Recordando Raul Torres (CONTINENTAL CLP 9093) - (1970) - Tonico e Tinoco
A Moda Da Mula Preta
Eu tenho uma mula preta tem sete palmo de alturaÂ
A mula é descanelada tem uma linda figuraÂ
Tira fogo na calçada no rampão da ferraduraÂ
Com a morena delicada na garupa faz figuraÂ
A mula fica enjoada pisa só de anca dura
O instinto na criação veja quanto que regulaÂ
O defeito do mulão eu sei que ninguém calculaÂ
Moça feia e marmanjão na garupa a mula pulaÂ
Chega a fazer cerração todos pulos dessa mulaÂ
Cara muda de feição sendo preto fica fula
Eu fui passear na cidade e só numa volta que eu deiÂ
A mula deixou saudade no lugar onde eu passeiÂ
Pro mulão de qualidade quatro milhão enjeiteiÂ
Pra dizer mesmo a verdade nem satisfação eu deiÂ
Fui dizendo boa tarde pra minha casa voltei
Soltei a mula no pasto veja o que me aconteceuÂ
Uma cobra venenosa a minha mula mordeuÂ
Com o veneno dessa cobra a mula nem se mexeuÂ
Só durou umas quatro horas depois a mula morreuÂ
Acabou-se a mula preta que tanto gosto me deuÂ
Que Linda Morena
Aonde que eu moro tem uma morenaÂ
Que linda pequena que me faz penar
Na estrada de ferro na estrada de linhaÂ
Linda moreninha nós vamos passearÂ
Eu tô resolvido morena ir se emboraÂ
Vou pra Pirapora pro ano que vemÂ
Na estrada de ferro na estrada de linhaÂ
Linda moreninha você vai tambémÂ
Tu casas comigo que eu sou boiadeiroÂ
Não falta dinheiro pra você gastarÂ
Chegando na vila eu compro um vestidoÂ
Sapatinho erguido pra nós se casarÂ
Não chore morena não tenha tristezaÂ
Que vossa beleza me faz pecadorÂ
Não como não durmo não janto não ceioÂ
Só tenho receio perder seu amor
Teus olhos alumiam na face mimosaÂ
Teu lábio de rosa eu quero beijar
Teu corpo parece botão de roseiraÂ
Morena faceira não deixe eu penar
Meu cavalo corre mais que ventaniaÂ
No final do dia eu vou te buscarÂ
Tu vem na garupa ô linda donzelaÂ
Até na capela pra nós se casar
Chico Mulato
Na volta daquela estrada bem em frente da encruzilhada todo ano a gente via
Lá no meio do terreiro a imagem do padroeiro São João da FreguesiaÂ
Do lado tinha fogueira em redor a noite intera tinha caboclo violeiroÂ
E uma tal de Terezinha cabocla bem bonitinha sambava nesse terreiroÂ
Era noite de São João tava tudo no sertão, tava o Romão cantadorÂ
Quando foi de madrugada saiu com Tereza pra estrada talvez confessar seu amorÂ
Chico Mulato era o festeiro caboclo bom violeiro sentiu frio seu coraçãoÂ
Tirou da cinta o punhal e foi os dois se encontrar, era o rival seu irmãoÂ
E hoje na volta da estrada em frente da encruzilhada ficou tão triste o sertãoÂ
Por causa da Terezinha essa tal de caboclinha nunca mais teve São João
Tapera na beira da estrada que vive assim descobertaÂ
Por dentro não tem mais nada por isso ficou desertaÂ
Morava Chico Mulato o maior dos cantadores
Mas quando Chico foi embora na vila ninguém sambouÂ
Morava Chico Mulato o maior dos cantadores
A causa dessa tristeza sabida em todo lugarÂ
Foi a cabocla Tereza com outro ela foi morarÂ
O Chico acabrunhado largou então de cantarÂ
Vivia triste calado querendo só se matarÂ
O Chico acabrunhado largou então de cantar
Â
Emagrecendo coitado foi indo até se acabar
Chorando tanta saudade de quem não quis mais voltar
E todo mundo chorava a morte do cantador
Não tem batuque nem samba sertão inteiro chorou
E todo mundo chorava a morte do cantador
Mineirinha
Ai mineirinha, mineirinha meu amorÂ
Na roda do teu cabelo corre água e nasce florÂ
Ai eu queriaÂ
O que é que você queria?Â
Uma mineira natural lá do sertãoÂ
Ai eu queriaÂ
O que é que você queria?Â
Comer coalhada, queijo fresco e requeijão
Ai mineirinha, mineirinha meu amorÂ
Na roda do teu cabelo corre água e nasce florÂ
Ai eu queriaÂ
O que é que você queria ?Â
Uma mineira só pra me fazer carinhoÂ
Ai eu queriaÂ
O que é que você queria?
