A Força Do Perdão (CHANTECLER CH 3239) - (1970) - Tião Carreiro e Pardinho

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Cochilou O Cachimbo Cai
É de madrugada, de madrugada que o galo canta
É de manhã cedo, de manhã cedo que se levanta

Quando eu cheguei em São Paulo, dava pena e dava dó
Minha mala era saco o cadeado era um nó
Tem muita gente com inveja porque viu que eu subi
Eu nasci pra trabalhar vagabundo pra dormir, é de madrugada

É de madrugada, de madrugada que o galo canta
É de manhã cedo, de manhã cedo que se levanta

Perdição do vagabundo é gostar do travesseiro
Depois fica de olho gordo em cima do meu dinheiro
Estou com a vida mansa acho ela muito boa
Eu levanto bem cedinho pra ficar mais tempo a toa, é de madrugada
É de madrugada, de madrugada que o galo canta
É de manhã cedo, de manhã cedo que se levanta

Quem chegou a general, quem chegou a coronel
Levantou de madrugada chegou cedo no quartel
Sem trabalho ninguém vive, sem trabalhar ninguém vai
Minha gente a vida é dura cochilou o cachimbo cai, é de madrugada

É de madrugada, de madrugada que o galo canta
É de manhã cedo, de manhã cedo que se levanta

Começo Do Fim
Pra cantar gostoso de longe eu vim
Pagode bonito tem que ser pra mim
O fim do começo tem que ser assim
O que tem começo tem que ter um fim

Lá no fim do sul começo do norte
Fim da colheita começa o transporte
O fim da boiada começa no corte
O fim do azar começo da sorte

Bem no fim do cabo começa o arreio
É no fim dá rédea começo do freio
No fim da confiança começa o receio
O fim da metade é o começo do meio

No fim da cachaça vem a gandaia
É no fim do mar começo da praia
É no fim do joelho o começo da saia
O fim do artista é o começo da vaia

Velho Marrudo
Tem um sujeito por ai anda dizendo 
Que está querendo minha casa derrubar
Ele falou que quebra porta, janela 
Quebra tranca e tramela minha filha vai levar
Na minha casa gosto de muito respeito 
Vou mostrar para o sujeito a volta que o mundo dá

E nesse dia vou fazer tremer o mundo 
O vagabundo na chibata vou cortar
Esse malandro comigo vai dar pinote 
Na tala do meu chicote seu topete eu vou quebrar
Na minha casa gosto de muito respeito 
Vou mostrar para o sujeito a volta que o mundo dá

Esse sujeito vai topar parada dura 
Só amargura comigo vai encontrar
Esse malandro tá num mato sem cachorro 
Ele vai pedir socorro moleza eu não vou dar
Na minha casa gosto de muito respeito 
Vou mostrar para o sujeito a volta que o mundo dá

A minha filha é um tesouro adorado 
Esse arrogado com ela não cai casar
Eu sou marrudo desaforo não aceito 
Casa de homem direito malandro não pode entrar
Na minha casa gosto de muito respeito 
Vou mostrar para o sujeito a volta que o mundo dá

Lá Onde Eu Moro
Lá onde eu moro é um recanto encoberto, 
Mas parece um céu aberto cheio de tanta beleza 
Lá onde eu moro minha vida é mais vida 
A paisagem colorida pela própria natureza 

Lá onde eu moro quem desejar conhecer 
Eu ensino com prazer com toda satisfação 
A minha casa não é lá muito bonita, 
Mas quem me fizer visita eu recebo de coração

Lá onde eu moro é cercado de arvoredo 
O sol se esconde mais cedo demora surgir o luar
Constantemente corre água cristalina 
Lá no alto da colina como é lindo a gente olhar 

Lá onde eu moro a gente não fica triste 
Tristeza lá não existe embora seja um recanto 
Lá onde eu moro é mesmo um paraíso 
Os lábios só têm sorriso nos olhar não se vê pranto

Lá onde eu moro quando é de madrugada 
Gorjeiam a passarada prenuncio um novo dia 
O chororó pia triste na queimada 
Ao longe lá na invernada a codorninha assobia 

Por nada troco o meu pedacinho de terra 
Minha casa ao pé da serra e o campo vestido em flor 
Chão abençoado recanto dos passarinhos 
Onde eu moro é um ninho de paz, ternura e amor

Homem Sem Rumo
Eu longe da minha terra distante do povo meu
Pra lá eu não volto mais minha esperança morreu
A vida está me ralando tirando o que não me deu
Minha sorte foi madrasta o mundo só me bateu

