Os Maiores Violeiros Do Brasil (1970) (TROPICANA CBS 01033) - (1970) - Zé Carreiro e Carreirinho
Canoeiro
Domingo de tardezinha eu estava mesmo a toa
Convidei meu companheiro pra ir pescar na lagoa
Levemos a rede de lanço ai, ai, fomos pescar de canoa
Eu levei meus apreparos pra dar uma pescada boa
Eu saà lago sereno remando minha canoa
Cada remada que eu dava, ai, ai, dava um balanço na proa
Fui descendo o rio abaixo remando minha canoa
A canoa foi rasgando foi deitando as taboas
A garça avistei de longe, ai, ai, chega perto ela voa
O rio tava enchendo muito fui encostando a canoa
Eu entrei numa vazante fui sair noutra lagoa
Fui mexendo aquele lodo, ai, ai, onde que os pintado amoa
 Â
Pra pegar peixe dos bão dá trabalho a gente soa
Eu jogo o timbó na água que a peixaria atordoaÂ
Jogo a rede e dou um grito, ai, ai, os dourados amontoa
Ferreirinha
Eu tinha um companheiro por nome de Ferreirinha
Nós lidava com boiada desde nós dois rapazinhos
Fomos buscar um boi brabo no campo do Espraiadinho
Era vinte e oito quilômetro as cidade de Pardinho
Nos chegamos no tal campo já era cada um seguiu pra um lado
Ferreirinha foi num potro redomão muito cismado
Já era de tardezinha eu já estava bem cansado
Não encontrava o Ferreirinha nem o tal boi arribado
Naquilo avistei o potro que vinha vindo assustado
Sem arreio e sem ninguém fui ver o que tinha se dado
Encontrei o Ferreirinha numa restinga deitado
Tinha caÃdo do potro e ando pro campo arrastado
Quando avistei Ferreirinha meu coração se desfez
Eu rolei do meu cavalo com tamanha rapidez
Chamava ele pro nome, chamei duas ou três vezes
E notei que estava morto pela sua palidez
Pra deixar meu companheiro é coisa que eu não fazia
Deixar naquele deserto alguma onça comia
Tava ali só eu e ele Deus em nossa companhia
Venho muitos pensamentos só um é que resolvia
Pra levar meu companheiro veja o quanto eu padeci
Amarrei ele pro peito e numa árvore eu suspendi
Cheguei meu cavalo em baixo e na garupa desci
E com o cabo do cabresto eu amarrei ele em mim
Sai pra aquelas estradas tão triste tão amolado
Era um frio do mês de junho seu corpo tava gelado
Já era uma meia noite quando cheguei no povoado
Deixei na porta da igreja e fui chamar o delegado
A morte desse rapaz mais que eu ninguém sentiu
Deixei de lidar com gado minha inclinação sumiu
Quando lembro esta passagem franqueza me dá arrepio
Parece que a friagem das costas ainda não saiu
A Morte Do Carreiro
Isto foi no mês de agosto regulava meio dia
O sol parecia brasa queimava que até feria
Foi um dia muito triste só cigarra que se ouvia
O triste cantar dos passos naquelas matas sombrias
Numa campina deserta uma casinha existia
Na frente numa palhada onde a boiada remoÃa
Na estrada vinha um carro com seus cocão que gemia
Meu coração palpitava de tristeza ou de alegria
Lá no alto do serrado a sua hora chegou
O carro tava pesado e uma tora escapou
Fui por cima do carreiro e no barranco imprensou
Depois de uma meia hora que os companheiros tirou
Quando puseram no carro já não podia falar
Somente ele dizia tenho pressa de chegar
E os companheiros gritavam numa toada sem parar
Já avistaram a taperinha e as crianças no quintal
Os galos cantaram triste ai, ai, ai, ai...
