Rancho Vazio, Relembrando Anacleto Rosas Júnior - (1978) - Tonico e Tinoco
Rancho Vazio
Eu me vejo tão sozinho
Aqui dentro do ranchinho em tão grande solidão
Sinto até um nó na garganta
Uma coisa que em espanta e me aperta o coração
Até o meu perdigueiro
Já não sai mais do terreiro depois que ela morreu
Até parece que o bichinho
Encolhido num cantinho sofre muito mais que eu
Guardei um vestido dela
Guardei um par de chinela, tudo pra recordação
Não esqueço nem por nada
Sua imagem retratada eu guardei no coração
Às vezes eu tiro o chapéu
Levanto os olhos pro céu, pergunto a Nosso Senhor
Onde está minha Maria
Mulher que eu tanto queria e que Você carregou
Recado
Você vai pra minha terra dá lembranças aos meus amigos
E diga pra minha mãe não ter cuidado comigo
E diga que eu vivo bem e que moro na cidade
O que tá me judiando é a malvada da saudade
Se encontrar por um acaso a mulher que eu mais amei
Não diga que me encontrou e não diga que eu chorei
Dizem que homem não chora quem falar não tem razão
Quem dizer isso não sabe quanto dói a ingratidão
Diga pra minha velhinha pra vender minha viola
Que dê um sumiço nela ou dê à um pobre de esmola
Eu não posso mais cantar até fiz um juramento
Não posso mexer no pinho mais aumenta o sofrimento
Sinto saudade da velha e também dos seus carinhos
Saudade do amanhecer do cantar dos passarinhos
E diga pra aquele povo que esta saudade me mata
Eu não volto mais pra lá pra não ver aquela ingrata
Triste Despedida
Eu vivo triste calado nem viola não toco mais
Larguei de puxar boiada há muito tempo pra traz
Ai, nós era dois irmão nossos destinos iguais
Nascemos pra boiadeiro herança do velho pai
Idade de quinze anos eu já era capataz
Nós vinha com uma boiada nas campinas de Goiás
Quinhentos bois pantaneiros mil e quinhentos marruais
Puxado de Mato Grosso destino a Minas Gerais
A boiada estourou querendo voltar pra traz
Meu irmão pulou na frente gritando com os marruais
Mataram ele e cavalo no meio dos carrascais
Já repiquei meu berrante e dando os tristes sinais
Os companheiros chegaram rodaram dos animais
Eu chamei ele pro nome já não me respondeu mais
Com o ramo da macega cobrimos os restos mortais
E fizemos seu enterro na sombra dos pinheirais
Plantamos uma cruz de cedro com inscrições naturais
Aqui dorme um boiadeiro no meio dos matagais
Saímos com a boiada entre soluços e ais
Dando a triste despedida um adeus para nunca mais
Boi De Carro
Na mangueira da fazenda do Lajeado
Conheci um boi malhado descaído como quê
Tempo de moço quando eu era candeeiro
Boi malhado era ligeiro trabalhava com você
Boi de carro hoje velho rejeitado
Seu cangote calejado da canga que te prendeu
Boi de carro ainda sou teu companheiro
Eu to velho sem dinheiro teu destino é igual o meu
Boi de carro sem valia tá afrontado
De puxar carro pesado costume que o patrão faz
Eu trabalhei trinta anos e fui quebrado
Do lugar fui despachado diz que eu já não presto mais
Boi malhado seu olhar triste parado
Ruminando já cansado com o desprezo do patrão
Boi de carro eu também to ruminando
Essa mágoa vou levando dos homens sem coração
Boi de carro o seu dia tá marcado
Pro corte foi negociado pra matar no fim do mês
Adeus malhado meu sentimento é profundo
Vou andando pelo mundo esperando a minha vez
Falsidade
Eu vou contar nesta moda um caso que aconteceu
O que trouxe o casamento pro maior amigo meu
Ela jurando pra ele tudo de bom prometeu
Mas não levou muito tempo do juramento esqueceu
O rapaz triste chorando sem nunca isso esperar
Ela foi embora com outro pra longe deste lugar
Reclamando a falsidade e foi os dois procurar
No bairro do pinheirinho é que foram se encontra