Casar com ela só pra nós viver sozinhoÂ
Ai mineirinha, mineirinha meu amorÂ
Na roda do teu cabelo corre água e nasce florÂ
Pingo D’água
Eu fiz promessa pra que Deus mandasse chuvaÂ
Pra crescer a minha roça e vingar a plantação
Pois veio a seca e matou meu cafezalÂ
Matou todo o meu arroz e secou todo o algodãoÂ
Nessa colheita meu carro ficou paradoÂ
Minha boiada carreira quase morre sem pastarÂ
Eu fiz promessa que o primeiro pingo d’águaÂ
Eu molhava a flor da Santa que estava enfrente ao altarÂ
Eu esperei uma semana, um mês inteiroÂ
A roça tava tão seca, dava pena até de verÂ
Olhava o céu cada nuvem que passavaÂ
Eu da Santa me lembrava pra promessa não esquecerÂ
Em pouco tempo a roça ficou viçosaÂ
A criação já pastava, floresceu meu cafezalÂ
Fui na capela e levei três pingos d’águaÂ
Um foi o pingo da chuva dois do meu olhar
Segredo Se Guarda
Tenho um cavalinho só falta falarÂ
Ele me conhece quando vou arriarÂ
Falo bem baixinho vamos em tal lugarÂ
Ele fica pegando mosquito no arÂ
Segredo se guarda, não posso guardarÂ
A gente arrepende depois de contarÂ
Me sai casamento, não posso casarÂ
E combato com a sorte pra ver no que dáÂ
Aonde eu morava ouvia falarÂ
Que tinha uma moça nas águas de láÂ
Mandou me dizer mandou me chamarÂ
Que é pra nós conhecermos depois namorarÂ
Mandei dizer pra ela podia esperarÂ
Pois esse convite não posso deixarÂ
Domingo de tarde fomos se encontrarÂ
Apertei a mão dela dos dedos estalarÂ
Ela foi para dentro pra não demorarÂ
Trouxe uma violinha pra mim afinarÂ
Puxou uma cadeira sentamos de parÂ
E esse nosso namoro pegou redobrarÂ
Cantei uma moda fiz ela chorarÂ
Dos olhinhos pretos vi água pingarÂ
Falo soluçando vou te acompanharÂ
E vamos na capela pra nós se casarÂ
Feijão Queimado
Eu vou dançar no arraial feijão queimadoÂ
Eu vou dançar com a Rita do pé avermelhado
Eu vou dançar no arraial feijão queimadoÂ
Eu vou dançar com a Rita do pé avermelhado
O arrasta-pé de levantar poeira do chãoÂ
A Ritinha quando dança machuca meu coração
Eu vou dançar no arraial feijão queimadoÂ
Eu vou dançar com a Rita do pé avermelhado
O baile é bom no arraial feijão queimadoÂ
A sanfona tá tocando, Ritinha tá do meu lado
Eu vou dançar no arraial feijão queimadoÂ
Eu vou dançar com a Rita do pé avermelhadoÂ
Sanfona chora enquanto o sereno caiÂ
Ritinha vamos se embora pro lado que o vento vaiÂ
Eu vou dançar no arraial feijão queimadoÂ
Eu vou dançar com a Rita do pé avermelhado
Estrada Da Vida
A vida da gente é estrada compridaÂ
Tão cheia de curvas bem como se vêÂ
Tantos sacrifÃcios pra tanta subidaÂ
Depois lá de riba precisa descerÂ
Se sobe, se desce por muitas estradasÂ
Se vê pela frente o que tem que passarÂ
E de vez em quando uma encruzilhadaÂ
Atravessa a estrada pra gente penarÂ
A estrada da vida que eu tenho é penosaÂ
Eu nela caminho pro fim encontrarÂ
Eu levo amargura de forme enganosaÂ
Caminho cantando só pra não chorarÂ
Algum vai sorrindo e outros cantandoÂ
Deus fez essa estrada pra gente passarÂ
E nela até hoje eu vou caminhandoÂ
Até que a morte venha me buscar
Boiadeiro Apaixonado
A mineira me pediu um vestido delicadoÂ
Eu mandei dizer pra ela espera eu vender meu gado
Mineira mandou dizer boiadeiro tá quebradoÂ
Mineira mandou dizer boiadeiro tá quebradoÂ
Se quiser que eu vá e volte mande varrer a estradaÂ
Tire a pedra do caminho sereno da madrugadaÂ
Já comprei o teu vestido já vendi minha boiadaÂ