No retiro aonde eu moro, ai, ai, ai, ai
Já levaram ele pra cama não tinha mais salvação
Abraçava seus filhinhos fazendo reclamação
Só sinto estes inocentes ficar seu uma proteção
Fechou os olhos e despediu desse mundo de ilusão
Pirangueiro
Construà o meu ranchinho amarradinho de cipó
Na beira do rio Mogi lá pra aqueles cafundó
Naquelas beira de rio sem vizinho eu moro só
Quando chega a tardezinha que já vai sumindo o sol
Preparo meu viradinho meu piquá de tiracol
Eu solto minha canoa vou pescar de tromombó
Desço até no porto velho onde o rio faz caraco
Naqueles poços mais fundos é que dá peixe maior
Armadilha mais segura é meu covo de cipó
Vai no bico da canoa o lampião que é meu farol
A espingarda carregada com cartucho juveló
Os peixes cai na canoa que nem milho no paiol
Quando é de madrugada canta o galo carijó
A canoa tá lotada eu termino o tromombó
Eu pesco na água limpa não preciso do timbó
Triste Desengano
Sou velho, mas ainda tenho recordação do passado
Do tempo da mocidade sempre deve ser lembrado
Eu amei esse menina e junto fomos criados
Eu ganhei seu coração o meu já tinha lhe dado
Quando nós dois se encontrava de alegria se abraçava dando suspiro dobrado
O cantar de um sabiá foi o que me entristeceu
Recordei daquela aldeia onde nosso amor nasceu
E depois de um certo tempo não sei o que aconteceu
Fiquei sem minha querida que um tempo me pertenceu
Antes preferia a morte que ter essa triste sorte que não me favoreceu
Quem teve amor e perdeu não deve fazer mais planos
Deixei dos divertimentos meu cabelo ta branqueando
Eu amei essa menina na idade de quinze anos
Tão criança conheci quanto é triste um desengano
Este peito dolorido dos golpes que tem sofrido este foi o mais tirano
Então eu fiz esta moda do cantar dos passarinhos
Primeiro eu fiz a toada pra depois fazer os versinhos
Pra minha prenda adorada comecei cantar baixinho
Não procurei companheiro por isso eu tenho o meu pinho
A moda de um triste assunto não adianta cantar junto preciso sofrer sozinho
Hoje eu tive essa lembrança por ser um bom trovador
No meio desses versinhos escolhi o de mais valor
Dois eu mandei de presente pra minha querida flor
Um verso leva a saudade outro vai pedir um favor
É pra ter minha querida lembrança da nossa vida saudade do nosso amor
Viajando A Cavalo
Tinha quinze anos e quis viajar
Conhecer o mundo e negociar
Ser um boiadeiro era meu ideal
Só pra ter dinheiro e a vida gozar
Saà de São Paulo por Minas Gerais
Comprar uma boiada dentro de Goiás
Viajando à cavalo eu sofri demais
Pra sofrer tem tempo como diz meus pais
Eu nesta viagens muito padeci
Pra falar a verdade também diverti
Muitas moreninhas por lá conheci
E trouxe saudades que nunca esqueci
Eu já fiz de tudo, já fui boiadeiro
Já lidei com tropa e hoje sou violeiro
Canto de viola no Brasil inteiro
Nesse nosso estilo muito brasileiro
Duas Cartas
Eu recebi uma carta foi meu bem que me escreveu
Abri a carta pra ler a minha coragem não deuÂ
Só pude ler duas linhas, minha vista escureceu
Ao ler a triste notÃcia que meu bem desprezou eu
Com esse golpe doÃdo que meu coração sofreu
Imaginei a minha vida que será que aconteceu
Na carta não explicava que plano novo era o seu
Não cumpriu o juramento que a ingrata prometeu
Daquele dia em diante dobrou o sofrimento meu
Acabou minha alegria meu viver se entristeceu
Mas homem deve ser homem cumprir o destino seu
Dei ela por esquecida e disse o derradeiro adeus
Quando foi um certo dia outra carta apareceu
Na carta vinha dizendo do que fez arrependeu
Eu mandei dizer pra ela que siga o caminho seu
Procure um outro amor que você pra mim morreu
Saudades De Araraquara
Eu parti de Araraquara com destino pra Goiás
Quando eu vim da minha terra atravessei Minas Gerais
Eu passei campina triste, lagoa dos ananais
Os olhos que lá me viram de certo não me vê mais
Fiz a minha embarcação lá na estação do Brás
Meu amor me procurava notÃcia pelos jornais
Eu padeço ela padece, padecemos os dois iguais
Quem parte leva saudade pra quem fica é muito mais
Eu olhei para o horizonte avistei certos sinaisÂ
Que as estrelas vão correndo deixando raios pra trás
Eu te quis ainda te quero cada vez querendo mais
Os agrados de outro amor para mim não satisfaz
O meu peito é um retiro onde meus suspiro vai
Meu coração é um cuitelo que do seu jardim não sai
Que vive beijando a rosa onde que o sereno caiÂ
Adeus minha rosa branca adeus para nunca mais
Patriota
Vinte e seis de fevereiro pra servir eu fui chamado
Novecentos e dezenove até hoje eu tô lembrado
Eu segui para São Paulo levei meu certificado
Me apresentei no quartel onde eu fui inspecionado
O doutor de lá me disse você vai dá um bom soldado
Segue hoje pra Caçapava seu lugar designado
Doze meses e quinze dias que eu parei em Caçapava
lugar frio e de saúde aquele lugar onde eu tava
Depois de todo esse tempo o governo nos chamava
Para ir prestar serviço que a pátria precisava