E quando chega o natal dia em que Jesus nasceu
Lá em casa todos reúnem só fica faltando eu
Não posso mandar dizer o que me aconteceu, ai, ai

Estou vendo aquela casa papai e mamãe e quem mora
Vejo meu amor primeiro na certa outro namora
E mamãe ajoelhada aos pés de Nossa Senhora
Rezando e pedindo sorte pro filho que mais adora

Meu coração está roxo, está parecendo amora
Não é falta de suspiro eu suspiro toda hora
Mãezinha quanta saudade eu distante da senhora, ai, ai

Derrubei matas e matas, fiz lavoura de café
Quando a sorte me sorria na vida dei marcha ré
A malvada da geada destruiu a minha fé
Tornei-me um homem sem rumo remando contra a maré

Vou indo ao rumo do nada veja a sorte como é 
Sorrindo eu peço desculpas pra quem pisar no meu pé
Pra quem já vive pisado seja lá o que Deus quiser, ai ai

Minha Mágoa
Eu gostaria oh, meu grande amor 
Que tu gosta-se um pouco de mim
Assim meus olhos não mais chorariam
E minha mágoa chegaria ao fim

Porque vivendo assim como eu vivo
Sempre sofrendo sem o teu amor
Acabarei morrendo aos poucos
Não suportando esta grande dor

Venha depressa que aqui te espero
Venha acalmar a grande dor que sinto
Por que te amo, te amo demais
Creia em mim é verdade não minto

Se não voltares aqui morrerei
Porque sem ti eu não sou ninguém
E tu então serás criminosa
Criminosa por matar alguém
E esse alguém sou eu

Rio De Lágrimas
O rio de Piracicaba vai jogar água pra fora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora

Lá no bairro que eu moro só existe uma nascente
A nascente dos meus olhos já formou água corrente
Pertinho da minha casa já formou uma lagoa
Com lágrimas dos meus olhos por causa de uma pessoa

O rio de Piracicaba vai jogar água pra fora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora

Eu quero apanhar uma rosa minha mão já não alcança
E choro desesperado igualzinho uma criança
Duvido alguém que não chore pela dor de uma saudade
Quero ver quem que não chora quando ama de verdade

O rio de Piracicaba vai jogar água pra fora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora

João Bobo
Conheci numa cidade há muitos anos passados 
Um bobo que andava rindo e o pobre era retardado
A molecada vadia não dava paz ao coitado
Por mais que dele judiasse nunca ficava zangado
Mas nem sempre um demente tem os nervos controlados
Vinte anos de chacota suportou neste povoado

Por quarto estudantes um dia João Bobo foi rodeado
Ameaçaram lhe bater só pra ver ele zangado
João Bobo pegou uma pedra e atirou num dos malvados
Seu agressor desviou tirando o corpo de lado
A pedra pegou em cheio no filho do delegado
E o pobrezinho morreu dali minutos passados

Aquele bobo foi preso pra mais logo ser julgado
No dia do julgamento foi surpresa pros jurados
Entrou pelo Fórum adentro um mocinho bem trajado
Apresentou pro juiz carteira de advogado
Terminando acusação o réu ficou arrasado
E o juiz deu a palavra ao mocinho advogado

Meritíssimo juiz e senhores jurados
Meritíssimo juiz e senhores jurados
Meritíssimo juiz e senhores jurados

Silêncio o senhor não tem argumentos para defesa do réu
É neste ponto senhor juiz que eu queria ter chegado
O senhor não tolerou três vezes ser pronunciado
Chamando a sua atenção e dos senhores jurados
Vinte anos esse bobo suportou no povoado
Insulta de toda espécie e nunca ficou zangado
Ouçam a voz da consciência julguem senhores jurados

Foi essa a primeira causa do mocinho advogado
Vitória bem merecida por ele foi alcançada
Ai João Bobo foi libertado

O Gavião E A Andorinha
Lá no bairro onde eu moro a coisa vai ficar feia
Ali mora uma andorinha que tem dente e sobrancelha
Também tem um gavião que há muito tempo rodeia
Na volta da meia noite é que o tal gavião passeia

É um gavião luxento anda de sapato e meia
Também advinha chuva sem que o ar diferencia
Não assenta em galho seco não deixa rasto na areia
Eu tô vendo qualquer hora gavião dormir na cadeia

Andorinha tem quem mande trás no pé da correia
Quem governa é um urutu que mora embaixo da telha
Andorinha facilita o gavião não bobeia
No meio da passarada por sinal os dois proseiam

Na festa dos passarinhos os dois estavam de pareia
Gavião tava contente de gravatinha vermelha
Andorinha bem vestida, brinco de ouro na orelha
Urutu chegou na festa gavião perdeu a ceia

