Zé Carreiro E Carreirinho (1970) (RCA-CAMDEN 1060025) - (1970) - Zé Carreiro e Carreirinho
Sinhá Maria
Nosso Senhor, me perdoa essa descrença magoada
Tinha uma vida tão boa hoje, não eu creio em mais nada
Não canto mais ladainha não faço mais oração
Até a crença que eu tinha fugiu do meu coração
Porque não foste justo, outro dia vindo buscar sinhá Maria a santa do meu altarÂ
Talvez tu não pensasse em maldade E que mais tarde, a saudade vinha me desesperar
Nosso Senhor, que tristeza quando regresso à tardinha
Debruço e choro na mesa lembrando a vida que eu tinha
Minha choupana vazia com a porta aberta pra trás
Não sabe que Sinhá Maria não volta mais, nunca mais
Perdão, volve para mim teu olhar só tu me podes vingar o que a saudade me fez
Por Deus, escuta Nosso Senhor mandai do céu por favor sinhá Maria, outra vez
Buquê De Flor
Neste meu aniversário mandou meu amor
Um buquê de flor e uma carta também
Desejando com saudade para mim felicidade, saúde e parabéns
São doze flores que eu mando são flores bonitas
Por mim escolhidas com muito gosto e prazer
Sei que você vai sentir mas  perdão vou lhe pedir por eu não comparecer
Eu guardei aquelas flores com muito carinho
E um bilhetinho eu mandei para meu amor
São onze flores no buquê não como disse você está faltando uma flor
Chegou meu aniversário meu peito sentiaÂ
Tamanha alegria porque chegou meu amor
Qual flor que faltava aqui então eu lhe respondi era você minha flor
Peito Sadio
Foi as quatro horas da manhã meu cachorro de guarda latiu
Levantei para ver o que era e vesti meu casaco de frio
Então vi que chegou um mensageiro amontado num burro tordio
Apeou e me disse bom dia e o bolso da baldrana ele abriu
Uma carta o rapaz me entregou e de novo amontou e na estrada sumiu
Dei a carta pro meu irmão ler ele leu e me olhando sorriu
É convite pra nós ir na festa vai haver um grande desafio
O meu pai já correu no vizinho foi chamar o vovó e o titio
Nós chegamos a pular de contente lá em casa ninguém mais dormiu
Pra quebrar aqueles campeonato nem com sindicato ninguém conseguiu
Violeiro que mandou o convite moram lá no outro lado do rio
Eles pensam que nós não vai lá mas nós somos caboclo de brio
A peteca aqui do nosso lado por enquanto no chão não caiu
Quando nós chegamos no catira os mais fracos na hora sumiu
Só cantamos moda de campeão e os tal que era bom nem se quer reagiu
Perguntei para o dono da festa onde foi que o senhor conseguiu
Esses tal violeiro famoso que as moda de nós engoliu
O festeiro ficou pensativo e mordeu no cigarro e cuspiu
Vocês são dois caboclo batuta quem falou pode crer não mentiu
Teve algum que cantar experimentou mas o peito falhou e a voz não saiu
As violas nós faz de encomenda nosso peito é tratado e sadio
Já cantamos três noites seguidas e as modas nós não repetiu
Quem repete é relógio de igreja e o triste cantar do tiziu
E agora com essa vitória ainda mais nossa fama subiu
E vocês não devem discutir se viemos aqui foi vocês que pediu
Sertanejo Solitário
Eu moro num campo triste onde o rio faz um remanso
Toda tarde eu penso a vida no terreiro do meu rancho
Olhando lá no banhado jaburú parece ganso
Codorna pia macio e a perdiz pia de avanço, ai
A saudade me aperta desde a hora que eu levanto
Deste pobre coração o suspiro sai de arranco
Quando me aperta nervosa choro mesmo falo franco
Tenho fé de ser feliz tô sofrendo por enquanto, ai
Quando queima a camparia forma um fumaceiro branco
Onde vem as andorinhas pro verão de canto a canto
Essas andorinhas par das que faz ninho no barranco
Eu divido a flor roxa no brilhar dos pirilampos, ai
O que mais me aborrece é quando floresce os campos
