Repertório De Ouro (CHANTECLER CH 3083) - (1964) - Tião Carreiro e Pardinho

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Bandeira Branca
Vou contar o que eu nunca vi pro sertão e pra cidade
Nunca vi guerra sem tiro e nem cadeia sem grade
Nunca vi um prisioneiro que não queira liberdade
Nunca vi mãe amorosa do filho não ter saudade

Nunca vi homem pequeno que ele não fosse papudo
Eu nunca vi um doutor fazer falar quem é mudo
Nunca vi um boiadeiro carregar dinheiro miúdo
Nunca vi homem direito vestir calça de veludo

Eu nunca vi um carioca que não fosse bom sambista
Nunca vi um pernambucano que não fosse bom passista
Nunca vi um paraibano que não fosse repentista
Nunca vi um deputado apanhar de jornalista

Eu nunca vi um paulista da vida se maldizendo
Nunca vi um paranaense que não esteja enriquecendo
Eu nunca vi um baiano no facão sair perdendo
Eu nunca vim um mineiro da luta sair correndo

Nunca vi um catarinense depois de velho aprendendo
Nunca vi um mato-grossense de medo andar tremendo
Eu nunca vi um gaúcho pra laçar precisar treino
Eu nunca vi um goiano por paixão beber veneno

Nunca vi um fazendeiro andar em cavalo que manca
Pra fechar boca de sogra não vi chave, não vi tranca
Pra terminar meu pagode vou falar botando banca
Quero ver meus inimigos levantar bandeira branca

Rio Preto De Luto
Rio Preto e toda região vive muito aborrecido
De um certo tempo pra cá quantos golpes tem sofrido
Quantos homens de valor a cidade tem perdido
Seus nomes ficou na história gravado em nossa memória 
E jamais será esquecido

Quantas perdas irreparáveis quase que num tempo só
As derrotas foram tantas falo apenas das maiores
Doutor Anísio Moreira da vizinha Mirassol
Na selva de Mato Grosso caiu n’água num destroço 
A morte não teve dó

Num desastre na Bolívia Milton Verde e seu cunhado
A bordo de um avião fizeram um pouso forçado
Lá viveu setenta dias num mundo desamparado
Triste fim teve os dois homens morrerem de sede e fome
Completamente isolados

O Doutor Bady Bassit ilustre batalhador
Pela nossa Rio Preto não poupava seu labor
Lutava pelo progresso com carinho e com amor
Mas uma infeliz sorte foi tragado pela morte
Aumentando a nossa dor

Meus prezados vinte amigos isto tudo não foi só
A morte também levou Doutor Alberto Andaló
Nas derrotas rio-pretense foi uma das mais piores
Ex prefeito e deputado lutava desesperado
Por um Rio Preto melhor

Rio Preto também perdeu o Coutinho Cavalcanti
Morrer o Doutor Jaffet outra figura importante
Nas águas do rio Turvo cinqüenta e nove estudantes
Meu Deus tenha piedade defenda nossa cidade
E também seus habitantes

Cabelo Loiro
Cabelo loiro vai lá em casa passear, vai, vai 
Cabelo loiro vai acabar de me matar
Todos velhos já foi moço já gozou a mocidade
Eu também já tive amor, hoje só resta saudade

Cabelo loiro vai lá em casa passear, vai, vai 
Cabelo loiro vai acabar de me matar
Vou me embora pra bem longe aqui não posso ficar
Vivendo pertinho dela minha vida é só chorar

Cabelo loiro vai lá em casa passear, vai, vai 
Cabelo loiro vai acabar de me matar
Você diz que bala mata, bala não mata ninguém
A bala que mais me mata é o desprezo do meu bem

Cabelo loiro vai lá em casa passear, vai, vai 
Cabelo loiro vai acabar de me matar
Casa de pobre é ranchinho, casa de rico é de telha
Se ter amor fosse crime minha casa era cadeia

Cabelo loiro vai lá em casa passear, vai, vai 
Cabelo loiro vai acabar de me matar
Quanto mais tu me despreza a dor no meu peito inflama
Quem não quero me quer bem, quem eu quero não me ama