Gavião saiu quebrado arrastando asa na areia
Mancando da perna esquerda igual um porco na peia
Andorinha tá quietinha nem voa e nem proseia
Urutu quando dá bote pula certo e não falseia

A Casa
Fiz uma casa gostosa e também muito bacana
Tijolo da minha casa de rapadura baiana
O encanamento da casa eu fiz de cana caiana
Instalação de cambuquira e as torneiras de banana
Ajuntei favos de mel fiz as portas e venezianas

Os caibros e as vigotas eu fiz tudo com torrão
Os pregos eu fiz de cravos e as ripas de macarrão
No lugar que vai concreto botei tutu de feijão
Também fiz a caixa d’água inteirinha de melão
Cobri toda minha casa com alface e almeirão

O estuque da minha casa fiz tudo com goiabada
Rodapé fiz de bolacha e os tacos de cocada
O azulejo da casa pedaço de marmelada
Assentei com chantili rejuntei com bananada
Botei focinho de porco no lugar que vai tomada

Reboquei a casa inteira com creme de abacate
Também fiz o cimentado na base do chocolate
A luz eu fiz de ameixa e o globo de tomate
Preparei a tinta boa caprichei no arremate
Minha casa foi pintada com groselha e chá mate

O nosso custo de vida dia a dia só piora
Se a fome me apertar tem a casa que me escora
Eu convido as crianças e também minha senhora
Nós passamos a casa pro bucho no prazo de poucas horas
A casa fica por e dentro e nós vamos ficar por fora

Nosso Romance
Chora viola apaixonada que o seu dono tem paixão e também chora
Quanta gente por amor está sofrendo igual a eu suspirando toda hora

Pra onde foi a mulher que mais eu amo
Pode estar perto também pode estar distante
Meu Deus do céu não existe dor maior
Do que a distância que separa dois amantes

Onde andará a paixão de minha vida
Será que canta ou será que está chorando
Se nesta hora ela estiver me ouvindo
Perdão querida se lhe maltrato cantando

Chora viola apaixonada que o seu dono tem paixão e também chora
Quanta gente por amor está sofrendo igual a eu suspirando toda hora

Tenho certeza que ela nunca se esquece
Nunca esquece daquelas horas tão belas
O nosso mundo pequenino foi tão lindo
Quatro paredes uma porta uma janela

Fomos felizes num pedacinho de mundo
Só o silêncio estava de sentinela
Aquele beijo que durou quinze minutos
Depois meu braço foi o travesseiro dela

A Força Do Perdão
Quando escuto alguém contando mais um caso de assaltante
Lembro um fato há muito tempo que recordo nesse instante
Pobre mãe banhada em pranto numa cena emocionante
Pede ao médico que salve o seu filho agonizante

O doutor um dia antes tinha sido assaltado
Em legitima defesa lutou tão desesperado
O ladrão com a própria arma acabou sendo baleado
O doutor saiu com a vida, porém muito machucado 

Mas o médico bondoso sem medir dificuldade 
Foi prestar o seu socorro por dever de humanidade
Pela estrada lamacenta tão distante da cidade
Parecia até loucura enfrentar a tempestade

Viu num rancho com surpresa que o ferido era o ladrão
Mas curou o assaltante que fez essa confissão
Ao doutor de corpo e alma devo a minha salvação
Mais forte do que o ódio é a força do perdão

Músicas do álbum A Força Do Perdão (CHANTECLER CH 3239) - (1970)

Nome Compositor Ritmo
Cochilou O Cachimbo Cai Lourival Dos Santos / Moacyr Dos Santos Balanço
Começo Do Fim Lourival Dos Santos / Moacyr Dos Santos / Tião Carreiro Pagode
Velho Marrudo Lourival Dos Santos Arrasta-pé
Lá Onde Eu Moro Luiz De Castro / Tião Carreiro Rasqueado
Homem Sem Rumo Serrinha / Lourival Dos Santos Cururu
Minha Mágoa Letinho Corrido
Rio De Lágrimas Lourival Dos Santos / Tião Carreiro / Piraci Rojão
João Bobo Zé Godoy / Carreirinho Corta Jaca
O Gavião E A Andorinha Raul Torres / Lourival Dos Santos Corta Jaca
A Casa Lourival Dos Santos / Moacyr Dos Santos / Tião Carreiro Pagode
Nosso Romance Lourival Dos Santos / Tião Carreiro Rojão
A Força Do Perdão Tião Carreiro / Ari Guardião Cururu
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