Encosto a velha canoa amarrada no barranco
Fico na porta do rancho sentadinho no meu banco
Passo a mão de vez em quando nestes meus cabelos brancos, ai
Ai Amor
Um dia longe de ti é um ano de sofrimento
O suspiro nesse peito sai ligeiro como o vento
Não como e não bebo nada com suspiro me alimento
Sei que não suporto a dor, ai amor
Minha vida transformou com esse amor profundo
Quando estou em seus braços sinto não estar no mundo
Eu passo horas inteiras horas pra mim é segundos
É um paraÃso em flor, ai amor
Seus braços é uma cadeia ditado que o povo diz
Em ser o seu prisioneiro assim o destino quis
Se me soltar fico triste se me prende sou feliz
Quero sentir seu calor ai, amor
Oceano Da Vida
Vejo no espelho o meu rosto envelhecendo qual oceano após a sanha de um tufão
A espuma branca são meus cabelos grisalhos minha calvÃcie é a praia da ilusão
As minhas rugas são as ondas traiçoeiras que se avolumam com os fortes vendavaisÂ
Meus olhos fundos são dois barcos naufragados que sobre as ondas não emergem nunca mais
Meus lábios frios já quase mortos tem sido o porto anos atrás
Onde atracavam lábios ardentes hoje só resta a solidão no cais
Velhos amores para bem longe voaram como gaivotas que se perdem sobre o marÂ
A mocidade ficou longe como as rochas onde só as ondas da saudade vão beijar
Vagando eu vou como um navio que perde o rumo não acho cais onde eu consiga me ancorar
É tão pesada a bagagem dos meus anos que está fazendo minha vida naufragar
Meus lábios frios já quase mortos tem sido o porto anos atrás
Onde atracavam lábios ardentes hoje só resta a solidão no cais
Esqueça Tua Maria
Eu sei de gente que anda aqui na redondeza
Rindo da minha tristeza do meu triste padecer
Gente que sabe a vida feliz que eu tive
Sabem até onde ela vive e não querem me dizer
Se eu soubesse eu não Ãa condenar
Só queria perguntar porque foi que ela deixou
Nossa morada onde nós vivia bemÂ
Talvez por causa de alguém Maria me abandonou
Gente malvada por despeito e por maldade
Pra aumentar mais a saudade e pra mais me ver penar
Passa na rua quando me vê na janela
Me pergunta sempre dela e se ela  vai voltar
Pois essa gente que invejava o meu amor
Pra aumentar mais minha dor vejam o que fizeram um dia
Pois escreveram com carvão na minha porta
Seu amor nunca mais volta esqueça a tua Maria
Decisão
Já casei de esperar por sua decisão
Você não diz que eu sim Mas também diz não
Eu não quero ficar nessa ilusãoÂ
Pois não é brinquedo este meu coração
Se você não me que e só me dizer
Não insistir em você me quererÂ
Pergunto o porque eu preciso saberÂ
Eu acho que chega de tanto sofrer
Eu nasci no mundo foi pra lhe quererÂ
Se tem outro amor o que eu hei de fazerÂ
Se me desprezar vou desaparecer
Nos braços de outro não quer lhe ver
Não Pode Ser
Eu vivo a relembrar nosso antigo amor
A nossa separação eu fui o causador
O seu amor sincero não soube dar valor
Demostrar eu não quero, mas choro a minha dor
Arrependido sigo meu caminhoÂ
Meu passado florido cobriu-se de espinho
Hoje eu pelas ruas passo a noite a beber
A falta sua não posso conter
Meu sofrimento é somente porque
Meu pensamento está em você
A dor que me consome é só por eu temer
Que a outro homem possa pertencer, não pode ser
Noturno
Vou contar pro meus amigos que comigo acontece
De um triste apartamento de um grande amor que foi meu
Foi-se embora e me deixou nem satisfação me deu
Foi o golpe mais doÃdo que meu peito recebeu
Eu cheguei na minha casa na hora que escureceu
Encontrei porta fechada o meu coração doeu
Sem saber a triste surpresa que o destino me envolveu
Meus olhos encheram dágua e pelo rosto desceu