Cabelo loiro vai lá em casa passear, vai, vai 
Cabelo loiro vai acabar de me matar
Beija-flor que beija a rosa se despede do jardim
Assim fez o meu amor quando despediu de mim

Cabelo loiro vai lá em casa passear, vai, vai 
Cabelo loiro vai acabar de me matar

Tem E Não Tem

A casa do João de Barro tem porta e não tem janela
A mesa da minha casa tem perna e não tem canela
Na minha boca tem ponte, mas nunca teve pinguela
O motor do meu carro tem cavalo e não tem cela
Minha sogra tem brabeza, mas não tenho medo dela

Onde tem ordem e progresso não pode ter decadência
Tem gente que tem vontade, mas não tem experiência
Como tem muitos violeiros no rádio sem competência
O frango também tem peito pra cantar não tem potência
O pão também tem miolo, mas não tem inteligência

O Adão teve mulher não teve sogra nem perdão
Tem muita gente no mundo que vive sem profissão
Tem outros que tem ofício, mas não tem calo na mão
Mulher que tem dois amores não tem dois corações
Tem gente que tem escola, mas não tem educação

Homem que tem mulher braba esse não tem liberdade
Tem mulher que tem beleza, mas não tem sinceridade
Tem gente que tem dinheiro, mas não tem felicidade
Eu tenho certos parentes deles não tenho saudade
Tem gente que tem diploma, mas não tem capacidade

Meu Fracasso
Companheirada vamos beber
Pede ao garçom pra reunir quatro ou cinco mesas
Peçam bebida, muita bebida
Que hoje sou eu quem paga a despesa

Quero beber quero embriagar-me 
Quero esquecer a minha tristeza
Hoje eu sofro tanto é grande minha dor
Perdi para sempre perdi para sempre perdi meu amor

Hoje estou vencido, estou convencido
A maldita sorte segue-me passo a passo
O meu triste fado reduz-me ao nada
E assim levo a vida de fracasso em fracasso
E, entretanto a quem eu amo 
Encontra a vitória de braços em braços

Roxinha
Ai Roxinha quem mandou você pra cá
Ai Roxinha quem mandou você pra cá
Tá vendo que eu sou casado mesmo assim quer me amar
Tá doido Roxinha tu é capaz de me matar, tu é capaz de me matar

Ai Roxinha amanhã vou te deixar
Ai Roxinha amanhã vou te deixar
Vou-me embora pra bem longe não sei quando hei de voltar
Tá doido Roxinha tu é capaz de me matar, tu é capaz de me matar

Ai Roxinha eu não posso te amar
Ai Roxinha eu não posso te amar
Eu sou fácil pra querer e sou duro pra deixar
Tá doido Roxinha tu é capaz de me matar, tu é capaz de me matar

Ai Roxinha nós precisa se apartar
Ai Roxinha nós precisa se apartar
Na hora da despedida não quero te ver chorar
Tá doido Roxinha tu é capaz de me matar, tu é capaz de me matar

Casa Branca Da Serra
Na casa branca da serra lugar que eu fui residente
Vou-me embora dessa terra daqui vou viver ausente 
Mas antes de ir eu quero que todos fiquem cientes
De um amorzinho que eu tinha tem um outro pretendente
É duro a gente gostar de quem não gosta da gente
Ai, ai, de que não gosta da gente ai, ai

Nosso amor de tantos anos acabou tão de repente
Esse golpe tão doído franqueza fique doente
Pra esquecer o nosso amor vou pra lugar diferente
Passa de braço na rua com outro na minha frente
Você faz por um capricho sabendo que a gente sente
Ai, ai, sabendo o que a gente sente, ai, ai

Nosso amor foi como um vento que passou tão de repente
Os teus agrados fingidos é o que não me sai da mente
Você foi a minha flor mais em forma de serpente
Teu retrato colorido guardarei eternamente
Eu sou como a flor do campo que não tem seu pretendente
Ai, ai, que não tem seu pretendente, ai, ai

Agora eu acabei de crer que o amor é uma semente
Que semeia o sofrimento dentro do peito da gente
Embora voz não me queira, mas te quero eternamente
Quem dizer que o amor não dói franqueza digo que mente
O desprezo de um amor não há coração que agüente
Ai, ai não há coração que agüente, ai, ai