Tudo o que eu ia passar o meu coração contava
Tanto como eu padecia eu também me arregalava
De Caçapava pro Rio nós seguimos em contingente
Cento e vinte soldado e muitos cabos competentes
E nos carro de primeira ia o segundo tenente
Por quem fomos comandados uns chorando, outros contente
Uns chorava por patife outros por deixar os parente
Mas quem cair nesse artigo é obrigado a ser valente
Até hoje ainda me lembro o nome do vapor
Que nós fomos conduzidos do Rio à São Salvador
Seiscentos homens e armas fomos tomando o interior
Pra honrar a nossa farda e mostrar nosso valor
Fomos todos equipado pra garantir um doutor
Que no Estado da Bahia queria ser governador
Conheci muitos lugares no navio de passagem
Fui ver coisas que eu não via se não fosse esta viagem
Nós fizemos na Bahia quinze dias de paragem
Muitos lá até chorava vejam que grande bobagem
Quando a pátria nos chama deve ir e ter coragem
Assim como eu também fui e fui feliz na minha viagem
Bombardeio
Ai, do jeito que me contaram o negócio pra mim tá feio
Já fizeram uma reunião ai, já formaram este torneio
Ai, a respeito a cantoria querem-me tirar o galeio
Pra rebaixar o meu nome já aplicaram todos meios
Ai, já mandaram fazer moda e diz que estas modas já veio
Estas modas vem de longe enviada pelo correio
Ai, moda só de me abater ai, diz que tem caderno cheio
Pro dia do nosso encontro me fazer um bombardeio
Ai, sendo que eu não mereço de cair nestes enleios
Quando eu chego nos fandangos meus colegas eu não odeio
Ai, todas modas que eles cantam dou valor e apreceio
Conforme repica a viola eu bato palma e sapateio
Ai, eu não sou mesmo instruÃdo ai
Eu pouco escrevo e pouco leio ai
Ai, eu não sou mesmo instruÃdo eu pouco escrevo e pouco leio
Mas minha sabedoria serve só pro meu custeio
Ai, quando passo a mão no pinho canto sem ter arreceio
Porque eu faço a cortesia sem pegar chapéu alheio
Roceiro
O caboclo sertanejo não se acostuma na praça
Pois não troco seu ranchinho lá da vila quiçaçaÂ
Pra uma casa na cidade nem que seja de vidraça ,ai, ai
Quando amanhece chuvoso naquele dia que passa
Ele segue pro serviço, mas seu plano ele já traçaÂ
Aquelas beira de rio nesta tarde se disfarça ,ai, ai
O caboclo lá da roça no sertão não se embaraçaÂ
Quando o rio não der mais peixe sempre encontra alguma caça
Passa a mão na cartucheira e trela os cachorro de raça ,ai, ai
E sobe de rio acima barranqueando de negaça
Quando avista as capivara, já vai levantar fumaça
Pode garantir o tiro distância de muitas braças ,ai, ai
Meu bote de rio abaixo com pouca força que faça
O socó por cima d'água baixinho voando passaÂ
Cantando ele vai pro rancho com o barco cheio de caça ,ai, ai
Cruel Destino
Helena uma linda moça, filha de um rico doutor, ai
Adalto era moço pobre mas muito trabalhador
Se amavam desde crianças e cresceram naquele amor
Pra Heleninha era só esse, ai que aliviava sua dor
Seu coração já esteva entregue pra aquele botão de flor
No jardim que se encontravam era o ponto acostumado
Cada dia que passava seu amor era dobrado
Sua mãe chamou e lhe disse que seu pai tinha falado
Que o casamento de Helena , ai breve ia ser realizado
Pra casar-se com um francês um moço rico preparado
Coitadinha quando soube seu dia estava chegando
Também foi se entristecendo naquilo ela foi pensando
Desprezar o meu amor, ai querido de tantos anos
Com outro eu também não caso, ai conseguiu naquele plano
Pois antes prefiro a morte que casar com este fulano
Recolheu-se no seu quarto com revólver carregado
Trazia uma carta escrita e muito bem explicado
Vou morrer porque não quero ver outro moço ao meu lado
Me vista o vestido branco, ai que eu aà tenho guradado
Que era pro meu casamento que papai tinha comprado
A morte dessa mocinha o mundo se balançou, ai
O sofrimento de Adauto só oito dias durou
Ele foi no cemitério e na campa debruçou
É o derradeiro presente Heleninha que eu te dou
Cravou o punhal no peito coração atravessou
Dois corações que se unem devem ter amor iguais, ai
Senhores pais de famÃlia note bem o tempo atrás
Que o correr do mundo velho quanto exemplo nos trás
Obrigar um coração ai, é coisa que não se faz
O amor é como um vidro se quebrar não solda mais
Músicas do álbum Os Maiores Violeiros Do Brasil (1970) (TROPICANA CBS 01033) - (1970)
Nome | Compositor | Ritmo |
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Canoeiro | Zé Carreiro | Cururu |
Ferreirinha | Carreirinho | Moda De Viola |
A Morte Do Carreiro | Zé Carreiro / Carreirinho | Moda De Viola |
Pirangueiro | Zé Carreiro | Cururu |
Triste Desengano | Zé Carreiro / Teddy Vieira | Moda De Viola |
Viajando A Cavalo | Carreirinho | Rasqueado |
Duas Cartas | Zé Carreiro / Carreirinho | Cateretê |
Saudades De Araraquara | Zé Carreiro | Cururu |
Patriota | Carreirinho | Moda De Viola |
Bombardeio | Zé Carreiro / Geraldo Costa | Moda De Viola |
Roceiro | Zé Carreiro / Carreirinho | Cururu |
Cruel Destino | Carreirinho | Moda De Viola |