Perguntei pro meu vizinho ele então me respondeu
Ontem ela esteve aqui hoje não apareceu
Eu soube que ela foi embora não sei o destino seu
Diz que viram ela embarcar no noturno que desceu
Ninguém sofre por amor como tenho sofrido eu
A mulher que eu mais queria tanto desgosto me deu
Quando saà pro trabalho uniu seus lábios no meu
Sem saber que aquele beijo foi o derradeiro adeus
Cabelos Cor De Prata
Alembro e tenho saudade do tempo que eu fui solteiro
Lá no estado de Minas fui um grande catireiro
Eu digo com vaidade minha doce mocidade
Hoje só resta saudade daqueles tempos primeiro, ai
Lá na minha redondeza fui o melhor violeiro
Eu não vencia os convites que me mandavam os festeiros
Em toda festas que eu ia o povo todo sabia
Que o fandango amanhecia onde cantava o mineiro, ai
E o tempo foi se passando meus cabelos embranqueceram
Com o decorrer da idade minhas pernas enfraqueceramÂ
Cantar assim se desgosta, mas de ouvir a gente gosta
Já tenho na minhas costas mais de cinquenta janeiros, ai
Meus colegas de função alguns desapareceram
Uns deixaram por velhice e outros porque morreram
Só resta eu desta data meus cabelos cor de prata
Moro na borda da mata ausente dos companheiros, ai
Mulato Gordo
Fui cantar numa festa em terras estranhas
Cortamos ataio por trás das montanhas
Lá já me disseram vocês não estranham
NotÃcia daqui, que vocês dois apanham
Pois o tal desafio tinha fama tamanha
Os homem chegaram contando façanha
Diz que é mais de cem desafio que eles ganham
A fama de valente tava esparramada
De espora e bombacha e o peito empolado
Falando tão grosso, tão entusiasmado
Chicote no braço e o trinta do lado
Me pediu que eu cantasse uns verso dobrado
Bati a viola bem arrepicado
Saldei o festeiro e todos convidado
Pois tiraram a viola de um saco de meia
As mocinha falaram, que viola mais feia
Entraram berrando que nem uma sereia
Umas moda gritada que doÃa as orelha
Pois pensou que cum berro nós já desnorteia
Falaram burrada uma hora e meia
Cantava dançando igual porca na peia
Eu chamei o festeiro dentro do salão
O senhor não repare da nossa expressão
Desafio numa festa é boa diversão
Mas eu não gostei desses dois forgazão
Eu notei que esses homem num tem instrução
Maltratar um colega sem haver razão
Eu preciso lhe dá uma boa lição
Esse mulato gordo eu comparo um mourão
E esse magrelo uma mão de pilão
O que tem a voz grossa eu comparo um trovão
O da voz mais fina eu comparo um rojão
Que sobe um pouquinho com muita aflição
Vai soltando fogo fazendo explosão
E no fim os dois vem e arrebentar no chão
Esses foi um dos versos dos mais inferior
Não dei mais descanso pros dois cantador
Não sou estudado, não sou professor
Mas sei meu lugar e também dar valor
Não desprezo ninguém muito menos o senhor
Que vem de tão longe fazendo furor
Olhei no salão não vi mais os cantor
Músicas do álbum Zé Carreiro E Carreirinho (1970) (RCA-CAMDEN 1060025) - (1970)
Nome | Compositor | Ritmo |
---|---|---|
Sinhá Maria | René Bittencourt | Toada |
Buquê De Flores | Zé Carreiro / Carreirinho | Rancheira |
Peito Sadio | Raul Torres / Rubens Ferreira Bueno | Cururu |
Sertanejo Solitário | Zé Carreiro / Carreirinho | Corta Jaca |
Ai, Amor | Carreirinho | Cururu |
Oceano Da Vida | Zé Carreiro / José Fortuna | Tango |
Esqueça Tua Maria | Raul Torres / João PacÃfico | Toada |
Decisão | Zé Carreiro / Carreirinho | Rancheira |
Não Pode Ser | Zé Carreiro / Carreirinho | Toada Balanço |
Noturno | Zé Carreiro / Carreirinho | Cateretê |
Cabelos Cor De Prata | Zé Carreiro / Carreirinho | Moda De Viola |
Mulato Gordo | Zé Carreiro / Carreirinho | Moda De Viola |