Tudo Serve
O pau de pinheiro serve pra fazer viola de pinho
O braço da viola serve pra mim pontear direitinho
Mulher faladeira serve pra falar mal dos vizinhos
As águas que corre e corre serve pra mover moinho
Carro velho na estrada serve pra entupir o caminho

Sapato apertado serve dói o calo quando eu piso
Negócio quando é mal feito só serve pra dar prejuízo
O dinheiro também serve, pois é dele que eu preciso
As mulheres bonitas servem pra gente perder o juízo
Os seus lábios também serve pra mim dar beijo e sorriso

Os seus beijos também servem pra me dar inspiração
A sua beleza serve pra aumentar minha paixão
Seus carinhos também servem pra dobrar minha ilusão
Seu orgulho também serve pra fazer ingratidão
Seu desprezo também serve pra ferir meu coração

Mocinhas de pouca idade só servem pra namorar
A sogra encrenqueira serve faz o casal separar
As mulheres baixinhas servem já nasceram pra teimar
Os homens baixinhos servem pra fazer os grandes brigar
Na casa que a mulher manda o homem serve pra apanhar

Boi Sete Ouro
Circo rodeio Ipiranga sua fama vai avante
Faixa Preta e o proprietário tem um boi lhe garante
O seu nome é Sete Ouro seus pulos vale diamante
São Paulo, Goiás e Minas fez proezas importante

Parece que o tal boi tem sabão em cima do couro
Faixa preta fala grosso o bichão vale um tesouro
Derrubou seiscentos peão não contando com os calouros
Deixo da vida de circo se quebrarem o Sete Ouro

Certo dia um feiticeiro fez um trabalho pesado
Levou um peão no rodeio cem conto foi apostado
Sete Ouro não pulou deixou o povo admirado
Faixa Preta descobriu que o boi foi enfeitiçado

Faixa Preta na revanche contratou um macumbeiro
Dobrou a aposta com o peão para duzentos mil cruzeiros
E foi no primeiro pulo o peão beijou o picadeiro
Neste dia o feitiço virou contra o feiticeiro

Faixa Preta se orgulha das façanhas que o boi fez
Quem tentar montar no bicho nunca mais fica freguês
Pros peão da minha terra lanço um desafio cortez
Pra quebrar o sete ouro precisa nascer outra vez

Repertório De Ouro
Na viola eu sou competente e tenho meu peito sadio
Pra não arder no meu ouvido procuro cantar baixo e bem macio
Tenho um repertório de ouro outro igual ainda não existiu
Com meu repertório de ouro ainda mais minha fama subiu
Não preciso ficar repetindo muitas modas que o povo já ouviu
Uma moda que canto em janeiro só vou repetir lá pro mês de abril

Meu pagode que é o tudo certo ta falado em todo Brasil
E a geada do Paraná sena triste que nós assistiu
A moda do rei do gado boiadeiros contente sorriu
E a moda da terra roxa enxadeiros também aplaudiu
Com meu pagode em Brasília Juscelino também divertiu
Não canto modas de abater, pois comigo ninguém ainda não buliu

Hoje em dia é a viola quem manda os caboclos também progrediu
O estilo novo do pagode foi nós mesmos quem descobriu
Os compositores sertanejos também merecem nosso elogio
Caboclada boa na caneta inteligente e do sangue frio
A legião de fãs que nós temos foi cantando que nós conseguiu
Agradeço a platéia querida e aqueles ouvintes que nunca me viu

Me contaram que dois violeiros da viola já desistiu
Porque foram cantar num a praça nem de casa o pessoal não saiu
Esses caras derrubaram a praça a praça pra nós pode crer não caiu
Depois deles eu dei o meu show atendendo meus fãs que pediu
Duas noites eu cantei nesta praça duas noites o circo entupiu
Nos lugares que eles tomam prejuízo eu nunca voltei com meu bolso vazio

Triste Destino
Hoje ela vive distante tudo entre nós se acabou
Do nosso amor o que resta a saudade que ficou
Tantos carinhos eu lhe dei em troca deu-me a traição
Seguindo a estrada de espinhos da ingrata perdição