A desgraça que foi feita nem é preciso falar
Fincaram duas cruz de cedro naquele triste lugar
Por ser um pecado grande o nem a cruz não quis brotar
O rapaz foi cumprir pena na prisão da capital
Hoje só existe o ranchinho que dá pena até de olhar
E no batente da porta, no pé de jacarandá
Alguém escreveu um letreiro pra gente se recordar
Neste rancho um foi pouco, mas três não pôde morar
Filho De Mato Grosso
Sou filho de Mato Grosso criado no Paraguai
Minha coragem é um colosso e nisso puxei meu pai
Se escuto um desaforo eu viro e volto pra trás
Ai pode ser meia dúzia que sem resposta não sai
Já dormi em baixo de árvore vendo o mundo amanhecer
Às vezes fico atrapalhado eu mesmo sei resolver
Eu topo qualquer parada e aconteça o que acontecer
É na escola do mundo que a gente aprende a viver
Tem certas coisas na vida ninguém pode compreender
Todos que você ajuda difícil reconhecer
Se quiser vencer na vida ninguém pode esmorecer
Água mole em pedra dura faz a pedra amolecer
Cada vida é um romance tão grande pra gente ler
Cada minuto que passa é uma folha pra escrever
Tem muitas histórias alegres e têm outras de entristecer
A página da saudade vai ficar quando eu morrer
Aparecida Do Norte
Já cumpri minha promessa na Aparecida do Norte
E graças a Nossa Senhora não lastimo mais a sorte
Falo com fé não lastimo mais a sorte
Já cumpri minha promessa na Aparecida do Norte
Eu subi toda ladeira sem carência de transporte
E beijei o pé da santa da Aparecida do Norte
Falo com fé na Aparecida do Norte
Eu subi toda ladeira sem carência de transporte
Não tenho melancolia tenho saúde sou forte
Tenho fé em Nossa Senhora da Aparecida do Norte
Falo com fé na Aparecida do Norte
Não tenho melancolia tenho saúde sou forte
Padroeira do Brasil Aparecida do Norte
Eu também sou brasileiro sou um caboclo de suporte
Falo com fé sou um caboclo de suporte
Padroeira do Brasil Aparecida do Norte
Todo meado do ano enquanto não chega a morte
Vou fazer minha visita na Aparecida do Norte
Falo com fé na Aparecida do Norte
Todo meado do ano enquanto não chega a morte
Cavalo Preto
Tenho o meu cavalo preto por nome de ventania
Um laço de doze braças do couro de uma novilha
Tenho um cachorro bragado que é pra minha companhia
Sou um caboclo folgado, ai eu não tenho família
No lombo do meu cavalo eu viajo o dia inteiro
Vou de um estado pra outro eu não tenho paradeiro
Quem quiser ser meu patrão me ofereça mais dinheiro
Eu sou muito conhecido por este Brasil inteiro
Tenho uma capa gaúcha que eu troquei com um boi carreiro
Tenho dois pelegos grandes que é pura lã de carneiro
Um me serve de colchão e outro de travesseiro
Com minha capa gaúcha eu me cubro o corpo inteiro
Adeus que eu já vou partindo, vou pousar noutra cidade
Depois de amanhã bem cedo quero estar em Piedade
Deus me deu esse destino e muita felicidade
Onde eu passo com meu preto deixo um rastro de saudade
Cortando Estradão
Montado a cavalo cortando estradão
Assim é a vida que leva um peão
Não tenho morada não tenho rincão
E não tenho dona no meu coração
Montar em burro brabo é a minha paixão
Não encontro macho que jogue eu no chão
Pra jogar um laço também sou do bom
Em qualquer rodeio eu sou campeão
Ai! como é bom viver
Sozinho no mundo sem nada pensar
O sol vem saindo e eu já vou partindo
E quando anoitece to noutro lugar
Se eu olho no bolso e me falta dinheiro
Amanso dois burros por trinta cruzeiros
Se eu pego um transporte de uma boiada
Já sou convidado pra ser o boiadeiro
Em toda a cidade por onde eu passei
Uma moreninha eu sempre deixei
Mas sou camarada vou sempre avisando
Não goste de mim porque eu não gostei
