Viola Divina (CHANTECLER 103405274) - (1978) - Tião Carreiro e Paraíso

Canário Malandrinho
Sou um canário cantador o meu cantar é pra ela
Rolinha da pinta preta nunca vi coisa mais bela
Aquela pintinha preta enfeita o corpinho dela

Eu sou aquele canário das penas amarelinhas
No meio da passarada conquistei uma rolinha
Apesar de ser arisca, mas deixei ela mansinha
Com tamanha falsidade um gavião da cidade roubou a riqueza minha

Sou um canário cantador o meu cantar é pra ela
Rolinha da pinta preta nunca vi coisa mais bela
Aquela pintinha preta enfeita o corpinho dela

Rolinha não posso ver sua roupa na janela
Quando vejo a sua roupa me lembro você sem ela
Recordo daqueles tempos daquelas horas tão belas
Quando o gavião sai de casa eu saí batendo asa vou cantar no ninho dela

Sou um canário cantador o meu cantar é pra ela
Rolinha da pinta preta nunca vi coisa mais bela
Aquela pintinha preta enfeita o corpinho dela

Apaixonados
Somos dois apaixonados
Que amam desesperados
Porém com grande temor
Um abismo impressionante
Nos impede a todo instante
Desfrutar o nosso amor

Tu és criança demais
E por isso dos teus pais
Nós não temos permissão
Eles têm todo direito
De impedirem desse jeito
Nossa sonhada união

Completando a tua idade
Terás a felicidade
De ser mãe de um filho meu
Então nosso amor sofrido
Não será mais escondido
Não sofrerá e nem eu

Todos terão que saber
Nosso filho irá nascer
Sem comentário algum
Pra quem ama sendo amado
O amor não é pecado
Errar também é comum

Sou casado, tu és criança
Porém minha esperança
Não vai assim terminar
Meu amor é tão profundo
E por nada deste mundo
Deixarei de te amar

Por isso deves ter calma
Te peço pela minh'alma
Não sejas impaciente.
Eu te juro, meu benzinho
Meu afeto e meu carinho
Serão teus eternamente 

Tá Do Jeito Que Eu Queria
Mãe Menininha me preteja eu na Bahia
Mãe Menininha ta do jeito que eu queria
Mãe Menininha me preteja eu na Bahia
Mãe Menininha ta do jeito que eu queria

O leão que pensava em me pegar perdeu a pata
A cobra que pensavam em me picar sumiu na mata
O cachorro que pensava em me morder ficou sem dente
Feiticeiro que pensava em me matar ficou doente
Feiticeiro ta morrendo, o cão desapareceu
Cobra ficou sem veneno, o leão sem patas morreu

Mãe Menininha me preteja eu na Bahia
Mãe Menininha ta do jeito que eu queria
Mãe Menininha me preteja eu na Bahia
Mãe Menininha ta do jeito que eu queria

Para me queimar com vida prepararam uma fogueira
Um burro pra me arrastar prepararam na mangueira
Um laço pra me amarrar foi feito de couro grosso
Uma espada de aço pra cortar o meu pescoço
O burro virou carneiro, laço grosso arrebentou
A espada virou santa e a fogueira se apagou

Mãe Menininha me preteja eu na Bahia
Mãe Menininha ta do jeito que eu queria

Mal De Amor
Foi de repente que fiquei doente e, aliás, passando muito mal
Uma doença tão impertinente eu tive medo que fosse mortal
Dentro do peito um constante tédio no corpo inteiro uma grande dor
Na medicina não achei remédio nem adianta procurar doutor
É mal de amor que eu estou sofrendo, mas isto eu sofro com prazer
Tem alguém que está percebendo e vai me restabelecer
 
Sei que breve vou ficar sadio, mas para isso vou me repousar
Quero deitar num leito bem macio o meu amor que vai me medicar
Meu tratamento será demorado e eu terei repouso absoluto
Mesmo curado ficarei deitado tomando um beijo a cada minuto
É mal de amor de amor que eu estou sofrendo
Tem alguém que está percebendo e vai me restabelecer

Recanto Dos Passarinhos
Recanto dos passarinhos estância dos meus amores
Onde os campos são mais verdes e tem mais perfume as flores
No azul do infinito tem mais brilho o luar 
Parece que até a lua vai ali pra descansar

