Fibra | Jesus Belmiro / Tião Carreiro / Lourival Dos Santos | Pagode |
Sertão Vazio | Toninho / Tião Carreiro / Arlindo Rosas | Querumana |
Carga Pesada | Carlos Cezar / José Fortuna | Rojão |