Já comprei o teu vestido já vendi minha boiadaÂ
Deste lado tem batuque do outro lado também temÂ
Eu quero passar pra lá eu quero ir buscar meu bemÂ
Os galos já tão cantando a barra do dia aà vêm
Os galos já tão cantando a barra do dia aà vêm
Mineira se tu soubesses como eu te quero bemÂ
Tu não ria nem brincava perto de mim com ninguém
Ai, mineira eu vou se embora volto a semana que vemÂ
Ai, mineira eu vou se embora volto a semana que vemÂ
Meu benzinho eu tô de volta escute meu peditórioÂ
Tu vai ser minha santinha quero ser teu oratórioÂ
Ponha teu vestido branco vamos junto pro cartórioÂ
Ponha teu vestido branco vamos junto pro cartórioÂ
João Carreiro
O meu nome é João Carreiro conhecido no lugarÂ
Eu vou contar minha história pra vocês não duvidar
Já estou velho aperreado já não posso carrearÂ
Mas o galo quando morre deixa as penas por sinal
No tempo que eu fui carreiro fui caboclo respeitadoÂ
Com quatro juntas de bois caminhava sossegado
Distância de meia légua, quando subia o cerrado
Ai, o cocão ringidor, era dueto chorado
Pareia de cabeçalho Beija Flor e MuzambinhoÂ
Pareia de boi na guia Fortaleza e Caboclinho
Sob a guia caminhava Riachão e RiachinhoÂ
Vamos se embora Sereno, pareia de Passarinho
No riacho da Graúna quando meu carro paravaÂ
Os olhos de uma cabocla meu coração cutucava
Na volta lá da cidade de novo por lá passavaÂ
Os olhos dessa cabocla de novo me provocavam
Assim ficamos um tempão cinco meses ficamos assimÂ
Eu com receio dela ela com medo de mim
Um dia criei coragem falei com ela por fimÂ
Essa cabocla chamava Corina flor do alecrim
Alecrim não tem espinho e é danado pra cheirarÂ
E mesmo não tendo espinho alecrim pode magoar
Corina flor do alecrim só pode me judiarÂ
Prometeu tanta aventura e só me trouxe penar
Só tive um amor na vida tristeza me veio darÂ
Fiquei velho aperreado já não posso carrear
Já contei a minha história antes de outro contarÂ
Onde meu carro passou deixou rastro por sinal
Cavalo Zaino
Tenho meu cavalo Zaino que na raia é corredorÂ
Já correu quinze carreiras todas quinze ele ganhouÂ
Eu solto na quadra e meia meu Zaino vem no galopeÂ
Chega três corpos na frente nunca precisa chicoteÂ
Oi, que cavalo bom, oi que cavalo bomÂ
Tenho meu cavalo Zaino que na raia é corredorÂ
Já correu quinze carreiras todas quinze ele ganhouÂ
Quiseram comprar meu Zaino por trinta notas de cemÂ
Não há dinheiro que pague o macho que eu quero bemÂ
Oi, que cavalo bom, oi, que cavalo bomÂ
Tenho meu cavalo Zaino que na raia é corredorÂ
Já correu quinze carreiras todas quinze ele ganhouÂ
Um dia roubaram meu Zaino fiquei sem meu pareeiroÂ
Meu Zaino na mão de outro nunca mais chega primeiroÂ
Oi, que cavalo bom, oi, que cavalo bomÂ
Baile Na Colônia
Instrumental
Músicas do álbum Recordando Raul Torres (CONTINENTAL CLP 9093) - (1970)
Nome | Compositor | Ritmo |
---|---|---|
A Moda Da Mula Preta | Raul Torres | Cateretê |
Que Linda Morena | Raul Torres | Rancheira |
Chico Mulato | João PacÃfico / Raul Torres | Toada |
Mineirinha | Raul Torres | Cana-verde |
Pingo Dágua | João PacÃfico / Raul Torres | Toada |
Segredo Se Guarda | Raul Torres | Moda De Viola |
Feijão Queimado | Raul Torres / Rielinho | Arrasta-pé |
Estrada Da Vida | João PacÃfico / Raul Torres | Toada |
Boiadeiro Apaixonado | Raul Torres | Cateretê |
João Carreiro | Raul Torres | Cateretê |
Cavalo Zaino | Raul Torres | Rancheira |
Baile Na Colônia | Tonico / Tinoco | Rojão |