Recanto dos passarinhos meu mundo, minha riqueza
Onde só tem alegria e não existe tristeza
Lá os passarinhos fazem seus ninhos no meu pomar 
E quando é de madrugada cantam pra me despertar

Espingarda lá não tem caçador lá não aceito
Por isso que os passarinhos lá gorjeiam satisfeitos
Seriema, juriti, o nhambu e a codorninha 
Vem comer no meu terreiro misturado com as galinhas

Recanto dos passarinhos é minha estância encantada
Onde moro com meus filhos e minha mulher amada
Toda noite numa prece agradeço ao Senhor 
Por me dar tanta alegria, tanta paz e tanto amor

Minha Terra, Minha Infância
Quisera que a vida trouxesse de volta
Meus entes queridos que a morte roubou
Meu corpo cansado voltasse à infância
Aos sonhos dourados que o vento levou

A minha casinha que um dia deixei
O tempo impiedoso já desmoronou
Aqueles caminhos tão lindos da roça
A chuva em fossas também transformou

A namoradinha do banco da escola
Pelo mundo afora nunca mais eu vi
Talvez me esqueceu ou ainda recorda 
Seu pranto transborda tão longe daqui

Quisera rever a velha paineira
Aurora em cores minhas madrugadas
A lua prateada canção do poeta
As noites de junho, a vendinha da estrada

A velha porteira o grande curral
Berrante choroso chamando a boiada
Agora distante de tudo isso
Estou submisso a saudade malvada

A namoradinha do banco da escola
Pelo mundo afora nunca mais eu vi
Talvez me esqueceu ou ainda recorda 
Seu pranto transborda tão longe daqui

Muito Obrigado Meu Deus
Muito obrigado meu Deus pela paz, pela amizade
Pelo amor fraternidade ensinado a perdoar
Muito obrigado meu Deus que na hora da amargura
Dá pra todas as criaturas a coragem pra lutar

Muito obrigado meu Deus pela chuva que abençoa
O labor da terra boa que devemos cultivar
Muito obrigado meu Deus pelo pão de cada dia
Pela música e poesia, pela terra, seu e mar

Muito obrigado meu Deus pelas aves, pelas flores
Pelas nuvens multicores, pelo sol com seu calor
Muito obrigado meu Deus pela lua esplendorosa
Esta fonte luminosa que inspira paz e amor

Muito obrigado meu Deus pelo riso da criança
Que nos traz nova esperança, vendo o mundo ao seu favor
Muito obrigado meu Deus que do céu nos ilumina
Com a sua luz divina quando cremos no Senhor

Cerne Do Aroeira
Para chegar nesta terra vim arriscando a sorte
Bebi água envenenada respirei o ar da morte
Na navalha do destino vim rastejando no corte
Eu vim trazendo coragem esperança e sangue forte
A minha pobre bagagem eu mesmo fiz o transporte

Pra entrar na batalha saí da minha trincheira
Com pingo do meu suor fui apagando a poeira
Com fibra e resistência igual cerne de aroeira
Eu sempre segui avante atravessando barreira
E no mastro da vitória hasteei minha bandeira

Chorei muito no passado para sorrir no presente
Estou colhendo o fruto onde plantei a semente
A minha mão calejada é minha grande patente
E tudo que hoje tenho, agradeço a Deus somente
Porque na luta da vida eu venci honestamente

Gente que me vê na sombra tem inveja do que sou
Mas não sabe que o sol muitas vezes me queimou
Nos caminhos que passei muita gente não passou
Nas lutas que eu venci eu vi gente que tombou
Precisa ter fé em Deus para chegar onde estou

Laçador De Cachorro
Um laçador de cachorro do coração de serpente
Homem só pela metade, diabo em forma de gente
Não vale um tostão furado quem persegue um inocente
Vi uma sena cruel que não sai da minha mente
Pra salvar seu cachorrinho coitado de um garotinho
Foi morto covardemente

Um garoto de dez anos depois que fez a lição
Pertinho da sua casa brincava no quarteirão
Com seu luluzinho branco cachorro de estimação
De repente como um raio veio um laçador de cão
O garoto assustado pegou seu cão estimado
E apertou no coração