Ai! como é bom viver
Sozinho no mundo sem nada pensar
O sol vem saindo e eu já vou partindo
E quando anoitece to noutro lugar
Rei Da Guasca
Doutor delegado eu peço licença
Na sua presença uma história contar
Eu sou valente nem criminoso
Mas sou melindroso na parte moral
Eu moro num rancho com a minha amada
Na beira da estrada nas águas de lá
Da lida do gado eu volto cansado
E fazendo agrado ela vem me abraçar
Cheguei no meu rancho na boca da noite
Achei a cabocla num canto a chorar
Perguntei pra ela por que chora tanto
Banhada em pranto me pôs a contar
Eu vinha voltando da venda da estrada
Bem perto de mim eu vi um carro parar
Aquele ricaço pegou no meu braço
Lutei com o caboclo pra poder escapar
Já piquei na espora meu burrão tordilho
Virei corrupio pra trás eu voltei
Eu cheguei na praça lá estava o ricaço
Contando com graça de tudo o que fez
Eu já fui chegando e o cabra surrando
Puxou do revólver, mas tempo não deu
No cabo do relho tirei seu galanteio
No meio da rua de guasca cortei
Está ai na porta da delegacia
Amarrado na chincha do meu tordilhão
Lhe entrego o ricaço doutor delegado
Quem tiver errado dê a punição
Caboclo vai embora, mas deixe seu reio
Pra servir de espelho da grande lição
Que pra esse homem sirva de exemplo
Que em mulher dos outros não por mais a mão
Burro Picaço
Comprei um burro picaço de três anos mais ou menos
Na hora de dá o recibo o tropeiro foi dizendo
Cuidado com esse macho esse bicho tem fama de ser perigoso
Por ter matado peão o nome do burro ficou criminoso
Joguei o lombilho no burro o macho se estremeceu
Apertei a barrigueira o meu burro se encolheu
Sentei em riba do couro o povo de perto de medo correu
Mas qual o que minha gente pagão que me agüente ainda não nasceu
Tosei a crina do burro na sistema meia-lua
Pra cortar uma légua e meia meu criminoso nem sua
Pra varar uma canteira passar uma porteira corrida ele voa
Sai fogo de todo lado no passo picado na pedra da rua
Eu já vi burro ligeiro, mas igual esse inda não
Enjeitei cinco pacote do filho do meu patrão
Gosto muito de dinheiro cinco mil cruzeiros não leva o machão
Pra falar mesmo a verdade não existe riqueza que compre o burrão
Gaúcho Guapo
Pare o fole gaiteiro
Eu quero me apresentar
Meu nome é Lenço Branco
Por lenço branco sempre usar
Para enxugar neblina
E os olhos da china quando chorar
Da china levo saudade e saudade vou levar
Quando danço a rancheira
Eu gosto mais que rodeio
Espora bate o compasso
Levanto o braço dando galeio
Abraço a gauchita
Na chimarrita danço no meio
Gaúcha vamos embora ai no meu pingo vermelho
Fui criado no pampa
Ao sopro do minuano
Com sangue de farrapo
Gaúcho guapo forte vaqueano
Eu só deixo lembrança
Em todas as estâncias que eu vou passando
Na hora da despedida gaúcha fica chorando
Msicas do lbum Rancho Vazio, Relembrando Anacleto Rosas Júnior - (1978)
Nome | Compositor | Ritmo |
---|---|---|
Rancho Vazio | Anacleto Rosas Júnior / Arlindo Pinto | Toada |
Recado | Anacleto Rosas Júnior / Arlindo Pinto | Rasqueado |
Triste Despedida | Anacleto Rosas Júnior / Tonico / Tinoco | Moda De Viola |
Boi De Carro | Anacleto Rosas Júnior / Tonico | Toada Balanço |
Falsidade | Anacleto Rosas Júnior / Tonico / Chiquinho | Moda De Viola |
Filho De Mato Grosso | Anacleto Rosas Júnior | Rasqueado |
Aparecida Do Norte | Anacleto Rosas Júnior / Tonico | Cururu |
Cavalo Preto | Anacleto Rosas Júnior | Rasqueado |
Cortando Estradão | Anacleto Rosas Júnior | Rancheira |
Rei Da Guasca | Anacleto Rosas Júnior / Tonico | Rasqueado |
Burro Picaço | Anacleto Rosas Júnior | Rasqueado |
Gaúcho Guapo | Anacleto Rosas Júnior / Tonico | Rancheira |