Embora eu sofra muito por amar uma fingida
Mesmo assim eu não te esqueço um instante em minha vida

Vive vagando pro mundo sente na vida o cansaço
Quem teve grande aventura hoje só resta o fracasso
Segue seu triste caminho na miséria sem guarida
Quem iludiu meu amor foram as colegas perdidas

Embora eu sofra muito por amar uma fingida
Mesmo assim eu não te esqueço um instante em minha vida
Mesmo assim eu não te esqueço um instante em minha vida

Fracassada
A bebida te deixaste fracassada te deixaste sem abrigo e sem um lar
Hoje vive pelo mundo desprezada o passado tu bem deve recordar
Quem foi dona de um lar abençoado que tinha tudo e não soube dar valor
Então andas pelo mundo abandonada maltratada sem carinho e sem amor

Sofre e faz a gente sofrer também
Chora e faz a gente também chorar
Mas se um dia deixares a bebida
Voltarás ter nova vida reconstruindo um novo lar
Mas se um dia deixares a bebida
Voltarás ter nova vida reconstruindo um novo lar

Jangadeiro Cearense
O sol nascendo horizonte entre as florestas e montes despertando o jangadeiro
Homem que não teme a morte o jangadeiro do norte trabalha anos inteiros
Solta a jangada no mar vai remando devagar vai finando a branca areia
Ficam as matas e os palmiteiros diz adeus o jangadeiro sua folhas balanceia

Por ter sua devoção por tirar o pé do chão 
Ele faz sua oração para se retirar
Ai, ai pra enfrentar as ondas do mar

Eu sou um pobre pescador ajudai oh! Meu Senhor 
Manda um anjo protetor para o meu barco guardar
Ai, ai pra ondas não me tragar

O sol já se despediu sobre as águas vai sumindo
As estrelas vão surgindo ficam as estrelas e o luar
Ai, ai só ele Deus e o mar

Ele volta carregado com seu corpo já cansado
Seu amor desesperado no seu ranchinho a esperar
Ai, ai ela se põe a rezar

Lá vem o meu pescador lutou com força e vigor
Agradeço meu senhor por esta benção me dar
Ai, ai já voltou para o meu lar

Meu Sofrimento
Meu sofrimento é demais depois que me abandonou
Vou te escrever uma carta contando como eu estou
Sentindo saudade sua relembrando nosso amor, ai

O meu amor pra você já ficou no esquecimento
Até mesmo a sua jura já se passou como um vento
Enquanto eu aqui padeço com você no pensamento, ai

Este mundo é mesmo assim não podemos ser iguais
Enquanto uns tem alegria outros sofrem por demais
Eu sofro por te amar e pra você tanto faz, ai

Preciso me conformar com essa sorte tirana
Eu lembro de você todos os dias da semana
Com este jeito fingido qualquer um você engana, ai

Músicas do álbum Repertório De Ouro (CHANTECLER CH 3083) - (1964)

Nome Compositor Ritmo
Bandeira Branca Tião Carreiro / Lourival Dos Santos Pagode
Rio Preto De Luto Joaquim Moreira / Zé Matão Moda de Viola
Cabelo Loiro Tião Carreiro / Zé Bonito Arrasta-pé
Tem E Não Tem Tião Carreiro / Moacyr Dos Santos Pagode
Meu Fracasso Tião Carreiro / Carreirinho / Campeão Valsa
Roxinha Pimentel / Lourival Dos Santos Corta Jaca
Casa Branca Da Serra Tião Carreiro / José Russo Corta Jaca
Tudo Serve Tião Carreiro / Moacyr Dos Santos Pagode
Boi Sete Ouro Teddy Vieira / Arlindo Rosas Moda de Viola
Repertório De Ouro Tião Carreiro / Moacyr Dos Santos Cururu
Triste Destino Tião Carreiro Valsa
Fracassada Tião Carreiro / Vicente De Oliveira Tango
Jangadeiro Cearense Tião Carreiro / Carreirinho Toada e Cururu
Meu Sofrimento Tião Carreiro / Onofre Egídio Cateretê
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