Com seu cãozinho nos braços ele saiu na carreira
Laçador bateu atrás igual onça pegadeira
Vou laçar este moleque e arrastar pela poeira
Foge, foge luluzinho da laçada traiçoeira
Embora eu seja arrastado, mas meu cãozinho adorado
É uma flor que ninguém cheira

Garoto perdeu a vida nas mãos de um homem ruim
Despedindo deste mundo coitadinho disse assim
Trate bem meu cachorrinho que tem nome de marfim
Papaizinho, mamãezinha peço não chorem por mim
Vocês precisam coragem a morte é uma passagem
Pra vida que não tem fim

Nossa justiça não falha a lei não está dormindo
No fundo de uma prisão vai ter fim este assassino
Ele vai morrer nas grades sem vela em desatino
É mais uma triste história escrita pelo destino
Depois do que aconteceu, o cachorrinho morreu
De saudade do menino

A Grande Cilada
Malandro de muita arte que roubou a vida inteira
Parecia homem de Marte, lambari da corredeira
Embrulhou por toda parte a polícia Brasileira
Parecia o Malazarte, carregou água em peneira
Um rato de muita arte sem cair na ratoeira
Malandro pintou o sete, fez ponta de canivete 
Virar bico de chaleira

Era liso igual quiabo não falhava um truque seu
Soldado, sargento e cabo na poeira se perdeu
Pegou gato pelo rabo e como lebre vendeu
Embrulhou até o diabo que na frente apareceu
Era um cascavel dos brabos bote errado nunca deu
Malvado e desumano, embrulhou até cigano 
Que com ele se envolveu

Na capital de São Paulo o malandro apareceu
E dando uma de galo a mão no peito bateu
Para pisar no meu calo quero ver quem que nasceu
Não vou cair do cavalo, rei dos malandros sou eu
Não pode cair no pialo quem com classe aprendeu
Os delegados só prendem malandros que não entendem 
Que não foi aluno meu

Vestido de militar mulher rica conseguiu 
Hoje vou me casar até o padre vai cair
Não era flor de cheirar o padre que estava ali
Você não é militar a tempo te persegui
Aqui nos pés do altar sua fama vai cair
Você e um malandro otário eu também não sou vigário 
Sou o delegado Fleuri

O Castigo Vem A Cavalo
Lá nos confins do meu norte no chão da velha Bahia
Baiano de muita raça veio do nada e subia
Tinha casa na cidade, armazém e moradia
Fazenda com muito gado que de vista se perdia
Um baú com prata e ouro aumentava seu tesouro
Sua fortuna crescia

Sofrendo do coração a morte lhe perseguia
Igual um bravo gigante da luta ele não corrida
Quando saia de viagem sua esposa prevenia
Eu vou fazer um pedido se longe morrer um dia
Não me deixa em outro estado eu quero ser enterrado
No chão da minha Bahia

Se você não me atender por maldade ou tirania
Você pagará com juros o preço da covardia
Porém sua longa viagem o baiano não sabia
O calendário da morte estava marcando seu dia
Ele morreu na batalha oi um herói sem medalha
Triste fim não merecia

No coração da viúva só maldade residia
A ingrata nem rezou missa de sétimo dia
Pensando que muito breve com outro se casaria
Aquele grande tesou nem Deus do céu destruía
Com atitude desumana dizia a fera tirana 
Isso mesmo que eu queria

Castigo vem a cavalo ligeiro igual ventania
Armazém desceu as portas sumiu toda freguesia
Bateu doença no gado toda boiada morria
Igual a gelo no sol a fortuna derretia
A mulher virou um farrapo, embrulhada em velhos trapos
Teve o fim que merecia

Viola Divina
Viola minha viola cavalete do pau preto
Morro com você nos braços de joelho lhe prometo
Viola minha viola de jacarandá e canela
Na alegria ou na tristeza vivo abraçado nela
Minha viola divina eu ganho a vida com ela

O quadro da Santa Ceia doze apóstolos tem
Minha viola não é santa tem doze cordas também
Doze meses tem o ano doze horas tem o dia
Doze horas tem a noite esta noite é de alegria
Esta viola divina já me deu o que eu queria

Não aprendi fazer guerra na escola de cantoria
Fazer guerra é muito fácil quero ver fazer poesia
Com essa viola divina um pedido vou fazer
Para Deus matar a morte pro cantador não morrer
Enquanto existir viola cantador tem que viver   

Até ano dois mil se uma viola só existir
Garanto vai ser a minha que não paro de tinir
O cantador sem viola na carreira nada tem
Minha viola é divina das mãos de Deus é que vem
Quem não gosta de viola não gosta de Deus também

Pedaço De Pão
Joãozinho menino pobre numa escola no sertão
Levou para o seu recreio um pedacinho de pão
Um outro menino rico só pra fazer judiação
Tomou-lhe aquele pão duro e disse por gozação
Isso é comida de porco e rindo atirou no chão

Quando Joãozinho cresceu foi estudar para padre
Entrou para o seminário enquanto em sua cidade
O Pai do menino mal perdeu as propriedades
Morreu na estrema miséria passando necessidade
Seu filho ficou vivendo de esmola e caridade

Um dia o padre Joãozinho pra sua terra voltou
Num domingo após a missa o sacristão lhe chamou
Que um mendigo agonizante fora da igreja tombou
O padre foi ver quem era e logo identificou
Que aquele era o menino quem um dia seu pão pisou

Padre Joãozinho falou ao lhe dar a extrema unção
Quem pisa o pão pisa Deus porque a hóstia é pão
Que leva o corpo de Cristo na sagrada comunhão
O pão que agora recebe leva consigo o perdão
Pra que sua alma no céu possa encontrar salvação

O Tesouro É Do Patrão
Num festival de viola coisa do nosso sertão
Uma menina escolhida estava na recepção
A essência da beleza conheci na ocasião
Dei nome de flor de ouro pra menina tentação
Ela estava tão divina a diabinha da menina é o tesouro do patrão

Começou a cantoria som de viola e violão
Esqueci que eu estava no meio da comissão
Esqueci da minha vida, esqueci da obrigação
Aquela coisinha fofa desviou minha atenção
Ela estava tão divina a diabinha da menina é o tesouro do patrão

Ela é uma doçura beleza com distinção
Da cabeça até os pés ganha da rosa em botão
Olhos verdes tentadores que estraçalha coração
Cinturinha de boneca pra matar quem tem paixão
Ela estava tão divina a diabinha da menina é o tesouro do patrão

Ela vestiu uma blusa fechadinha sem botão
Tinha detalhes dourados num verde meio pavão
Sua blusa é uma gaiola conservando na prisão
Duas rolinhas ariscas distante do gavião
Ela estava tão divina a diabinha da menina é o tesouro do patrão

Olhei tanto pra menina que caí numa inflação
Se o patrão me desse um tiro me matava com razão
Mas ele me deu um tombo mesmo sem me por as mãos
Com classe e categoria me deu a maior lição
Para os dois a vida é bela eu não chego nos pés dela o tesouro do patrão

Músicas do álbum Viola Divina (CHANTECLER 103405274) - (1978)

Nome Compositor Ritmo
Canário Malandrinho Lourival Dos Santos / Milton José / Tião Carreiro Rojão
Apaixonados Luiz De Castro / Tião Carreiro Guarânia
Tá Do Jeito Que Eu Queria Lourival Dos Santos / Tião Carreiro Balanço
Mal De Amor Nonô Basílio / Tião Carreiro Guarânia
Recanto Dos Passarinhos Luiz De Castro / José Homero Querumana
Minha Terra, Minha Infância Luiz De Castro / Tião Carreiro / Atílio Versutti Rancheira
Muito Obrigado Meu Deus Capitão Furtado / Paraíso Querumana
Cerne Do Aroeira Lourival Dos Santos / Jesus Belmiro / Vicente P. Machado Pagode
Laçador De Cachorro Tião Carreiro / José Béttio Cururu
A Grande Cilada Lourival Dos Santos / Tião Carreiro / Arlindo Rosas Pagode
O Castigo Vem A Cavalo Lourival Dos Santos / Sebastião Victor / Arlindo Rosas Cururu
Viola Divina Tião Carreiro / Lourival Dos Santos Pagode
Pedaço De Pão José Fortuna / Carminha Cateretê
O Tesouro É Do Patrão Lourival Dos Santos / Moacyr Dos Santos / Paraíso Corta Jaca
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